labrys, études féministes/ estudos feministas
julho/dezembro2007- juillet/décembre 2007

            As reações hiperbólicas da violência da linguagem patriarcal e o corpo feminino.

Marie-France Dépêche

Resumo:

          A língua, como afirmava de Saussure, é um sistema arbitrário, mas nem por isso acidental: ela é uma máquina que funciona conforme a conjuntura. Ela não pode ser uma pura e simples representação do mundo, pois ela também é intervenção em meio a esse mundo. O letal “senso comum” usa e abusa dessa língua que ele chama de “língua materna” e que, na nossa visão feminista, chamaremos de “língua paterna”.  Convém, então, analisá-la, como o sugere J-J. Lecercle “em termos de posições, avanço, recuo, determinações territoriais e ‘de-territorialização’”.         Trabalharemos, principalmente com metáforas sexistas, provérbios, ditados e expressões denegrindo o feminino que vemos sendo reiterados, quase que ritualisticamente, para assegurar os “valores” patriarcais tradicionais.       O conceito de linguagem, portanto, não se restringe a um sistema de signos: a linguagem é uma instituição, um lugar de exercício do poder, potencialmente violenta. O poder simbólico da linguagem serve de ponta de lança na submissão das mulheres imposta a elas pela ideologia do sistema patriarcal, autorizando a dupla violência do ato lingüístico e do ato físico.

Palavras-chave: língua, provérvios, senso comum, mulheres

 

Com freqüência, tem-se repetido a asserção quase centenária de Ferdinand de Saussure (seu Cours de Linguistique générale data de 1906, mas foi publicado em 1916) que na língua existe uma arbitrariedade na relação entre as duas faces do signo lingüístico, sendo essa uma relação não-necessária, sem motivo aparente entre o significante e o significado. (Ex: “cadeira, chaise, chair” tanto que “chair” em francês quer dizer “carne”). No século XIX, entretanto, a busca pela neutralidade e objetividade da ciência fizeram que se acreditasse   em uma correspondência exata entre as palavras e as coisas. O linguistic turn, porém, no século XX, revelou  a importância das palavras na própria construção das coisas, já que um sistema de mediação, interpretativo, institui o real de acordo com os sentidos que lhe são impressos.                                                                                                                                    A língua é arbitrária, mas, sobretudo ela é material. E sua materialidade se desenvolve no social, constituindo  corpos políticos, modelados pela linguagem.  É assim que o humano se transforma em “homem”, o universal que dilui e esconde o feminino; é assim também que o humano é cindido e naturalizado de forma binária, fundado em características biológicas, elegendo os genitais para definir e representar no social o feminino e o masculino.

A nomeação, como sublinha Foucault,( 1976: 59-60) cria realidades, como no caso da “ espécie” homossexual, que se destaca no domínio caótico das perversões no século XIX. Nomeados, os corpos humanos tornam-se corpos sexuados, perversos ou “normais”,corpos instituídos em sexo e sexualidade, corpos naturalizados em mulheres e homens, de forma hierárquica.

 É assim que, a linguagem em ação, o discurso social, como indica Bakhtin (1992), cria uma partilha política ao criar seres sexuados, estabelece instâncias de poder e de atuação restritos e excludentes. Instâncias de fala, que acompanham o controle do sexo e de sua delimitação em corpos, numa economia do discurso; como sublinha Foucault, quanto a sexualidade, 

“[...]definiu-se de maneira estrita onde e quando não era possível dela  falar; em que situação, entre quais locutores e no interior de que relações sociais” (1976:26)

Foucault aponta igualmente o procedimento de incitação ao discurso, que compreende não só o policiamento dos enunciados e controle das enunciações, mas a produção discursiva da sexualidade  e dos corpos que a exercem. Diz ele:

“Existiu então, e isto é quase certo, toda uma economia restritiva. Ela se integra à economia da língua e da palavra-espontânea por um lado, controlada, por outro – que acompanhou as redistribuições sociais da idade clássica.” (1976:26)

Situando a assimetria humana a partir de valores instituídos socialmente, o discurso social instaura um corolário de atributos – estilos de corpos, como formula Judith Butler (1990), cujas funções e lugar de fala são delimitados pela materialidade genital.

