labrys, études féministes/ estudos feministas
janvier /juin 2007 - janeiro / junho 2007

 

Entre Capitus, Gabrielas, Tigresas e Carolinas:
O olhar feminino na canção popular brasileira.*

Ana Carolina Arruda de Toledo Murgel

 

RESUMO

A proposta deste artigo é analisar alguns exemplos da produção feminina na música popular brasileira contemporânea, a partir de uma observação da poeta e feminista Alice Ruiz, em artigo do início dos anos 1980. Segundo a poeta, como a História e a literatura foram escrita pelos homens, as mulheres seriam o que os escritores e compositores do sexo masculino diziam que elas eram: Capitus, Gabrielas, Carolinas e Tigresas. Foram várias as imagens femininas construídas por poetas e letristas e incorporadas como “ideal feminino”. Alice propunha que uma nova ótica deveria ser criada sobre as mulheres por elas mesmas.  Pergunto, mais de duas décadas depois desse artigo, o que terá mudado nessa construção? O que as mulheres dizem sobre si, no âmbito da canção popular?  Busco discutir a forma como as compositoras trabalham em suas letras o corpo feminino e como se dá a representação do sujeito e das subjetividades femininas pelas mulheres compositoras. A pesquisa se realiza com o apoio da FAPESP.

Palavras-chave: compositoras; letristas; musica popular brasileira; mulheres na musica.


 

Por sete séculos eu fui

Escrava devotada de um mandarim

Trançava ouro em seus bigodes, seus pagodes

Forrava sua cama de cetim

Regava suas flores de cristal

Bordava rouxinóis em seu jardim

E agora, com a queda do Império

Falando sério

O que será de mim?

“O Mandarim” (Jussi Campelo).

No início dos anos 1980, Caetano Veloso deu uma entrevista à revista Nova, onde afirmou que a mulher seria inferior ao homem, física e mentalmente. A afirmação foi surpreendente, partindo de um dos mais libertários dos compositores brasileiros, e provocou uma reação imediata em Alice Ruiz, amiga do compositor, que respondeu com o artigo “Carta Aberta a Caetano”, publicado na revista Quem, de Curitiba, cujo trecho abaixo chama especial atenção:

“A história foi feita pelos homens. E escrita por eles. Aliás, tudo foi escrito, analisado, estudado pelos homens. Inclusive as mulheres. Quer dizer, tudo que se fala e sabe sobre mulher foi dito pelos homens. Pelo menos, até uns poucos anos atrás. Faz muito pouco tempo que as mulheres escrevem. Talvez por isso nenhuma se debruçou tanto sobre a alma feminina quanto Machado de Assis, Flaubert, Balzac, Tolstói, entre centenas na literatura. Ou como você e Chico entre outros na nossa música. Somos Capitu, Gabriela, Carolina, Tigresa. Somos o que vocês disseram que somos. Em outras palavras, até o conceito de mulher é masculino, ou era, até recentemente. Os critérios são a visão do homem. Mas isso você colocou às mil maravilhas na entrevista quando disse: “nosso dever é criar novos critérios, esquecer os critérios, complexizá-los.” E isso não é mais um serviço para o super-homem. As mulheres, e, principalmente elas, precisam colaborar com a sua visão das coisas para acelerar esse processo de fundar uma nova ótica, especialmente sobre a própria mulher.” (RUIZ, N/D)

Foi esse trecho que me levou a pensar sobre o desafio da poeta: as mulheres, com suas produções musicais, reinventam-se? Ou, em outras palavras, estão incorporando modificações na construção do eu para além do sujeito universal masculino?

O primeiro desafio foi a questão da composição feminina. Foi interessante observar que são pouquíssimas as compositoras brasileiras conhecidas. Pedro Alexandre Sanchez, crítico musical da Folha de São Paulo, em diversos artigos levantou a questão da escassez da composição feminina, para ele restrita a alguns nomes como Chiquinha Gonzaga, Dolores Duran e Maysa. Para o crítico, a composição feminina toma novos caminhos apenas com o aparecimento de Rita Lee, a primeira de toda uma nova geração de compositoras.

Existem muitas e muitas outras, algumas já bem conhecidas, como Marina Lima, Zélia Duncan, Angela Ro Ro e Marisa Monte. Outras que só algumas pessoas conhecem suas composições, por serem poucas e pelo reconhecimento como intérpretes, como Gal Costa, Cássia Eller ou Maria Bethânia, além de toda uma geração de compositoras brilhantes que despontaram na música brasileira a partir dos anos 1960. Antes disso, ainda em 1958, a cantora e pesquisadora Inezita Barroso gravou um LP apresentando as compositoras Babi de Oliveira, Juracy Silveira, Zica Bérgami (de quem, no mesmo ano, Inezita gravou um dos maiores clássicos da música brasileira, “Lampião de gás”), Leyde Olivé e Edvina de Andrade, mostrando que o problema de se imaginar que só Dolores e Maysa surgiram com trabalhos autorais, depois de Chiquinha Gonzaga, era possivelmente por uma centralização da indústria fonográfica no Rio de Janeiro.

A música popular já nasceu sob suspeita no Brasil, e se para os homens do início do século XX canção popular era sinônimo de vadiagem, o ingresso das mulheres nesse campo foi muito difícil e acompanhado de profundas suspeitas sobre a “integridade moral” das que se aventuraram.

Nos anos 1970, Sueli Costa, numa entrevista à jornalista Ana Bahiana, contou, sobre ser mulher e compositora:

“Vai ver que isso até influenciou as pessoas naquela época em que eu não conseguia nada. Não sei. Pode ser. Era muito estranho. Uns não acreditavam. O Grisolli foi um que estranhou: ‘Como é? Uma mulher compositora?”. Outros me achavam um bicho estranho. Queriam me fazer assim um produto exótico. Mulher compondo música é mesmo muito estranho. Não existe, não é? Não tem quase ninguém. Estranho isso. No começo me doía, me incomodava. Eu sentia, bem, que era tratada... sabe como é... teve um cara aí de uma gravadora que queria me dar uns uísques... fazer uma transa... e depois ver se ia gravar... Essas coisas... eu estranhei no começo... fiquei quente de ódio. Mas é como a Joyce disse. ‘Mulher não é considerada para nada. Vai ser considerada na música?’ E é uma coisa tão tola, no fundo.” (BAHIANA, 2006:221-222).

