labrys, études féministes/ estudos feministas
julho/dezembro2007- juillet/décembre 2007

 

A Liga Brasileira de Lésbicas: produção de sentidos

na construção do sujeito político lésbicas [i]

 

Maria Célia Orlato Selem[ii]

Resumo:

O presente artigo objetiva analisar as práticas discursivas da Liga Brasileira de Lésbicas, um movimento social brasileiro constituído exclusivamente por mulheres auto-idenficadas como lésbicas ou bissexuais. Busquei levantar matrizes de inteligibilidade que eram particularmente expressivas no que diz respeito às representações sociais e auto-representações das militantes deste movimento na construção de um sujeito político nacional “lésbica”, objeto desse estudo. Por meio dessas matrizes foi possível sugerir que as militantes, em suas práticas discursivas, apesar do atrelamento aos signos do presente, realizam dinâmicas de transformação do binário masculino/feminino que informa o imaginário social ancorado na evidência da heterossexualidade, a qual fundamenta as diferenças e a conseqüente subjugação das mulheres na sociedade.

 

Palavras-chave: movimento de lésbicas, lesbianidade, mulheres, feminismos, história, práticas discursivas, visibilidade lésbica, representações sociais.

 

A partir do entendimento de que é preciso repensar as categorias fixas que dividem a humanidade em pólos distintos com funções e comportamentos específicos através de outras identificações e outras subjetividades, procurei nesta pesquisa, pensar os sentidos produzidos pelas militantes da Liga Brasileira de Lésbicas na busca pela “visibilidade” da lesbianidade - bandeira do movimento.

A Liga Brasileira de Lésbicas apresenta-se como um movimento nacional constituído exclusivamente por mulheres e que se pauta na busca pela visibilidade e construção de um sujeito político “lésbica” e “bissexual”. Nesta pesquisa, busquei analisar suas práticas discursivas e as dinâmicas de suas atividades, atentando para os sentidos que nelas atuam na produção e/ou reprodução desses sujeitos, nas representações e valores que os compõem.

Para este fim utilizei vários recursos que me permitiram encontrar práticas discursivas dessas mulheres que fizeram e/ou fazem das suas vivências atos políticos. Além de entrevistas, selecionei também como suporte para a presente pesquisa algumas produções impressas e imagéticas, como boletins, folders, fotografias e vídeos. As fontes selecionadas foram dispostas em séries integrantes de uma formação discursiva, que segundo Orlandi (2003:43) seria “aquilo que numa formação ideológica dada, ou seja, a partir de uma posição dada em uma conjuntura sócio-histórica dada, determina o que pode e deve ser dito”.

Se os discursos fundam e mantém os “regimes de verdade”[iii] através dos quais a ordem do mundo se constitui, utilizei as ferramentas conceituais do método da análise do discurso a fim de pensar o movimento dos sentidos na visibilização do sujeito político lésbico, seus possíveis “lugares provisórios de conjunção e dispersão, de unidade e de diversidade, de indistinção, de incerteza, de trajetos, de ancoragem e de vestígios” (Orlandi, 2003:10). Como afirma a mesma autora (2003:09), essa metodologia “permite-nos ao menos sermos capazes de uma relação menos ingênua com a linguagem”.

As relações entre mulheres teriam sido silenciadas ou narradas a partir de categorias pré-estabelecidas, fundando e/ou reafirmando discursos totalizantes que norteiam as possibilidades interpretativas do mundo, fazendo a “História do Mesmo” (Navarro-Swain, 2006:03) ou contribuindo para as permanências de poderes e hierarquias. Dessa forma, a importância da pesquisa sobre as ações e falas da LBL está nas abordagens que trazem os sujeitos nomeados ou auto-nomeados “lésbicas” como constituidores da realidade imediata ao produzirem sentidos para si e para @s outr@s através de suas práticas discursivas, pois estas:

“ [...] implicam ações, escolhas, linguagens, contextos, enfim, uma variedade de produções sociais das quais são expressão. Constituem, dessa forma, um caminho privilegiado para entender a produção de sentidos no cotidiano.” (Spink e Freeza, 2000:38)

Esse processo metodológico de analisar a produção de sentidos pelas práticas discursivas[iv], como nos mostra Mary Jane Spink e Rose Mary Freeza (2000:28) nos possibilitaria perceber que “tanto o sujeito quanto o objeto são construções socio-históricas que precisam ser problematizadas”. Como sugere Spink e Medrado (2000:49), precisamos atentar para a construção dos repertórios interpretativos, retomar a linha da história entendendo “a construção social dos conceitos que utilizamos para dar sentido ao mundo”.

Ao trazer as práticas discursivas da Liga Brasileira de Lésbicas para o status de objeto de pesquisa busquei ainda analisar como este movimento atribui sentido aos eventos do cotidiano ao reivindicar a existência de um sujeito político lésbica. “Sentido” utilizado aqui como uma construção social, um empreendimento coletivo, mais precisamente interativo, por meio do qual as pessoas – na dinâmica das relações sociais historicamente datadas e culturalmente localizadas – constroem os termos a partir dos quais compreendem e lidam com as situações e fenômenos a sua volta. (Spink e Medrado, 2000:41)

Os discursos sociais acerca da lesbianidade variam de acordo com suas condições de produção e se constituem a partir das regularidades discursivas, matrizes de sentido que nos apontam os indícios do real. Sendo assim, as práticas discursivas apresentam-se como “momentos de re-significação, de rupturas, de produção de sentidos, ou seja, corresponde aos momentos ativos do uso da linguagem, nos quais convivem tanto a ordem como a diversidade” (ibidem). Dessa forma, essa análise tenta perceber em que medida as práticas discursivas do movimento em questão instituem significações inovadoras na ordem do discurso.

A Liga Brasileira de Lésbicas e a busca de uma articulação nacional

É no contexto de crescimento e dispersão dos grupos de lésbicas no cenário nacional nesse início de 2000 que a Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) foi se constituindo. Os grupos específicos de lésbicas encontravam-se espalhados pelo país em vários e diferentes Estados, e assim suas ações acabavam sendo pontuais e as atuações em prol dos direitos homossexuais muitas vezes permaneciam dissipadas em um movimento homossexual hegemonizado, como explicita a ex-integrante presente na fundação da LBL:

“No Fórum Social Mundial em 2003 a gente estava muito agoniada como militante lésbica porque a ABGLT - que é a Associação Brasileira de gays, lésbicas, bissexuais e travestis -, não pautava as questões das lésbicas. Era sempre uma briga muito grande dentro da ABGLT [...].” (Trecho de entrevista realizada em 27/02/2007, às 15 h no Ministério da Saúde, Brasília).

