labrys, études féministes/ estudos feministas
julho/ 2017- junho 2018 /juillet 2017-juin 2018

 

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Durante 16 anos Labrys publicou centenas de artigos que revelaram as mudanças e os pontos de inflexão de um feminismo em movimento. Hoje as feministas veem se esgarçar os objetivos primordiais da luta das mulheres: a liberdade e independência política e econômica, a igualdade salarial, a autonomia sobre seus corpos, a transformação das relações sociais com a eliminação das hierarquias baseadas no sexo.

Com efeito, a proposição que indica a construção social e imaginária não só do gênero, mas também do sexo em última instância criou uma vaga de penetração de homens no movimento feminista não como parceiros para eliminar a violência e a discriminação contra as mulheres, mas para reivindicar um pertencimento ao feminino, mesmo com aparelho genital masculino , símbolo maior da importância a ele conferida. De fato é esta importância que configura a construção social do sexo biológico e não sua materialidade. 

É assim que os transativistas 1 invadem os encontros feministas com violência e atacam física ou verbalmente as feministas que mão se ocupam de sua presença ou de sua condição. Sua agenda- se é que ela existe-  não contempla uma transformação das relações humanas, mas baseiam suas reivindicações em questões de sexo/ gênero e não fazem senão reforçar a ideia de “diferença”.  Pois “ se sentir mulher”, como querem, desfaz toda a luta feminista para quebrar a representação social desta posição marcada pela inferioridade.

É assim que o sexo retoma seu papel principal no debate, questão voltada para ... os homens que se dizem mulheres, e que transformam a relação heterossexual, às vezes  em um lesbianismo deplorável.  Impõem-se com agressividade, quebrando a força feminista para uma modificação estrutural da sociedade. Estes transativistas, que desnaturam o “natural” do sexo de fato robustecem a divisão mulher/ homem pois  o que pretendem é uma inserção no mundo dos homens. Habituados à violência masculina na qual foram construídos reproduzem atitudes de ataque e ódio clamando à “transfobia” e à exclusão.

Isto cria mais cizânia e facções no interior do feminismo que deve assim tudo englobar, sem priorizar os objetivos que deram origem aos movimentos de mulheres: desfazer a representação social “da mulher” e não reforça-la como querem os transativistas.

É o mesmo tipo de divisão que se faz no feminismo em relação à prostituição: há aquelas que defendem a abolição do sistema prostitucional como parte integrante da dominação masculina e aquelas que  apoiam o « direito » dos homens acederem aos corpos das mulheres mediante pagamento, em um quadro improvável de “escolha” ou “agentividade” do desempenho desta “profissão”.

O resultado destas divisões é que o feminismo se liquefaz em discussões acerbas veiculadas em redes sociais e outras mídia. O que se percebe nestes debates é paradoxalmente um retorno ao corpo, ao sexo enquanto determinante do ser no mundo. A questão que fez correr tanta tinta “ o que é uma mulher” se turva na violência das reivindicações transativistas.

Constata-se assim que o feminismo hoje está enfraquecido, e não tem agido no sentido de destruir os tentáculos do patriarcado, que se fixam em toda parte. Nunca se falou tanto em feminismo e nunca foi tão frágil. Arauto da liberdade e da transformação social o feminismo perde seu norte, seus instrumentos teóricos, seu pulsar para se dobrar à agenda masculina. O feminismo hoje, sob o pretexto de “direitos humanos” engloba tudo e esquece  os direitos humanos das mulheres.

Não basta lutar contra  a violência, é preciso erradica-la em suas raízes, nas representações sociais que ordenam a construção de mulher/ homem como seres distintos e desiguais. Nunca a violência dos homens foi tão explícita e contundente.

Para quando a revolução que varre os sexos sociais como fundamento de hierarquia e destrói tais representações?

Este número de Labrys apresenta aspectos do feminismo nos países nórdicos, inicia uma discussão sobre feminismos negros no Brasil e abre um dossiê multilíngue sobre a criminologia feminista.

Boa leitura

tania navarro swain

*1 capítulo do livro "Feminismo radical: muito além de identidades e gênero". tania navarro swain. 2017 Amazon.com.br

 

 

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