Sueli Costa começou sua carreira artística em 1961, mas o reconhecimento como compositora só aconteceu dez anos depois. É autora de grandes sucessos como “Face a face” e “Jura secreta”, gravadas por Simone, e “Primeiro jornal”, gravada por Elis Regina, entre muitas outras canções. Tornou-se conhecida no início dos anos 1970, depois que Maria Bethânia gravou canções suas em shows e LPs, como “Assombrações”, “Encouraçado” e “Demoníaca”, entre muitas outras, mas seu nome se projeta mesmo a partir de 1975, quando “Coração ateu” entra na trilha da novela Gabriela, e a canção “Dentro de mim mora um anjo” (em parceria com o poeta Cacaso) na trilha de “Bravo”, ambas da Rede Globo.

“Coração ateu” não deixa de trazer uma incredulidade feminina com o romantismo. Essa mulher parte, e não chora:

O meu coração ateu quase acreditou

Na tua mão que não passou de um leve adeus

Breve pássaro pousado em minha mão

Bateu asas e voou

Meu coração por certo tempo passeou

Na madrugada procurando um jardim

Flor amarela, flor de uma longa espera

Logo meu coração ateu

Se falo em mim e não em ti

É que nesse momento

Já me despedi

Meu coração ateu

Não chora e não lembra

Parte e vai-se embora

Em 2001, numa reportagem que trazia o resultado de uma pesquisa sobre as músicas mais apreciadas da MPB, Pedro Sanches e Lúcio Ribeiro reparam que

“Não sobrou muito para a ala feminina de compositores na enquete [...]. Rita Lee comparece isolada na 11ª posição [...] Bem atrás (no tempo e na lista), Chiquinha Gonzaga e Dolores Duran empatam, com apenas quatro votos cada. Maysa, precursora da presença feminina na MPB moderna com Dolores, foi esquecida” (RIBEIRO, 2001:E4).

Indagadas pelos autores da reportagem sobre o porquê das mulheres serem “menos ativas como autoras de canção popular”, Rita Lee responde:

“As mulheres são quantitativamente menos presentes em muitas áreas. Começamos a botar nossas asinhas de fora recentemente, enquanto o patriarcado existe há séculos [...] Chiquinha Gonzaga era do tempo em que os varões diziam: 'Música é coisa para homem'. Dolores Duran era do tempo em que os caras falavam: 'Mulher compositora é puta'. Eu sou do tempo em que o clube do Bolinha dizia: 'Para fazer rock tem que ter culhão'. Cássia Eller é do tempo em que dizem: 'Precisa ser mulher-macho para fazer música igual a homem'. Minha neta será do tempo em que vão dizer: 'Só mesmo uma mulher para fazer música tão boa'“. (LEE apud RIBEIRO, 2001:E4

E Paula Toller arremata:

“Não sou pequenininha, não tenho mãe chamada Paula nem uso esse apelido, mas sempre me chamam de Paulinha. É Paulinha Toller e Fernandinha Abreu. Pergunte se existe Robertinho Frejat. Dá preguiça, mas se falo dizem que é mau humor [...]Deve ser preguiça, as pessoas esquecem mesmo. Há muito homem na música, ficar com mulherzinha deve ser mais difícil. É lógico que há machismo, é questão de maioria, de quórum”. (TOLLER apud RIBEIRO, 2001:E4).

O caminho para a composição feminina, no Brasil, foi árduo e lento, e a percepção das diferenças entre os gêneros, em especial, na construção de um eu feminino diferenciado do discurso masculino sobre “o que seríamos” também foi gradual. Dolores Duran foi compositora nos tempos do samba-canção, da dor-de-cotovelo, e são comuns as referências sobre suas composições que tratam da mulher abandonada por seu amante ou suplicando por ele, como

“Solidão” (Vivendo na esperança de encontrar / um dia um amor sem sofrimento / vivendo para o sonho de esperar / alguém que ponha fim ao meu tormento), “Castigo” (Se eu soubesse / naquele dia o que sei agora / eu não seria essa mulher que chora / eu não teria perdido você), “Não me culpes” (Não me culpe se eu ficar meio sem graça / toda vez que você passar por mim / não me culpe se os meus olhos o seguirem / mesmo quando você nem olha pra mim) e “Por causa de você” (Ah, você está vendo só / o jeito que eu fiquei e que tudo ficou / uma tristeza tão grande nas coisas mais simples / que você tocou).

Mas é preciso destacar que algumas de suas letras já traziam também uma mulher que não estava mais disposta a esperar pelos caprichos do outro, como em “Fim de caso”:

Eu desconfio

Que o nosso caso

Está na hora de acabar

Há um adeus em cada gesto,

Em cada olhar

Mas nós não temos

É coragem de falar

Nós já tivemos

A nossa fase de carinho apaixonado

De fazer versos,

De viver sempre abraçados

Naquela base do só vou se você for

Mas de repente,

Fomos ficando cada dia mais sozinhos

Embora juntos

Cada qual tem seu caminho

E já não temos

Nem coragem de brigar

Tenho pensado,

E Deus permita que eu esteja errada

Mas eu estou, ah eu estou desconfiada

Que o nosso caso

Está na hora de acabar

A mesma situação se repete na canção “Olhe o tempo passando”, em parceria com Edson Borges:

Olhe, você vai embora

Não me quer agora

Promete voltar

Hoje você faz pirraça

Até acha graça se me vê chorar

A vida acaba um pouco todo dia

Eu sei e você finge não saber

E pode ser que quando você volte

Já seja um pouco tarde pra viver

Olhe o tempo passando

Você me perdendo com medo de amar

Olhe, se fico sozinha

Acabo cansando de tanto esperar

Em “O negócio é amar”, letra postumamente musicada por Carlos Lyra, escrita provavelmente durante os anos em que mais produziu suas canções (entre 1952 e 1959) Dolores fazia uma avaliação sobre o amor. Mostrava que:

[...]Tem homem que briga pela bem-amada

Tem mulher maluca que atura porrada

Tem quem ama tanto que até enlouquece

Tem quem dê a vida por quem não merece

Amores à vista, amores à prazo

Amor ciumento que só cria caso

Tem gente que jura que não volta mais

Mas jura sabendo que não é capaz

Tem gente que escreve até poesia

E rima saudade com hipocrisia”.

Essa canção apontava também para uma crítica muito clara à idéia do ciúme como prova de amor e ao discurso do amor romântico.