O ponto do separatismo das lésbicas estaria então no fato de que muitas militantes não se sentiam representadas pelos discursos dos grupos mistos pela livre expressão sexual por acreditarem que estes invisibilizavam as questões referentes à desqualificação das mulheres nas sociedades androcêntricas e seus desdobramentos. Ainda questionavam a atuação do movimento feminista que acabava por não problematizar a questão da heterossexualidade compulsória nos seus discursos. Como entende a militante, as bandeiras feministas, muitas vezes, tratavam de temas considerados “gerais”:

“acho que de fato o movimento feminista tinha uma dificuldade de discutir a pauta lésbica, não por preconceito, acho que a agenda feminista tinha uma coisa internacional, que era a maior discussão, que era a legalização do aborto, a violência contra a mulher [...].” (idem)

Assim, é possível dizer que, para as militantes, tais movimentos silenciavam aspectos importantes de suas vidas, ou seja, a existência de outras possibilidades afetivo-sexuais para além dos sujeitos neles narrados: o masculino homossexual e o feminino heterossexual. Assim, esse “não lugar” carência do reconhecimento do Estado, por meio de instrumentos de promoção da equidade e do respeito da sociedade através da reivindicação de um sujeito lésbica específico, como explicita esse trecho de um artigo elaborado por uma das militantes da LBL/RS :

“Nós, mulheres lésbicas, temos que lutar pela nossa visibilidade e empoderamento, para que através dos movimentos sociais, possamos exigir políticas publicas que nos enxerguem, nos respeitem e nos tratem com dignidade. Uma política anti-discriminatória dá visibilidade e garantia aos direitos fundamentais de todas as pessoas, independente da sua orientação e expressão sexual.” (Relatório do I Encontro da Liga Brasileira de Lésbicas Região Sul. Florianópolis, Setembro de 2003. p. 04)

Segundo as integrantes da LBL, a idéia de uma articulação nacional fazia parte de um processo que vislumbrava o fortalecimento das mulheres auto identificadas como lésbicas, silenciadas até então pelas práticas hegemônicas dos movimentos sociais no cenário político nacional de reivindicação de direitos. O Fórum Social, espaço de militância conjunta, teria possibilitado a articulação entre militantes lésbicas de vários lugares, como explica a militante da LBL de Porto Alegre:

“Em 2002 ou 2003, já vínhamos no processo de criação dessa rede nacional de lésbicas, primeiro era apenas uma idéia. E isso foi amadurecendo até o Fórum Social Mundial, em fevereiro de 2003. Lá no Fórum, nesse ano, houve uma oficina chamada Visibilidade Lésbica dentro do Planeta Arco Íris, que era o espaço para os debates sobre homossexualidades. Nessa oficina tiveram várias discussões, debates... a gente tirou uma listagem das mulheres presentes com uma primeira reflexão da Liga. A oficina foi de Visibilidade Lésbica, onde tinha umas 60 ou 70 lésbicas. O Espaço Planeta Arco Íris tinha sido anunciado na programação, tivemos material gráfico, TV, toda divulgação daquele espaço, que foi na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre. De lá as lésbicas saíram organizadas na caminhada do Fórum Social Mundial.” (Trecho de entrevista realizada em 20/05/2006, ás 19 horas, no VI Seminário Nacional de Lésbicas em Recife)

O III Fórum Social Mundial em Porto Alegre no ano de 2003 teria propiciado a aproximação entre militantes lésbicas de várias partes do Brasil e também da América Latina. As atividades exclusivas das lésbicas dentro de um espaço de discussão sobre homossexualidade ainda causavam estranhamento e encontravam algumas dificuldades. Uma das organizadoras diverte-se ao lembrar dos esforços para garantir a participação exclusiva de mulheres na oficina:

“Lembro que foi uma dureza tentar impedir os homens de entrarem no local. A gente ficava na porta e dizia pra eles não entrarem, que era um espaço só para lésbicas. Muitos entravam e a gente tinha que pedir pra sair. A Mirian enquanto articuladora ficava em volta impedindo a entrada dos homens que queriam entrar (...) viram aquele monte de mulheres e queriam saber o que estavam discutindo, inclusive alguns gays...quanto mais a gente impedia, mais eles queriam entrar, foi uma coisa muito maluca...nós decidimos que não podiam entrar, assim como não podiam entrar na Liga.” (Trecho de entrevista realizada em 27/02/2007, às 15 h no Ministério da Saúde, Brasília)

As dificuldades na organização de espaços exclusivos denotam os mecanismos que constituem o processo de desarticulação das mulheres enquanto grupos de resistência ao sistema androcêntrico. Tais dinâmicas não são raras em uma sociedade onde um grupo de mulheres ainda significa mulheres sozinhas e sem maiores perspectivas, tendo em vista a representação destas como categoria desqualificada, oposta ao masculino, empoderado pelo imaginário heterossexual.

Através do relato da militante vemos que o binarismo masculino/feminino com suas dinâmicas de sobreposição, está presente inclusive no movimento homossexual, formado majoritariamente por grupos mistos. Segundo elas, nesses grupos, há tentativas recorrentes de silenciamento das mulheres para a promoção da superioridade masculina.

“Quando a Liga foi aprovada no Fórum Social Mundial, o foco central era...pra que a Liga? Pra visibilidade e empoderamento...porque nós não tínhamos através do movimento atual, dessas associações, pelo menos nesse olhar, um espaço onde as lésbicas pudessem debater suas políticas públicas, né...a gente poder estar encaminhando algumas coisas, através do empoderamento das lésbicas em espaços, e também visibilidade pra que a sociedade enxergasse a mulher lésbica, né, pra gente sair do armário, porque só os gays então ou as travestis, de alguma forma, conseguiram muito mais avanços em projetos, em formação e capacitação, enfim...seria uma forma de romper com essa questão patriarcal no movimento.” (Trecho de entrevista realizada em 20/05/2006, às 19 horas, no VI Seminário Nacional de Lésbicas em Recife)

Na perspectiva da militante, um movimento nacional seria necessário para o desconstrução da hegemonia no movimento homossexual, uma vez que há a imposição da supremacia masculina no cenário político. Ao falar da necessidade de “romper com a questão patriarcal” aproxima-se do discurso feminista, que denuncia as dinâmicas que retiram as mulheres dos lugares de fala e de decisões, lugares constituídos discursivamente como masculinos inclusive em muitos movimentos sociais.

As integrantes da LBL apontam para as dificuldades enfrentadas no movimento homossexual, onde permaneceria a oposição masculino/feminino e as supremacias dela decorrente. A coordenadora da LBL de Santa Catarina aproxima a dicotomia homem/mulher e gays/lésbicas e atribui à organização da Liga Brasileira de Lésbicas uma condição necessária para o empoderamento das mulheres:

“A proposição da visibilidade era o maior argumento para a constituição da Liga, e também discutir um pouco a questão de gênero que está posta nos grupos mistos. Da opressão de gênero entre gays e lésbicas e diversos segmentos do movimento LGBT, tem uma hierarquia né, quer dizer, tentam fazer com que tenha uma hierarquia, e a gente queria quebrar essa hierarquia porque a gente estava entendendo que homens estão para mulheres assim como gays estão para lésbicas, se você for montar a equação, então essa era uma forma da gente sair do jugo dos gays e ter um espaço de prática, onde as lésbicas pudessem ser as protagonistas, eu acho que foi mais ou menos isso.” (Trecho de entrevista realizada em 09/09/2006, às 19 horas, na Universidade de Brasília)

Ao apontar para as dinâmicas de silenciamento das lésbicas no interior do movimento de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e trans-gêneros (LGBTT), elas nos colocam frente a uma questão denunciada pelos feminismos: o poder masculino é alicerçado pelo imaginário e é reproduzido em várias e diferentes instâncias.

