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janvier / juin 2015 -janeiro/juin 2015

 

A Idade Média e a História das Mulheres no Curso de Graduação em História da Universidade de Brasília.

Cláudia Costa Brochado

 

Resumo:

Este artigo trata da experiência da autora na graduação em História na Universidade de Brasília que, como especialista em Idade Média, procura tratar a história do período como o resultado da experiência de mulheres e homens nessa cronologia. Dessa maneira, observa ser fundamental evidenciar a especificidade da presença feminina na história, tornando-a presente nos programas das disciplinas. Dividido em dois tópicos, pesquisa e docência, o artigo apresenta a maneira como essa questão vem sendo tratada nas pesquisas de iniciação científica e nas disciplinas oferecidas pela autora. Quanto à pesquisa, destaca-se o trabalho com obras de autoras do período, o que motivou o projeto “Escritos Femininos Medievais”. No que se refere à docência, observa-se a inclusão da história das mulheres nas disciplinas obrigatórias, Medieval I e II, além da disciplina que tem como objetivo específico tratar da cultura feminina do período: “Mulheres criadoras de cultura na Idade Média”.

Palavras-chave: Feminismo, Idade Média, ensino história

 

 

A pesquisa

Como feminista e medievalista, além de professora, pesquisadora e orientadora, foi natural buscar desde o início da vida acadêmica formas de aliar o campo teórico sobre o qual minhas pesquisas se orientam, os estudos feministas e de gênero, a minha área de especialização, a Idade Média. O interesse foi incluir as mulheres nos grandes temas que cercam o período, temas tratados nas disciplinas obrigatórias do currículo de História, quanto buscar uma aproximação mais aprofundada em disciplinas específicas, além das pesquisas, definindo recortes, abordagens, campos de estudo e documentos que delas nos falassem. É sobre essas experiências que pretendo tratar aqui, experiências, todas elas, em permanente construção. Para efeito de organização, as apresentarei em duas partes, uma relacionada à pesquisa e outra, à docência.

Minhas pesquisas, que aliam História das Mulheres e Idade Média, vêm se desenvolvendo desde a década de noventa, principalmente a partir do doutorado realizado na Universidade de Barcelona, quando entrei em contato com um fundo documental dos séculos XIV e XV, composto por mais de 100 processos, relacionados a conflitos matrimoniais. Foi a partir dessa documentação que pude observar as mulheres em suas especificidades, como sujeitos ativos dos processos em questão. Sua visibilidade nesse tipo de fonte é condição para a existência do documento, pois as mulheres são sempre, nesse caso, uma das partes do litígio. Ao mesmo tempo, esse fundo, ao se vincular ao contrato matrimonial, fala sobre a política sexual do período, importante conceito para nossas investigações.

Assim, tive condições, desde o início, de questionar a ideia de uma suposta invisibilidade feminina na história e essa documentação teve papel relevante nessa constatação, acabando por nortear nossos trabalhos posteriores.

Paralelamente, incorporei à pesquisa textos literários medievais que falam sobre as mulheres e, a partir daí, duas outras constatações importantes surgiram. Em primeiro lugar, de que o tema “mulheres” era recorrente nos últimos séculos medievais, em segundo, de que havia um significativo número de obras escritas por mulheres nesse período. Assim, começando pela excepcional Vita Christi da ibérica Isabel de Villena, fomos descobrindo muitas outras obras femininas medievais.

Nossas pesquisas permitiram observar a riqueza de registros femininos na Idade Média, bem como a riqueza de uma cultura feminina no período, e entendemos que era preciso colocar os alunos e as alunas em contato com essa realidade através da docência e da pesquisa. Colocá-las/os em contato com essa história tão pouco conhecida, não só do grande público, mas também da maioria dos/das professores/as e consequentemente dos/das estudantes. E foi justamente a partir das aulas, sobre as quais falaremos mais à frente, que surgiu o interesse da maioria dos alunos e alunas pela pesquisa de iniciação científica relacionada às mulheres medievais.

Estruturei, assim, dois projetos nos quais pudessem ser abrigados os projetos de iniciação científica das/os alunas/os de graduação. O que abriga a maioria das pesquisas relacionadas à história das mulheres e estudos feministas denomina-se Escritos Femininos Medievais, cujas fontes primárias trabalhadas são textos medievais de autoria feminina.