Contemporânea de Dolores, Maysa trazia em boa parte de suas letras uma mulher abandonada que não acreditava mais na possibilidade da felicidade sem o outro. Notava, com ironia, na canção “Felicidade infeliz”:

Felicidade, deves ser bem infeliz

Andas sempre tão sozinha

Nunca perto de ninguém

Felicidade, vamos fazer um trato

Mande ao menos teu retrato

Pra que eu veja como és

Esteja bem certa porém

Que o destino bem cedo fará

Com que teu rosto, eu vá esquecer

Felicidade não chore

Que às vezes é bom

A gente sofrer

Mas, ao mesmo tempo, em “Meu mundo caiu”, em uma de suas mais clássicas canções lembrava que “se meu mundo caiu eu que aprenda a levantar. Em “Voltei”, a compositora dizia que ser triste não era, para ela, uma escolha, mas sua própria construção indentitária:

Meu verso sempre tão triste

Volta pedindo desculpas

Pelo triste que causou

Meus olhos tantas vezes decantados

‘Inda mais desencantados

Voltam, tristes ao que deixou

E tudo recomeça novamente

Eu me entrego docemente

E a tristeza eu me dou

Voltei, com meus olhos

Com meu verso

E a todos eu peço

Que me aceitem como sou

Com meu verso sempre triste

Com meus olhos desencantados

Sendo sempre como sou

Meu verso sempre tão triste

Volta pedindo desculpas

Pelo triste que causou

É importante lembrar, no entanto, que se suas letras traziam mulheres amarguradas, a própria Maysa era uma mulher de muita força, afiada e precisa em suas críticas e opiniões, completamente insubmissa aos valores masculinos que imperavam naqueles tempos.

Ainda no tempo do samba canção, em 1958, ocorreu a primeira gravação de um rock no Brasil, efetuada por Nora Ney. É um dato importante, já que esse gênero, considerado o “mais masculino da canção” foi todo pontuado pela atuação feminina em nossa história musical, o que poucos observam. Em sua biografia sobre Janis Joplin, a historiadora feminista Alice Echols lembra que o rock’n’roll era o espaço da agressividade e da sexualidade, portanto, inadmissível para as mulheres. A chegada de Janis, nos anos 1960, tornou-se um marco na história do movimento:

O que faz a rebeldia de Janis ser especialmente notável é que ela estava muito à frente de seu tempo, recusando-se a ser uma boa menina muito antes de a revivificação do feminismo moderno legitimar tal recusa. Em 1967, quando Janis passou a liderar as manchetes ,os primeiros grupos de liberação das mulheres ainda não estavam formados, e carreira e família pareciam totalmente irreconciliáveis para as mulheres. E quando se tratava de relações entre homens e mulheres, nem a contracultura era contra de verdade. A luta de Janis teria sido dura o bastante se ela apenas desejasse ser uma cantora pop de sucesso, mas ela também estava tentando cavar seu espaço em uma cultura em que o único papel aceito para uma mulher era o de ser a “patroa” de seu homem. (ECHOLS, 2000:13).

No Brasil, a história do rock começou com as mulheres, apesar desse fato ser pouco lembrado nos livros que contam a história do movimento em nossas plagas. Primeiro, em 1955, tivemos a gravação de Nora Ney do sucesso de Bill Halley em “Rock around the clock”; em seguida, no final dos anos 1950 e início dos 60, Celly Campello se tornou recordista de vendagem do rock (bem comportado, no entanto) aos 15 anos de idade. Cabe notar que seu primeiro compacto, de 1958, trazia duas canções com letra de Celeste Novais, musicadas por Mário Gennari Filho. Mas a composição e a crítica ácida e bem-humorada vieram mesmo em 1967, com Rita Lee, nos Mutantes.

Seu primeiro disco solo foi gravado em 1970 – estou até vendo / Meu nome brilhando / E o mundo aplaudindo / Ao me ver cantar / Ao me ver passar / I wanna be a star!, cantava em “Sucesso aqui vou eu [Build up]”. E o nascimento do pop-rock, no Brasil, que dominou os anos 1980, veio pelas mãos de Marina Lima. Marina teve sua primeira canção, “Meu doce amor”, gravada por Gal Costa, em 1977, e lançou seu primeiro disco solo dois anos depois, em 1979.

Rita Lee é uma das compositoras brasileiras que mais tematizou as relações de gênero em suas composições. Apresentou uma nova mulher, desconhecida para a canção brasileira, uma “ovelha negra da família que não vai mais voltar” que revolucionava a relação entre os gêneros. Na canção “Menino Bonito”, quem era lindo e não dizia nada era o garoto, uma inversão da idéia da “moça bonita só de boca fechada”, tão comum nas canções masculinas. E, dessa vez, quem não podia ficar era a mulher (e, pensando em Adoniran com o “Trem das onze”, nem era por causa da mãe...):

Lindo, e eu me sinto enfeitiçada

Correndo perigo

Seu olhar é simplesmente lindo

Mas também não diz mais nada

Menino bonito

E então quero olhar você

E depois ir embora

Sem dizer o porquê

Eu sou cigana

Basta olhar pra você

Canções como “Cor-de-rosa choque” (Sexo frágil não foge à luta / E nem só de cama vive a mulher), “Fonte da juventude” (Quanto mais a mulher jura / Gostar de homem erudito / Tanto mais ela procura / Um tipo burro e bonito / Pois as pernas que um dia abalaram Paris / Hoje são dois abacaxis / Se os olhos da Elizabeth ardem, meu bem / O que a Helena Rubinstein com isso?”), “Elvira Pagã” (“Todos os homens desse nosso planeta / Pensam que mulher é tal e qual um capeta / Conta a história que Eva inventou a maçã / Moça bonita, só de boca fechada, / Menina feia, um travesseiro na cara, / Dona de casa só é bom no café da manhã”), “Luz Del Fuego” (“Eu hoje represento a loucura / Mais o que você quiser / Tudo que você vê sair da boca / De uma grande mulher”) entre muitas outras, traziam essa nova mulher, denunciavam o olhar normativo e masculino, e deixavam perplexos os ainda remanescentes de uma geração bem comportada do rock brasileiro, como a de Celly Campelo ou a Jovem Guarda.