Se ao nascer já somos nomeados meninas ou meninos, somos inseridos em um universo de signos e valores, compreende-se que a imotivação da língua  não pode mais ser defendida pois ao expressar um conceito, um pensamento, uma idéia, um valor, está também significando uma interpretação do mundo. A linguagem utiliza uma língua natural, sim, mas ela é uma máquina simbólico-ideológica que funciona conforme as condições de produção / imaginação social. O conceito de linguagem, portanto, não se restringe a um sistema de signos: como apontou J.J. Lecercle (1996), a linguagem é uma instituição instável, um lugar de exercício do poder, de confronto entre forças adversas e, portanto, potencialmente violenta, principalmente quando define, a partir dos corpos, os lugares de fala e de inserção sócio-política.

A linguagem, então, reflete o meio social, húmus onde ela nasce, mas também, cria sentidos que modelam os corpos segundo uma diferença instituída politicamente: o referente, masculino, sede de poder e o diferente, feminino, cuja especificidade se ancora no corpo e suas funções procriadoras.

Conseqüentemente, numa sociedade regida pelo sistema patriarcal eminentemente polarizado masculino/feminino, a linguagem se coloca a serviço da ideologia ambiente, fazendo a apologia da força para impor o poder de um sobre o outro. “Um” representa a categoria-homem e “o outro” as mulheres que, por ironia da linguagem, levam o singular masculino. As frases do senso comum refletem esta construção, como por exemplo: “Qualquer um pode chegar, um dia, a ser uma prostituta”.

O impacto dessa instituição social chamada linguagem, poderia ser analisado através de algumas categorias: a violência físico-verbal, a simbólico-escrita e a violência por omissão, elisão do mundo e a do deslizamento da linguagem para a violência material.

A violência físico-verbal 

Ela corresponde a séculos de oralidade. Muitas vezes esquecemos que a transmissão oral tem a idade da humanidade. E só estamos falando do Ocidente onde a maioria da população pôde ler e escrever há pouco mais de 100 anos. Ora, dizer é fazer, ou melhor, num círculo vicioso, o dizer reforça e autoriza o fazer. E J.J. Lecercle (1996: 56)  acrescenta: “dizer não é só fazer; as palavras em si são coisas.” Ou seja,  a manifestação verbal não pode se diluir nem no ar nem no tempo, ela é profundamente material e agride fisicamente.

Quando, aos meus 18 anos, no meu primeiro emprego estival,  ouvi um colega afirmar “no fundo, toda mulher quer ser estuprada um dia”, fiquei assustada e revoltada, mas ri amarelo, junto com as outras mulheres no local de trabalho. Não era mesmo uma simples brincadeira? Nesse caso, trata-se de um ensaio, um teste, encobrindo a violência dirigida e atentatória contra as mulheres, com o intuito de semear a dúvida, e também o medo. Tais frases compõem as pedagogias do gênero, na medida em que naturalizam comportamentos e assim sua aceitação.

“Küche, Kirche, Kindern”, dispensa uma frase, uma explicação qualquer, nem precisa de contexto  pois a mulher sabe qual seu lugar:é na “cozinha, na igreja e cuidando dos filhos”. Adotando este mote, o regime nazista marcou os lugares políticos e criou mulheres assujeitadas a uma ordem “natural” das coisas. Longe de se restringir a um momento específico como o nazismo, os grilhões que modelam as mulheres ao âmbito do doméstico e da reprodução são oriundos de seus próprios corpos, corpos feitos em sexo – para o prazer masculino-,  e em útero, para a reprodução da ordem do discurso, da ordem do Pai.

Muitas vezes não se negligencia o peso da rede trans-cultural: “mesmo se você não sabe por que bate na sua mulher, ela sabe” seria um ditado árabe... (e brasileiro, alias, internacional) e justifica qualquer ato violento de um homem em qualquer mulher no mundo.

