labrys, études féministes/ estudos feministas
juillet /décembre / 2014  -julho/dezembro 2014

 

Intersecções: Psicologia e Estudos de Gênero na Revista Estudos Feministas

(2003-2014)

 

  Mara Coelho de Souza Lago

 Anna Paula Uziel

 

Resumo:  

Inspirada em pesquisa anterior (Diniz e Foltran, 2004), que estudou a Revista Estudos Feministas no período de 1992 a 2002, e retomando investigação realizada no periódico entre 2003 e 2010 (Longhini, 2011), o artigo objetiva discutir a presença da Psicologia nos estudos de gênero no Brasil, através da análise da produção de autoras/es ligadas/os ao campo da Psicologia (em termos de formação e/ou atuação profissional), publicadas/os nesta revista acadêmica entre 2003 e 2014. A análise realizada permite afirmar que houve um aumento das publicações de profissionais da área da Psicologia na REF, ainda que esta participação continue sendo inferior a de outras áreas das Ciências Humanas.

Palavras-chave: Revista Estudos Feministas; Psicologia; Gênero; Publicações feministas

 

 

Introdução

A Revista Estudos Feministas (REF), como outras publicações sobre estudos feministas e de gênero no Brasil, tem sido objeto de muitas pesquisas e reflexões trazidas a público a partir de Encontros de Publicações Feministas (Florianópolis, 2002 e 2003) e de comemorações de datas significativas, que renderam dossiês, seções temáticas e número especial da revista[1].

 A análise documental realizada na REF por Débora Diniz e Paula Foltran (2004), no período que corresponde à data de seu lançamento, no Rio de Janeiro, 1992 e 2002, tem proporcionado desdobramentos de pesquisa.

 Analisando as áreas com maior concentração de artigos[2] na revista, pela investigação dos cursos de formação das autoras dos textos publicados, as duas pesquisadoras mostraram que 62% eram graduadas ou pós graduadas em Antropologia, Sociologia e Ciências Sociais; 15% eram formadas em História; 12% possuíam formação em Letras, Literatura ou Educação. Diniz e Foltran (2004, p. 249-250) manifestaram estranhamento com o fato de que outras áreas de formação, como Psicologia, Filosofia, Direito, Serviço Social, já consolidadas nas pesquisas com gênero e feminismo no cenário internacional, apresentaram uma participação marginal na REF. Profissionais com formação em Psicologia consistiam em apenas 4% das autoras da revista na primeira década de sua publicação.

Este fato nos motivou a desenvolver nova análise na REF, centrada na publicação de autoras/es que atuavam na Psicologia (em termos de formação e/ou atuação profissional), de modo a perceber se o cenário descrito por Diniz e Foltran sofrera modificações nos anos seguintes e, em caso positivo, em que medida.

 Foi realizada análise documental abrangendo inicialmente os volumes da REF publicados entre 2003-2010 (Longhini,2011). Até 2003 a revista publicava dois números por volume anual e de 2004 em diante passou a ser uma publicação quadrimestral (três números por ano). Para esta retomada da pesquisa, objetivando a elaboração do artigo, foram analisados os números publicados entre 2003 e 2014,[3] num montante de 34 números, abrangendo e ultrapassando a segunda década de publicação deste periódico interdisciplinar dedicado aos estudos feministas e de gênero.

 Foram investigados os títulos, resumos e palavras-chave dos artigos, nas diferentes seções[4] da revista, além da pesquisa dos mini currículos de autoras/es publicizados no final de cada número da revista (seção Colaboradores/as), para comprovar as áreas de formação dos mesmos. Em vários momentos foi necessário consultar também os curriculi Lattes de autoras/es.