Rita Lee representou e ainda representa o “desmanche” das Capitus, Tigresas, Gabrielas e Carolinas, proposto por Alice Ruiz. Em 2000, quando esperávamos a Miss Brasil com “Um corpo de veludo, as pernas de cetim / A boca de cereja e os dentes de marfim / Um beijo envenenado, onde já se viu? / Miss Brasil 2000! [...]Será que ela vai continuar uma tradição? / Será que ela vai modificar uma geração?” Rita apresenta “Pagu” como a mulher do século XXI:

Mexo remexo na inquisição

Só quem já morreu na fogueira

Sabe o que é ser carvão

Eu sou pau pra toda obra

Deus da asas à minha cobra

Minha força não é bruta

Não sou freira nem sou puta

Sou a rainha do meu tanque

Sou Pagu indignada no palanque

Fama de porra-louca, tudo bem

Minha mãe é Maria Ninguém

Não sou atriz-modelo-dançarina

Meu buraco é mais em cima

Nem toda feiticeira é corcunda

Nem toda brasileira é bunda

Meu peito não é de silicone

Sou mais macho que muito “home”

Uma mistura de todas as mulheres, uma homenagem às milhares de mulheres perseguidas na inquisição, a Pagu de Rita Lee escapa das normatizações do corpo e de comportamento, não tem um patrimônio (minha mãe é Maria Ninguém), é a mulher múltipla que sobe no palanque, trabalha o dia todo, cuida da casa, pau pra toda obra. Pagu aproxima-se, de certa forma, da mulher apresentada no final dos anos 1970, por Joyce e Ana Terra, na canção “Essa Mulher” - também múltipla:

De manhã cedo essa senhora se conforma

Bota a mesa, tira o pó, lava a roupa, seca os olhos

Ah, como essa santa não se esquece

De pedir pelas mulheres, pelos filhos, pelo pão

Depois sorri meio sem graça

E abraça aquele homem, aquele mundo que a faz assim feliz

De tardezinha essa menina se namora

Se enfeita, se decora, sabe tudo, não faz mal

Ah, como essa coisa é tão bonita

Ser cantora, ser artista, isso tudo é muito bom

E chora tanto de prazer e de agonia

De algum dia, qualquer dia entender de ser feliz

De madrugada essa mulher faz tanto estrago

Tira a roupa, faz a cama, vira a mesa, seca o bar

Ah, como essa louca se esquece

Quanto os homens enlouquece nessa boca, nesse chão

Depois parece que acha graça

E agradece ao destino aquilo tudo que a faz tão infeliz

Essa menina, essa mulher, essa senhora

Em quem esbarro a toda hora no espelho casual

É feita de sombra e tanta luz

De tanta lama e tanta cruz que acha tudo natural.

Aqui é preciso destacar que a letra de “Essa Mulher” é da poeta Ana Terra. Joyce, uma das nossas maiores musicistas, não teve a mesma felicidade ao tratar o feminino na canção “Mulheres do Brasil”, música e letra suas:

No tempo em que a maçã foi inventada

Antes da pólvora, da roda e do jornal

A mulher passou a ser culpada

Pelos deslizes do pecado original.

Guardiã de todas as virtudes

Santas e megeras, pecadoras e donzelas

Filhas de Maria

Ou deusas lá de Hollywood

São irmãs porque a mãe natureza

Fez todas tão belas.

Oh! Mãe, oh! Mãe

Nossa mãe, abre o teu colo generoso

Parir, gerar, criar e provar

Nosso destino valoroso.

São donas-de-casa

Professoras, bailarinas

Moças operárias, prostitutas meninas

Lá do breu das brumas,

Vem chegando a bandeira

Saúda o povo e pede passagem

A mulher brasileira.

Ao colocar “Parir, gerar, criar e provar nosso destino valoroso” na letra da canção, Joyce naturaliza novamente o corpo feminino, reduzindo as mulheres ao ato biológico da procriação. É interessante lembrarmos aqui a fala de Sueli Costa, citada anteriormente: apesar de Joyce perceber as dificuldades das mulheres para serem reconhecidas em um campo que até então era tomado pelos homens, ainda assim cometeu esse deslize.

Nos anos 1980, Marina Lima não só contestou o discurso sobre o corpo feminino como, ao se apropriar de uma música extremamente machista de Roberto e Erasmo Carlos, transformou-a em discurso da opção pelo amor entre as mulheres no que foi prontamente compreendida. Cantando a canção em seus shows Marina invertia a obviedade da letra ao afirmar de forma irônica que “é... cada um de nós precisa... precisa de um homem para chamar de seu” e ao se colocar como esse “homem”, sem alterar a letra da canção, transforma-a num chamado para que as mulheres percebessem outras possibilidades de amor além do sujeito universal masculino. Igualmente, as mulheres também cantavam, junto com Marina, a letra para outros homens, rompendo as identidades sobre masculino e feminino:

Sei que você fez os seus castelos

E sonhou ser salva do dragão

Desilusão meu bem

Quando acordou estava sem ninguém, xi..., xi, sem ninguém?( Sei!).

Sozinha no silêncio do seu quarto

Procura a espada do seu salvador

E no sonho se desespera

Jamais vai poder livrar você da fera

Da solidão

Com a força do meu canto

Esquento o seu quarto pra secar seu pranto

Aumenta o rádio me dê a mão

Você precisa de um homem pra chamar de seu

Mesmo que esse homem seja eu

Um homem pra chamar de seu

Mesmo que seja eu

É engraçado, lembrando a gravação dessa canção por Erasmo Carlos, em 1982, ao mesmo tempo em que se mostrava uma canção machista, quando cantada por um homem, parecia indicar também um problema de estima desse “macho”, quando entoava “mesmo que seja eu” - a inversão (e apropriação) de Marina foi genial.

Da mesma forma, Luhli, compositora de sucessos como “O vira” e “Fala”, gravadas pelo grupo Secos & Molhados, também trata da homossexualidade feminina ao contar, na canção “Quase festa”, repleta de sutilezas, a história de uma mulher que depois dos 50 anos se descobre capaz de amar novamente, dessa vez alguém de seu próprio sexo:

De camisola num apartamento

Leão na jaula, janela pro vento

Entre as panelas vê passando o tempo

Quieta, um furacão por dentro, dentro...

Dentro o amor é quase festa

Um sopro de beleza

Por trás da armadura

Madura e completa certeza

É chegada a hora de sentar à mesa

E provar a sua própria natureza

Lá fora o mundo é desafio

Uma vontade de ajeitar a vida

As ruas fervem de pobreza e cio

O tempo explode na urgência do agora, agora...