Após a oficina em Porto Alegre, foi encaminhada a oficialização da LBL no V Seminário Nacional de Lésbicas que ocorreria em São Paulo em agosto do mesmo ano, uma vez que os SENALEs eram o espaço de discussão coletiva e decisão do movimento de lésbicas do Brasil. Muitas militantes reforçam as inovações possibilitadas pelo diálogo com outros movimentos a partir da articulação no Fórum Social Mundial, como o relato abaixo:

“ Eu me aproximei da LBL pelo discurso sobre a questão da opressão...não só o discurso, mas pela opressão mesmo que as mulheres sofriam dentro dos grupos mistos...e esse discurso é de norte a sul do país, com raríssimas exceções...eu acredito que foi um grande passo...pra mim aquele V SENALE  foi o divisor de águas, né, onde nós começamos realmente sermos protagonistas do nosso movimento de forma mais visível e mais organizada, porque existia o protagonismo lésbico em todos esses espaços, mas a articulação da rede, que servia para a gente se organizar mais politicamente, unificar os discursos apesar de grandes divergências, mas principalmente pra dar visibilidade e estar falando do lugar de lésbica [...]”. (Trecho de entrevista com militante da LBL/AL, realizada em 30/03/2006, às 16 horas, no Encontro nacional de núcleos e grupos de pesquisa: pensando gênero e ciência, em Brasília).

O sujeito lésbica reivindicado em um movimento específico instaura seu lugar no mundo a partir um feixe complexo de relações. Essas relações “lhes permite aparecer, justapor-se a outros objetos, situar-se em relação a eles, definir sua diferença, sua irredutibilidade” (Foucault, 1997:51). Assim, a busca da visibilidade através da organização da LBL viria ao encontro também do movimento de fixação, de produção de outros modelos identifários, pois os discursos que a reivindica são “práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam” (idem:56).

Nos discursos que perpassam as produções da LBL e os depoimentos obtidos através das entrevistas, temos então alternância de identificação, oscilando entre lésbicas, mulheres e mulheres lésbicas. O apelo à categoria mulheres, de forma geral, é predominante nos seus discursos e poderia aqui ser pensado como assujeitamento ao esquema binário sexual apesar de associado ao contra-imaginário lésbicas. Como já visto anteriormente, Monique Wittig (1997) apontou para a não identificação da lésbica ao esquema heterossexual, o qual em suas dinâmicas produz a materialidade “mulher”. Guacira Louro (2004:18) considera que a não identificação com o ideal de sujeito categorizado pode ser uma estratégia de desestabilização das categorias humanas instauradas, dizendo que com essa resistência e subversão das normas regulatórias os indivíduos “parecem expor como essas normas são feitas e mantidas”. Entretanto, essa reivindicação é uma constante nos movimentos e lésbicas, pois o sujeito político mulher ainda seria o ponto de referência das lésbicas, na contraposição ao heterossexual.

A escolha do nome do movimento, voltando ao momento da oficina de Visibilidade Lésbica no Fórum Social em 2003, traz indícios de um processo de “feminilização” do sujeito lésbica. Como narra uma das militantes presentes no momento da fundação, o nome Liga surge atravessado pelas representações sociais do feminino, perpassadas pelos signos que materializam as diferenças:

“A gente começou a discutir se seria articulação, mas aí achamos que era uma coisa muito das feministas, muito militante, muito partidária...Associação também não tinha a ver porque a gente queria ir contra a ABGLT...e aí surgiu a história da Liga, pensamos em Liga, também por causa da liga das escolas de samba, que reúne todas as escolas e não necessariamente tem uma pauta única (...) tem um regimento mas não tem uma pauta única e também porque liga tem muito a ver com mulher: cinta-liga...e aí saiu essa história da Liga Brasileira de Lésbicas.” (Trecho de entrevista realizada em 27/02/2007, às 15 h no Ministério da Saúde, Brasília)

A idéia da Liga Brasileira de Lésbicas associada ao feminino pelo adereço fetichizado pode ser constatada através da imagem do panfleto de divulgação da festa de apresentação do movimento pelas integrantes da Região Centro-oeste em Brasília:

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Folder de divulgação da festa da LBL do Distrito Federal em 21 de fevereiro de 2007.

A imagem, segundo Martine Joly (1999:13), “toma alguns traços emprestados do visual e, de qualquer modo, depende da produção de um sujeito: imaginária ou concreta, a imagem passa por alguém que a produz ou reconhece”. Assim, a representação da lésbica, materializa-se sob “associações mentais sistemáticas (mais ou menos justificadas) [...], atribuindo-lhe um certo número de contornos socioculturalmente elaborados (idem:21). Dentro da cisão homem/mulher temos então lésbicas ancoradas no masculino.

Na figura acima o destaque está na feminilização das lésbicas pela materialidade discursiva da mulher: contornos corporais definidos e exagerados. Entretanto, ao mesmo tempo são adicionados elementos que colocam em dúvida essas representações, como os acessórios de luta nas mãos e nos pés e o duplo espelho de vênus na roupa – um dos símbolos do movimento lésbico. Seria possível dizer então que não estamos diante de pura reprodução, mas também de re-significação, pois a partir da passividade simbólica e mercantilizada da imagem erotizada do feminino, recria-o a partir de características ativas: erotizado, mas em combate, embora atrelado ao dispositivo da sexualidade.

Em Linda Nicholson (2000:14), temos metaforicamente uma critica à idéia de aspectos comuns unindo todas as mulheres como um colar de contas, onde estas, apesar das diferenças não deixam de ser a mesma coisa pela sua materialidade e representatividade. Para a mesma autora, há formas variadas de entendimento do corpo, o que o torna uma variável. Assim, “nunca temos um único conjunto de critérios constitutivos da ‘identidade sexual’ a partir do qual se possa interferir alguma coisa sobre as alegrias e opressões inerentes ao ‘ser mulher’” (Idem:15).

Importante então pensar sobre a identidade que significa os corpos em mulheres, auscultando os discursos que dividem o humano, para classificar e excluir. Na perspectiva pós-moderna, as identidades são máscaras sobrepostas a outras máscaras e dessa forma não se aceita naturalizações constituídas e constituidoras pelo pensar homens e mulheres, uma vez que existimos no social e na experiência de seus significados.

Nesta perspectiva, os movimentos lesbianos esboçam algumas estratégias de coalizão e a utilização de símbolos expressa a necessidade de agrupamentos, mesmo que provisórios. É assim que as integrantes da oficina de visibilidade lésbica no Planeta Arco-íris no Fórum Social Mundial em Porto Alegre em 2003, confeccionaram sua própria bandeira, a qual caracterizaria a Liga Brasileira de Lésbicas e também o movimento de lésbicas. Pintando os símbolos relacionados às lésbicas na tradicional bandeira do arco-íris - ainda na Usina do Gasômetro (local onde foi realizado o Planeta Arco-íris) - elas destacam a coalizão das mulheres no símbolo da diversidade - a bandeira do arco-íris - diversidade esta que para as militantes, naquele momento não as incluía.

A ressignificação da bandeira do arco-íris - ícone do movimento homossexual - nesse contexto, busca subverter os mecanismos de invisibilização das mulheres lésbicas no processo político, atuando na esfera das representações sociais através dos símbolos lésbicos. Mais que uma denúncia da apropriação lingüística pelos homens nos movimentos homossexuais, traz a ruptura das representações do feminino sustentado pela evidência da heterossexualidade.

 

foto2

Lésbicas organizadas na Caminhada do Fórum Social Mundial. Fotografia de Maria Angélica Lemos, Porto Alegre, janeiro de 2003.

