labrys, études féministes/ estudos feministas
janvier / juin 2015 -janeiro/juin 2015

Vivandeiras em marcha: entre silêncios e reducionismos historiográficos

Maria Meire de Carvalho

Resumo:

O presente texto enfoca as representações das mulheres vivandeiras e suas ações nos movimentos armados e campos de guerra. Na teia discursiva que ora teço dou visibilidade aos discursos produzidos sobre as mulheres que atuaram nas campanhas bélicas. Outros sentidos vêm à tona, outros significados são apresentados às formas de atuação dada as mulheres nos campos de combate. Uma história apresentada com outras visões, desatrelada dos sentidos da perspectiva sexista naturalizada como padrão e presente na produção historiográfica que excluiu as mulheres e seus feitos. Enfim, evidencio mulheres na guerra pelas lentes da leitura feminista e de gênero. Para tanto, apoiei-me no quadro nocional das representações sociais e do pensamento da diferença para tornar visíveis e dizíveis as experiências constituídas e constituidoras pelas/das vivandeiras.

Palavras-chave: vivandeiras, representações, invisibilidade, guerras.

 

Apresentar as vivandeiras em marcha é buscar matrizes de sentidos que foram esquecidas ao longo da história. A Enciclopédia Larousse (1982: 884), traz o significado do termo vivandeira como: “pessoa que negocia víveres nas feiras, nos arraiais ou acampamentos militares(usa-se especialmente para designar mulheres que acompanhavam, com essa finalidade tropas em marcha”.

Assim, falar sobre as vivandeiras é interpelar o silêncio que emerge da escrita memorialística[1] e historiográfica sobre a Guerra do Paraguai (1865-70)”. Para Orlandi (1997: 49), “o silêncio significa esse nada se multiplicando em sentidos: quanto mais falta, mais silêncio se instala, mais possibilidade de sentidos se apresenta”

Aqui o silêncio é considerado enunciado porque apresenta sentidos múltiplos. Isso remete à reflexão de Michel Foucault, segundo a qual um enunciado,

“[..] é sempre um acontecimento que nem a língua nem o sentido podem esgotar inteiramente. Trata-se de um acontecimento estranho, por certo: inicialmente porque está ligado, de um lado, a um gesto de escrita ou à articulação de uma palavra, mas, por outro lado, abre para si mesmo uma existência remanescente no campo de uma memória, ou na materialidade dos manuscritos, dos livros e de qualquer forma de registro; em seguida porque é único como acontecimento, mas está aberto à repetição, à transformação, à reativação, finalmente porque está ligado não apenas as situações que o provocam, e a consequência por ele ocasionadas, mas, ao mesmo tempo, e segundo uma modalidade inteiramente diferente, a enunciados que o precedem e o seguem .“ (2000: 32)

Conforme mostra Foucault, o enunciado é único como acontecimento, no entanto, está aberto à repetição, à transformação  e   à reativação. São esses enunciados que, por vezes, se abrem para uma existência remanescente da memória que busco investigar, ou seja, a emergência das vivandeiras em registros de documentos oficiais, como diários, correspondências de guerra - cartas e relatórios -, depoimentos de ex- combatentes, enfim, várias referências às ações de mulheres em campos bélicos. Trata-se de um gesto de escrita que abre para si mesmo uma existência remanescente no campo de uma memória sobre a guerra, particularmente a de ex-combatentes que atuaram na Guerra do Paraguai (1864-70). Recorri também a algumas obras da historiografia[2], que tratam desse conflito armado, uma vez que os percebo igualmente inscritos em determinadas formações discursivas, cujos elementos podem ser identificados

“[...] entre um certo número de enunciados, semelhante sistema de dispersão, e no caso em que entre os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as escolhas temáticas, se puder definir uma regularidade (uma ordem, correlações, posições e funcionamento, transformação)”. (Foucault, 2000: 43).

Tal historiografia é percebida, portanto, como escritos dos/as historiadores/as, como um discurso dentre uma série a respeito do mundo, como um discurso sobre o passado, mas presente deste que produz efeito de verdade, que circula como verdade, que funciona como verdade.  Nesse sentido, estou pensando a história e sua escritura como qualquer produção discursiva e, como tal, inscrita nas condições históricas que possibilitaram sua existência, ou seja, presidida por relações de poder, por disputas políticas e ideológicas dentro e fora da academia (Albuquerque Jr, 2006: 194).

Nessa ótica, sintonizada, portanto, com as reflexões de Foucault (2000), não há como perceber as fontes como prova do que ocorreu no passado, mas como acontecimento discursivo e, como tal, precisa ser decifrado, pois o documento não é o feliz instrumento de uma história que seria em si mesma, e de pleno direito, memória; a história é, para uma sociedade, uma certa maneira de dar status e elaboração à massa documental de que ela não se separa" (Foucault, 2000: 08). Assim, cabe aos historiadores/as trabalhá-la, isto é, organizá-la, recortá-la e estabelecer as articulações com a teia discursiva da qual faz parte.  Com esse      intuito, investigo, persigo, busco respostas ou mesmo interrogações sobre  as   imagens/representações/enunciados que se referem às vivandeiras a partir das memórias de ex-combatentes, sem a pretensão, como afirma  Lessa (2007: 165),  de buscar as vozes do passado, mas construir uma narrativa que comporta o local de ancoragem desses discursos e de construção de narrativa de seu passado.

Estou ciente, portanto, de que não conseguirei colher das memórias documentárias o fio condutor de uma narrativa, pois aquelas se formaram por processo de acumulação de conhecimento, entrelaçadas pelas relações de cultura e de poder. São depositários de vozes e falas do passado que autorizam o discurso de determinada sociedade e época, além de produzirem uma verdade sobre elas.

A memória já foi pensada apenas na sua dimensão individual, na concepção que diz respeito à faculdade de alguém de reter e recordar fatos passados, correspondendo a uma função psíquica. O conceito de memória social ou coletiva surgiu na passagem do século XIX para o século XX e foi Henri Bergson[3] um dos primeiros teóricos a explicitar tal concepção. Em seu livro Matéria e Memória, de 1896, Bergson estabeleceu a relação entre a memória individual e memória coletiva.

Na mesma época, Émile Durkheim, na obra Representações individuais e representações coletivas (1895), defendeu o caráter simbólico da memória individual como traço de um complexo social  mais  amplo. Para Durkheim (1895: xvii), o que as representações sociais nos traduzem é o modo como o grupo se pensa em suas relações com os objetos que o afetam. Com isso, as representações permitem captar certos atributos coletivos que orientam identidades e condutas.

Foi o sociólogo Maurice Halbwachs, porém, quem consolidou tais conceitos. Em seu livro Os Quadros Sociais da Memória, escrito em 1925, ele demonstrou a institucionalização social da memória, construtora da identidade cultural do grupo. Um dos méritos de Halbwachs foi o de escrever sobre memória coletiva numa época em que a memória era compreendida primordialmente como fenômeno individual.

Halbwachs (2006) afirma que os indivíduos só se lembram de seu passado à medida que se colocam sob o ponto de vista de uma ou mais correntes do pensamento coletivo. Além disso, foi ele quem enfatizou que tudo o que nós nos lembramos do passado faz parte das construções sociais que são realizadas no presente.

Na obra Memória coletiva, Halbwachs (2006) salienta que lembrar não é um processo natural, mas uma construção social configurada segundo a posição e a visão de mundo dos indivíduos e dos grupos sociais. Halbwachs não nega a existência de uma memória particular, individual por assim dizer, mas o centro formador desta ainda seria a memória do grupo, uma vez que a memória é acionada pelos códigos sociais e culturais que regem nossa racionalidade, nosso intelecto nessa ação. Para Halbwachs (2006), é impossível conceber o problema da evocação e da localização das lembranças se não tomarmos como referência os quadros sociais e culturais que serviram de ponto de referência nesta reconstrução denominada memória.

