labrys, études féministes/ estudos feministas
janvier / juin 2015 -janeiro/juin 2015

 

 

APRESENTAÇÃO

 

DOSSIÊ: ENSINO DE HISTÓRIA DAS MULHERES

Organização: Susane Rodrigues de Oliveira (UnB)

As primeiras preocupações dos movimentos feministas, já anunciadas desde a primeira metade do século XX, focavam na posse e disposição do próprio corpo, no direito  à educação, à igualdade salarial e, especialmente, a conquista da independência, dignidade e liberdade das mulheres.

Na trajetória destes movimentos, após os anos 1970, surge também a preocupação com o “direito ao passado”, ou seja, com a conquista do direito à preservação e difusão de memórias e histórias que possibilitem o reconhecimento e a valorização do protagonismo das mulheres em diferentes tempos e espaços, bem como a legitimação das lutas feministas. Não por acaso, uma das resoluções aprovadas em 2011 na 3ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres no Brasil recomendava, – com vistas à educação e cultura para a igualdade e fortalecimento da cidadania, – a criação de diretrizes nacionais de educação que incluíssem, “ [...]nas grades curriculares, o ensino sobre a história das mulheres em todos os níveis e modalidades da rede de ensino” (2012: 16).

 No século XXI essa preocupação aparece tanto nas pautas de debates sobre políticas públicas de enfretamento às desigualdades e de promoção da autonomia das mulheres no Brasil, como nas pesquisas e estudos feministas e de gênero desenvolvidos no campo da história acadêmica.

Nesse movimento, várias historiadoras assumem abertamente suas posições feministas e se posicionam também como “sujeitos da história”, produzindo uma série de estudos e pesquisas que, além de conferir visibilidade à atuação das mulheres no passado, expõe o caráter social e histórico das desigualdades de sexo-gênero, desconstruindo conceitos naturalizados e universalizados a respeito das mulheres e das relações de gênero na história.

No bojo desta produção historiográfica amplia-se a preocupação com as formas de escrita, difusão e ensino da história das mulheres em espaços capazes de educar as práticas e imaginários sociais. Desde a introdução dos primeiro cursos universitários dedicados à história das mulheres e aos estudos feministas, os debates sobre os pressupostos teóricos e metodológicos da historiografia conduziram também a reflexões sobre as formas de ensino da história das mulheres.

Os dez artigos reunidos neste dossiê compartilham dessa preocupação em estudos e pesquisas sobre o ensino de história das mulheres dentro das escolas e universidades.

Os textos de Valéria Silva (Colégio Militar de Brasília), Susane Rodrigues Oliveira (UnB), Elaine Pires e Cristiani Silva(UDESC), Carolina Benítez (Universidad de Granada/Espanha), Ana Soares (UFG) e Danielle Santos (UFG) têm como lócus de investigação a história escolar; esse conjunto de textos apresenta analises e reflexões sobre planos de aula, livros didáticos, pensamento histórico de estudantes, concepções de ex-estudantes, saberes docentes, experiências didáticas, mídias digitais, currículos oficiais e processos de formação de professores/as.

Já os textos de Diva Muniz (UnB), tania navarro swiain, (Labrys), Cláudia Brochado (UnB), Sara Guardia (CEMHAL/Peru) e Meire de Carvalho (UFG) tratam dos aspectos téoricos da história das mulheres, sua produção e ensino nos meios acadêmicos: centro de estudos, publicações, disciplinas e pesquisas na graduação e pós-graduação.

Com base nos estudos feministas e de gênero, as autoras desse dossiê apontam e questionam a inclusão diferenciada e desigual das mulheres nos discursos historiográficos e escolares. Como bem disse Diva Muniz, no artigo que escreveu para este dossiê, trata-se de uma inclusão reveladora da “dimensão da violência de gênero operante no discurso historiográfico e nas práticas de ensino, pesquisa e de escrita da história” (Muniz, 2015).

As reflexões, questionamentos e propostas contidas neste dossiê, desenvolvidas com base nos estudos feministas e de gênero, trazem importantes  para docência e pesquisa acadêmica no campo da história em todos os níveis. Além disso, podem subsidiar os debates e  orientações de políticas educacionais para a igualdade de gênero bem como inclusão da história das mulheres nos currículos escolares e acadêmicos.

Dra. Susane Rodrigues de Oliveira

 

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