Na fotografia acima é interessante observar que as militantes alardeiam a lesbianidade por uma perspectiva política entre as milhares de pessoas na caminhada do Fórum Social Mundial em 2003 em Porto Alegre. A bandeira é percebida aqui como instrumento de identificação em torno do qual várias mulheres presentes no evento vão se agregando. Nota-se diferentes sujeitos (idades, etnias, materialidades corporais) que buscam autonomia e igualdade de direitos a partir da coalizão realizada entre as mulheres auto identificadas como lésbicas. A inscrição Lesbianas e Lésbicas na bandeira se deve à participação de lésbicas de vários países da América Latina na oficina de criação da Liga e no intuito inicial de transformar o movimento em um espaço possível de agregar mulheres lésbicas de toda América Latina e Caribe em prol da visibilidade.

A bandeira como símbolo de uma organização fala por ela nos diferentes espaços uma vez que a ideologia de um grupo já está socialmente significada pela imagem nela estampada. Assim, a bandeira traduz a participação, demarcação de um grupo e seus objetivos políticos. A inscrição dos símbolos feministas na bandeira do movimento homossexual traz a proposta de visibilizar as mulheres no movimento homossexual muitas vezes hegemonizado pelas práticas androcêntricas. O símbolo constitui representações e estas, como aponta Lapantine e Trindade,

“[...] não significam substituições puras dos objetos apresentados na percepção, mas são, antes, reapresentações, ou seja, a apresentação do objeto percebido de outra forma, atribuindo-lhe significados diferentes, mas sempre limitados pelo próprio objeto que é dado a perceber.” (idem:13-14).

Visibilidade e sujeito político: alguns apontamentos

A construção de um sujeito político lésbica, analisado como produção de sentidos no âmbito do imaginário, confronta as formações discursivas que estabilizam as categorias definidas pelo eixo sexo/gênero. O imaginário, agente no dinamismo transformador das significações e representações sociais, atua nesse processo de subjetivação com o emergir de novos significados constitutivos dos sujeitos. Isso porque

“O imaginário trabalha um horizonte psíquico habitado por representações e imagens canalizadoras de afetos, desejos, emo­ções, esperanças, emulações; o próprio tecido social é urdido pela imaginário — suas cores, matizes, desenhos reproduzem a trama do fio que os engendrou. O imaginário seria condição de possibi­lidade da realidade instituída, solo sobre o qual se instaura e ins­trumento de sua transformação.” (Navarro-Swain, 1994:48).

Ao resgatarem as representações normativas ligadas à lesbianidade, as militantes da LBL se constituem enquanto sujeitos, transformando as próprias condições de produção de sua existência. Falam a partir de um lugar comum através de textos e imagens que aos poucos vão transformando o estranhamento das relações entre mulheres em materialidade lingüística e visual, significando-as enquanto possibilidade no mundo domesticado pelos “discursos de verdade”.

Após a oficialização da Liga Brasileira de Lésbicas no V SENALE, seu primeiro encontro regional ocorreu em setembro de 2003 na Praia do Campeche, em Florianópolis, do qual resultou um relatório com textos produzidos pelas próprias integrantes. Selecionei o trecho abaixo de um artigo produzido por uma então integrante da LBL Rio Grande do Sul, a fim de pensar o processo de apagamento das relações entre mulheres na sociedade atual, apontando o caráter sócio-histórico das desigualdades fundadas nas diferenças sexuais. A linguagem, nesse contexto, é denunciada pela militante como instrumento conformador, que precisa ser subvertido:

“[...] Para falar de história, no ‘nosso’ jogo de palavras, vamos partir do inglês e da nossa invisibilidade:

HISTÓRIA

HIS TORIA

HIS STORY

HER STORY

HERSTÓRIA

Na língua inglesa, o termo “HIS”, significa dele, e story conto. Na hora que “HER”, significa dela. Estaríamos modificando o conto deles pelo conto delas.

A proposta é começar a nos visibilizar, também a través da linguagem e construir nosso próprio conto, tão invisibilizado, apagado e porque não, modificado nas nossas trajetórias de vidas. Dos poemas da Safo, ficam muitos poucos porque foram destruídos, e ela por dar um exemplo, não aparece comummente entre os/as poetas.

Se não somos nós, mulheres, quem estejamos interessadas em resgatar nossa herstoria, provavelmente no futuro se reitere a nossa invisibilidade ao longo do tempo.

Uma vida sem passado é como uma árvore que não tem raízes. Pode secar.” (Pessah, Mariana. Relatório do Primeiro Encontro da Liga Brasileira de Lésbicas Região Sul, Florianópolis, setembro de 2003, p. 13 - grifos meus)

Através da oposição dele/dela, em um significativo jogo de palavras, realiza-se aqui a simulação de uma transformação da história contada no masculino, materializando na linguagem a possibilidade de inversão da “ordem do discurso” androcêntrico respaldado pelo processo de apagamento das mulheres da história. Embora a proposta seja fundamentada pelo discurso binário, traz um importante desvelamento da parcialidade da história no silenciamento das mulheres. Para Eni Orlandi (2003:09), precisamos perceber que estamos sujeit@s à linguagem, “saber que não há neutralidade nem mesmo no uso do mais aparentemente cotidiano dos signos”. Quando esquecemos quem disse, onde e porque, é sinal que a ideologia já exerceu sobre nós o efeito simbólico, o qual pode operar também pelo esquecimento (idem:49). Por isso a necessidade de ir para além das evidências e “compreender, acolhendo a opacidade da linguagem, a determinação dos sentidos pela história, a constituição do sujeito pela ideologia e pelo inconsciente, fazendo espaço para o possível, a singularidade, a ruptura, a resistência” (idem:59). Como expõe Foucault (1996:27),

“A historia será sempre ‘efetiva’ na medida em que ela reintroduzir o descontínuo em nosso próprio ser. Ela dividirá nossos sentimentos, dramatizará nossos instintos, multiplicará nosso corpo e oporá a si mesma. Ela não deixará nada abaixo de si que teria a tranqüilidade asseguradora da vida ou da natureza; ela não se deixará levar por nenhuma obstinação muda em direção a um fim linear. Ela aprofundará aquilo sobre o que se gosta de fazê-la repousar e se obstinará contra sua pretensa continuidade. É que o saber não é feito para compreender, ele é feito para cortar.”

Monique Wittig (1981:03) nos apresenta a heterossexualidade enquanto um sistema que universaliza os conceitos sobre cultura e sociedade atrelados ao binário complementar de forma autoritária. Dessa forma, a matriz do poder ou da dominação não estaria na divisão de classes, como supõe algumas teorias econômicas, mas na heterossexualidade normativa através do contrato sexual envolvendo seres diferenciados em mulheres e homens. Esse entendimento nortearia um tipo de pensamento retilíneo, direto, direito (straight), o “pensamento heterossexual”.

“[...] fala-se de conceitos como a troca de mulheres, a diferença entre os sexos, a ordem simbólica, o Inconsciente, Desejo, jouissance, Cultura, História, dando um significado absoluto a estes conceitos, quando são apenas categorias fundadas sobre a heterossexualidade, ou sobre um pensamento que produz a diferença entre os sexos como um dogma político e filosófico.” (idem)

Entretanto, Butler (2003:49) pontua que essa pretensão linear de autoridade heterossexual nunca consegue atingir sua totalidade, constituindo-se apenas como um ideal inatingível, tendo em vista que, apesar da constante reafirmação da norma e controle dos corpos, verificamos a todo o momento corpos que dela “escapam”.