Halbwachs destaca, assim, a distinção, de um lado, entre a "memória histórica", que supõe a reconstrução dos dados fornecidos pelo presente da vida social e projetada no passado reinventado e, de outro, a "memória coletiva", aquela que recompõe magicamente o passado . Entre essas duas direções, coletiva e individual, desenvolvem-se diversas formas de memória, que mudam conforme os objetivos que elas implicam. Dessa maneira,

“[...]cada memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva, que este ponto de vista muda conforme o lugar que ali ocupo e que esse mesmo lugar muda segundo as relações que mantenho com outros ambientes. Não é de surpreender que nem todos tirem o mesmo partido do instrumento comum. Quando tentamos explicar essa diversidade, sempre voltamos a uma combinação de influências que são todas de natureza social. Algumas dessas combinações são extremamente complexas. Por isso, não depende de nós fazê-las reaparecer.” (Halbwachs, 2006: 69).

Nesse sentido, Halbwachs ressalta alguns pontos fundamentais que devem ser refletidos em relação à memória coletiva: seu caráter social e sua ancoragem para cada indivíduo, uma vez que as percepções imediatas deslocam-se continuamente, em várias séries de pensamentos emaranhados.  Algumas críticas, porém, foram feitas à concepção da memória proposta por Halbwachs. Uma delas recai sobre sua consideração da memória como um processo apaziguado, dividido em quadros sociais, desvinculado de conceitos éticos e políticos, não relacionados, portanto, com a relação que serve ao jogo de poder.

Assim, para Michael Pollak, existem nas lembranças de uns e de outros, zonas de sombra, silêncios, não-ditos. As fronteiras desses com o esquecimento definitivo e o reprimido inconsciente não são evidentemente estanques e estão em perpétuo deslocamento (1989:06). Nesse direcionamento, o autor afirma que a memória é um fenômeno construído consciente ou inconsciente, como resultado do trabalho de organização individual ou de grupos. Ainda segundo Pollak (Idem: 03), o longo silêncio sobre o passado, longe de conduzir ao esquecimento, é a resistência que uma sociedade [...] opõe ao excesso de discursos oficiais.

Nessa ótica, a memória passa a ser então um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, e torna-se valor disputado no meio social. Além disso, as motivações para que essa lembrança se faça presente são provenientes da capacidade de reflexão de cada um, já que a produção de um discurso promove uma relação desse discurso em formulação com o interdiscurso ou memória discursiva, ou seja, com todos os dizeres que já foram, de fato, ditos.

A memória discursiva é discutida por Michel Pêcheux, ao afirmar que,

“[...]a memória discursiva seria aquilo que, face a um texto que surge como acontecimento a ser lido, vem restabelecer os implícitos' (quer dizer, mais tecnicamente, os pré-construídos, elementos citados e relatados, discursos-transversos, etc.) de que sua leitura necessita: a condição do legível em relação ao próprio legível.” (Pêcheux, 1999: 52)

O que Pêcheux (1999) denomina por memória discursiva se define como uma espécie de interdiscurso, ou seja, um discurso é sustentado por outros que o atravessam por meios de estratégias lingüísticas, históricas, sociais, culturais, e ideológicas. Isso ocorre porque algo ou alguém fala antes, em outro lugar, numa determinada situação e mediado por condições específicas de produção de sentido. São palavras já ditas,  palavras esquecidas, mas que continuam presentes e nos afetam  por  seu esquecimento . Se a memória é discursiva e, ao mesmo tempo, interdiscursiva, ela é presumida a partir de um determinado momento sócio- histórico, ela migra de uma situação empírica para uma posição discursiva.

O sentido da memória discursiva não está somente nas palavras, mas também antes e depois delas. A palavra remete o interlocutor para além do lingüístico, para o extra-lingüístico, para os aspectos sociais, históricos e culturais que, no decorrer do tempo, contribuem para as formações discursivas. Além disso, os sentidos não estão irrevogavelmente dependentes das intenções, mas permeados e atravessados pelas relações entre os sujeitos. Todos esses elementos fazem-se presentes na memória. Portanto, não  existe o sentido em si. Ele nasce de uma ampla relação do produtor do enunciado com aspectos que o permeiam, principalmente, o histórico-cultural e o ideológico. Isso faz com que as palavras mudem de sentido de acordo com as posições em que são enunciadas, apreendidas a partir do que está na exterioridade do texto, no discurso.

Com efeito, nos registros sobre a memória da Guerra do Paraguai, observa-se a referência comum à presença de mulheres no palco do conflito. Nem todos empregam o termo vivandeiras para denominar tal presença. Outros termos reafirmam alguns dos sentidos socialmente já dados ao termo ausente: mulheres que acompanhavam as tropas prestando diversos tipos de favores, serviçais. Observa-se, também, que, conforme o lugar social e institucional do narrador, o uso do termo vivandeiras se dá indistintamente de mulheres que acompanhavam as tropas, ambas com o sentido positivo, isto é, mulheres corajosas, combatentes, aguerridas, companheiras de guerra, anônimas e, injustamente, não lembradas pela sua atuação. Além disso, conforme o lugar de fala, existe uma hierarquização estabelecida entre as vivandeiras, anônimas transgressoras e damas respeitáveis, mulheres que deram sua contribuição à guerra e cuja conduta moral credenciou-as para se tornarem exemplos, para serem heroicizadas na construção memorialística de conflitos armados.

Historiografia e memória da guerra: vivandeiras, chinas e damas respeitáveis

 

O jogo de formulações simbólicas nas narrativas memorialistas sobre a Guerra do Paraguai é visível, no que concerne à presença e à atuação das mulheres nos campos de batalha. Nesses discursos, os memorialistas as categorizam em três grupos distintos: vivandeiras, chinas e damas respeitáveis (grifo meu). São distintas umas das outras e essa distinção assegura os correspondentes reconhecimento e tratamento social dado às damas respeitáveis , os quais não eram dados plenamente às chinas e às   vivandeiras, consideradas mulheres pouco respeitáveis. Segundo Joseph Eskenazi Pernidji

“[...]as vivandeiras eram mulheres que seguiam as tropas, trabalhando no comércio ambulante, nos acampamentos: mulheres de soldados, lavadeiras, cozinheiras, prostitutas da tropa; chinas, mulher índia ou mestiça do Rio Grande do Sul, que seguia os exércitos e também bandoleiros e ajuntamentos civis, semi-prostitutas, mas não tão dedicadas quanto as vivandeiras”(. Pernidji,2003: 14; 40),

Na classificação operada, as chinas estavam acima das vivandeiras. Eram definidas como semi-prostitutas. Já as vivandeiras eram consideradas prostitutas, no sentido pleno do termo. Acima de ambas, estavam as damas respeitáveis, mulheres de oficiais de alta patente ou as ditas viúvas honradas, como Ana Néri, da qual trato adiante. As classificações imputadas por Pernidji (2003) mostram que as palavras carregam em si valores subjetivos, próprios da cultura misógina, pois como atenta Guacira Louro (1997:14), as palavras podem significar muitas coisas. Na verdade, elas são fugidias, instáveis, têm múltiplos apelos.