Agora o amor é quase festa

Um sopro de beleza

Por trás da armadura

Madura e completa certeza

É chegada a hora de sentar à mesa

E provar a sua própria natureza

Percebe-se aqui a diferença do tratamento do “natural” em Luhli e Joyce, na canção “Mulheres do Brasil”, apresentada anteriormente. Luhli utiliza o termo para designar a relação com o próprio sexo, de sua própria natureza.

Fátima Guedes é outra grande compositora que apareceu no cenário musical no final dos anos 1970. No festival MPB/Shell da Globo, em 1980, Fátima Guedes trouxe a canção “Mais uma boca”, que com poesia e canção contundentes, mostrava a vida de uma mulher sem esperanças que acabou de parir uma criança. Na letra da canção, nenhum romantismo sobre a gravidez, o parto ou o futuro da criança:

Quem de vocês se chama João?

Eu vim avisar, a mulher dele deu a luz

sozinha no barracão

E bem antes que a dona adormecesse

o cansaço do seu menino

pediu que avisasse a um João

que bebe nesse bar,

me disse que aqui toda noite

é que ele se embriaga

Quem de vocês se chama esse pai

que faz que não me escuta?

É o pai de mais uma boca,

o pai de mais uma boca.

Vai correndo ver como ela está feia,

vai ver como está cansada

e teve o seu filho sozinha sem chorar, porque

a dor maior o futuro é quem vai dar.

A dor maior o futuro é quem vai dar

E pode tratar de ir subindo o morro

que se ela não teve socorro

quem sabe a sua presença

devolve a dona uma ponta de esperança

Reze a Deus pelo bem dessa criança

pra que ela não acabe como os outros

pra que ela não acabe como todos

pra que ela não acabe como os meus...

Em “A bailarina” a alegoria é transparente com as “boas moças” que guardavam as tradições da família e os estereótipos femininos:

Gira a bailarina

Na caixa de música

Lívida menina

Rodando, rodando...

Num pequeno círculo

De ouro e de espelho

Escrava do delicado

Mecanismo

Pálida e suave

Em seu bailado frívolo

Quantas vidas passa

Dançando, dançando...

Com a orgulhosa pose

De uma estirpe distante

Finita num infinito

Narcisismo

Roda a bailarina

A sua sina

De tonta

Guardiã de jóias e segredos

De família

Com a roupinha de balé

Com a sapatilha

Relíquia de passar

De mãe pra filha

Ela se persegue

Em seu passeio lúdico

Presa na caixinha

Girando, girando, girando...

Alice Ruiz, autora da provocação que abriu este artigo, tem, como Rita Lee, o olhar atento às relações entre os gêneros. Poeta, Alice cuida das palavras de forma especial, nada em suas letras está ali por acaso. Como em “Bolerango”, letra musicada por Waltel Branco, onde ao som trágico do tango e do bolero, a poeta aponta e ironiza o universo feminino do samba-canção, bem ao estilo dos anos 1950:

Boca da noite

Na calada, em silêncio

Grandes lábios

Se abrem em sim

Batom, rimel, pó-de-arroz

Mas pó para depois

Cansada de mim

Quero ser dois

Mas por mais que eu capriche no blush

Não tem outro eu

que eu ache

Saí vestida de noite

Abusei do decote

E lancei a sorte

Sorri para um desconhecido

Escapei por pouco

De um engano muito louco

Voltei só e cabisbaixa

Quem encontra uma mulher

Não procura o que ela acha

Caetano Veloso havia dito uma vez que percebeu a quantidade de vezes que utilizava o pronome “eu” em suas canções – Alice, conferindo sua própria produção, notou que utilizava demais o pronome “você”. Percebendo os estereótipos do masculino/feminino, da “preocupação maternal feminina com ou outro”, ou essa construção de que as mulheres colocam o outro sempre em primeiro lugar, fez a letra de “Vou tirar você do dicionário”:

Eu vou tirar do dicionário

A palavra você

Vou trocá-la em miúdos

Mudar meu vocabulário

e no seu lugar

vou colocar outro absurdo

Eu vou tirar suas impressões digitais

da minha pele

Tirar seu cheiro

dos meus lençóis

O seu rosto do meu gosto

Eu vou tirar você de letra

nem que tenha que inventar

outra gramática

Eu vou tirar você de mim

Assim que descobrir

com quantos “nãos” se faz um sim

Eu vou tirar o sentimento

do meu pensamento

sua imagem e semelhança

Vou parar o movimento

a qualquer momento

Procurar outra lembrança

Eu vou tirar, vou limar de vez sua voz

dos meus ouvidos

Eu vou tirar você e eu de nós

o dito pelo não tido

Eu vou tirar você de letra

nem que tenha que inventar

outra gramática

Eu vou tirar você de mim

Assim que descobrir

com quantos “nãos” se faz um sim

Alice mostra também em suas canções experiências femininas cotidianas, como em “Sem receita”,  que mostra o que lhe passou pela cabeça quando temperava um frango:

[...] eu estava preparando um frango e começaram a surgir idéias em relação ao jeito que eu estava fazendo o frango, que é o jeito que eu sempre fazia, que não tem muito segredo: é temperar o frango, enfiar uma maçã dentro e botar no forno, que é pra dar uma umidade enquanto assa, senão o frango fica muito seco. Mas a maçã tem toda uma metafísica e tal... e eu estava achando erótico aquele negócio de abrir as coxas do frango, e veio esse texto. É um texto culinário-metafísico-erótico. (RUIZ, 2003).

A poeta percebeu a poesia enquanto preparava a receita: o frango “nu”, a maçã e sua ligação com o pecado original. O resultado é revelado na letra composta, que não nos diz, em um primeiro instante, que se trata de uma receita culinária, o que cria uma tensão erótica de início, como propôs Alice, mas que vai se desvendando durante a canção, em especial na segunda estrofe:

Primeiro lenta e precisamente

Arranca-se a pele

Esse limite da matéria

Mas a das asas, melhor deixar

Pois se agarra à carne

Como se ainda fossem voar

As coxas soltas

Soltas e firmes

Devem ser abertas

E abertas vão estar

E o peito nu

Com sua carne branca

Nem lembrar

A proximidade do coração

Esse não!

Quem pode saber

Como se tempera o coração?

Limpa-se as vísceras

Reserva-se os miúdos

Pra acompanhar

Escolhe-se as ervas, espalha-se o sal

Acende-se o fogo, marca-se o tempo

E por fim de recheio

A inocente maçã

Que tão doce, úmida e eleita

Nos tirou do paraíso

E nos fez assim sem receita.