São essas dobras na linearidade do pensamento heterossexualizado que são evidenciadas nos discursos e práticas das militantes da LBL. Entretanto, ao proporem as desestabilizações das evidências do modelo heterossexual, as militantes, muitas vezes, estão atreladas ao sistema sexo-gênero e aos discursos históricos tradicionais nele ancorados, como é o caso desse fragmento retirado do Informativo do Projeto Olhares:

“A sociedade impõe às mulheres, através dos séculos, a obrigação de serem heterossexuais (...) muitas pesquisas já demonstraram que a violência contra as mulheres não tem época, nem fronteiras, ela existiu desde sempre em todos os lugares, em todas as culturas. Ela está inscrita em todas as leis, em todas as mentalidades, basta pensarmos nos pés bandados das chinesas, nas viúvas indianas imoladas sobre o túmulo de seus maridos, nas mulheres adúlteras sofrendo lapidação. (Informativo do Projeto Olhares. Ação para a visibilidade lésbica em Porto Alegre. Grupo Nuances, Porto Alegre, janeiro de 2005, p. 04 - grifos meus)

Esse texto, através das palavras destacadas “existiu desde sempre em todos os lugares, em todas as culturas”, toma como norma os discursos de verdade construídos e reproduzidos por uma história globalizante, a qual narra as relações humanas e os acontecimentos a partir de interpretações carregadas de poder normativo. Os apagamentos históricos ignoram as subjetividade com base no binário sexual esquecendo as infinitas possibilidades históricas de interpretação e constituição dos corpos. Dessa forma, a ausência de outras perspectivas nas narrativas históricas resulta na legitimidade da supremacia masculina ad eternum. “Sempre foi assim”, em todos os tempos e lugares. Nada, senão a ignorância ou a arrogância pseudo-científica que apóia a dominação masculina na natureza das coisas. (Navarro-Swain, 2000:21)

Assim, é possível aqui pontuar que a contextualização da opressão das mulheres e a criminalização da lesbianidade nas análises feitas em alguns trechos do informativo acabam por naturalizar as diferenças e instaurar a heterossexualidade como sistema atemporal e a – histórico; distanciam-se, nesse aspecto, das teorias de Wittig, que apontam para os mecanismos autoritários de produção do pensamento heterossexual, a partir de uma analise localizada e histórica.

O Projeto Olhares: ação para a visibilidade lésbica em Porto Alegre, coordenado pela responsável pela LBL/RS através do Grupo Nuances (Porto Alegre) e executado em janeiro de 2005 pelas integrantes da LBL/POA com algumas parcerias, explicita, de acordo com seu Informativo, que

“[...] um caminho para que o combate a todas as formas de discriminação sofrida pelas mulheres lésbicas e bissexuais se torne cada vez mais eficaz, ao proporcionar um espaço de discussão sobre as questoes de gênero, educação, direitos humanos, vivências/histórias de vida, raça/etnia, cultura. O objetivo é criar espaços para a construção da visibilidade, reforçando a auto-estima, as identidades e a autonomia das mulheres lésbicas e bissexuais.” (Informativo do Projeto Olhares. Ação para a visibilidade lésbica em Porto Alegre. Grupo Nuances, Porto Alegre, janeiro de 2005, p. 03)

O projeto propunha a ampliação do espaço de fortalecimento construido pelas militantes a fim de multiplicá-lo através de outras mulheres que nao compõem  o movimento. Percebemos pelos termos “proporcionar um espaço” e “criar espaços” um pouco da estrategia da LBL na difusão da proposta da visibilidade de mulheres lésbicas e bissexuais e sua busca por direitos, através do falar suas vivências diversas da heterossexualidade e suas implicações em uma sociedade androcêntrica e heterossexual.

A capa do Informativo em questão, contrariamente à fala analisada anteriorente, choca com as certezas sobre uma coerção absoluta e atemporal da lesbianidade quando traz como ilustração a antiga imagem de duas mulheres em um contexto romântico. A fotografia de stúdio apresenta caracteristicas do início do século passado e não há maiores informações disponíveis sobre ela. Intitulada “Retrato de Moças”, está catalogada no Acervo do Museu Joaquim José Felizardo, em Porto Alegre e sugere a relação entre mulheres como possibilidade do passado:

 

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Retrato de moças” – fotografia de Virgílio Calegari. Acervo do Museu J. José Felizardo/Fototeca Sioma Breitman, Porto Alegre. Ilustração da Capa do Informativo Projeto Olhares: ação para a visibilidade lésbica em Porto Alegre.

Pensar as relações entre mulheres - aqui tratadas como eventos que escapam às representações deixadas pela historiografia norteada pelo discurso androcêntrico - requer o questionamento das asserções “científicas”.  Isso porque, as ciências não são neutras na escolha dos seus objetos e métodos e seus pressupostos muitas vezes atuam na criação de uma diferença ancorada nos corpos das mulheres para melhor inferioriza-las. Nesse sentido, Sandra Harding (1996:118), nos informa que

“Quando, em determinadas culturas modernas, observamos as relações entre gênero individual e as identidades e condutas sexuais, as divisões sociais do trabalho vigentes segundo o sexo e o gênero e as formas de simbolismo de gênero que essas culturas favorecem, podemos iniciar a explicação sobre a profunda e complexa participação da ciência no avanço da cultura androcêntrica. Podemos começar a compreender até que ponto é enganoso o discurso que a ciência faz sobre sua objetividade, como algo neutro, sem paixão, com respeito aos valores e, portanto, seu progresso intrínseco. Nas palavras de Virginia Woolf: ‘parece que a ciência não carece de sexo; é um homem, um padre e corrompido também’.”

Tendo em vista as narrativas pautadas em uma visão androcêntrica, a destruição das evidências históricas e a análise dos discursos são fundamentais quando o assunto é a naturalização dos papéis sociais das mulheres. Seria imprescindível não tomar “dados científicos” inquestionavelmente como suporte de afirmações. Os discursos científicos instauram um conhecimento masculino, branco, heterossexual e o que as mulheres pensaram, fizeram, como agiram, como sentiram no decorrer dos séculos permanece no silêncio, restando uma história que as conduz a uma dominação infinita, a - histórica, principalmente se essas mulheres fizeram, viveram, sentiram e amaram fora do esquema binário heterossexual, ou seja, sem a presença dos homens. Esta perspectiva, entretanto, muitas vezes, escapa às militantes, enredadas no discurso do “sempre foi assim”.

A atuação em espaços de construção de políticas públicas

Desde a sua criação, as militantes da LBL tem participado de diferentes espaços de controle social como as conferências de Políticas para Mulheres, os conselhos de direitos, fóruns e audiências publicas, sempre inserindo o sujeito político lésbica nos discursos de reivindicação das políticas públicas em diferentes esferas governamentais. Esses destaques podem ser percebidos em alguns materiais, como os Anais da Primeira Conferência de Políticas para Mulheres, textos produzidos pelo movimento e fotografias.

A participação da Liga na Primeira Conferência de Políticas para Mulheres em julho de 2004 foi bastante expressiva, sendo que, juntamente com outras militantes lésbicas de outros grupos, as integrantes da LBL propuseram a inclusão da especificidade lésbicas e bissexuais nas propostas com relação à saúde, educação, previdência social e trabalho, encaminhando-as para deliberações da plenária.

