labrys, études féministes/ estudos feministas
juillet/décembre 2012  - julho /dezembro 2012

Corpos e identidades em jogo. Dois olhares feministas

Des corps et des identités en jeux. Deux regards féministes

Maria Rita de Assis César

Nádia Setti

Resumo:

O ensaio propõe considerações críticas sobre a predominância da noção de sujeito nas políticas contemporâneas majoritárias de gênero e de educação no Brasil, bem como traça um breve panorama sobre a crítica literária de gênero na França. O ponto em comum às duas abordagens é a referência aos estudos de gênero pós-estuturalistas ou pós-modernos, que põem em jogo concepções essencialistas a respeito dos corpos e das identidades nos campos político-educacional e literário. O ensaio segue um duplo eixo teórico: a crítica literária feminista de origem francesa que interroga a presença de um sujeito mulher ou de um sujeito do texto literário, e a crítica filosófica de inspiração foucaultiana e anglo-saxã sobre o sujeito de direito no âmbito das lutas políticas de minorias e dos projetos educacionais a elas associados.

Palavras-chave: gênero, pós-estruturalismo, literatura, educação

Résumé: Ce texte proppose des considérations critiques sur la prédominance de la notion de sujet, soit dans les politiques contemporaines majoritaires de genre et d’éducation au Brésil, soit dans la critique littéraire française. Le point de repère commun sont les études de genre post-structuralistes ou post-modernes, lesquelles s’écartent des conceptions essentialistes des corps et des identités dans les champs politico-éducationel et littéraire. Le texte se base sur un double axe théorique : la critique littéraire féministe d’origine française, qui interroge la présence d’un sujet femme ou d’un sujet du texte, et la critique philosophique foucauldienne et anglo-saxonne qui pose des problèmes critiques à la notion de sujet de droit dans les luttes politiques des minorités et dans les projects éducationnels qui y s’associent.

Mots-clé: genre, post-structuralisme, littérature, éducation.

Dois olhares, dois objetos: um encontro

Esse texto é produto de um encontro. Objetos distintos, áreas de conhecimento diferentes e disciplinas distantes. Duas feministas. Uma é pesquisadora brasileira, atua no campo dos estudos de gênero e educação e faz um pós-doutorado em Paris. A outra é uma professora italiana da Universidade de Paris 8 (Vicennes – St. Denis), especialista em crítica literária feminista, com uma tese de doutorado sobre Clarisse Lispector. Um interesse em comum, isto é, o feminismo, as teorias de gênero e as chamadas críticas pós-estruturalistas do sujeito. A cada encontro um conjunto de afinidades se explicita. Autoras e autores, escritoras – Clarisse Lispector, Virginia Woolf, entre outras, e os questionamentos em torno do sujeito, seja na literatura ou na educação. A possibilidade da escrita em comum. Seria esta uma possibilidade? Teríamos algo a ser compartilhado pela escrita?

Esse texto se entrega ao exercício do encontro, da partilha e da construção de algo comum, sendo a escrita a possibilidade do próprio exercício do encontro. Poderiam ser dois textos separados, entretanto, optamos por tomá-los numa unidade. Por que razão? Embora aparentemente distantes entre si, ambos se organizam em torno a um conjunto de questões comuns, orientadas por um mesmo marco teórico. Pensamos nos estudos de gênero pós-estuturalistas ou pós-modernos, que põem em xeque concepções essencialistas e naturalizadas a respeito dos corpos e das identidades, tanto no campo político-educacional, como no campo da literatura, donde sua pertinência no presente dossiê.