Em outro momento de experiência cotidiana, Alice Ruiz e Alzira Espíndola apresentam também de forma emocionante o resultado de uma conversa em que discutiam os problemas de suas filhas adolescentes em suas relações amorosas:

Amor que se dedica

amor que não se explica

até quando se vai

parece que ainda fica

olhando você sair

sabendo que vai cair

deixar que saia

deixar que caia

por mais que vá sofrer

é o jeito de aprender

e o teu caminho

só você vai percorrer

se você vence, eu venço

se você perde, eu perco

e nada posso fazer

só deixar você viver

Enchemos a vida de filhos

que nos enchem a vida

um me enche de lembranças

que me enchem de lágrimas

outro me enche de alegrias

que enchem minhas noites de dias

outro me enche de esperanças e receios

enquanto me incham os seios

Só olhar você sofrer

só olhar você aprender

só olhar você crescer

só olhar você amar

só olhar você...

Ao contrário da bailarina de Fátima Guedes, as filhas dessas artistas não vivem em caixas, aprisionadas e “protegidas”. Como Pagu, de Rita Lee, vão aprender a viver confiando em si mesmas. Essas mães apenas torcem por elas e observam. Mas não interferem.

Para encerrar, sabendo que deixei de fora deste texto muitos nomes importantes da composição feminina que poderiam contribuir para essa nova visão da mulher, procuro na nova geração do século XXI outras formas para essa representação. E é no grupo DonaZica que encontro eco às palavras de Alice Ruiz. Formada por nove músicos, a banda trabalha com repertório autoral, em sua maioria composto pelas mulheres do grupo: Iara Rennó (filha de Alzira Espíndola), Anelis Assumpção (filha de Itamar Assumpção) e Andréia Dias. Divertida, irreverente e fortemente referenciada musicalmente pela Vanguarda Paulista de seus pais, o DonaZica traz divertidas constatações sobre a vida da mulher pós-moderna, em contraste com as crises nos relacionamentos dos anos 1970. Vejamos o olhar de Sueli Costa e Aldir Blanc em “Altos e baixos”:

Foi, quem sabe, esse disco

Esse risco de sombra em teus cílios

Foi ou não meu poema no chão

Ou talvez nossos filhos

As sandálias de saltos tão altos

O relógio batendo, o sol posto, o relógio

As sandálias, e eu batendo em teu rosto

E a queda dos saltos tão altos

Sobre os nossos filhos

Com um raio de sangue no chão

Do risco em teus cílios

Foram discos demais, desculpas demais

Já vão tarde essas tardes e mais tuas aulas

Meu táxi, whisky, Dietil, Diempax

Ah, mas há que se louvar entre altos e baixos

O amor quando traz tanta vida

Que até pra morrer leva tempo demais...

O DonaZica, em oposição, responde com “Fio da comunicação”:

Tem vez que me dói viver

Como pode ser, como pode

Nunca se poder crer

Em ninguém

Simples ser humano com H

Esse osso roer não é mole, eu devo confessar

Esse osso roer não é mole

O meu amor já não tem mais tanta frescura

A minha vida não suporta compostura

E assimilando toda a situação

Sigo tranqüila com muita perturbação

Espero um dia não tomar o tal Prozac

E nem perder o fio da comunicação

Na vadiagem glorifico ao meu rei

No prosseguir, confesso: também errei

Espero ser uma pessoa quase sã

Pra nunca ter que conhecer o Diazepan

O meu amor já não tem mais tanta frescura

A minha vida não suporta compostura.

Respondendo à questão inicial colocada por Alice Ruiz, acredito que a arte pode indicar o caminho para a mudança e a transformação das mulheres, assim como colabora para as novas visões sobre as mulheres. Só precisamos escutar o que elas dizem... e cantam!

nota biográfica

Ana Carolina Arruda de Toledo Murgel, possui graduação em História pela Universidade Estadual de Campinas (1989) e mestrado em História pela Universidade Estadual de Campinas (2005). Foi violonista e cantora, dedicando-se, desde a sua formação, à pesquisa e divulgação da Música Popular Brasileira. É idealizadora e mantenedora do site MPBNet (http://www.mpbnet.com.br). Cursa doutorado em História na Universidade Estadual de Campinas desde 2006, onde desenvolve o projeto “Navalhanaliga: a poética feminista de Alice Ruiz”, orientada pela Profa. Dra. Margareth Rago. É bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.


 

referências bibliográficas

BAHIANA, Ana Maria
___ Nada Será Como Antes: MPB Anos 70 - 30 anos depois. Edição Revista. Rio de Janeiro: Editora SENAC Rio, 2006.

BARTSCH, Henrique
___ Rita Lee mora ao lado: uma biografia alucinada da rainha do rock. São Paulo: Panda Books, 2006.

CALADO, Carlos
___ A Divina Comédia dos Mutantes. São Paulo: Editora 34, 1996.

ECHOLS, Alice
___ Janis Joplin - Uma Vida. Uma Época. São Paulo: Global Editora, 2000.

LENHARO, Alcir
___ Os cantores do rádio. Campinas: Editora da Unicamp, 1995.

LOGULLO, Eduardo
___ Meu Mundo Caiu: A bossa e a fossa de Maysa. Osasco, SP: Novo Século Editora, 2007.

MATOS, Maria Izilda Santos de
___ Dolores Duran: Experiências Boêmias em Copacabana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.

NETO, Lira
___ Maysa: Só Numa Multidão de Amores. Rio de Janeiro: Globo, 2007.

RIBEIRO, Lúcio; SANCHES, Pedro Alexandre
___ “Mulheres ficam marginalizadas” in Folha de São Paulo (Caderno Ilustrada). São Paulo, 14 de maio de 2001.

RUIZ, Alice
___ “Carta Aberta a Caetano”. In Revista Quem. Curitiba, 1981~1983 (data estimada do recorte, por referências à canção “Jeito de Corpo”, de Caetano Veloso).

ENTREVISTAS

Entrevista de Alice Ruiz com a autora. São Paulo, 18/06/2003.