 

foto 4

Participação na I Conferencia de Políticas Publicas para Mulheres. Brasília, setembro de 2004. Fotografia do acervo da LBL

Como pode ser visto na fotografia acima, as militantes da LBL utilizaram da estratégia já conhecida nos espaços de participação política: organizadas em grupo e identificadas com a bandeira idealizada no Fórum Social Mundial de 2003. Dessa forma, são estes “estandartes” que marcam a diferença do grupo pelo recorte da sexualidade/afetividade na busca pela igualdade de direitos. Ali elas não são apenas mulheres, são “lésbicas”, uma diferença que soma a outras tantas que também se fragmentam naquele espaço coletivo: negras, índias, jovens, com deficiência, identidades que desestabilizam o centro (a mulher) ao mesmo tempo que o reafirma, num movimento dinâmico.

Também na fotografia abaixo verifica-se a convergência dos sujeitos políticos lésbicas na Primeira Conferência de Políticas para Mulheres em torno da bandeira, que nesse momento é significada como objeto de união, de objetivos comuns com foco na rejeição da heterossexualidade: uma diferenciação que movimenta o coletivo mulheres que informa o evento:

 

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Militantes na I Conferência de Políticas Publicas para Mulheres, Brasília, setembro de 2004. Fotografia do acervo da LBL Sul.

O planejamento estratégico das propostas políticas é realizado coletivamente através de discussões entre as militantes da LBL em reuniões restritas. As integrantes saíram como delegadas em diferentes Estados para a Conferência Nacional, algumas representando o próprio segmento de lésbicas e outras representando segmentos de mulheres diversos, como as mulheres negras e ainda outros movimentos de caráter feminista. O sujeito lésbica visibilizado na Conferência demarca as diferenças pelo recorte da diversidade afetivo-sexual, atuando discursivamente aqui sobre as representações que informam a produção da categoria mulher a partir do binário heterossexual.

Monique Wittig (1997:02), aponta para problemática da repetição do binário homens e mulheres nos discursos políticos feministas, inclusive em alguns discursos lésbicos. Dessa forma, necessitaríamos menos de uma política fundada no mito da mulher, edificado sobre a noção de natureza e mais de uma política de individualidades, que apontasse para a pluralidade humana e denunciasse a produção da categoria mulher por um sistema de dominação – a heterossexualidade. É nesse sentido que o discurso lésbico poderia contribuir para a desestabilização do construto social mulher a partir de dados naturais. A autora diz ser limitado o entendimento das lésbicas apenas como mulheres que se relacionam com mulheres, uma vez que o sujeito mulher só existe sob o complexo sistema heterossexual produtor das diferenças sexuais. Para ela

“[...] Uma sociedade lésbica revela que a divisão com relação aos homens, dos quais as mulheres tem sido objeto, é política e mostra que temos sido ideologicamente reconstituídas como um ‘grupo natural’. No caso das mulheres, a ideologia vai longe já que nossos corpos, assim como nossas mentes, são o produto desta manipulação. Em nossas mentes e em nossos corpos, somos levadas a corresponder, característica a característica, a idéia da natureza que foi estabelecida para nós; tão pervertida que nosso corpo deformado é o que eles chamam ‘natural’, o que supostamente existia antes da opressão; tão distorcido que no final das contas a opressão parece ser uma conseqüência dessa “natureza”, dentro de nós mesmas (uma natureza que é somente uma idéia).” (Wittig, 1997:02)

Assim, as políticas específicas para mulheres devem ser discutidas, elaboradas e executadas, tendo em vista a desqualificação das mulheres na sociedade pensada a partir dos atributos masculinos. Entretanto, torna-se necessário o cuidado nessa tarefa a fim de não naturalizar o fenômeno que alimenta a divisão sexual e conseqüente opressão das mulheres: a evidencia da heterossexualidade como eixo das relações humanas. Na denúncia da invisibilidade das lésbicas na formulação e execução das políticas públicas, as militantes, ao reivindicarem o sujeito lésbicas e bissexuais, atuam na desestabilização dos discursos que naturalizam o sujeito mulher pensado a partir do biológico, com características e comportamentos estanques. 

 

foto 6

Militantes da LBL em manifestação em frente ao Congresso Nacional. Brasília, novembro de 2005. Fotografia de Maria Angelica Lemos.

Na fotografia acima, novamente através da bandeira, as militantes pautam a participação das mulheres na manifestação, visibilizando as diferenças que perpassam a “orientação sexual” reivindicada como direito. Localizadas em frente ao Congresso Nacional explicitam a diversidade que compõe a expressão “povo” do qual, segundo a Constituição Federal, emanaria todo o poder.

Lésbicas: um espaço de resistência das mulheres

Os limites impostos aos corpos socialmente significados em mulheres e homens pelos aparelhos de assujeitamento permanecem determinantes até a percepção e/ou realização de possibilidades de ruptura produzidas e produtoras dos gestos desejantes de transformação. Esses momentos são pessoais e diversificados, mas afetados pelos discursos que se movimentam pelas instâncias sociais e nesse processo os movimentos de lésbicas são importantes aliados na banalização das normas assujeitadoras das mulheres em seres heterossexuais traduzidos em femininos e maternais. Em suas condições de produção, diversificadamente, trazem instrumentais que contribuem para “modificar a face do mundo, das relações humanas sexualizadas, em seus traços hierárquicos, assimétricos e profundamente injustos” (Navarro-Swain, 2002:01).

A identificação lésbica, para a maioria das militantes, estaria ligada à compreensão da vivência da sua sexualidade e/ou afetividade em uma sociedade norteada por valores masculinistas e heterossexistas, como aponta a integrante de Natal – RN:

“[...] nós andamos juntas com essa identidade, a vivência lésbica é que faz essa identidade, porque dentro da LBL tem pessoas muito diferentes (...) Então, o que nos liga, é a identidade e o que constrói a identidade é a vivência lésbica...o que nos aproxima é isso, apesar de outras coisas que são diferentes...esse é o grande ponto, que a gente percebeu que era comum entre todas...por mais que a gente tivesse divergências políticas, etc, mas a gente tinha uma coisa que nos ligava, que era a nossa vivencia lésbica, a nossa vontade de construir uma forma diferente de ver as lésbicas no Brasil [...]. (Trecho de entrevista retirada do Vídeo “Lésbicas no Brasil”, dirigido por Maria Angelica Lemos, Comunicação Mulher, 2004 – grifos meus)

Na fala acima, as matrizes destacadas “vivencia lésbica” e “identidade” se repetem e se misturam no entendimento sobre a união das mulheres para a formação de um sujeito político. A militante aqui fixa-se na especificidade de vivências no contexto social heteronormativo para marcar as diferenças que as constituem coletivamente. Na mesma fala é possível verificar que “divergências políticas” e “pessoas muito diferentes” descontroem a idéia de uma identidade fixada nas vivências. No final, ao pontuar que o que une as militantes é a “vontade de construir uma forma diferente de ver as lésbicas no Brasil”, a militante abandona a noção de identidade e nos remete a uma estratégia política pautada na transformação das representações sociais que evidenciam a norma heterossexual.