A  legitimação vem da afirmação de uma natureza, de uma hierarquia que teria surgido com a própria espécie humana: é um “adágio velho como o mundo!” e cada um se desincumbe de qualquer responsabilidade já que “sempre foi assim”. As tradições,assim, carreadas pela linguagem e seus valores, recriam incessantemente no social as imagens de um humano assimétrico, cujos corpos, em um esquema binário, traduzem em sexo e sexualidade sua importância no mundo.

A exclamação “filho da puta” é somente uma expressão? Para amenizar sua  força pejorativa existe até o eufemismo “filho da mãe”. Mas ninguém pode jurar que a mãe não é a puta referida antes! É só uma expressão...benigna...tão benigna que martelada nos ouvidos de qualquer mulher ou homem, de qualquer idade, ela cava seu caminho até suas mentes, autorizando sua repetição ad eternum, e banalizando seu impacto real para conservação do desprezo e do ódio masculino em relação ao feminino. “O eterno feminino”: mais uma pérola da linguagem mortal do mundo patriarcal. Parece positivo, mas não é: mais uma vez o “eterno” subentende que seja uma manifestação sagrada pelo tempo e sobretudo ancorada na materialidade dos corpos femininos!

Mas, será que reiterar asserções negativas faz delas enunciados positivos? Quantas vezes ouvimos o argumento apaziguador “é só uma expressão”. Porque uma expressão feita, um chavão seria mais inofensivo do que uma asserção qualquer? É justamente o contrário, pois as reiterações de uma mesma imagem naturalizam-na na mente do-a receptor-a. Deixam uma impressão que alivia seu impacto pelo fato de ser familiar. Quase ninguém mais se insurge ao ouvir “É só colocar um saco na cabeça, que mulher é toda igual” A força do hábito...A familiarização de fato convoca o hábito, o costume para ratificar afirmações de desigualdade, de hierarquia, trazendo um assujeitamento feminino, cujo aprendizado se faz através das tecnologias de produção dos corpos e dos gêneros.

A esse poder físico das repetições sonoras da linguagem, podemos acrescentar a força insinuante do impresso.

A violência simbólico-escrita

Se o impacto da oralidade é físico, o do texto escrito é imagético, o que não deixa de ser, também, físico.  O simbólico da linguagem grava-se nas mentes graças às imagens que se formam na hora da leitura.

Quando o “grande” poeta Baudelaire descreve a mulher como uma “privada”, ou para Nietzsche “uma cloaca”, ou Kant “uma taça prateada onde  depositamos nossas frutas de ouro” -ver a relação dessas pérolas machistas em Benoîte Groult (1993) - e muitos outros que usaram praticamente a mesma imagem para mostrar seu “apreço” às mulheres, a visão é nítida.

Entre representação e intervenção, a linguagem se encaixa nos sistemas de opressão, mas de maneira sutil, a ponto de não ser tomada a sério, como se fosse branda em relação às agressões físicas. Mas a linguagem é física; falar ou escrever representa um ato concreto de responsabilidade e escolha. Da mesma maneira que certas pessoas se escondem atrás de uma tradição secular para repetir insanidades contra as mulheres, existe uma condescendência, talvez até uma exaltação no caso da literatura “realista” ou “naturalista” (no século XIX Balzac e sobretudo Zola ilustram bem este lado escuro “da” mulher). No mínimo ela é complacente. Sob o pretexto de “mostrar” como a vida é realmente, os “grandes” romancistas se deleitam na escolha de descrever o lado escuro, escabroso da vida sofrida das mulheres, das prostitutas, por exemplo. E esta reiteração, sob a égide do “romance”, ressemantiza a naturalização de lugares construídos em poderes e hierarquias. A prostituição, violência maior contra as mulheres, violência física e simbólica,  torna-se trabalho, atividade “normal”, “escolha” constituindo “mulheres” como espécie a ser consumido, apropriada pelo conjunto dos homens. 