Como os discursos devem ser entendidos em suas condições de produção, as denominações dadas a essas mulheres emergem de palavras enunciadas pela história e pela língua. Dessa forma, não há como não reconhecer as narrativas memorialistas como discursos atravessados pela linguagem e pela história, recheados, portanto, de sentidos pré-existentes. Conforme assinala Orlandi, o sujeito é sujeito à língua e à história, pois para se produzir sentidos ele é afetado por elas. [...] e se ele não se submeter à língua e à história ele não se constitui, ele não fala, não produz sentidos. (Orlandi, 2002: 49)

Sob tal perspectiva, é possível entender a classificação imposta às mulheres que estiveram nos campos de batalhas, uma vez que essa cena discursiva se faz pelas condições de produção do discurso: quem fala, de onde fala, para quem fala, do que fala, com que marcas de subjetividade. São homens que falam a partir de uma concepção de mundo patriarcal, sujeitos que ocupam o lugar para falar da presença das mulheres na corporação militar e nos palcos da guerra.

Analisando o desdobramento de cada uma dessas denominações, é possível perceber que as mulheres identificadas como damas respeitáveis pertenciam à sociedade burguesa. Eram aquelas legalmente casadas com oficiais de alta patente. Trata-se de mulheres integradas a uma rede familiar, social e institucional tecidas por laços da família patriarcal, na condição de mães ou esposas de oficiais (SALLES, 1990:126). Ao identificar essas mulheres pela posição em que se encontravam na sociedade sob o contrato sexual, os discursos masculinos dos memorialistas conferem sentidos  às  imagens  e  representações  de   damas  respeitáveis, produzindo um certo lugar social aos corpos e identidades sexuais e de gênero, reveladores dos mecanismos políticos e de poder.

As mulheres que fugiam a essas convenções são identificadas como desordeiras, desviantes, daí serem denominadas prostitutas e semi-prostitutas. Classificá-las como tais, inclusive como semi-prostituta, revela- nos a operacionalização desse jogo de linguagem presidido por convenções morais, de classe, de raça e de gênero, dentre outras. Assim, ser semi-prostituta estabelecia uma distinção, uma barreira entre dois pólos opostos: as prostitutas e as damas respeitáveis. Semi-prostitutas seriam as chinas, mulheres pobres, índias e mestiças, casadas ou não, que acompanhavam as tropas. Em razão de sua condição social de raça/etnia e de gênero, integravam o conjunto daquelas mulheres identificadas às margens da posição central: as das damas respeitáveis e ou das prostitutas, dependendo do lugar referente, se dentro ou fora da ordem patriarcal.

Apesar de lutarem nas linhas de frente nos campos de batalhas, os memorialistas anularam os feitos dessas mulheres, considerando-as como meras prostitutas, chinas, mulheres que acompanham as tropas vendendo seus corpos, por nada terem a perder. Para Pateman (1993:285), a prostituição faz parte do exercício da lei do direito sexual masculino, uma das maneiras pelas quais os homens têm acesso garantido aos corpos das mulheres. Na mesma linha de raciocínio, a historiadora Navarro-Swain (2005) afirma que a prostituição se efetiva pela banalização e naturalização da violência sexual e histórica:

“O que é uma prostituta? Cada época tem sua definição  e seus limites que vão desde a mulher que não é casada, daquela que tem um amante até a profissão que ela exerce, como até pouco tempo, no Brasil, as aeromoças, as cantoras, as mulheres que trabalhavam fora de casa. Se o termo contém uma suposta relação mercantil, a representação da prostituta atinge todas aquelas que não se enquadram às normas de seu tempo / espaço.” (Navarro-Swain, web: 2005)

Observa-se a criação de sentidos para justificar, institucionalmente, a presença de mulheres junto às tropas. Eles foram estabelecidos ou para valorizar damas respeitáveis, combatentes aguerrida, heroínas de guerra ou para desclassificar vivandeiras e chinas, prostitutas e semi-prostitutas. Ambos os sentidos apontam para a rede patriarcal, androcêntrica e heterossexual em que estão abrigadas: são mulheres desapropriadas de si e de seus corpos, cuja existência reside em negarem-se para servir aos outros, aos soldados e à pátria.

Vivandeiras e chinas foram mulheres enquadradas no rol das damas não respeitáveis, identificadas que foram por denominações carregadas de sentidos pejorativo e desclassificatório. Foram mulheres identificadas como portadoras de uma sexualidade disponível e perigosa - índias e mestiças, mulheres das camadas populares, comerciantes ambulantes-, em razão de convenção de sexo/gênero, raça, classe, escolaridade, estado civil. Foram mulheres identificadas e assujeitadas nessa classificação, ao sistema de valores da ordem patriarcal.

Tal classificação é reveladora dessas convenções, conformadoras do imaginário social da época. São convenções expressas em ideias/imagens, presentes também na vasta correspondência trocada entre Caxias e o Ministro dos Negócios da Guerra, no período de novembro de 1867 a abril de 1868. Elas podem ser apreendidas nas referências feitas pelos dois correspondentes às contradições do Império brasileiro quanto ao seu projeto de formar um Exército moderno, profissional e disciplinado e sua política de incorporar desqualificados ao corpo do Exército para combater os paraguaios. Um contingente de desqualificados porque formado por indivíduos mestiços e negros, grande parte deles, escravos, alforriados e libertos.

As correspondências de guerra evidenciaram os descontentamentos entre o Exército e o Império no conflito da Guerra do Paraguai. De um lado, o projeto militar, que propunha a modernização de seus quadros, consoante ao de civilização e progresso do país, defendido pelo Exército; de outro, o projeto civilizador do governo imperial, comprometido, porém, com a instituição de escravidão. A política Imperial de abolição lenta e gradual do trabalho escravo incluiu, dentre outras medidas, a incorporação de ex-escravos alforriados e libertos nas fileiras do Exército com a criação do corpo dos voluntários da pátria.

A iniciativa governamental de incorporar os voluntários da pátria nas fileiras combatentes do Exército brasileiro desagradou imensamente Caxias que expressou seu descontentamento, ao lamentar a situação do Exército, sobretudo, dos corpos de oficiais combatentes, afirmando que piores se tornaram suas condições, depois que infelizmente se introduziu em suas fileiras o elemento servil[4].

Para o historiador Salles, Caxias reconhecia que esses preceitos repousavam na exclusão e no controle disciplinar da tropa e [...] punha em perigo sua própria existência (1990: 145). Foi nesse ambiente tencionado, atravessado não apenas por embates bélicos, mas também ideológicos e institucionais que o contingente de voluntários se formou, com centenas de mulheres se incorporando às suas fileiras para lutar contra o Paraguai. Mulheres cuja presença foi sequer objeto de referência na maioria dos discursos historiográficos produzida sobre a guerra. Ou, quando mencionada, foi sob uma perspectiva binária, polarizada entre aquelas definidas como mulheres respeitáveis e mulheres não-respeitáveis, incapazes, portanto, de contemplar a pluralidade dessa experiência.

Vivandeiras, entre silêncios e reducionismos historiográficos

  A vasta documentação e obras que versam sobre a Guerra do Paraguai pouco fala sobre as vivandeiras. Para encontrar traços de sua presença na referida documentação foi preciso vasculhar documentos oficiais e algumas memórias de ex-combatentes que fazem referência às ações de mulheres em diversos momentos da campanha. Isso leva à reflexão sobre o vazio carregado de sentidos que se instaurou sobre essa experiência passada, pois, como afirma Orlandi, o  silêncio  não  é  diretamente  observável  e, no entanto ele não é vazio, [...] ele está nas grandes extensões, nas pausas (1997: 47).