 

Generificando a Psicologia: desafios de uma apropriação

Ao se perguntar como o feminino influencia o exercício da profissão de psicóloga, o Conselho Federal de Psicologia, em 2012, optou por realizar uma pesquisa por todo o Brasil, para entender como vivem as profissionais da área, que compõem 88% do montante dos profissionais de Psicologia.  Esta interrogação gerou duas publicações: “Quem é a Psicóloga Brasileira? Mulher Psicologia e Trabalho” (Lhulier, 2013a) e “Psicologia. Uma profissão de muitas e diferentes mulheres” (Lhulier, 2013b). Ambas constituem um marco na compreensão de que, embora a discussão sobre gênero seja ainda bastante incipiente nos cursos de graduação em Psicologia e apareça, quando muito, em disciplinas eletivas, esta é uma categoria que pode ser utilizada para pensar o exercício da profissão, o que não apareceu no campo, como vamos expor a seguir.

 Na pesquisa qualitativa, publicada no segundo livro, foram realizados 18 encontros de grupo, com exceção de um estado em que se fez uma entrevista, uma vez que apenas uma psicóloga atendeu ao chamado.  Muitos foram os temas abordados, como a relação com trabalho, família e maternidade, sexualidade, religião, além das invisibilidades que despertaram a atenção das pesquisadoras: questões de violência e sobre relações raciais apareceram de forma muito marginal – o que também provocou reflexão –, bem como observações sobre políticas públicas, apesar de ser o campo em que mais se abre trabalho para as psicólogas.

 A essencialização de um feminino, confundido com uma certa natureza da mulher, pareceu pautar os arranjos dessas profissionais psi na conjugação de suas práticas como esposas, profissionais e mães. A naturalização da necessidade de ser uma profissão de meio período para que se possa conjugar com o cuidado dos filhos retratava não apenas a ideia de que os cuidados com a prole e com a família cabem às mulheres, mas também que não é delas que se deve esperar o sustento financeiro primordial da casa.

 Apesar de se constituir pelo menos há duas décadas, de forma sistematizada, como categoria de análise (Scott, 1995), é possível constatar que a perspectiva de gênero não parece contribuir para que as psicólogas ponham em análise suas formas de pensar seu cotidiano. Tampouco, como sinaliza Azeredo (2010), presta-se atenção aos efeitos do poder da teorização, já que ela sequer entra em cena. O fato de ser uma profissão composta por mulheres não parece ter gerado incômodos ou estranhamentos, em um mundo ainda binário e sexista, mas com um mercado de trabalho cada vez mais amplo para mulheres e homens.

  Apesar de ser ainda um universo bastante feminino, como constatou Lhulier (2013b), dos cuidados ainda povoarem sobretudo o cotidiano das mulheres, a Psicologia não é mais uma das únicas opções de profissão de nível superior para as mulheres. No entanto, ao analisar esta proporção de mulheres e a forma como os homens se inserem na profissão, seja ocupando cargos de chefia em áreas de Recursos Humanos (RH), seja como docentes ou ainda profissionais liberais que passam o dia todo no consultório, não se percebe uma análise crítica, o que indicaria a reprodução das relações de poder que se efetuam na sociedade, atualizando as desigualdades de gênero. A participação dos homens nas práticas psi não valoriza a profissão, tampouco produz deslocamentos, na percepção das entrevistadas.

 Há que se reconhecer que a perspectiva de gênero vem sendo timidamente incorporada na formação psi, a ponto de ainda não se notar, entre as entrevistadas, por exemplo, mesmo entre as mais jovens, que esboçaram uma crítica às formas de olhar para a profissão, uma reflexão a partir desta categoria.

 Em um precioso artigo publicado na própria REF, Azeredo (2010) afirma que teorizar sobre gênero implica ‘encrenca’ (trouble) sobretudo para a psicologia, na medida em que essa é uma área disciplinar e a complexidade de gênero, segundo Judith Butler, exige um discurso inter e pós-disciplinar para resistir à domesticação acadêmica” . (Butler, 1999:175) Talvez esta seja uma das dificuldades de se optar por trabalhar com o gênero atravessando a prática psi. Embora a interdisciplinaridade seja uma característica dos textos publicados na REF, como teremos oportunidade de apontar, ainda que muitas vezes apenas na formação das autoras e autores, um diálogo mais fecundo com outros saberes ainda é incipiente.