Nas ciências, a antropologia é exemplo da violência de uma apropriação simbólica: Levi-Strauss (1973) ao estudar as estruturas familiais e sociais enumera as trocas feitas pelos homens nessa seqüência : troca de palavras, de mulheres e de mercadorias. Como se não bastasse a humilhação de serem “trocadas”, as mulheres estão jogadas em meio a outras “mercadorias”. Trocadas, portanto, e a posse das mulheres, naturalizada como fator de eclosão da cultura é o pressuposto da sua troca, como analisa Gayle Rubin.(1975).

À exclamação “É só uma expressão!” corresponde “Mas é só uma metáfora!” Justamente, pelo fato de manipular imagens, a linguagem metafórica representa um perigo maior de violência. Para Gilbert Durand (1984) o sentido próprio seria unicamente um aspecto particular do sentido figurado, por este ser antecedente na formação simbólica da linguagem; Deleuze e Guattari (1972) fazem, por sua parte, uma longa demonstração, afirmando que a intuição precede a compreensão, o que sugere que o sentido metafórico antecede o sentido literal, a ponto de desconstruir esta oposição precária.

Mas, pelo fato do senso comum apreender a metáfora como uma expressão elegante e/ou poética, podemos ouvir e/ou ler as maiores barbaridades machistas sobre os corpos femininos na forma metafórica.

As numerosas metáforas da tradução, compiladas por Lori Chamberlain (in Lawrence Venuti, 1992: 57-74) ilustram como os autores, todos grandes teóricos na matéria, escolhem deliberadamente as imagens de atos sexuais de poder e violência masculina que rebaixam e machucam o feminino. Do ponto de vista do tradutor o texto-mulher deve ceder, ser penetrado e naturalizado, literalmente “incorporado” para fazer parte da língua do tradutor, como aponta Chamberlain ( idem), citando  George Steiner (1975: 296-298). Da mesma forma, para Serge Gravonsky (1977: 53-55), indica a autora acima, o original-mulher precisa ser capturado e estuprado a fim de realizar o incesto necessário à boa tradução. E assim por diante...

A violência do silêncio:

No caso das duas primeiras instâncias, a linguagem oral e a escrita, o feminino é, sem cessar, em representação negativa. A terceira é caracterizada pela sua ausência. Como já escreveu Tania Navarro Swain (2000: 13) “O que a História não diz não existiu...”. A História dos homens ignora tantas histórias de mulheres: a irmã de Mozart que compunha e interpretava, ou a esposa de Einstein que fazia todos os cálculos para ele. Os homens não têm palavras para essas mulheres. É uma violência por falta de linguagem.

Talvez seja a maior violência quando a linguagem dos homens apaga a presença do feminino na sociedade. Eles costumam se dirigir somente uns aos outros, “curto-circuitando” as mulheres da confraria masculina. Os programas de TV, as publicidades fornecem inumeráveis exemplos de uma comunicação conjugado no masculino, numa cena discursiva em que o debate é entre pares – e para ser um par, basta fazer parte do referente do humano: o masculino. Faustão representa um bom exemplo; “oh!garoto, oh! meu, sua mulher, sua sogra” etc...

Mas certamente o genérico masculino representa o apagamento definitivo do feminino na linguagem quotidiana.  Tenho 14 éguas e 1 cavalo (castrado, mas no caso não importa) e na boca dos empregados viram “os cavalos”. Alias, na verdade, se eu falar “as éguas costumam fazer isso ou aquilo”, todo mundo entende que só acontece com éguas e não com cavalos. Teria que dizer “é comum em todos os cavalos” e isso iria incluir as éguas! Na espécie humana é exatamente igual: cem mulheres e um menino de qualquer idade resultam em “eles”.