CANÇÕES E DISCOGRAFIA

ANDRADE, Edvina
___ “Cateretê” (Edvina de Andrade). Gravação de Inezita Barroso no LP Inezita Apresenta Babi de Oliveira, Juracy Silveira, Zica Bérgami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade (Copacabana - CLP-11029 - 1958).
___ “Conversa de caçador” (Edvina de Andrade). Gravação de Inezita Barroso no LP Inezita Apresenta Babi de Oliveira, Juracy Silveira, Zica Bérgami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade (Copacabana - CLP-11029 - 1958).
___ “O carro tombou” (Edvina de Andrade). Gravação de Inezita Barroso no LP Inezita Apresenta Babi de Oliveira, Juracy Silveira, Zica Bérgami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade (Copacabana - CLP-11029 - 1958).

BÉRGAMI, Zica
___ “Chuvarada” (Zica Bérgami). Gravação de Inezita Barroso no LP Inezita Apresenta Babi de Oliveira, Juracy Silveira, Zica Bérgami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade (Copacabana - CLP-11029 - 1958).
___ “Lampião de gás” (Zica Bérgami). Gravação de Inezita Barroso em 78 RPM (Copacabana - 5.890-A - 1958).
___ “O batateiro” (Zica Bérgami). Gravação de Inezita Barroso no LP Inezita Apresenta Babi de Oliveira, Juracy Silveira, Zica Bérgami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade (Copacabana - CLP-11029 - 1958).

CAMPELLO, Celly
___ “Belo rapaz [Handsome boy]” (Mário Gennari Filho e Celeste Novais). Gravação de Celly Campello em 78 RPM (Odeon - 14.328 – 1958).
___  “Perdoa-me [Forgive me]” (Mário Gennari Filho e Celeste Novais). Gravação de Tony Campello em 78 RPM (Odeon - 14.328 – 1958).

CAMPELO, Jussi
___ “O mandarim” (Jussi Campelo).  Gravação de Cida Moreyra no LP Cida Moreyra (Continental - 1.01.404.297 – 1986).

COSTA, Sueli
___ “Altos e baixos” (Sueli Costa e Aldir Blanc). Gravação de Elis Regina no LP Essa Mulher (WEA - 36.113 – 1979) e de Sueli Costa no LP Louça Fina (EMI-Odeon – 064.422854 – 1979).
___ “Assombrações” (Sueli Costa e Tite de Lemos). Gravação de Maria Bethânia no LP Rosa dos Ventos (Philips – 6349.015 – 1971).
___ “Coração ateu” (Sueli Costa). Gravação de Maria Bethânia no Compacto Duplo Maria Bethânia (Philips – 6245.046 – 1975).
___ “Demoníaca” (Sueli Costa e Vitor Martins). Gravação de Maria Bethânia no LP A Cena Muda (Philips – 6349.123– 1974).
___ “Dentro de mim mora um anjo” (Sueli Costa e Cacaso). Gravação de Sueli Costa no LP Sueli Costa (Odeon – EMCB-7009 – 1975).
___ “Encouraçado” (Sueli Costa e Tite de Lemos). Gravação de Maria Bethânia no LP A Cena Muda (Philips – 6349.123– 1974).
___ “Face a face” (Sueli Costa e Cacaso). Gravação de Simone no LP Face a Face (Odeon - SXMOFB 3931 - 1977)
___ “Jura secreta” (Sueli Costa e Abel Silva). Gravação de Simone no LP Face a Face (Odeon - SXMOFB 3931 - 1977)
___ “Primeiro jornal” (Sueli Costa e Abel Silva). Gravação de Elis Regina no LP Saudade do Brasil (WEA - 52.003/4 - 1980).

DONAZICA
___ “O fio da comunicação” (Andreia Dias) Citação de “Breu da noite” (Itamar Assumpção). Gravada pelo DonaZica no CD Composição (Independente – DZ001 - 2004).

DURAN, Dolores
___ “Castigo” (Dolores Duran). Gravação de Nora Ney em 78 RPM (RCA Victor - 80-1973-A - 1958).
___ “Fim de caso” (Dolores Duran). Gravação de Dolores Duran em 78 RPM (Copacabana - 6.069 - 1959).
___ “Não me culpes” (Dolores Duran). Gravação de Dolores Duran no LP Dolores Duran Cantar Para Você Dançar N.º 2 (Copacabana – CLP-11039 – 1958).
___ “O negócio é amar” (Carlos Lyra e Dolores Duran). Gravação de Marisa Gata Mansa no LP Leopardo (Açaí - 001/81 - 1982). Destacamos também as gravações de Leny Andrade no LP Leny Andrade (Pointer - 203.0008 - 1984) e de Nara Leão, no LP Um cantinho, um violão (Polygram – 824.414-1 - 1985).
___ “Olhe o tempo passando” (Edson Borges e Dolores Duran). Gravação de Marisa Gata Mansa no LP A Suave Mariza (Copacabana – CLP-11089 – 1959).
___  “Por causa de você” (Tom Jobim e Dolores Duran). Gravação de Dolores Duran em 78 RPM (Copacabana - 5.877 – 1958).
___  “Solidão” (Dolores Duran). Gravação de Dolores Duran no LP Dolores Duran Cantar Para Você Dançar N.º 2 (Copacabana – CLP-11039 – 1958).

ESPÍNDOLA, Alzira
___ “Para elas” (Alzira Espíndola e Alice Ruiz). Gravação de Alzira Espíndola e Alice Ruiz no CD Paralelas (Duncan Discos – AFCD-700839 - 2005).

GUEDES, Fátima
___ “Mais uma boca” (Fátima Guedes). Gravação de Fátima Guedes no LP Fátima Guedes (EMI-Odeon – 064.422864 - 1980).
___ “A bailarina” (Fátima Guedes). Gravação de Fátima Guedes no LP Lápis de Cor (EMI-Odeon – 064.422889 – 1981).

JOYCE
___ “Essa mulher” (Joyce e Ana Terra). Gravação de Elis Regina no LP Elis, Essa Mulher (WEA - 36.113 - 1979)
___ “Mulheres do Brasil” (Joyce). Gravação de Maria Bethânia no LP Maria (BMG-Ariola - 140.0004 – 1988).