É importante observar que a Idade Média é um marco importante na escrita feminina, pois será a partir desse período que encontraremos um número significativo de textos de mulheres. Nos derradeiros séculos medievais constatamos ainda a existência de obras femininas de defesa das mulheres. É também sobre esse processo que nossas pesquisas se debruçam, para observar tanto as transformações que permitiram uma maior autonomia – que possibilitou a escrita feminina - quanto uma possível contra reação, que gerou a chamada Querelle des femmes, debate literário e movimento político, iniciado nos últimos séculos medievais, que surge em consequência da dialética presente nos textos a favor e contra as mulheres que proliferam no período.

Na Idade Média, por exemplo, foram muitas as mulheres que deixaram registros, apesar de ser um tempo recuado, o que contribui para a dispersão/desaparecimento dos documentos. Assim, a generalização que insiste na ausência de voz feminina deve ser questionada. De qualquer forma, é importante lembrar que trata-se de um período em que poucos tinham acesso à escrita, independentemente do sexo.

Outro erro recorrente nas generalizações é falar do confinamento feminino ao espaço privado - algo que teria contribuído para sua menor visibilidade -, que se colocaria em contraposição ao público. Quando falamos da Idade Média, mais uma vez, isso não faz sentido, pois não percebemos nesse período tal divisão. Podemos, por exemplo, perguntar: o espaço religioso medieval é um espaço público ou privado? Pois é nele onde a maioria das mulheres escrevem.

Assim, os documentos sugerem que em outros tempos, em outras cronologias, os espaços de presença feminina eram menos fechados e nessa perspectiva, é possível questionar sobre a ausência de uma tradição feminina na história ou na literatura, o que constitui em um dos principais objetivos de nossas pesquisas.

Dessa forma, propomos uma relação entre História das Mulheres e Literatura. Frequentemente, fala-se sobre o afastamento feminino do espaço do saber e é comum associar esse afastamento às relações de poder que teriam dificultado o acesso das mulheres a esse e a tantos outros espaços, vinculando esse processo a uma tradição hostil  à expressão literária feminina.

Sem questionar a vinculação entre relações de poder e limitação dos espaços de presença das mulheres nos registros da história, questionamos, sim, a inexistência de uma tradição de autoria feminina, formulando algumas perguntas: seria essa suposta ausência uma construção, já que cada vez mais se confirma o número significativo de mulheres que deixaram os seus registros ao longo do tempo? Essas autoras, só agora “redescobertas”, eram conhecidas em seu tempo? Se o eram, quais foram as mudanças operadas na cultura ocidental responsáveis por um silenciamento posterior? Qual a relação dessas supostas mudanças com a chamada Política Sexual?[1] Esses são alguns dos questionamentos que se fazem presentes em nossas pesquisas.

Ao analisar esses escritos, buscamos verificar a possibilidade de haver semelhanças em seus discursos, ou seja, trabalhar o interdiscurso, observando se a identidade de sexo ou os regimes de gênero enfrentados por elas, deixam marcas em seus discursos que evidenciem uma possível identidade.

Em nossas pesquisas trabalhamos também com a noção de experiência formulada por Joan Scott, ao falar dos/as autores/as que se voltam para a realidade da experiência, sem vínculo com a dimensão discursiva, a experiência como algo fundador. Os escritos, nesse caso, são tomados apenas como textos, não passíveis de análise linguística. A ideia é observar a experiência como categoria de análise e historicizá-la (SCOTT, 1999). No caso das autoras medievais, esta categoria é útil para vincular experiência e construção da subjetividade.

O objetivo mais amplo desse projeto é o de dar visibilidade a essa produção, na perspectiva de identificar uma genealogia feminina que permita reparar a concepção errônea, extremamente difundida, de que haveria uma ausência de registros que permita falar da experiência feminina na história, bem como de sua produção literária e intelectual.  Questiona-se, assim, a tão naturalizada ideia de vazio de registros e invisibilidade feminina, ao constatar uma significativa produção feminina na Idade Média.  Para tanto, é necessário estabelecer uma relação entre o conteúdo desses escritos e a cultura do período em suas mais diversas dimensões, percebendo essas autoras como sujeitos políticos atuantes nos mais diversos movimentos do seu tempo. De onde falam, para quem falam, que valores reafirmam, criticam, reinventam?

Em uma dimensão historiográfica, cabe ainda perguntar em que medida as experiências das mulheres ao longo do tempo, suas falas e trajetórias, podem contribuir, como objeto de estudo, para a reflexão acerca de novos modos de construir o saber histórico e do fazer do/a historiador/a. 

Com relação às fontes, além dos já mencionados escritos femininos, trabalhamos também com textos, literários ou não, que possam nos aproximar do discurso relativo às mulheres, muitos deles inscritos no debate político/literário mencionado.