 

A gradual entrada da Psicologia na REF

 Dos 34 números analisados no período, constaram 987 textos publicados, num montante de 746 artigos produzidos para as diferentes seções da revista, além de 241 resenhas. As áreas com maior concentração de textos produzidos no período analisado continuaram sendo que as Ciências Sociais, História, Letras/Literatura. Mas Psicologia/Psicanálise aparecem numa posição diferente daquela encontrada por Diniz e Foltran (2004) na primeira década da revista, à frente de outras áreas e campos disciplinares, como o da Educação. O número de artigos oriundos da educação no gráfico não deixa transparecer a importância da área nos estudos de gênero, no entanto, educação é uma temática transversal aos estudos das outras áreas de conhecimento, nos textos publicados na revista.

Reportando-nos ao artigo de Diniz e Foltran (2004), podemos visualizar no gráfico a seguir a participação de produção dos campos disciplinares de Filosofia, Direito, Serviço Social, com participação pouco significativa na   pesquisa relatada pelas autoras.

 

Fonte: Elaborado a partir de Banco de Dados da Ref, criado por Rita Maria Xavier Machado

 

O gráfico permite assim, dar destaque para o crescimento de artigos escritos por autoras/es dos campos da Filosofia, do Serviço Social, do Direito, que Diniz e Foltran (2004) ressaltaram como marginais em sua pesquisa na REF.  Se agruparmos Ciências Biológicas, Medicina e Enfermagem teremos uma entrada dessa área na revista, o que julgamos importante, especialmente se acrescentarmos a produção em Saúde Pública.

 Pensamos que merecem atenção alguns detalhes: se adicionarmos os 20 artigos de Comunicações/ Cinema/ Artes à área de Letras/ Literatura, teremos um significado maior da produção da área na revista, que tem se mostrado com potencial de crescimento.  E onde adicionamos os Estudos Culturais, de tanta importância no diálogo com as teorias feministas? Nessa área? Na Antropologia? Pensamos que deixá-los desta forma pode lhes dar destaque, sabendo que a formação das/os acadêmicas/os que se dedicam a esses estudos é acentuadamente interdisciplinar.

 O gráfico materializa o aparecimento da Interdisciplinaridade como um campo de estudos que ganha relevância em nossas áreas de conhecimento (Ciências Humanas, em geral), o qual deve muito aos estudos de mulheres, feministas e de gênero. Grande parte dos artigos sobre publicações feministas constantes das edições da REF listadas na nota 1 enfatiza o caráter interdisciplinar desses estudos, além das práticas coletivas que marcam os fazeres acadêmicos e militantes feministas e de gênero. 

 Em tese de doutoramento em que analisa o ingresso de psicólogas acadêmicas no campo dos estudos de gênero no Brasil, Adriano Nuernberg (2005) salientou o fato dessa entrada ter se dado pela via da Psicologia Social. Em sua pesquisa, entrevistando psicólogas voltadas para os estudos de gênero e realizando análise documental da produção sobre o tema publicada em periódicos  importantes e em anais dos principais eventos acadêmicos da Psicologia, Nuernberg define três gerações de profissionais da Psicologia dedicadas a esse campo de estudos:

-uma primeira geração, as pioneiras, que ainda não trabalhavam com gênero e sim com mulheres, condição feminina, família, trabalho, e que foram as orientadoras na formação acadêmica das mulheres da geração seguinte;

-a segunda geração de psicólogas, que se dedicaram propriamente aos estudos feministas e de gênero;

-e uma terceira geração de acadêmicas voltadas para os estudos de gênero, da qual começaram a fazer parte também homens voltados para as questões de gênero, especialmente com referência aos temas das homossexualidades e das masculinidades.

 Pensamos que esta classificação geracional proposta por Nuernberg pode ser estendida para outras áreas do conhecimento, no que se refere à entrada dos homens nesse campo de estudos, em decorrência da introdução do conceito de gênero e da ênfase em seu aspecto relacional na construção de feminilidades e masculinidades.

 A Psicologia no Brasil é uma profissão marcadamente feminina, pela associação que se costuma fazer ainda entre mulheres e cuidados (care), e por esse traço que associa também Psicologia a cuidados.