A maioria das obras sobre esse conflito contempla as dimensões militar e política da guerra e desconsidera a participação das mulheres. O discurso masculino sobre a guerra é um espaço interditado às mulheres. Tal guerra foi estudada sob a ótica convencional, isto é, a partir de seus aspectos militar, diplomático e econômico. Embora tenha mobilizado milhares de pessoas da sociedade civil, a dimensão social ainda não foi incorporada nas análises. Segundo o autor Ricardo Salles,

“[...]a Guerra do Paraguai foi o conflito em larga escala de maior duração no contingente americano, superando inclusive a Guerra de Secessão nos Estados Unidos. Teve duração total de quase seis anos, estendendo-se de 11 de novembro de 1864 (tomada do vapor Marques de Olinda pelos paraguaios) a 1º de março de 1870, morte de Solano Lopez, em Cerro Cora.” (Salles, 1990: 07)

No que concerne às mulheres, instalou-se um silêncio sobre sua presença e atuação na guerra, apenas quebrado para revelá-las em posição inferior e marginal, como intrusas.

Assim, por exemplo, a obra Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai (2002), do historiador Francisco Doratioto, um estudo relevante e inovador sobre a guerra, atém-se, porém, à perspectiva convencional no que concerne à presença das mulheres, ou seja, reafirma o silêncio. O autor faz uso de fontes diversificadas e inova, ao rejeitar a interpretação tradicional, até então predominante na historiografia, de que o imperialismo inglês seria o responsável pelo desenrolar da luta. Inovou, também, ao rejeitar a visão populista que mitificou Solano Lopez  como  o grande líder militar anti-imperialista, barbaramente assassinado[5].

Embora tenha se deparado com referências sobre a participação de mulheres na guerra, sob este aspecto também novo, o autor desconsiderou-as. O termo vivandeiras não aparece em sua obra. O autor cita a participação das mulheres na guerra, pautando-se nas referências de memorialistas como Alfredo D Escragnolle de Taunay, José Luiz Rodrigues da Silva, Joaquim S. Azevedo Pimentel e Miguel Angel de Marco. Enfim, são relatos que pouco acrescenta sobre a presença e ação das mulheres em linhas de combate e no cotidiano da guerra.

Por certo, situa-se em um viés da guerra do qual o autor não teve como objetivo explorar, tornar visível, dizível. Afinal, a guerra, para ele, continua sendo um assunto sobre homens que deve ser tratado por homens, já que suas referências quanto à presença de mulheres são raras e pontuais. Embora não negue que mulheres estiveram no campo de guerra, na nova história que ele propõe sobre a Guerra do Paraguai, não as considera como combatentes guerreiras que pegaram em armas e lutaram na maldita guerra.

Pelo contrário, quando evidencia sua presença, é no sentido de reafirmar construtos de memorialistas, arraigados quanto à inconveniência das mulheres no palco da guerra. Assim, descreve que

“[...]as tropas chegavam do Brasil com muita bagagem e dificultavam a marcha, também retardada pelas mulheres que as acompanhavam. Em território brasileiro, o número de mulheres chegava a ultrapassar, às vezes, o de soldados, e foi reduzido durante a marcha rumo a Corrientes, devido ás privações que elas tiveram que enfrentar.” (Doratioto, 2002: 189).

Parece-nos contraditório reproduzir esses discursos sem ao menos refletir sobre os relatos dos memorialistas, pois, se o número de mulheres chegava a ultrapassar o de soldados, a marcha não podia ser retardada apenas em função das mulheres que acompanhavam as tropas, já que aquelas não somente acompanhavam os combatentes, mas integravam o seu contingente.

Dessa forma, não há, assim, referência quanto à ação das mulheres em combate ou à presença de vivandeiras. A análise do autor contempla uma dimensão política da guerra, e, tal como a maioria das obras sobre o referido conflito que desconhece a participação das mulheres. É o discurso masculino sobre a guerra, isto é, trata-se de esforço de representação que reafirma a exclusão, já que considera a guerra como um espaço interditado às mulheres.

O historiador Salles (1990), assinala outros dados sobre a presença das mulheres na campanha da Guerra do Paraguai. Em sua análise no que tange ao cotidiano do exército brasileiro em marcha, o autor menciona que diversas mulheres atuaram junto às tropas durante o conflito. Sem contabilizá-las, assinala que as seguidoras do exército não eram apenas prostitutas e mulheres humildes de soldados que seguiam a tropa (Salles, 1990: 126). Para o autor, essas mulheres possuíam funções diversas junto às tropas: elas cuidavam das roupas e da comida de seus companheiros; muitas vezes atendiam-nos quando doentes; acudiam os feridos em combate; expunham-se ao fogo e, algumas vezes pegavam em armas (Idem, ibidem: 125).

Esses e outros registros sobre a Guerra do Paraguai revelam que muitas mulheres participaram lado-a-lado com os soldados na campanha bélica. Isso não foi por acaso. Visualizá-las como combatentes estabeleceria uma igualdade com os homens e, sobretudo, conferiria legitimidade à participação das mulheres no palco da guerra. Legitimar tal atuação foi operação restrita a algumas mulheres, mas na condição de heroínas, sob a ordem patriarcal. Há, assim, um esforço em tornar visível a presença de algumas mulheres nos registros produzidos sobre a guerra, mas dentro da ordem. Assim, reiteradamente, explicita-se na documentação sobre a guerra, a identificação de algumas mulheres: Ana Néri, Maria Curupaiti, Florisbela, Joana Rita das Impossíveis, Sargenta Jovita Alves Feitosa, enquanto outras tantas ficaram no anonimato, silenciadas que foram pelo discurso historiográfico.

Parece-nos visível o investimento feito na ação de algumas mulheres, de modo a lhes conferir visibilidade e reconhecimento, como foi o caso de Ana Néri, que se tornou patrona da enfermagem. Outras, justamente por serem consideradas transviadas, indignas de serem incluídas na historiografia, de serem preservadas na memória da guerra, não tiveram seus feitos registrados nos estudos historiográficos. Foram silenciadas pela denominação-síntese vivandeiras, terminologia que não foi dada a Ana Néri, embora ela também tivesse atuado na guerra como várias vivandeiras, ou seja, cuidando dos feridos, servindo às tropas com remédios, alimentos e conforto moral. Observa-se a permanência do sentido negativo conferido à representação das vivandeiras, graças, sobretudo, à reafirmação desse significado nos diversos discursos sobre a guerra.

 Há, pois, o objetivo de incorporá-las adequadamente à memória social da guerra apenas como serviçais, pelos serviços prestados à nação, na luta pela defesa da pátria. Daí a recusa em nomear Ana Néri como vivandeira, representação impregnada de imagens e sentidos pejorativos.

Joseph Eskenazi Pernidji, na obra Homens e Mulheres na Guerra do Paraguai (2003), reitera tal sentido ao afirmar que

“[...]a vida de vivandeira de quartel era curta e triste: das saias da mãe, ainda meninas de treze anos se entregavam a oficiais sexagenários [...] a esquadra, como o exército, carregava mulheres, tanto as dos soldados como as dos marinheiros. O almirante Tamandaré despachava transportes repletos delas.‘ (Pernidji, 2003: 52)

Pode-se perceber nas palavras de Pernidji, que havia abuso sexual nos campos da Guerra do Paraguai, em que oficiais sexagenários exploravam sexualmente meninas e suas mães. Vê-se a banalização da violência, como denuncia Navarro-Swain, pois no estupro ou na prostituição, a mercadoria é o corpo ou o sexo das mulheres e meninas [...], é a re-naturalização do sexo feminino, a sua transformação de ser humano em carne, cujo destino é a satisfação do desejo de outrem (2007: 04).