Corpos e identidades, para a educação, assim como para a literatura, são tradicionalmente enquadrados em um conjunto de narrativas canônicas que os decifram e encaminham para um destino standard ou prêt-à-porter, já resolvido anteriormente, classificado e normalizado. As interrogações canônicas perguntam sobre os sujeitos das narrações, algumas vezes sobre seu gênero/sexo, classe, etnia, atribuindo-lhes confirmações sociológicas que informam os destinos previsíveis do texto. Nos estudos educacionais clássicos e canônicos, também se pergunta sobre o sujeito e a finalidade da aprendizagem, além da configuração sociológica tanto dos sujeitos envolvidos no processo, como também das possíveis situações sociais em que tal aprendizagem ocorre. E quanto aos corpos? Em ambos os campos de investigação reitera-se continuamente a ditotomia entre conformar ou liberar. Tanto para a literatura como para a educação, uma só teleologia para os textos, corpos e sujeitos, sempre substancializados e enquadrados sob um mesmo conjunto de expectativas normativas previamente definidas.

Assim, aquilo que nos une enquanto autoras desse texto a duas vozes é, em primeiro lugar, a recusa de um conjunto de perguntas canônicas sobre os nossos objetos e os destinos a serem afirmados. Em segundo lugar, uma necessidade corporal de produzir outros modos de interrogação. O feminismo nos coloca em um movimento de crítica às respostas obtidas pelas indagações tradicionais, de maneira que não podemos aceitar as respostas anteriormente obtidas. O olhar pós-estruturalista nos faz recusar também as próprias perguntas canônicas. Cada uma de nós constrói e desconstrói, em sua área e objeto de investigação, estratégias de abordagem dos objetos que têm em comum um campo de interrogação que nos aproxima, justificando-se assim sua construção em comum. Os dois olhares poderão se tormar uma só mirada. Talvez um mesmo olhar sobre dois objetos distintos.

Duas línguas para um mesmo texto? Sim, para preservarmos certa distância e  estranhamento, não entre as partes que compõem o texto, mas, sobretudo, para afirmar a estranheza e a estrangereidade das questões colocadas para cada um dos objetos e campos de investigação. Ao abarcarmos objetos distintos, questionados a partir de países e realidades diferentes, optamos por manter os textos em suas línguas originais. Políticas da escrita? Talvez. É possível que a manutenção das duas partes em sua língua ‘original’ permita, com maior contundência, explicitar o caráter político do texto. Não se trata de uma recusa à tradução, pois compartilhamos a idéia de que todo texto pode ser traduzido e produzido no ato da tradução. Entretanto, nesse caso preciso, o uso da língua na escritura do texto é tão importante quanto o desenvolvimento teórico das questões. Desse modo, decidimos por politizar a escrita através do encontro entre duas línguas, dois objetos, duas autoras, dois países, duas tradições de pesquisa e um oceano de possibilidades para nos aproximar. Quem fala? Quem narra? Quem interroga? Mantivemos a idéia de que há duas vozes, ora uma, ora outra, ora juntas,  falando línguas diferentes e aproximando-se no ato de estranhar.     

Primeira Parte:

Gênero, pós-estruturalismo e educação: identidades, para quê?

Os estudos de gênero pós-estruturalistas no Brasil possuem uma história pouco comum, na medida em que a reflexão sobre a educação teve um papel preponderante no seu desenvolvimento. A partir da segunda metade dos anos de 1990, a obra de Guacira Lopes Louro teve um papel fundamental para os estudos de gênero e, em especial, para a organização dessa área de investigação na educação, no âmbito dos estudos pós-estruturalistas e pós-modernos. Responsável pela tradução e publicação de textos de autoras consolidadas no campo dos estudos de gênero pós-estruturalistas como Judith Butler, bell hooks, Jefrey Weeks, Deborah Britzman, (Louro, 1999) entre outras, e também autora de obras clássicas sobre gênero e educação, pode-se afirmar que Louro é uma das principais referências para os estudos de gênero na educação no Brasil. Em sua obra Gênero, sexualidade e educação. Uma perspectiva pós-estruturalista (Louro, 1997), a autora apresentou aos estudos de gênero na educação um conjunto de interrogações sobre o sujeito universal, as grandes narrativas organizadoras dos saberes, sobre a constituição do campo das ciências humanas e sociais em geral e, sobretudo, questionamentos sobre a produção de saberes e poderes. Gênero, sexualidade e educação também marcou a constituição do campo dos estudos de gênero na educação brasileira e abriu fronteiras para diversas correntes de investigação, desde os estudos foucaultianos, os gay and lesbian studies, assim como a teoria queer, também introduzida no Brasil por Louro (Louro, 2001 e 2004). Numa palavra, pode-se inferir que os estudos de gênero na educação brasileira já nasceram pós-estruturalistas, a partir de uma linhagem foucaultiana.