LEE, Rita
___ “Cor-de-rosa choque” (Rita Lee). Gravação de Rita Lee no LP Rita Lee e Roberto de Carvalho (Som Livre - 403.6266 - 1982). Antes disso, em 1980, a música já era tema de abertura da TV Mulher, da Rede Globo de Televisão.
___ “Elvira Pagã”. Gravação de Rita Lee no LP Rita Lee (Som Livre - 403.6193 - 1979).
___ “Fonte da juventude” (Rita Lee). Gravação de Rita Lee no LP Carnaval 78 – Convocação Geral (Som Livre - 409.6022 – 1977).
___ “Luz Del Fuego” (Rita Lee). Gravação de Rita Lee & Tutti Frutti no LP Fruto Proibido (Som Livre - 410.6006 - 1975).
___ “Menino bonito” (Rita Lee). Gravação de Rita Lee no LP Atrás do porto tem uma cidade (Phonogram – 349.111 - 1974).
___ “Miss Brasil 2000” (Rita Lee). Gravação de Rita Lee & Tutti Frutti no LP Babilônia (Som Livre - 403.6149 - 1978).
___ “Ovelha negra” (Rita Lee). Gravação de Rita Lee & Tutti Frutti no LP Fruto Proibido (Som Livre - 410.6006 - 1975).
___ “Pagu” (Zélia Duncan e Rita Lee). Gravação de Rita Lee e Zélia Duncan no LP 3001 (Universal Music – 73145425202 - 2000).
___ “Sucesso, aqui vou eu [Build up]” (Arnaldo Baptista e Rita Lee). Gravação de Rita Lee no LP Build Up (Polydor – LPNG-44.055 - 1970).

LIMA, Marina
___ “Mesmo que seja eu” (Roberto Carlos e Erasmo Carlos). Gravação de Marina Lima no LP Fullgás (Polygram – 818.380-1 - 1984).
___ “Meu doce amor” (Marina Lima e Duda Machado). Gravação de Gal Costa no LP Caras & Bocas (Philips – 6349.335 - 1977).

LUHLI
___ “Fala” (João Ricardo e Luli). Gravação de Secos & Molhados no LP Secos & Molhados (Continental - SLP 10.112 – 1973).
___ “O vira” (João Ricardo e Luli). Gravação de Secos & Molhados no LP Secos & Molhados (Continental - SLP 10.112 – 1973).
___ “Quase festa” (Luhli). Gravação de Luhli no CD Luhli (Atração Musical - ATR-31220 - 2006).

MAYSA
___ “Felicidade infeliz” (Maysa). Gravação de Maysa no LP Convite para ouvir Maysa N.º 2 (RGE – XRLP-5013 - 1958)
___ “Meu mundo caiu” (Maysa). Gravação de Maysa no LP Convite para ouvir Maysa N.º 2 (RGE – XRLP-5013 - 1958)
___ “Voltei” (Maysa e Simonetti). Gravação de Maysa no LP Voltei (RGE – XRLP-5078 - 1960).

NEY, Nora
___ “Rock around the clock [Ronda das horas]” (Max C. Freedman e Jimmy de Knight). Gravação de Nora Ney em 78 RPM (Continental - 17.217-A - 1955).

OLIVÉ, Leyde
___ “Batuque” (Leyde Olivé). Gravação de Inezita Barroso no LP Inezita Apresenta Babi de Oliveira, Juracy Silveira, Zica Bérgami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade (Copacabana - CLP-11029 - 1958).
___ “Rainha Ginga” (Leyde Olivé). Gravação de Inezita Barroso no LP Inezita Apresenta Babi de Oliveira, Juracy Silveira, Zica Bérgami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade (Copacabana - CLP-11029 - 1958).
___ “Recado” (Leyde Olivé). Gravação de Inezita Barroso no LP Inezita Apresenta Babi de Oliveira, Juracy Silveira, Zica Bérgami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade (Copacabana - CLP-11029 - 1958).

OLIVEIRA, Babi
___ “Caboclo do rio” (Babi de Oliveira). Gravação de Inezita Barroso no LP Inezita Apresenta Babi de Oliveira, Juracy Silveira, Zica Bérgami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade (Copacabana - CLP-11029 - 1958).
___ “Maria Macambira” (Babi de Oliveira). Gravação de Inezita Barroso no LP Inezita Apresenta Babi de Oliveira, Juracy Silveira, Zica Bérgami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade (Copacabana - CLP-11029 - 1958).
___ “Seresta da saudade” (Babi de Oliveira). Gravação de Inezita Barroso no LP Inezita Apresenta Babi de Oliveira, Juracy Silveira, Zica Bérgami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade (Copacabana - CLP-11029 - 1958).

RUIZ, Alice
___ “Bolerango” (Waltel Branco e Alice Ruiz). Gravação de Rogéria Holtz e Alice Ruiz em show gravado ao vivo no SESC Vila Mariana e SESC Santo Amaro em 2000. A canção é inédita comercialmente.
___ “Para elas” (Alzira Espíndola e Alice Ruiz). Gravação de Alzira Espíndola e Alice Ruiz no CD Paralelas (Duncan Discos – AFCD-700839 - 2005).
___ “Sem receita” (Zé Miguel Wisnik e Alice Ruiz) Gravação de Zé Miguel Wisnik e Ná Ozzetti no CD Pérolas aos Poucos, de Zé Miguel Wisnik (Maianga - MG0901C - 2003).
___ “Vou tirar você do dicionário” (Itamar Assumpção e Alice Ruiz). Gravação de Itamar Assumpção no LP Bicho de 7 Cabeças I (Baratos Afins - BA-051 – 1993) e de Zélia Duncan, no CD Intimidade (Warner Music - 063015836-2 – 1996).

SILVEIRA, Juracy
___ “Adeus Minas Gerais” (Juracy Silveira). Gravação de Inezita Barroso no LP Inezita Apresenta Babi de Oliveira, Juracy Silveira, Zica Bérgami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade (Copacabana - CLP-11029 - 1958).
___ “Lamento” (Juracy Silveira). Gravação de Inezita Barroso no LP Inezita Apresenta Babi de Oliveira, Juracy Silveira, Zica Bérgami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade (Copacabana - CLP-11029 - 1958).
___ “Sôdade da Loanda” (Juracy Silveira). Gravação de Inezita Barroso no LP Inezita Apresenta Babi de Oliveira, Juracy Silveira, Zica Bérgami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade (Copacabana - CLP-11029 - 1958).

TERRA, Ana
___ “Essa mulher” (Joyce e Ana Terra). Gravação de Elis
Regina no LP Elis, Essa Mulher (WEA - 36.113 – 1979).


 

* Artigo apresentado resumidamente no VII Seminário Internacional Fazendo Gênero, em agosto de 2007. Apoio: FAPESP

 

labrys, études féministes/ estudos feministas
janvier /juin 2007 - janeiro / junho 2007