 Conforme podemos visualizar no gráfico abaixo, de 2003 a 2014 foi publicado um total de 128 textos produzidos por profissionais ligadas/os ao campo da Psicologia por formação/atuação, envolvendo 98 autoras/es que publicaram nas diferentes seções da revista (artigos, ensaios, dossiês, debates, seções temáticas e de artigos temáticos, entrevistas, resenhas). Foram publicadas 31 resenhas por profissionais ou pós graduandas/os ligadas/os à Psicologia (25 mulheres e cinco homens). Subtraindo as resenhas, na separação por sexo, foram 78 mulheres e 20 homens que produziram a totalidade do material publicado na REF por psicólogas/os no período analisado.

 

Fonte: Elaborado a partir de Banco de Dados da REF, criado por Rita Maria Xavier Machado

Num total de 991 textos, escritos por 813 autoras/es (655 mulheres e 158 homens), temos uma proporção de 12,91% produzidos por profissionais da Psicologia, dos quais 11,90% foi a proporção de autoras ligadas à Psicologia, entre as mulheres com textos publicados, e 12,65% corresponde ao percentual de psicólogos entre o total de homens que publicaram na REF no período.

Nas Considerações finais de seu artigo, Diniz e Foltran (2004) ressaltam o fato dos artigos na REF serem marcadamente de produção individual nos 10 primeiros anos da publicação. Este panorama mudou bastante no período analisado agora, também entre a produção de profissionais ligadas/os à Psicologia. Analisando os artigos em co-autoria produzidos por psicólogas/os em parcerias com autores/as de outras matrizes disciplinares, podemos constatar que são compartilhados com profissionais provindos das ciências sociais – sociologia, antropologia, história –, de letras e da área da saúde, no caso de artigos voltados para questões clínicas. Em relação aos dossiês que tiveram a participação de psicólogas/os como organizadores, a parceria envolveu sociólogas/os, antropólogas/os, historiadoras.

 Muitos artigos, em diferentes seções da revista, articulam as questões de gênero e sexualidade, especialmente com a psicanálise.  Os temas das sexualidades, homossexualidades, transexualidades têm suscitado significativa produção na REF, no âmbito das teorias pós-estruturalistas e mais recentemente das teorias queer. Ressaltamos o dossiê Conjugalidades e parentalidades de gays, lèsbicas transexuais e transgêneros no Brasil, de 2006 e o dossiê Vivências trans, publicado em 2012. Artigos de psicólogas/os estão presentes também em dossiês sobre educação, trabalho, aborto, trabalho rural e em seções de Artigos Temáticos.

 As resenhas publicadas por psicólogas/os no período se ocuparam de obras de sociólogas/os, antropólogas/os, historiadoras/es, psicanalistas, educadoras/es, abordando temas como tecnologias reprodutivas, classe, raça/etnia, sexualidades, trabalho, educação, homossexualidades, sempre em intersecções com perspectivas de gênero.

 

Fonte: Elaborado a partir de Banco da Dados da REF, criado por Rita Maria Xavier Machado

 

 

 Pesquisa realizada mais recentemente na REF por Lucila Scavone (2013), abrangendo o período de 1999 a 2012, apresentada em evento de comemoração aos 20 anos de sua publicação, analisou os artigos publicados no período. Quando apresenta características das/os autoras/es de artigos, a pesquisadora elabora gráfico comparativo das autorias por sexo (Scavone, 2013: 594), mostrando que a publicação de textos produzidos por homens aponta para o crescimento de sua participação no periódico.

 Com um corpus de pesquisa constante de 471 artigos, distribuídos pelas várias seções de 36 números da revista, Scavone (2013: 589) define o que considera como os sete principais eixos temáticos da revista no período, pelo montante de artigos publicados: 1) Cidadania, Movimentos Sociais e Políticas; 2) Cultura, Educação e Mídia; 3) Corpo, Identidade, Geração e Sexualidade; 4) Migração, Trabalhadoras e Trabalho; 5) Teorias de Gênero; 6) Saúde Reprodutiva e Sexual; 7) Famílias. 