Partindo da hipótese de que os estudos de gênero na educação no Brasil foram marcados em sua origem pelas teorias pós-estruturalistas, formulo neste texto algumas reflexões críticas a respeito da referência predominante ao sujeito nas lutas políticas contemporâneas das chamadas ‘minorias’ sociais e nos projetos educacionais que daí se derivam. Os movimentos sociais de minorias estabelecem-se o mais das vezes com base em discursos e práticas marcadores de uma identidade étnico-racial, sexual, de gênero ou classe, entre outras. Por sua vez, a educação e os processos de escolarização são um alvo importante dessas lutas sociais, seja visando a inclusão desses sujeitos no espaço institucional escolar, seja também por meio da elaboração de políticas curriculares que demonstrem a participação dessas ‘minorias’ nas dinâmicas sociais (Rubin, 1993; Weeks, 1985; Miskolci, 2007).

As abordagens teóricas e políticas sobre o tema das chamadas minorias sexuais e de gênero demonstram que as estratégias teóricas e políticas têm priorizado a conquista de direitos, de modo que suas práticas e discursos têm se remetido ao campo da assunção e reconhecimento dos sujeitos identitários, aspecto que também alcança a instituição escolar contemporânea e seus projetos curriculares. Ao se analisar a produção teórica específica sobre estes movimentos sociais, assim como a reflexão produzida pelos próprios movimentos e os projetos educacionais que eles têm inspirado, percebe-se que as lutas e conquistas se dão em um campo específico de abordagem, o qual pressupõe a assunção de uma identidade específica.

Quanto à articulação específica entre os movimentos feminista e LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) brasileiros e os novos projetos educacionais visando a inclusão das chamadas ‘minorias’ no universo escolar cabem ainda outros esclarecimentos. Desde o início dos anos 90, em especial com o advento da epidemia de HIV/AIDS, a educação escolarizada tornou-se um lugar privilegiado para a educação da sexualidade e das relações de gênero, mesmo que projetos e ações de educação sexual tenham ocorrido desde as primeiras décadas do século XX nas escolas brasileiras. A partir da década de 2000, além de médicos e professores, novos agentes foram convocados a entrar nas instituições escolares para dizer a verdade do sexo, visto que cada vez mais os movimentos sociais organizados, e especialmente as ONGs, têm participado da organização e distribuição dos saberes nas escolas (Cesar, 2011).

A partir de então configurou-se uma nova dinâmica de projetos educacionais que, à exemplo do que já ocorria com os movimentos sociais, passou a operar segundo a lógica do reconhecimento das identidades. Indígenas, negros, surdos, homossexuais, transexuais, etc, lutam por seu lugar na instituição escolar ao assumirem-se como sujeitos de direitos e ao assumirem a educação como um direito. No estrito contexto da lógica pela inclusão de novos ‘sujeitos’ no universo educacional, os movimentos sociais reivindicam o direito à educação, a legislação garante o direito à educação e as instituições escolares se mobilizam para cumprir a lei. Os agentes mobilizados para pensar a permanência dos novos sujeitos nas instituições escolares são, de forma crescente, os movimentos sociais de minorias. Em se tratando dos sujeitos abarcados pelos movimentos sociais feminista e LGBT, as escolas, não sem grandes conflitos, começam agora a convocar também aqueles ‘sujeitos’ para que eles digam novas verdades sobre o sexo e a sexualidade. Nesse novo contexto, gays e lésbicas podem agora falar de homossexualidade, transexuais e travestis relatam suas experiências na tentativa de abrir espaço para sujeitos que até agora eram excluídos das instituições educacionais. As conquistas sociais e políticas que têm sido obtidas a partir dessas lutas e dessa lógica são inegáveis e constituem um importante avanço no processo de inclusão de novos sujeitos no processo educacional brasileiro.