Joan Scott (1992:25) atenta para a armadilha de pensar a experiência como “evidência incontestável e como um ponto originário de explicação que enfraquece a investida crítica das histórias da diferença”. A “naturalização” da experiência como algo autônomo, independente dos construtos históricos e sociais sugere é questionada, pois há que se levar em conta as constituições discursivas dos sujeitos. Para a autora:

“[...] quando a experiência é considerada como a origem do conhecimento, a visão do sujeito individual (a pessoa que teve a experiência ou o/a historiador/a que a relata) torna-se o alicerce da evidência sobre a qual se ergue a explicação. Questões acerca da natureza construída da experiência, acerca de como os sujeitos são, desde o início, constituídos de maneira diferentes, acerca de como a visão de um sujeito é estruturada – acerca da linguagem (ou discurso) e história – são postas de lado. A evidência da experiência, então, torna-se evidência do fato da diferença, ao invés de uma maneira de explorar como se estabelece a diferença, como ela opera, como e de que forma ela constitui sujeitos que vêem e agem no mundo.” (Scott, 1992:26)

 

Assim, nos questionamentos sobre a invisibilidade não basta tornar uma experiência “visível”, pois tal simplificação “impede a análise do funcionamento do sistema e de sua historicidade: ao invés, reproduz seus termos”, diz Scott (idem:27). Segundo ela,

“[...] tornar visível a experiência de um grupo diferente expõe a existência de mecanismos repressores, mas não seu funcionamento interno ou sua lógica (...) não são os indivíduos que têm a experiência, mas os sujeitos é que são constituídos através da experiência.” (ibidem)

Scott (1992:27) sugere então que é preciso historicizar a experiência e as identificações que ela conduz, pois essa historicização “implica em uma análise crítica de todas as categorias explicativas que normalmente não são questionadas”. Nesse sentido, é possível dizer que as militantes estão constituídas individualmente a partir de uma rede discursiva em torno da sexualidade, em um movimento de inclusão e exclusão através do confronto dos discursos que operam na sociedade informada pelo estatuto da heterossexualidade, estando essa dinâmica presente inclusive no interior do próprio movimento na busca pela visibilidade.

Os signos sociais interpelariam as mulheres a partir de sua afetividade/sexualidade, atribuindo-lhes formas semelhantes de abjeção e possibilitando-lhes espaços de rompimento com as verdades estabelecidas, os quais seriam mais significativos na medida em que as mulheres aproximam suas vivências. Assim, a proximidade entre as mulheres por meio da organização de movimentos específicos - suas falas, gestos, afetos e desafetos – propicia trocas de informações a partir de suas perspectivas, auto-conhecimento, percepção de situações de violência através dos relatos das outras, etc, direcionando suas ações para o rompimento dessas representações. Como aponta a militante da LBL/SP, os espaços para lésbicas são alternativas de fortalecimento frente às adversidades do mundo informado pelo imaginário heterossexualizado:

“[...] quando elas chegam lá e tem o grupo formado, e não tem só aquele grupo, tem grupos espalhados pelo Brasil e até pelo mundo, ficam muito mais felizes, acham ótimo participar de atividades como parada gay, como o dia da visibilidade lésbica, porque elas vêem que não estão sozinhas e detalhe, tem muita gente, tem muita gente trabalhando pra dias melhores.”. (Trecho de entrevista retirada do Vídeo “Lésbicas no Brasil”, dirigido por Maria Angelica Lemos, Comunicação Mulher, 2004 – grifos meus)

          A militante da LBL/Sul pontua a necessidade de criação de um espaço específico de mulheres enquanto estratégia de sair do controle das representações sociais que mantém a supremacia masculina:

“[...] Um espaço só de mulheres é muito importante, penso que é um processo...a gente quer um espaço só de mulheres hoje, a gente talvez amanha não precise mais ter essa segregação, que a gente possa junto com todas as pessoas fazer coisas...mas hoje é preciso ter esse espaço de visibilidade das mulheres, de práticas, de ações, de atitude, enfim...acho que hoje é importante ter um lugar só de mulheres.”. (Trecho de entrevista realizada em 09/09/2006, às 19 horas, na Universidade de Brasília)

          Assim, os espaços construídos pelo movimento são traduzidos como espaços de criação de si, de quebra de imagens e estereótipos. Muitas militantes apontam ainda para a importância da união das mulheres em torno do sujeito político lésbica a fim de promover o conhecimento sobre a construção das diferenças e sobre as dinâmicas de apropriação das mulheres pelo heteropatriarcado[v] para subvertê-lo:

“Nós, como lésbicas feministas, temos muito o que desafiar neste sistema. Primeiro, entendo que, na hora em que nos assumirmos enquanto lésbicas, já estamos assumindo a nossa revolução. Que é revolução senão querer modificar e transformar o mundo... embaralhar e dar as cartas de novo. Nós estamos desafiando a sociedade do heteropatriarcado. E nós, como militantes e feministas, temos consciência disto. Coisa que, se por um lado nos dá poder, porque sempre o conhecimento empodera, por outro lado, nos exige maiores cuidados pelas responsabilidades assumidas.” (Pessah, Mariana. Herstoria. Relatório do I Encontro da Liga Brasileira de Lésbicas Região Sul. p. 15)

A militante aqui aproxima-se das teorias de Adrienne Rich e Monique Wittig que subvertem o heteropatriarcado percebido como sistema. O “desafio” colocado por ela seria o de solapar a apropriação masculina através da recusa da heterossexualidade. A identificação lésbicas é significada como um ato político de resistência. Nessa fala temos a desconstrução da representação do amor romântico e da maternidade como características femininas e previsíveis:

“Nossa revolução é também sexual. Estamos desafiando nada menos que um dos primeiros conceitos aprendidos quando crianças. Não acreditar no príncipe azul, senão na princesa. E até desafiar essa crença também, porque não somos todas que achamos que vamos viver eternamente com o ‘nosso amor’. Nosso dia mais feliz não vai ser o casamento. Provavelmente não tenhamos filhas/os e, se decidirmos que queremos tê-las/os, será com outra mulher e não com o homem. desafiamos a afirmação que diz que o sexo é para nos reproduzirmos. Nós nos colocamos como seres sexuais, mas não como reprodutoras. Somos produtoras de um outro sistema, um sistema de inclusão.” (Idem:15-16)

Trechos como estes: “desafiando conceitos aprendidos”, “não acreditar no príncipe”, “provavelmente não tenhamos filhas/os”, “não somos seres reprodutores”, traduzem a resistência às noções de feminino atrelado à heterossexualidade, ao casamento, ao amor e ao cuidado. Afinal, as representações do casamento, do príncipe encantado e do “felizes para sempre” fazem parte constitutiva do destino das mulheres nas representações sociais tradicionais, marcadas pela biologia e apropriadas pelo assujeitamento à heterossexualidade compulsória. Este desafio, que nega a necessidade do binário natural, aponta para a desestabilização de uma ordem fundada no par dominação/submissão. É a “revolução” interna/externa da “ordem do pai”. Nas palavras de Adrienne Rich (2003:02), a ideologia do amor heterossexual, transmitido às meninas desde a infância “pelos contos de fadas, pela televisão, pelos filmes, pela propaganda, pelas canções populares, pelas cerimônias nupciais”, é um instrumento incontestado nas mãos do sistema patriarcal.

 

foto 7

Reunião nacional da Liga Brasileira de Lésbicas., São Paulo, junho de 2004. Fotografia de Maria Angelica Lemos

          A fotografia que nos informa sobre o espaço constituído por estas de mulheres na luta política pelo reconhecimento de direitos. Como visto em Barthes (1980:145), “cada foto é lida como a aparência privada de seu referente” e, assim, opondo essa imagem às tradicionais representações que nos chegam sobre movimentos sociais, temos possibilidades outras de pensar os espaços políticos elaborados por mulheres em suas subjetividades. Marcadas pelo sorriso e pelo múltiplo corporal, longe dos estereótipos que as negativizam.