O nosso segundo projeto está relacionado à sexualidade, tema que também se nutriu dos estudos feministas e de gênero, estudos que nas últimas décadas abriram novos espaços, ampliando o campo historiográfico e incorporando novos temas e objetos às pesquisas e dando, assim, grande contribuição à produção do conhecimento histórico. No que diz respeito à sexualidade, considerando que a sociedade cristã em construção é produtora de variados dispositivos reguladores das práticas à ela associadas, buscamos analisar os limites desses dispositivos, questionando a noção de sociedade repressora para o caso medieval.

Uma das possibilidades de se perceber isso é analisar as formas de repressão às relações ilícitas no que se refere à sexualidade. Através da análise da documentação, percorremos os limites entre a lei e as práticas cotidianas na Baixa Idade Média, entre aquilo que se define como regra a ser cumprida e seu efetivo cumprimento. Ao constatar que a sexualidade tem uma presença acentuada nos discursos de diversos documentos, buscamos analisar a relação entre a moral sexual dos textos normativos e e as prácticas sociais.

Quanto às fontes, no que tange à sexualidade, além de textos moralistas relacionados à “querela das mulheres” [2], rico material para essa proposição, trabalhamos com  textos normativos medievais como as Decretais de Gregório IX, Usatges de Barcelona, As Ordenações Afonsinas e as Siete Partidas.

Outro importante material refere-se ao fundo documental mencionado, relativo à processos matrimoniais.[3]  Essa documentação nos traz as mulheres que viveram nos séculos XIV e XV, em Barcelona e arredores, expondo suas vidas cotidianas, em práticas de relação com outras mulheres e homens. A riqueza deste fundo documental reside, por exemplo, na heterogenidade daqueles/as que se apresentam ao tribunal eclesiástico de Barcelona para participar direta ou indiretamente dos litígios. Pertencentes a grupos sociais diversos (agricultores/as, artesãos/ãs, religiosos/as, nobres, etc.) possibilitam um olhar mais amplo sobre aquela sociedade.

É importante observar, para finalizar este item, que a categoria de gênero, obviamente, é útil para nossas análises e grande parte da bibliografia que embasa nossas pesquisas também recorre a ela. No entanto, consideramos suas limitações, pois os gêneros são construções, como o é a cultura que os define, portanto, fluidos. Assim, devem ser entendidos como representações em movimento, em constante processo de transformação e de incorporação de novas possibilidades de expressão a partir (ou não) dos corpos biológicos. Como bem observou Judith Butler, em sua obra, Problemas de gênero (BUTLER, 2010), o sexo biológico e a sexualidade se submetem a essas construções, com a falsa aparência de que seria o contrário. De qualquer maneira, é cada vez mais difícil considerar na contemporaneidade apenas dois gêneros, masculino e feminino.

Ao mesmo tempo, nossas reflexões se aproximam e se nutrem de trabalhos das teóricas da “diferença sexual”, grupo composto fundamentalmente por filósofas e historiadoras das universidades de Milão e de Barcelona, destacando entre elas, Luisa Muraro (MURARO, 1992) e Maria-Milagros Rivera (RIVERA, 1994). A questão fundamental dessas autoras é trabalhar a “ordem simbólica materna”, entendê-la como uma tradição vinculada à cultura feminina, que sofrerá um contínuo processo de cancelamento nas culturas patriarcais, como é o caso da judaico-cristã.

 

Docência

            Com relação ao trabalho de docência, ele se divide entre as disciplinas obrigatórias, Medieval I e II, e as disciplinas optativas.

            No que se refere às obrigatórias, gostaria de relatar a experiência de um grupo de professoras espanholas, coordenado pela medievalista e feminista, Maria-Milagros Rivera, experiência que tem nos inspirado no trabalho de docência. Este grupo é composto por professoras das universidades de Barcelona, Zaragoza e Girona que se reuniram para elaborar um manual de história da Idade Média, porém uma síntese histórica do período que tem como ponto de partida a própria experiência no presente e a prática política relacional na história.[4] Assim, inauguram uma síntese história onde mulheres e homens se fazem presentes em suas experiências relacionais, em atividades produtivas ou culturais, no campo ou nas cidades, nos processos políticos etc.