          Se existiam correlações de forças múltiplas agindo no controle e até mesmo na permanência compulsória de mulheres junto a oficiais, Pernidji ainda descreve que

“[...]o exército recebia mulheres, transportadas por navio pago pelo ouro imperial, vivandeiras de quartel e comércio, chinas gaúchas, escravas de oficiais e até sinhás esposas legítimas. Osório tinha pleno conhecimento dessa situação: o Exército Brasileiro não marcha, não luta, não avança sem o mulherio atrás.” (PERNIDJI, 2003: 53)

Joseph E. Pernidji ainda cita outras mulheres que estiveram na Guerra do Paraguai, estereotipadas pela fisionomia e por apelidos pitorescos, vivandeiras

“[...]consideradas rameiras da pior espécie, mulheres gastas e descarnadas, feias e quase repulsivas [...] Cuiabana, mulher pantaneira,  acaboclada;  Francesa,  ruiva  sardenta  e  bochechuda, provavelmente polaca decaída; Solda China; Índia Gaúcha; Maria Metralha; Maria Busca-Pé. A essa mulherada juntavam-se alguns homens vivandeiros que faziam comércio do acampamento, [...] alfaiates, barbeiros (que serviam como auxiliares de cirurgião), vendeiros e mascates de todas as raças.” (Pernidji, 2003: 41)

O mesmo autor concebe que também existiam homens vivandeiros, termo pouco usado pelos demais memorialistas, mas os apelidos desqualificadores são dados às mulheres. Tal construção remete o leitor e o analista ao mundo das representações sociais, ou seja, sistema social ordenado pelo discurso, enquadrando as mulheres e suas práticas pela forma binária, definidas pelas funções sexuadas.

Observa-se aqui uma interessante inversão de sentido conferido à representação da vivandeira: reafirma-se a prática do comércio e serviços prestados por homens vivandeiros, sem o tom pejorativo. A ressignificação expressa opera em consonância com os valores, idéias e imagens que recrutam a representação de masculino. Substitui-se o sentido depreciativo impresso às imagens/representações das vivandeiras. Ao mesmo tempo, porém, alimenta-o, ao operar uma construção sob a perspectiva binária do gênero, acerca da guerra. Gênero, esse saber, como afirma Scott, é que estabelece significado para as diferenças sexuais (1994: 12-13), que confere mais importância ao masculino e inferioriza o feminino.

As vivandeiras são, portanto, mulheres presentes na guerra e reduzidas a corpos desapossados de si, apropriados pelo poder masculino, única posição autorizada para estar na guerra, em que a materialização da violência sexual se constituía numa relação compulsória e desigual. São também mulheres que, na guerra, eram reduzidas a vivandeiras de quartel e comércio, significadas como rameiras. Tais construções ignoram as diferenças, que nomeiam e legitimam posições inferiores e desiguais, uma vez que, como assinala Pernidji, o Exército brasileiro não marcha, não luta, não avança sem o mulherio atrás (2003: 53). Nesse mulherio que vai atrás, faz-se o uso político de uma diferença sexo/gênero para instaurar/manter a despolitização nas relações entre as mulheres e os homens, reduzidas a um coletivo, com sentido pejorativo que, por conta disso, vai atrás e, quando não, são silenciadas como se não existissem.

A produção discursiva sobre a ação das mulheres na guerra é vasta, não, apenas pelos memorialistas, mas também por muitos historiadores. Vários afirmam que as mulheres que estiveram na Guerra do Paraguai foram consideradas como rameiras da pior espécie, mulheres gastas e descarnadas, feias quase repulsivas (Pernidji, 2003: 41).

A análise das representações sobre as vivandeiras, veiculadas em diferentes formas discursivas e não-discursivas, revela-nos que,  além desse sentido negativo, depreciativo, predominante nas diferentes narrativas, emergem outros, noutras direções. Assim, além da referência aos homens vivandeiros, vários outros textos, principalmente aqueles produzidos por indivíduos ligados ao Exército, reportam-se à presença das mulheres nos campos de combate, atuando com coragem e destemor, tal como os soldados. São registros que, embora sejam omissos quanto à denominação do termo vivandeiras, conferem visibilidade à participação das mulheres na guerra de forma positiva. Outras mulheres não são identificadas como vivandeiras, já que tal representação ancora-se numa rede de significação, num sistema de acolhimento nocional já conhecido e atravessado por valores sociais negativos. Tais referências apontam para outros sentidos conferidos às práticas das vivandeiras e evidenciam a impossibilidade de reduzi-las a uma única imagem e a um único sentido.

Com efeito, a existência de registros sobre a atuação combativa das mulheres no palco da guerra contrapõe-se à preservada memória social, a de vivandeiras, que iam atrás das tropas.  Assim, segundo relatos do General Paulo de Queiroz Duarte, na obra, Voluntários da Pátria na Guerra do Paraguai  (1981):

“No dia da invasão do Paraguai, em abril de 1867, o efetivo da coluna era de 1680 homens, ao chegar a 12 de junho na margem do Rio Aquidauana estava reduzida a 700 combatentes [...] Morrera, além disso, grande número de índios, mulheres e negociantes [...] que se haviam unido à sorte da Coluna de Mato Grosso.” (Duarte, 1981: 61)

Semelhante relato faz o General Augusto Tasso Fragoso (1935:319-320), ao  registrar  que  248  (duzentas  quarenta  e  oito)  mulheres brasileiras foram feridas no combate de Peribebuí, no Paraguai. Muitas delas não resistiram aos ferimentos. Apesar desses dados, as mulheres não foram contabilizadas como efetivo combatente. Mas, tal como os soldados, as mulheres/vivandeiras atuaram nos combates, enfrentaram os horrores da Guerra do Paraguai. Como o ocorrido no dia três de novembro de 1867, episódio que dimanou a jorros a audácia, o valor e o heroísmo do Exército nacional. Conforme relatos do coronel Pimentel, nesse combate,

“[...]tomou parte, desde o Tenente-General Comandante, até a paupérrima, humilde e fraca mulher do soldado. Naquela arena, encontrou-se muito cadáver feminino entre os despojos mortais da vitória. Semelhante luta deixou muito homem viúvo, ao contrário do que originalmente se observa nas guerras em que a viuvez é sempre partilha do lado feminil.” (1978: 84)

No relato, o memorialista ressalta que essa batalha deixou muito homem viúvo. Tal afirmação confere outro sentido à atuação das vivandeiras: não apenas a de comercializar víveres, mas lutar no front como combatentes de guerra, apesar de não serem oficialmente incorporadas. Trata-se de presença que ainda permanece ignorada no/pelo discurso historiográfico sobre as guerras, que produzem/reproduzem divisão generalizada e binária das esferas da vida social, ao definir os campos de batalhas como espaços masculinos e ao construir um silêncio sobre a presença de mulheres neles. Trata-se de discurso escrito do ponto de vista masculino, produtor e reprodutor da divisão sexista dos papéis sociais que ignoram as referências às mulheres na guerra registrada pelos memorialistas.

Dentre eles, o memorialista Alfredo E. Taunay relata que em 1865, as colunas expedicionárias marcharam para Cuiabá (MT), organizadas em duas brigadas, formadas por um contingente de aproximadamente 1575 soldados, seguidos por umas 200 (duzentas) mulheres, vindas de São Paulo e Ouro Preto, ou saídas de Uberaba (1928:65), as quais se incorporaram à campanha bélica. Tal descrição é reveladora não apenas da presença das mulheres nos campos de combates, mas também de escolhas feitas que, provavelmente, contrariavam os desejos familiares, confrontavam as regras sociais da época. Afinal, combater na guerra, compartilhar as agruras da luta, parir filhos em campos de combates eram atuações que desafiavam as prescrições da sociedade patriarcal em que viviam.