Por outro lado, contudo, já desde a segunda metade dos anos 70 algumas feministas inspiradas por Michel Foucault colocaram em xeque a equação que fundamentava os pressupostos do feminismo, isto é, ‘a mulher’ como sujeito universal e como identidade do feminismo. No interior dos estudos feministas, estas primeiras reflexões críticas foram iniciadas por feministas abrigadas sob a denominação do ‘feminismo radical’ e suas influências teóricas vieram de fontes variadas, como Simone de Beauvoir em Le deuxième sexe, as leituras feministas do estruturalismo presentes na escrita e na crítica literária de Adrienne Rich (1993), a etnografia de Gayle Rubin (1993), as autoras do feminismo materialista e, sobretudo, as subversões teóricas e lingüísticas de Monique Wittig (1993) e seu projeto estético-político, dentre outras referências. As reflexões e abordagens de Michel Foucault, sobretudo sua compreensão da sexualidade como um dispositivo de controle bem como sua análise das formas de normalização dos corpos e das experiências foram elemento crucial na elaboração da crítica da noção de sujeito e de identidade para o feminismo, para o feminismo radical, os Lesbian and Gay studies e, mais recentemente, para a teoria queer, para a crítica feminista pós-estruturalista e para os estudos historiográficos sobre homossexualidade, homoerotismo e homoafetividade (Weeks, 1993 e Halperin, 1995; Spargo, 2007).

Tais démarches teóricas nos permitem observar que as recentes conquistas sociais e políticas dos movimentos de minorias tendem a enfraquecer o potencial crítico e questionador dos movimentos sociais feminista e LGBT, assim como o dos projetos educacionais que eles atualmente inspiram. Na exata proporção de suas conquistas, tais projetos educacionais e tais lutas políticas tendem a reproduzir a lógica da normalização promovida e disseminada socialmente como efeito do dispositivo da sexualidade teorizado por Foucault no volume I da História da Sexualidade (Foucault, 1984). O autor demonstrou que o sexo e as práticas sexuais se comportavam como parte do chamado dispositivo da sexualidade, pois aquilo que estava em jogo seria essencialmente uma rede estabelecida de saber-poder atuando sobre os corpos e populações ao produzir normatizações e modos de vida. Assim, o sexo foi delimitado como um ponto de injunção fundamental entre o corpo e as práticas de controle das populações no século XIX. Neste processo de estabelecimento de fronteiras, a sexualidade foi o instrumento de separação que criou delimitações entre práticas sexuais bem educadas e as demais, que ocupariam lugar indefinido ou bem demarcado para além das fronteiras da normalização. O conceito de sexualidade que pertence à nossa história nasceu como a justa medida de separação entre normalidade e anormalidade. Para Foucault, 

A sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não à realidade subterrânea que se aprende com dificuldade, mas à grande rede de superfície em que a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforço dos controles e das resistências, encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas grandes estratégias de saber e poder. (Foucault, 1984:56)

No âmbito educacional, em particular, é importante ressaltar que a idéia de currículo, diretrizes e parâmetros diz respeito a processos de validação, ordenação, classificação e normalização de saberes e práticas no interior das escolas. Por si só, a inserção dos ‘temas’ gênero, sexualidade e diversidade não implica necessariamente instaurar a diferença no currículo e na escola. Percebe-se que grande parte dos projetos educacionais contemporâneos diz respeito a um acoplamento de temas estrangeiros nas práticas discursivas curriculares tradicionais, sem que a norma curricular seja sequer questionada (Cesar, 1999). A própria idéia de inclusão de temas não convencionais no currículo pode até mesmo ser arriscada, posto que incluí-los pode significar aceitar a diferença num processo que a reduz à igualdade normalizada. O princípio da tolerância não desmonta o racismo, a misoginia ou a homofobia; ao contrário, reforça a idéia da presença de um centro normativo que será sempre branco, heterossexual, masculino (Louro, 2003). Segundo a perspectiva pós-estruturalista, por outro lado, a instauração da diferença na escola poderia ser o ponto de partida para um confronto no interior das práticas escolares entre a percepção normatizada dos corpos e da sexualidade e outros corpos, gêneros e sujeitos. Esta parece ser a perspectiva assumida por Judith Butler (2001:20) para repensar a escola: 