            Deixam claro que o que pretendem é falar da vida comumente vivida por mulheres e homens no período, numa narrativa que possa priorizar a simplicidade e a precisão, evitando a especulação:  

“Este manual é, assim, uma síntese na qual a interpretação dos contextos relacionais próprios da vida comumente vivida formam a trama que recria e transmite a experiência das mulheres e dos homens sem abstrai-la, sem elevá-la às nuvens da especulação. Seu estilo é simples, preciso e variado, atento ao leitor e a leitora. É um estilo que tende a evitar o uso do masculino supostamente neutro universal, porque o neutro não existe na história humana”.[5]

            Observando que o objetivo do referido manual não é a inclusão das mulheres nessa história que já existe, ou seja, nas “metanarrativas nas quais os historiadores genuinamente se reconheceram ou se reconhecem” ou “preencher um vazio na historiografia universalista”, e explicam:

“Levamos em conta um fato sobre o qual se fala pouco. O fato é que há uma ausência feminina nas metanarrativas – dos exemplos gerais que usamos para interpretar o passado – que é voluntária e desejada, pelo fato de que grande parte da experiência feminina livre – da diferença de ser mulher – não entra nem cabe nas metanarrativas, sem ir contra elas próprias. Também não se busca a construção de uma metanarrativa nova e mais inclusiva, porque isso afogaria a liberdade feminina, fechando a abertura de seu corpo ao outro, ao infinito. Na verdade, a ausência feminina nos manuais de história corresponde a uma presença feminina na história que esses manuais não conseguem captar, porque é uma presença que não cabe no registro de sentido que esses manuais escolheram, um registro que é o próprio positivismo científico.”[6]

            Este manual está organizado em seis capítulos cada um deles escrito por uma das professoras. Tratam de temas como a memória (La relación con los recuerdos: la autoridade y el poder de la memoria); a organização dos espaços (Una tierra para vivir); a política sexual no período (La política sexual); a espiritualdade (La vida del espíritu); a vida material (Las relaciones econômicas); a cultura oral, escrita e aprendizagem (La oralidad, la cultura escrita y el aprendizage).

            Cada um dos capítulos apresenta alguns documentos a eles relacionados, documentos escritos e iconográficos, além de exercícios que possam ser trabalhados em sala de aula, chamados de Laboratório de Escritura de Historia, de Critica Historiográfica y de Diálogo entre el Presente y el Passado.

            Conforme dito no início desse tópico, este manual tem me ajudado na atuação docente  nas disciplinas obrigatórias, com a introdução de alguns desses textos nas disciplinas Medieval I e Medieval II. Ao mesmo tempo, me inspirou na elaboração de uma disciplina optativa denominada “Mulheres criadoras de cultura na Idade Média”. Assim como as professoras espanholas, acredito que nossas alunas e nossos alunos devem ter contato com a cultura feminina na Idade Média, com uma tradição feminina na História, tradição desconhecida e desconsiderada pelos currículos de graduação. Penso ser preciso fazê-las/fazê-los indagar sobre o significado, já tão naturalizado, do pertencimento a uma sociedade de matriz patriarcal. A desconfiança tem que estar presente sempre quanto ao que se diz saber, ou não saber, sobre as mulheres na história. Por exemplo, desconfiar, como já dissemos, da ideia de invisibilidade feminina, uma ideia tão remarcada por correntes historiográficas das mais diversas. Desconfiar desse pouco interesse em enxergá-las, das diversas ressalvas que se faz quanto ao que delas nos chega e da insistência em desclassificar esses registros.

A última desclassificação ouvi há pouco em uma palestra de um teórico importante: como exemplo da decepção com a História das Mulheres, que para ele poderia ter feito muito mais do que fez para enriquecer os estudos históricos das últimas décadas, o historiador trouxe o fato de muitas historiadoras, que trabalham com esse campo de estudos, dedicarem-se a trabalhos pouco relevantes, dando como exemplo, as medievalistas que gostam de falar das freiras medievais, fazendo muitas vezes uma história baseada em casos pitorescos. Sem entrar no mérito da existência ou não de trabalhos baseados em casos pitorescos, questionamos a desclassificação que o comentário traz, recorrendo apenas a uma questão fundamental, apesar de ser possível detectar tantas outras em seu comentário: o espaço religioso na Idade Média é o mais propício à produção intelectual, quer masculina ou feminina. Assim, a grande maioria dos escritos que nos chegam desse período são de religiosos ou religiosas: monges e monjas, frades e freiras, abades e abadessas, sem falar das místicas, que não estão necessariamente vinculadas à hierarquia eclesiástica, mas que se dedicaram à atividade espiritual e são autoras de muitos registros. Assim, esse comentário apresenta-se também como um “falso problema” para o período medieval, pois para a Idade Média não há estranheza alguma em se esbarrar em monjas ou freiras quando se busca registros de mulheres, pois é nesse ambiente que elas, quase sempre, se inscrevem.