Nesse contingente de civis que acompanhavam as tropas, mulheres de diferentes condições desgraçadas amásias ou legítimas esposas dos soldados, algumas com crianças, conforme Taunay (1960: 138), compreendiam um número significativo. Nas memórias registradas, observa-se, que, no que concerne às referências sobre as mulheres, a imediata classificação está dividida entre as esposas de soldados e as outras, as prostitutas, amásias, chinas. Estas últimas são as que aparecem na linha de frente no campo de batalha, pois, na visão dos memorialistas, não tinham nada a perder. Trata-se de atuação que subverte a ordem e, ao mesmo tempo, adverte contra as generalizações, contra uma pretensa universalidade do poder patriarcal sobre as mulheres: como donas de si, elas escapam desse poder, são donas de seus corpos e escolhas.

Dionísio Cerqueira fala também sobre a coragem e a ousadia das chinas, mas o recorte de sua memória coloca as chinas como mulheres que revistavam casas vazias para saquear. Uma denominada por Maria Vareta, não era mulher de assustar por qualquer coisa e nas horas difíceis puxava de uma faca de ponta e avançava sobre o inimigo (1980: 299). Essas mulheres que seguiam o exército, conforme relata o autor,

“[...] não tinham medo de coisa alguma [...] Nas linhas de atiradores que combatiam encarniçadamente, vi-as mais de uma vez chegarem-se dos feridos rasgarem as saias em ataduras para estancarem o sangue, montá-los nas garupas de seus cavalos e conduzi-los no meio das balas para os hospitais. Algumas trocavam as amazonas por bombachas nos dias de combate. E as pontas de suas lanças formavam salientes nas cargas dos regimentos.” (Cerqueira,1980: 300).

Se as combatentes lançadeiras circulavam entre as balas inimigas, destemidas, sem nenhum medo, em situação adversa, uma canção entoada por um oficial combatente desconsidera a atuação das companheiras de  campanha  e  invoca  as  mulheres  atreladas  ao  apelo  do  dispositivo  da sexualidade, na imagem da mãe-esposa-irmã, mulheres fora do espaço das guerras. Pernidji cita versos cantados por um oficial de guerra:

Minha mãe não chore tanto

E deve se controlar

Que minha sorte foi esta

De morrer no Paraguai

As mães choram por seus filhos

As mulheres por seus maridos

As donzelas por seus manos

 As damas por seus queridos

Me encomende a Santo Antônio

Meu pai o faça a Jesus

Se eu morrer no Paraguai

Não me falte à santa luz.

(Pernidji, 2003: 69)

Essa situação exposta na canção corrobora com o texto de Françoise Thébaud, na coletânea de História das Mulheres no Ocidente (Séc. XX), quando a autora elege a guerra como o triunfo da divisão sexual , já que esse espaço põe cada sexo em seu  lugar. As mulheres só são referidas através de alegorias: a Vitória, a viúva triste, a mãe que amaldiçoa a guerra (Thébaud, 1991: 31). Apesar de serem mencionadas como combatentes, as referências às mulheres que lutaram na Guerra do Paraguai também não foram diferentes. As medalhas, as estátuas, os monumentos fizeram homenagem aos homens, heróis das guerras e dos campos de batalha.

Outras mulheres que lutaram em campos bélicos, inclusive designadas na condição de vivandeiras, foram evidenciadas nas narrativas de memorialistas em função de sua coragem e ousadia. Assim, por exemplo, o voluntário da Pátria, mais tarde General de Brigada, Joaquim Silvério de Azevedo Pimentel (1978), salientou a bravura de mulheres comuns, como a identificada apenas por Florisbela e também Maria Francisca da Conceição, conhecida como Maria Curupaiti.

O memorialista Pimentel (1978) afirma que Florisbela atuou junto ao corpo do 2º Exército, às ordens do Visconde de Porto Alegre, apesar de ser uma transviada, sem nome e sem família, apresentara-se como uma intrépida soldado. O elogio feito à atuação corajosa de Florisbela, intrépida soldado, se dá com o ônus de sua desclassificação como transviada, como uma pessoa anormal, em relação às outras mulheres normais. Como bem reflete Navarro-Swain, no domínio das relações humanas são as representações paradigmáticas que estabelecem as margens, os limites e as exclusões (1999: 03).

Foi na condição de excluída, sem nome e sem família, que Florisbela foi percebida pelo companheiro como transviada, engajou-se no conflito no Rio Grande do Sul, acompanhando o marido, que pertencia ao 29º Corpo de Voluntários da Pátria. Não se limitou, contudo, à vida de acampamento das mulheres dos soldados, pois se envolveu pessoalmente nas lutas, quando armava com a

“[...]carabina do primeiro homem que era ferido e, entrava em seu lugar na fileira, sustentando o combate até o fim da luta, largando então a arma agressiva dirigia-se aos hospitais de sangue.

Quem não se recorda dos atos de heroísmo de Florisbela, mulher que, devendo fugir a uma morte certa enfrentou batalhas, [...]no entanto, [...] quem hoje fala em Florisbela, ignorada, desconhecida quando merecia uma epopéia [...], outras, passaram por heroínas, cantadas em romances e poesias variadas e ela nem uma simples menção viu figurar o seu nome!

Todo o 2º Corpo do Exército, às ordens do Conde de Porto Alegre, viu-a, admirou-a, invejou-a. A Pátria esqueceu-a. Florisbela tinha a desventura de ser uma transviada, sem nome, nem família; mas se alguma mereceu o nome de heroína, ela deveria se figurar também no 1º plano.

D. Ana Néri, em cenário diferente, exercia a nobre missão de seu sexo. Era caridade e a paz. Era viúva honrada que espargia pelos necessitados [...] muitas vidas salvou com seus desvelos e carinhos. A Pátria, porém, cobriu-a com o manto de sua gratidão.” (Pimentel, 1978: 19-20)

A imagem de Florisbela aponta para uma mitificação de sua atuação: é a poderosa e combatente mulher que, de modo quase onipresente, está lutando contra inimigos e, ao mesmo tempo, atendendo feridos. Misto de guerreira, mãe, enfermeira, é a imagem-síntese da vivandeira que povoa o imaginário dos soldados em guerra. O entusiasmo e ousadia dessa mulher foram reiterados pelo Coronel Pimentel. Ele afirma ter presenciado Florisbela,

“[...]com os lábios enegrecidos pela ação de morder o cartucho [...] Essa mulher se tivesse nascido na França ou na Alemanha, talvez figurasse em estátua na melhor praça de suas grandes cidades, mas no Brasil, nem de leve se tomou consideração o ato de seu espontâneo e magnífico despreendimento e bravura”. (Pimentel,1978: 20)

É visível, no relato, a indignação do autor por ela não ser reconhecida como heroína de guerra, apesar da existência de mais de dez mil testemunhas. Real ou imaginária, a Florisbela construída pelo autor tem um endereço certo. É a representação de todas aquelas que, anonimamente, lutaram pela pátria e não receberam reconhecimento político, não foram objeto de estátuas nas praças, como diz o próprio Coronel Pimentel.

Percebe-se, na materialidade lingüística das memórias do combatente, que se tornou coronel e terminou por ser preservado na memória da guerra, principalmente pela sua narrativa, uma solidariedade com os combatentes anônimos dos quais não se poderia excluir as mulheres guerreiras.