Mas, tendo em vista as pedagogias sociais que dobram a linguagem expressar-se no masculino genérico não é o apanágio dos homens: as mulheres entram no circuito excludente e se auto-apagam da sociedade com muita freqüência. São as mulheres “patriarcais” como as chama Nicole Brossard (1985), essas que não querem “perturbar” o mundo do pai com suas “particularidades”! Essas que não ensinam a língua “materna” para seus filhos, e sim a língua “paterna” para a conservação do status quo. Alias, notamos aqui que “filhos” podem muito bem esconder umas filhas!...nbsp;                              

Aceitar ou pior, reforçar a linguagem violenta de desprezo e/ou de exclusão do feminino, acentua o círculo vicioso das repetições e construções hierárquicas dos corpos sexuados em seres assimétricos e “diferentes”. Por que as mulheres contam “piadas” machistas, por exemplo? Como o mito que tira sua força e conservação das reiterações/ atualizações, a violência da linguagem é tomada numa espiral onde o uso e abuso das afirmações de desprezo e ódio se tornam justificadoras do ato lingüístico, mas também do ato físico.

Da violência da linguagem à violência física:

Compartimentar, como fizemos acima, a linguagem oral e escrita, ou mesmo a ausência de linguagem, não passa de uma abordagem “didática.” Já vimos que a  linguagem e a violência que engendra ao separar, construir, instituir códigos, diferenças, normas e comportamentos impregna todo o tecido social, criando sistemas de interpretação social e assujeitamentos naturalizados em torno do biológico, cujos efeitos resultam em corpos sexuados, definidores de seus locais de fala e de atuação no político.

Na verdade, o corpo sexuado na linguagem patriarcal parece se materializar na definição do feminino inferior e apropriável, um feminino em negativo, que põe em relevo a força e o poder de seu referente, o masculino. A violência da linguagem que inferioriza o corpo feminino, marcando-o de especificidade, de fraqueza, de dependência, de impossibilidades diversas cria uma espiral onde as formas de violência se autorizem entre si, sem poder nunca apontar qual a origem ou a conseqüência.

 O ataque é tão “lingüístico” quanto “corporal”.

O quotidiano permite sentir de perto as agressões “benignas” da linguagem, que resvalam para a agressão física: em uma loja, um menino de  6-7 anos vem correndo em direção à mãe, aos brados de “eu sou macho, sou mesmo macho!” sob o olhar complacente de sua avó e do vendedor. Ao alcançar sua mãe, agrediu-a com socos e pontapés. Macho, sinônimo valente, corajoso, como no dicionário, ou simplesmente o “oposto” do ser feminino? O círculo vicioso do desprezo e do ódio do feminino continua passando da linguagem para o físico, ambos sendo uma agressão corporal.

Butler  (1997: 102)   advertiu para  o fato de que da linguagem à ação, o caminho é curto, pois da linguagem violenta, passa-se aos atos violentos pois  “ [...]a cadeia da fala de ódio não pode ser combatida com eficácia por meio da censura. A característica da fala de ódio é a repetição, e ela continuará se repetindo enquanto estiver carregada de ódio”.

O ódio pelo feminino que exala da linguagem patriarcal se auto-alimenta de suas próprias reiterações ritualísticas. Presa em círculos viciosos hiperbólicos, a linguagem é violenta ao criar materialidades hierarquizadas por engendrar assujeitamentos em suas pedagogias sociais e no próprio aprendizado da língua, violento instrumento de separação, oposição, exclusão, criando uma sociedade violenta que, por sua vez, cria uma linguagem violenta e autoriza a violência física.

Para Barthes (1978: 14): “[...]falar não é comunicar e sim submeter[...]” mas lá onde há submissão há igualmente a pluralidade de sentidos presente na linguagem e a subversão é parte destes. Ao dobrar o humano em formas opostas, em condições diferentes, de acordo com um biológico centrado no sexo, a linguagem violenta os corpos “construídos-em-mulher”, mas é igualmente instrumento de transformação, de uma subversão já anunciada e em movimento nas teorias e práticas feministas.

* Este texto foi apresentado no Seminário FAZENDO GÊNERO 7, Florianópolis, em agosto de 2006

      références bibliographiques                                     

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                                       note biographique    Marie France Dépêche                    

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