 Para refletir sobre os artigos publicados na REF por psicólogas/os entre 2003 e 2014, utilizando a classificação da autora, podemos perceber que o eixo temático com maior número de reflexões é o de Teorias de Gênero, com 15 artigos abordando o tema; seguido do eixo Corpo, Identidade, Geração e Sexualidade, com a publicação de 12 artigos; em terceiro lugar viria o eixo temático Cidadania, Movimentos Sociais e Política, com nove artigos; Saúde Reprodutiva e Sexual, oito artigos; Cultura, Educação e Mídia, sete artigos; Família, com quatro artigos; e finalmente, o eixo Migração, Trabalhadoras e Trabalho, com 3 artigos. Chamamos a atenção para o número maior de artigos de autoras/es ligadas/os ao campo da Psicologia no eixo das Teorias de Gênero, indicando a reflexão destas/es sobre as questões epistemológicas imbricadas aos estudos feministas e de gênero.

 Classificações, como já frisamos, são sempre arbitrárias. Longe de esconder ou driblar diferenças, devem servir para auxiliar na sistematização do pensamento ou de características de algo que seja objeto de nossa análise e/ou interesse.

 Optamos por seguir a classificação de Lucila Scavone, a última publicada na REF sobre os textos divulgados pela revista. Reconhecemos o esforço do agrupamento e lançamos uma questão que nos instiga a pensar: que temas deveriam ter visibilidade? Pelo Brasil, o serviço público emprega psicólogos nas áreas da saúde, assistência e educação. É ainda tímida, mas cada vez maior a atuação e discussão da Psicologia sobre violência e violência contra mulheres.

Pensamos que no futuro talvez fosse interessante optar por uma classificação que destacasse esses trabalhos, bem como reunisse os estudos sobre gênero, sexualidade e saúde reprodutiva e sexual em um mesmo grupo. As formas de classificação informam sobre maneiras de organizar o campo, mas sobretudo nos permitem dar consistência aos destaques que queremos dar às questões debatidas. Em especial, para pensar o campo Gênero e Psicologia, pode ser bastante elucidativo.

 

 Concluindo, 

 Com relação à pesquisa realizada na primeira década da revista, pudemos perceber que houve um crescimento da produção de autoras/es com formação e/ou atuação no campo da Psicologia na REF. Pensamos que isso possa estar ocorrendo com outras revistas acadêmicas dedicadas aos estudos feministas e de gênero. Esse dossiê proposto pela Labrys certamente virá contribuir para o incremento da produção psicológica sobre estudos de gênero e feministas em periódicos brasileiros.

 Nos anos de 2006 e 2007, Adriana Ortiz-Ortega e Mário Pecheny (2010), coordenaram uma pesquisa sobre sobre gênero e sexualidades no bojo de um projeto maior, coordenado pela autora com apoio da Fundação Ford, realizado na Argentina, Chile, China, México e África do Sul, com o objetivo de explorar como se dava a “transmissão das dimensões sociais, culturais, históricas e políticas sobre as sexualidades na educação superior” (p.19, tradução das autoras).

Sobre o que ocorreu na Argentina, os autores localizam o cenário político do ativismo lésbico, trans, gay e feminista como preponderante para a incorporação dessas temáticas, por professoras feministas, em trabalhos de pesquisa. E ressaltam ainda a facilidade da qual a nova geração desfruta para realizar pesquisas neste campo. Apontam a necessidade de se construir ainda, junto com a consolidação do campo acadêmico, um maior diálogo e interface entre academia, movimentos sociais e práticas governamentais.

 No Brasil, parece bastante pertinente uma pesquisa que mapeie gênero e sexualidade no tripé que define a universidade: ensino, pesquisa e extensão. Ainda que este mapeamento não tenha sido feito de forma sistemática, é possível apostar em uma identificação possível de pontos e núcleos da psicologia no campo, ao perceber como se têm constituído grupos específicos sobre o tema na Associação Nacional de Pesquisa e Pós Graduação (ANPEPP), nas propostas de grupos de trabalho e simpósios temáticos que atraem psicólogas/os em congressos específicos de gênero, bem como nas pessoas que circulam em bancas de conclusão de mestrado e doutorado cuja ênfase são os estudos de gênero e sexualidade. 