                        "Como poderíamos nos encontrar com a diferença que coloca nossas redes de inteligibilidade em questão sem tentar eliminar ou fechar de antemão o desafio que comporta esta diferença? Que poderia significar aprender a viver com a ansiedade desse desafio, sentir que desaparece a segurança da própria ancoragem epistemológica e ontológica (...)? Isto significa que devemos aprender a viver e aceitar a destruição e a rearticulação do humano em nome de um mundo mais aberto e, por último, menos violento. (...) A resposta violenta é aquela que sabe que não sabe. Quer apunhalar o que não sabe, eliminar a ameaça com o não saber, aquilo que força a reconsiderar as pressuposições de seu mundo, sua contingência e sua maleabilidade."

Infelizmente, os projetos educacionais inspirados pela dinâmica das lutas dos movimentos sociais feminista e LGBT não parecem seguir nessa direção crítica e radical. Por certo, não desconhecemos a importância de suas recentes conquistas políticas, jurídicas e educacionais. Contudo, em razão da conformação da idéia de sujeito de direitos nos processos normalizadores, cabe interrogar criticamente os projetos educacionais que vêm se estabelecendo desde as últimas décadas a partir do princípio do direito dos múltiplos sujeitos abarcados por categorias identitárias. A questão que nos parece problemática é a seguinte: nesse modelo escolar identitário a instituição continua a excluir o desconhecido, isto é, todos aqueles que ela considera como abjeção incompreensível. No interior do modelo identitário, indivíduos e experiências inclassificáveis e ininteligíveis, de corpo e gênero, permanecem por definição excluídos do universo escolar ou nele são incluídos sob o preço de sua domesticação normalizada. Não por acaso, no contexto dos processos identitários de inclusão do outro, o que ocorre mais comumente é o processo despolitizador de ‘folclorização’ dos grupos sociais e sujeitos, o qual se traduz, por exemplo, em datas comemorativas como o dia do negro, da mulher, do índio, etc (Louro, 2003). A escola moderna é uma instituição que não suporta o desconhecimento, é um espaço no qual os saberes e os sujeitos precisam ser inteligíveis para serem incluídos em seu plano curricular institucional (Cesar, 2010).

As análises genealógicas de Michel Foucault também têm mostrado que as formas de governamento no mundo contemporâneo ampliaram e diversificaram os dispositivos biopolíticos, aumentando consideravelmente os agentes dos processos normalizadores. Além das instituições sociais, como a escola e a prisão, por exemplo, incluiram-se dentre estes dispositivos biopolíticos de normalização o mercado econômico neoliberal, as ONGs e os movimentos sociais. Formou-se, pois, todo um conjunto de novos agentes produtores de processos de ordenação e separação dos corpos e práticas, engendrando identidades e produzindo o desejo de uma vida viável no interior da norma. O que se observa no presente é um conjunto de novos dispositivos, atualizados continuamente, que produzem normas que identificam, desenham e limitam as práticas, ações e modos de vida de indivíduos e grupos sociais ao agrupá-los e defini-los como sujeitos de direito. No campo educacional, novas pesquisas têm discutido o problema da produção das ‘identidades’ envolvidas nos processos de identificação dos sujeitos da educação considerados a partir da nova governamentalidade de corpos, modos de vida e práticas sexuais e sociais que promove novas regulações sexuais e sociais (Cesar e Duarte, 2010).