Os discursos e práticas das militantes, na busca pela visibilidade das lésbicas, aponta para o caráter político da auto-identificação lésbica. Em seu artigo “Heterossexualidade obrigatória e existência lésbica”, Adrienne Rich (1980:23), define o conceito de continuum lésbico como “uma gama de experiências ginocêntricas”, ao longo da vida de cada mulher e da história. Assim, a heterossexualidade é apresentada como uma instituição política, onde as mulheres existem sempre em relação ao homem. É através das trocas entre mulheres que estariam as possibilidades de resignificação e aprendizado de si, possibilitado pelo exercício de pensar e falar sobre e para si, independente da coerção ao binário heterossexual que instaura o masculino enquanto eixo da sociedade.                 

“[...] Eu acho muito bacana construir com mulheres, praticar com mulheres, praticar tanto a fala quanto a atividade, o pensamento...na Liga, pelo menos no grupo mais próximo a mim, no grupo que eu mais me relaciono mais de perto, a gente estuda, a gente troca idéias sobre conceitos, então eu tenho achado muito bacana, eu gosto muito dessa atividade que a gente realiza na Liga e essa busca que a gente tem de ter uma atitude democrática...essa coisa das ações serem horizontalizadas...não que seja sempre, a gente não é perfeita, mas é o que a gente busca, pelo que a gente tem trabalhado pra fazer...eu tenho achado muito legal, gosto muito da Liga.”

Como informa os termos “construir com mulheres”, “praticar com mulheres”, “fala”, “atividades”, “pensamento”, essa troca entre mulheres realiza a idéia de “sororidade” pensada por Rich (1980:24) e é sugerida em alguns materiais produzidos pelas militantes, os quais, mais que expor a sexualidade como eixo da lesbianidade, trazem as possibilidades de fortalecimento das mulheres pela ação política conjunta.

As imagens estão carregadas de sentidos e por isso, por mais simples que seja, “constituirá um mensagem muito complexa”.

“Considerar uma imagem como uma mensagem visual composta de diversos tipos de signo equivale (...) a considera-la como uma linguagem e, portanto, como uma ferramenta de expressão e de comunicação. Seja ela expressiva ou comunicativa, é possível admitir que uma imagem sempre constitui uma mensagem para ou outro, mesmo quando esse outro somos nós mesmos.” (Joly, 1999:55)

 

foto 8

As militante pintam os símbolos lésbicos na bandeira do arco-íris, momento da oficina de visibilidade lésbica no Planeta Arco-íris (Fórum Social Mundial) - fotografia de Maria Angelica Lemos, Porto Alegre, janeiro de 2003.

A fotografia acima registra o momento de construção da bandeira do movimento de lésbicas, sendo que o ato de pintar é destacado aqui enquanto experiência constitutiva, produtora de sentidos para as próprias militantes enquanto sujeitos políticos. Assim, os espaços de lésbicas são importantes em termos de auto-representação e interpretação do mundo representado no masculino pelo recorte do olhar a partir das subjetividades das mulheres. Como o olhar que focou o ângulo exageradamente ampliado da fotografia acima apontando para o que foi significativo para a coesão do grupo: a tessitura conjunta de uma história, de um lugar de autonomia e publicização das ações das mulheres: a materialização da especificidade até então subsumida pela idéia do “homossexual”, o trabalho das mãos para a visibilidade: uma “aventura” das mulheres. Roland Barthes (1980:36) fala que “o princípio da aventura” é o que permite “fazer a fotografia existir”. E é essa aventura que nos toca o olhar, pois o interesse pela fotografia deriva do sentimento e por isso há o desejo de aprofundá-la “não como uma questão (um tema), mas como uma ferida: vejo, sinto, portanto noto, olho e penso”. (idem:39)

A atuação da Liga Brasileira de Lésbicas, pensada como um espaço construído por mulheres e para mulheres a partir do recorte da sexualidade/afetividade pode ser localizada como um espaço extremamente produtivo para a subversão do sistema heterossexual pautado na dicotomia sexo-gênero. Isso porque as reivindicações de “identidades desviantes”, como o sujeito político lésbica promove deslocamentos das categorias indentitárias fixadas em um feminino universal com características opostas ao masculino, produzindo discursos movimentadores das certezas acerca das diferenças sexuais e desvelando o apagamento das relações entre mulheres da memória social.

Referências bibliográficas

FONTES:

- Informativo do Projeto Olhares. Ação para a visibilidade lésbica em Porto Alegre. Grupo Nuances, Porto Alegre, janeiro de 2005.

- Relatório da LBL Região Sul 01 – Relatório do I Encontro da Liga Brasileira de Lésbicas Região Sul. Florianópolis SC: setembro de 2003;

- Fotografias (Caminhada lésbica, Fórum Social Mundial de 2003, Porto Alegre. Autoria: Maria Angélica Lemos/ Reunião nacional da LBL, São Paulo, junho de 2004. Autoria: Maria Angélica Lemos/ I Conferencia Nacional de Políticas Publicas para Mulheres em Brasília, 2004. Acervo LBL/ Manifestação das militantes da LBL em frente ao Congresso Nacional em Brasília, 2005. Autoria: Maria Angélica Lemos)

- Adesivo da campanha do movimento em prol da visibilidade lésbica (2005);

- Lésbicas no Brasil, de Maria Angélica Lemos, Comulher, São Paulo, 2004 (45:00 min).

- Entrevistas (representantes da LBL do Rio Grande no Norte, de Alagoas, do Piauí, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Distrito Federal)

 

Para ver o vídeo apresentado na defesa da dissertação, clicar em

 http://www.youtube.com/results?search_query=Celia+Selem&search=Search

 

OBRAS DE REFERÊNCIA

 

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Nota biográfica:

é feminista, educadora social e assessora jurídica. atua na área de direitos humanos e tenta contribuir para a transformação das desigualdades sociais fundadas nas diferenças. mestre em estudos feministas, especialista em políticas sociais e bacharel em direito.


 

[i] Este artigo é um recorte da minha dissertação de mestrado, sob o mesmo título, na área de Estudos Feministas e de gênero, concluída em setembro de 2007 pelo Departamento de Pós-graduação em História da Universidade de Brasília, sob a orientação da Prof. Dra. Tânia Navarro Swain.

[ii] Mestre em Estudos Feministas pelo Departamento de História da Universidade de Brasília, Especialista em Políticas Sociais e Bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Maringá.

[iii] Por regimes de verdade me refiro ao conjunto de enunciações historicamente constituídas em forma de verdade. Essas enunciações, para Foucault (1997:51) pressupõem relações complexas “estabelecidas entre instituições, processos, econômicos e sociais, formas de comportamento, sistema de normas, técnicas, tipos de classificação, modos de caracterização”. São essas enunciações que permitem fazer o objeto aparecer, “justapor-se a outros objetos, situando-se em relação a eles, definir sua diferença, sua irredutibilidade”, permitem ao objeto “ser colocado em um campo de exterioridade” (idem).

[iv] As práticas discursivas compreendem o “conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram, em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou lingüística, as condições do exercício da função enunciativa”. FOUCAULT, Michel. Arqueologia do saber. Rio de Janeiro:Forense Universitária, 1997, p.136.

[v] Tomando como base a teoria de Monique Wittig (1981) que critica o sistema heterossexual justificado pelo pensamento que produz a diferença entre os sexos como um dogma político e filosófico, promovendo e sustentando a supremacia masculina, eixo deste sistema.

 

 

labrys, études féministes/ estudos feministas
julho/dezembro2007- juillet/décembre 2007