 Os artigos da REF que abordam gênero, sexualidade e psicologia, além de reflexões teóricas, retratam investigações fundamentais para os campos da saúde, da justiça e da assistência, apontando para a possibilidade da psicologia se apropriar da discussão que, cada vez mais, se constrói de forma interdisciplinar. As demandas de pareceres psicológicos em diferentes áreas da justiça, a inserção dos profissionais no mercado da assistência têm se constituído um nicho potente para atualização do trabalho interdisciplinar que considera as perspectivas do gênero e da sexualidade como constitutivas do campo.

 

Referências bibliográficas

Azeredo, Sandra.2010. Encrenca de gênero nas teorizações em psicologia. Revista Estudos Feministas,  vol.18, no 1, 2010.

Butler, Judith. 1999. “Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do ‘sexo’”. Louro, Guacira. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autentica, 1999, p. 151-172.

Diniz, Débora e Foltran, Paula. 2004. “Gênero e feminismo no Brasil: uma análise da Revista Estudos Feministas”. Revista Estudos Feministas. Vol. 12, N. Especial, pp. 245-253.

Lago, Mara Coelho de Souza. 2014.”A maioridade da Revista Estudos Feministas: entrelaçando experiências”. Funck, Susana Bornéo; Minella, Luzinete Simões e Assis, Gláucia de Oliveira (orgs.) Linguagens e Narrativas. Desafios Feministas. Vol I. Tubarão/SC: Copiart, (no prelo) 

Lhulier, Louise A. (org.). 2013ª.  Quem é a Psicóloga Brasileira? Mulher Psicologia e Trabalho. Brasília: Conselho Federal de Psicologia,

Lhulier, Louise A. (org.) , 2013b. Psicologia. Uma profissão de muitas e diferentes mulheres. Brasília: Conselho Federal de Psicologia.

Longhini, Geni Daniela N. 2011. Psicologia e Estudos de masculinidades: uma análise documental da Revista Estudos Feministas (2003-2010). Relatório Final de Pesquisa IC/CNPq/ UFSC. Orientadora Mara C. de S. Lago.

Nuernberg, Adriano Henrique. 2005. Gênero no contexto da produção científica brasileira em Psicologia. Tese defendida no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, UFSC, Florianópolis.

    Ortiz-Ortega, Adriana e Pecheny, Mario (comp.) 2010.  Ensenanza universitária sobre gênero y sexualidades en Argentina, Chile, China, Mexico e Africa do Sul. Buenos Aires: Teseo.

Scavone, Lucila. 2013 . Perfil da REF dos anos 1999-2012. 2013. Revista Estudos Feministas.. Vol. 21 N.2/2013. pp. 587-596.

Revista Estudos Feministas. CFH/CCE/UFSC. Vol. 11 N.1/2003 a Vol. 21 N. 2/2013.

 

 

Nota biográfica

Mara Coelho de Souza Lago, doutora em Psicologia da Educação (UNICAMP-SP), atua nos Programas de Pós Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas e de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Participa da coordenação do Núcleo de Pesquisa Modos de Vida, Família e Relações de Gênero (MARGENS/PSI) e do Instituto de Estudos de Gênero (IEG/UFSC).

Anna Paula Uziel, doutora em Ciências Sociais (UNICAMP-SP), professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGPS/UERJ). Coordena o Laboratório Integrado em Diversidade Sexual e de Gênero, Políticas e Direitos (LIDIS) da UERJ.


 

[1] Conferir Revista Estudos Feministas, V.11, N.1, 2003; V,12, Número Especial, 2004; V.16, N.1, 2008; V.21, N.2, 20013.

[2] Para esta classificação as autoras seguiram o vocabulário controlado do Tesauro para Estudos de Gênero e sobre Mulheres, da Fundação Carlos Chagas.

[3] Foram analisados apenas os dois primeiros números do volume 22 de 2014.

[4]   Sobre as seções da REF, conferir Mara Lago (2014)

 

 

labrys, études féministes/ estudos feministas
juillet /décembre / 2014  -julho/dezembro 2014