Tais análises apontam para a produção de gays e lésbicas bem comportadas/os, além de travestis e transexuais incluídos/as nas descrições e protocolos das patologias psico-sexuais, bem como mostram a produção de identidades normatizadas no interior dos próprios movimentos sociais, os quais acabam por reivindicar um modo de vida orientado pelo campo da norma da heterossexualidade (Bourcier, 2007). A assunção não crítica das novas identidades sexuais e de gênero que amparam os movimentos feminista, LGBT e os projetos educacionais contemporâneos pode ter efeitos profundamente ambíguos, pois pode significar o aprisionamento daqueles ‘sujeitos’ nos dispositivos de assujeitamento que os produziram como patologias. Afinal, o conjunto das ‘identidades’ LGBT foi constituído a partir do discurso médico-jurídico, entre outros e novos agentes sociais de regulação e exclusão.

Como se percebe, o debate em torno das identidades está constituído entre a defesa da idéia de identidade como princípio fundamental, tanto no campo das lutas sociais como também no campo da produção intelectual da chamada ‘diversidade sexual’, e as reflexões críticas sobre a noção de sujeito e de identidade, entendidas como agentes limitadores das práticas e modos de vida. Diante dessa polarização e de seus efeitos repressivos no interior dos movimentos sociais e educacionais, a teoria queer tem aprofundado sua crítica da noção de identidade no contexto da interrogação dos movimentos sociais LGBT, do feminismo e da educação (Luhmann, 1998; Lauretis, 1991; Spargo, 2007; Louro, 2004; Bourcier, 2001). Não será por acaso, portanto, que a teoria queer também tenha procurado retomar o potencial crítico e criativo presente em segmentos do movimento feminista e dos movimentos gay e lésbicos da década de 70, nos quais ainda se manifestava o projeto de transformações sociais mais amplas, que abarcavam a crítica aos modos de vida normativos e, sobretudo, a não conformação das práticas homoeróticas e homoafetivas às práticas heterossexuais dominantes.

Para melhor delinear a problemática desta reflexão crítica, que pretende se projetar para além da polarização estabelecida entre a crítica da identidade e o recurso exclusivo ao sujeito identitário, estabeleço um breve diálogo com a produção crítica sobre a identidade, o sujeito de direito e o conceito de performatividade, tal como propostos por Judith Butler. Os primeiros trabalhos de Butler (1990) partem das formulações críticas da idéia de sujeito e identidade propostas pelas feministas radicais, e da crítica foucaultiana ao sujeito de direitos. Foucault, ao abordar a relação de liberdade do sujeito consigo mesmo e com os outros, entendendo-a como foco privilegiado das práticas de resistência, sugeriu a necessidade de pensar a resistência política a partir de novos critérios que questionassem o recurso à figura jurídica do sujeito de direitos e a própria noção de identidade, tendo em vista afirmar a inventividade criativa de novas formas de vida e de relação entre os sujeitos:

[...] se você tenta analisar o poder não a partir da liberdade, das estratégias e da governamentalidade, mas a partir da instituição política, só poderá encarar o sujeito como sujeito de direito. Temos um sujeito que era dotado de direitos ou que não o era e que, pela instituição da sociedade política, recebeu ou perdeu direitos: através disso, somos remetidos a uma concepção jurídica do sujeito. Em contrapartida, a noção de governamentalidade permite, acredito, fazer valer a liberdade do sujeito e a relação com os outros, ou seja, o que constitui a própria matéria da ética.” (Foucault, 1994: 729)

Inpirando-se em Foucault Butler compreendeu que a noção de sujeito de direito era problemática, pois ele é ‘produzido’ pelo mesmo sistema jurídico de poder que posteriormente irá representá-lo. Trata-se aí de uma noção jurídica de poder que produz um sujeito a ser representado e que, no caso do feminismo, produz e representa ‘a mulher’ como o sujeito do feminismo. No interior desta perspectiva, o sujeito é produzido pela mesma instância que supostamente irá libertá-lo. Em se tratando do feminismo e da emancipação das mulheres, esse sistema é contraproducente na medida em que ao produzir sujeitos generificados (homem e mulher) se está produzindo sujeitos que se situam de maneira desigual sobre um eixo diferencial de dominação. Além disso, o sujeito jurídico é produzido no interior de práticas de exclusão que são mascaradas pelo próprio sistema jurídico que o produz (Butler, 1990: 3). Butler demonstra que a contradição interna entre o sistema de produção dos sujeitos e a sua libertação é a razão da insuficiência dos processos de obtenção dos direitos das mulheres, propondo-nos, assim, uma reflexão que poderia perfeitamente ser expandida para o âmbito das discussões dos movimentos LGBT e dos projetos educacionais a eles associados.