            Assim, desafio meus alunos e minhas alunas a desconfiarem não só da ausência desses registros, mas também dessa suposta linealidade quanto à limitação dos espaços femininos, como herança de uma sociedade patriarcal e sobre o qual nada se pode fazer, a não ser, lamentar passivamente. Observo que lamentar não é a melhor nem única saída para o problema. É preciso desconfiar de que talvez isso também faça parte das estratégias de uma sociedade patriarcal que acabou por naturalizar a ideia da ausência de uma tradição feminina. Na contemporaneidade as poucas vezes em que se fala em tradição feminina, é sobre aquela de origem pagã, destruída pelo cristianismo, e que foi tema de livros e filmes, ligada à cultura nórdica.  Mas pouco se diz sobre a cultura feminina na Cristandade, no Ocidente cristão que logo se diria Europa e a cuja tradição nos vinculamos fortemente.

      É sobre essa cultura feminina que nos dedicamos na matéria em questão e em nossas pesquisas, buscando os espaços de presença das mulheres no Ocidente cristão e a cultura gerada nos mesmos. Ao mesmo tempo, trabalhamos com escritoras medievais cujos textos possam contribuir na construção de uma genealogia feminina, como dissemos. Ressaltamos ainda, em sala de aula, a ideia de que conhecer a especificidade da cultura feminina no contexto medieval é instrumento para questionar paradigmas e naturalizações ligados ao silêncio das mulheres na história e à cronologia Idade Média, sobre a qual recai ainda tantos preconceitos.

 

 

Biografia

Cláudia Brochado

Formada em História e em Letras Tradução-Alemão pela Universidade de Brasília, com doutorado em História Medieval pela Universidade de Barcelona. Professora do Departamento de História da Universidade de Brasília. Suas pesquisas se concentram no campo da História das Mulheres, mais especificamente nos espaços de cultura feminina na Idade Média, com ênfase na literatura. Membro dos seguintes grupos de pesquisa: Grupo Interdisciplinar de Estudos Medievais (UFPB); Grupo de Estudos Feministas: História, Mídia e Representações Sociais  (GEFEM-UnB); Programa de Estudos Medievais (PEM-UnB).

 

 

Bibliografia

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Brochado, Cláudia. As pouco silenciosas monjas medievais. In: STEVENS, Cristina  et. al. (org.). Estudos feministas e de gênero: articulações e perspectivas. Florianópolis: Editora Mulheres, 2014. Disponível em

http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/16349/1/LIVRO_EstudosFeministasedeGeneroArticula%C3%A7%C3%B5es.pdf

> Brochado, Cláudia Costa. 2014. “Evangelhos em feminino: interpretações de uma escritora medieval ibérica”. Cad. Pagu,  Campinas ,  n. 42 (jun.).   Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332014000100371&lng=pt&nrm=iso

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Notas

[1] - Utiliza-se aqui o conceito de Política Sexual proposto por Prudence Allen (ALLEN, 1985) e Milagros Rivera (RIVERA GARRETAS, 2006), como relações de poder entre homens e mulheres em função do sexo. Nas sociedades patriarcais essas relações são anteriores a quaisquer outras, estando o sexo e a política intimamente vinculados. Para essas autoras, as relações da política sexual estabelecem formas de subordinação das mulheres em função da sua sexualidade e da sua capacidade reprodutora que terá formas variadas, dependendo da cultura e da época.

[2] - Exemplo de textos trabalhados são as obras moralistas de três autores ibéricos, Bernat Metge, Jaume Roig e Francesc Eiximenis.

[3] - Este fundo documental, composto por processos matrimoniais, foi trabalhado ainda no doutorado e tendo sido por mim transcrito, compõe o apêndice documental da tese. Nessa pesquisa, iremos revisitar a documentação, incorporando elementos que não puderam ser trabalhados na ocasião.

[4] - A organizadora assim explica na introdução a proposta do livro: “Esta experiencia y esta politica reconocen que la historia, como la vida, es sexuada, siempre y en todas partes. Es decir, reconocen que en la historia hay, como en casa y en la calle, mujeres y hombres, niñas y niños, ancianos y ancianas, siendo el sentido libre de la sexuación del cuerpo y de la vida humana – el sentido libre de la diferencia sexual – una riqueza de sentido tan grande que puede regenerar la historiografía de nuestro tiempo, una historiografía que, por falta de apego a los cuerpos y a la vida corriente, está siendo desplazada por la novela histórica” (RIVERA GARRETAS, 2006, p. 13).

[5] - Tradução livre da autora (RIVERA GARRETAS, 2006, p. 14).

[6] - idem

 

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janvier / juin 2015 -janeiro/juin 2015