Uma outra mulher viveu situação semelhante à de Florisbela. Trata-se de Maria Curupaiti,

“[...]nos confrontos, lutando ao lado dos homens, sempre vestida de soldado. Seu marido morreu no assalto a curuzu, mas Maria Francisca continuou combatendo junto às tropas brasileiras. Na batalha de Curupaiti foi atingida pela espada de um paraguaio e só no hospital ficaram sabendo que o bravo soldado, baixo e franzino, era uma mulher. Daí por diante, passou a ser chamada de Maria Curupaiti, respeitada pelos colegas de farda.” (Brazil; Schumaher, 2000: 376)

Segundo o relato, Maria Curupaiti passou a ser mencionada em versos e prosas por seu ato heróico de combater bravamente, vestida à masculina, na batalha de Curupaiti, em setembro de 1866. Hoje, Maria Curupaiti figura como nome de uma rua no Bairro de Santana na cidade de São Paulo. Sua atuação foi assim relatada pelo companheiro de campanha:

“Chamava-se Maria Francisca da Conceição. Casada com um cabo- de-esquadra do Corpo de Pontoneiros do Exército, seu marido teve de embarcar com as forças ao mando do Tenente-General Conde de Porto Alegre com destino ao assalto glorioso do forte de Curuzu.

O chefe proibiu terminantemente que as casadas acompanhassem seus maridos naquela expedição, devendo todas ficar sob a proteção do grande exército de Tuiuti.

Maria não desanimou. Tinha treze anos e amava soberanamente o consorte.

Dotada de ânimo varonil, de resoluções prontas, decidiu-se a acompanhá-lo a todo transe. Recorreu a um cabeleireiro do acampamento, voltando com suas madeixas destruídas. Estava com o cabelo reduzido à escova!

Despiu os ornatos femininos, deu pregas em uma calça do marido, vestiu a blusa dos uniformes e arranjou um boné.

Insinuou-se no meio das fileiras na ocasião do embarque. Era um soldadinho imberbe, de pequenina estatura. Ninguém deu pelo disfarce.

Na refrega, uma bala dá em cheio na fronte do  marido,  que cai morto. A 22 de setembro a jovem viúva avança contra Curupaiti. Toma lugar nas primeiras filas dos assaltantes; bate-se nelas, penetrando no formidável baluarte juntamente com os poucos que ali podem entrar. É repelida com eles e, na faina de matar, adianta-se. Maria resvala ensangüentada e vai cair fora da trincheira! Os companheiros acodem-na, e ela é salva da fúria do agressor que, não podendo ultrapassar a trincheira, pára junto à banqueta de do parapeito.

Só no hospital conhecem-lhe o sexo. Espanto geral de todos.

Cada qual refere às suas proezas na luta, acrescidas com as vivas cores da simpatia, da admiração e do pasmo.

Chamaram-na Maria Curupaiti. Tornou-se venerada. Era moça. E era bonita.

Na batalha de 3 de novembro de 1867, em Tuiuti, irrompe Conceição nas fileiras do 42o Corpo de Voluntários da Pátria seus patrícios: - e aí trava-se combate contra as numerosas forças do adversário.  O seu  exemplo  arrebata  os  homens,  aos  quais   não cessam de dizer, com o sorriso das heroínas nos lábios Aqui está Maria Curupaiti! Avante!” (Pimentel, 1978: 149-150)

Na mitificação operada, há o recurso às mesmas imagens do relato de Florisbela, ou seja, abnegação à causa bélica, destemor, coragem, renúncia de si, uso de disfarce para construir a heroína de guerra. O que era considerado transgressor na atuação de Maria Curupaiti foi sublimado no amor ao marido e à pátria. Os traços que asseguram seu desempenho intrépido na guerra são desfigurados como masculinos: resoluções prontas, ânimo varonil, cabelo reduzido à escova. A representação do feminino não comporta apelos, mas sim os traços de indecisão e insegurança, ânimo frágil e longas madeixas. O testemunho de sua bravura e abnegação foi relatado pelo mesmo Pimentel, nos seguintes termos:

“O epílogo desta aventura vivido por uma bela e valente pernambucana, não poderia ser outro: com o fim da guerra, deslocou-se para o Rio de Janeiro, onde vivia, ao tempo da escritura deste relato, alquebrada e sem recursos.” (Pimentel, 1938: 109-110)

A mesma indignação pelo não reconhecimento público dos feitos militares dos combatentes anônimos é a reafirmação, no caso de Maria Curupaiti, para confirmar a regra da injustiça social, institucional e do governo imperial. Não restam dúvidas de que a história realmente interessou-se muito pouco por essas mulheres. Construiu um silêncio sobre sua presença na guerra. A escassa referência a elas nas fontes, nas versões construídas sobre essa experiência passada, não justifica o silêncio dos historiadores e historiadoras que se dedicaram ao estudo da história militar, já que as desprezam quando se tratam dos combates bélicos.

A Guerra do Paraguai pode também ser considerada como um marco do surgimento do sentimento de nacionalidade. Pela primeira vez na história do Brasil, a quase totalidade da população viu-se envolvida num conflito de longa duração contra um inimigo comum, estrangeiro, o que mobilizou material e emocionalmente os brasileiros, usando inclusive, a imagem de mulheres para despertar o patriotismo.

Relatórios e correspondências de Guerra (entre o Brasil, Argentina e Uruguai) ressaltaram a presença de mulheres na campanha armada. Em uma das correspondências de guerra entre Caxias e o Ministro da Guerra, de 9 de julho de 1868, Caxias solicita: passagem no vapor Arinos para essa Corte a Joana Rita dos Impossíveis, mãe de dois soldados falecidos nessa campanha [...], mande passagem dessa Corte para a Província do Piauí, donde é natural.

A ênfase dada à presença das mulheres nos campos de batalha é também dada pelo argentino Francisco Seeber. Ele relata que, no ano de 1866, os campos de batalha estavam repletos de mulheres:

“Essas infelizes seguem nossos movimentos (do Exército aliado), se vestem pobremente, se alimentam com o que sobra, vivem sob os galhos, lavam, cozinham para os soldados e lhes dedicam os maiores cuidados quando ficam doentes ou caem feridos. Seus maridos ou amigos muitas vezes as tratam mal e elas morrerão no esquecimento. Ninguém se lembrará delas, exceto para menosprezá-las.” (Seeber, 1907: 280)

Os registros sobre a presença das mulheres na Guerra do Paraguai indicam que elas atuaram não apenas nos serviços de retaguarda, mas na própria frente de combate, como esposas de soldados, como combatentes aguerridas, como intrépidas vivandeiras. Não apenas aquelas que foram oficialmente reconhecidas, tidas como heroínas, mas também, todas as outras, mulheres sem fama, ou de má fama, estiveram lá e travaram suas lutas. Evidenciaram sua capacidade de agir, de resistir, de enfrentar condições adversas.

Embora diversos registros sobre a Guerra do Paraguai informem que muitas mulheres estiveram lado-a-lado com os combatentes de campanha, apenas algumas delas transformaram-se em heroínas, como foi o caso de Ana Néri e Jovita. A primeira tornou-se patrona da enfermagem, enquanto outras mulheres, justamente por serem consideradas transviadas, permaneceram anônimas, reconhecidas pela denominação genérica de vivandeiras.

Muitas brasileiras e paraguaias combateram nos campos da Guerra do Paraguai. A presença e atuação dessas mulheres na guerra foi destacada e registrada por vários daqueles que também nela atuavam, de ambos os lados dos países beligerantes. No caso do Paraguai, observa-se que cabia às destinadas33 e às residentas34 diversas atividades na manutenção da guerra, inclusive a plantação de roças para provir víveres às tropas. Às destinadas cabia todo o trabalho agrícola. Já as residentas seguiram com as tropas durante toda a guerra.

No final, transformadas em soldadas, combatiam duramente e ainda atendiam os feridos e recolhiam os mortos. Em batalhas sangrentas, como Avaí e Acosta Nu, mulheres paraguaias foram queimadas pelos aliados, junto com os sobreviventes, muitos deles seus próprios filhos, niños combatientes. Algumas exerciam todas as funções de um soldado e chegaram a receber a patente de sargento: cavavam trincheiras, cortavam lenha, fabricavam pólvora e abasteciam o acampamento.

“Destinadas” era o nome dado às mulheres paraguaias condenadas por serem traidoras da Pátria. Bastava ter um marido ou companheiro condenado para ser considerada destinada. Essas mulheres eram destituídas de todos os bens e enviadas aos desertos do Paraguai para cultivar roças para a tropa. Eram lanceadas a qualquer pretexto, e ao final das marchas, condenadas a morrer de inanição, conforme Pernidji (2003: 167). Outras mulheres, denominadas as traidoras, depois de passarem por todo tipo de vexames e torturas, incluindo a violação, transformaram-se em destinadas, isto é, foram enviadas à localidade de Yhú, e depois a Espadín (hoje em território brasileiro), perto do encontro das cordilheiras de Amambay e Mbaracayú, onde se instalou um campo de concentração para elas, conforme Silva (2006: 08-09).

Já a denominação “residentas” era nome atribuído às mulheres que atuaram durante toda a guerra, transformadas em soldadas, combatiam ferozmente. Algumas chegaram a receber a patente de sargento e, no final do conflito, exerciam todas as funções de um soldado: cavando trincheiras, cortando lenha, fabricando pólvora, abastecendo o acampamento. (Pernidji, 2003: 167). Mulheres denominadas as agraciadas, por sua vez, foram transformadas em residentas, condenadas a seguir o exército paraguaio em sua também via crucis pelo país de sul a norte. (Silva, 2006: 08-09).

O que se vê é que as vivandeiras do Brasil e do Paraguai receberam como reconhecimento o silêncio, embora tivessem participado ativamente da guerra como combatentes. Lutaram ao lado dos companheiros com coragem e destemor. Tal silenciamento é evidenciado por diversas instâncias enunciativas: o governo, os historiadores/as, a própria corporação militar a quem serviam. Mas, segundo Orlandi, o silêncio não é somente o da ausência das palavras, já que, o silêncio não é o vazio, o sem-sentido; ao contrário, ele é o indício de uma totalidade significativa. Isto nos leva à compreensão do vazio da linguagem como um horizonte e não como falta (1997: 70).

 É, portanto, silêncio significado. Silêncio que foi quebrado por aqueles mesmos que o praticaram, quando fizeram uso dessa forte presença para capitalizar seu poder de interpelação junto ao imaginário social da guerra. É um silêncio que atravessou palavras, que instalou sentidos e, por assim o fazer, possibilitou o dizer (Idem, ibidem: 71). São esses olhares e dizeres que imprimiram sentidos à atuação das mulheres nos campos de guerra por meio dos registros iconográficos.

 

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_____. 1960. Memórias. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército.

Fontes impressas

O Jornal, Rio de Janeiro (1927), p. 06.

Jornal Diário de Notícia, Salvador (BA), 1926.

Jornal A Tarde, Salvador (BA), 1926.

Revista Nosso Século. Rio de Janeiro, 1982.

Arquivos

Arquivo da fundação Getúlio Vargas (RJ).

CEPEDOC/FGV (RJ) – Centro de Estudos, Pesquisa e Documentação Contemporânea. Cópia de áudio, gravação transcrita.

 

Biografia da autora

Maria Meire de Carvalho é doutora em História na área de Gênero e Estudos Feministas pela UnB. Professora adjunta da Universidade Federal de Goiás, Regional Goiás, na cidade de Goiás. Atualmente é diretora da Regional Goiás da UFG. Coordenadora do Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão e Cultura com a denominação de “Gênero, Direitos e Sexualidade” (G-SEX), desde o ano de 2009.

Sobre o artigo

O texto faz parte das discussões do capítulo 2 da Tese de Doutorado “Vivendo a verdadeira vida: vivandeiras, mulheres em outras frentes de combates”, defendida no Programa de Pós-Graduação em História, na área de Gênero e Estudos Feministas da Universidade de Brasília (2008).


 

[1] CERQUEIRA, Dionísio. Reminiscências da Campanha do Paraguai. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1980; DUARTE, Paulo de Queiroz. Os voluntários da pátria na Guerra do Paraguai o comando de Osório. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1984, v. 2, Tomo II;  v. 3, Tomo I; FRAGOSO, Augusto Tasso. História da Guerra entre a Tríplice Aliança e o Paraguai. 2 ed. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1959 (5 volumes); PIMENTEL, J. S. de Azevedo. Episódios militares. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1978; RODRIGUES SILVA, José Luis. Recordações da Campanha do Paraguay. São Paulo: Melhoramentos, 1924; SEEBER, Francisco. Cartas sobre la Guerra Del Paraguay (1865-66). Buenos Aires: Talleres Gráficos Rosso, 1907; TAUNAY, Alfredo D Escragnolle. Marcha das forças (expedição de Mato Grosso): 1865-6. São Paulo: Melhoramentos, 1928; TAUNAY, Alfredo D Escragnolle. A Retirada da Laguna. São Paulo: Melhoramentos, 1963; TAUNAY, Alfredo D Escragnoll.e Memórias. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1960. 

[2] Dentre as obras historiográficas priorizei: DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo; Cia das Letras, 2002; DOURADO, M. Teresa Garritano. Mulheres Comuns, Senhoras Respeitáveis. A presença feminina na Guerra do Paraguai. Campo Grande: UFMT, 2005; DEL PRIORE, Mary; VENÂNCIO, Renato Pinto (orgs). O livro de ouro da História do Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001; PERNIDJI; Joseph E; PERNIDJI, Maurício E (orgs) Homens e mulheres na Guerra do Paraguai. Rio de Janeiro: Imago, 2003; SALLES, Ricardo. Guerra do Paraguai: escravidão e cidadania na formação do Exército. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

[3] O filósofo e diplomata Henri Louis Bergson é autor de várias obras, mais conhecido pelas reflexões que fez em Matière et Mémoire e L'Évolution créatrice, trabalhos estudados na atualidade por diferentes disciplinas. Para maiores aprofundamentos, consultar a obra de BERGSON (1896/2004).  Para maiores aprofundamentos consultar  também o artigo de BARONE (2003).

[4] Cartas reservadas e confidenciais referentes à Campanha do Paraguai (1867-69). Livro 4, Arquivo Nacional (Códice 924).

[5] Para Francisco Doratioto, a Guerra do Paraguai foi fruto das contradições platinas, tendo como razão última a consolidação dos Estados nacionais na região. Essas contradições cristalizaram-se em torno da Guerra Civil uruguaia, iniciada com o apoio do governo argentino aos sublevados, na qual o Brasil interveio e o Paraguai também. Contudo, isso não significa que o conflito fosse a única saída para o difícil quadro regional. A guerra era uma das opções possíveis, que acabou por se concretizar, uma vez que interessava a todos os Estados envolvidos [...] não há bandidos nem mocinhos como quer o revisionismo infantil, mas sim interesses.  (Doratioto, 2002: 9)

 

 

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janvier / juin 2015 -janeiro/juin 2015