Além da crítica de Butler ao sujeito de direito, seu conceito de performatividade também tem sido importante referência nos debates contemporâneos sobre a crítica da identidade de gênero e sexual no âmbito da reflexão sobre as práticas não normativas. Para Butler,  “(...) a performatividade deve ser compreendida não como um ‘ato’ singular ou deliberado, mas ao invés disso como a prática reiterativa e citacional pela qual o discurso produz os efeitos que ele nomeia” (Butler, 1999: 154). Em outras palavras, Butler entende o gênero como um efeito performativo que nos faz experimentar a identidade de gênero como supostamente natural, dada a sua contínua reiteração. Com o conceito de performance de gênero Butler pode criticar o sistema de correspondência entre corpo-sexo-gênero, inteligível e naturalizado no interior do dispositivo da sexualidade.

Partindo do conceito de heterossexualidade compulsória e analisando as performances drag, Butler (1990) percebe que a performance travestida, de gestos exagerados, é a mesma dos atos e ações que demarcam o gênero heterossexual. Isto demonstra que tais performances fazem parte de um sistema regulatório que exige a repetição ritualizada das condutas e ações pautadas pela heteronormatividade. Ora, não se tem observado que este conceito de perfomatividade não é suficiente para inspirar reflexões de resistência enquanto atos ético-políticos de liberdade e criação. Penso que o conceito de performatividade de Butler não pode substituir ou ocupar o lugar vazio deixado pela crítica da identidade, pois ele apenas estabelece um diagnóstico a respeito da reiteração da heteronormatividade. Numa palavra, não se tem dado a devida atenção ao fato de que o conceito butleriano de performatividade não chega a oferecer uma base de experiência concreta para práticas de resistência ao dispositivo da heteronormatividade.

Define-se assim um quadro polêmico de polarização. Por um lado, observam-se identidades novas e antigas constituindo os movimentos e as lutas políticas por direitos individuais e sociais. Por outro lado, a elaboração das críticas que demonstram os processos de exclusão, patologização, normalização e captura das práticas, experiências e estéticas nos processos de produção e funcionamento das identidades. Em vista deste impasse, os movimentos sociais LGBT e feminista, assim como os projetos educacionais a eles relacionados, tendem a não vislumbrar a possibilidade política de se constituir novas experiências e práticas de vida para além daquele universo semântico (Vale de Almeida, 2009). Ora, é justamente para tentar sair deste impasse teórico que propomos a hipótese, que aqui não poderá ser desenvolvida, de um retorno ao arcabouço conceitual formulado por Michel Foucault em suas pesquisas sobre a estética da existência. Nossa hipótese é que tal conceito, assim como o conjunto de noções que a ele se relacionam, tais como subjetivação, cuidado de si, práticas refletidas de liberdade, etc, permitiriam repensar as formas de resistência contemporâneas ao primado da heteronormatividade tanto no âmbito dos movimentos feminista e LGBT, quanto no plano dos projetos educacionais por eles inspirados.

Tendo em vista as críticas feministas à noção de sujeito do feminismo e os questionamentos em relação à identidade nos movimentos gay, lésbicos e outros, eis as questões que podem vir a orientar novas interrogações sobre as lutas político-sociais de resistência e seus importantes desdobramentos no âmbito educacional, para além do recurso exclusivo ou prioritário às figuras do sujeito e da identidade: é possível uma luta política em que o vínculo comum entre os agentes se constitua a partir do desempenho das suas ações e dos seus discursos entendidos como práticas refletidas de liberdade de uma estética da existência contemporânea, crítica em relação à lógica identitária e ao essencialismo subjetivista que tendem a pautar a relação dos movimentos sociais com o Estado? É possível pensar e pôr em ação uma política de inclusão de novos ‘sujeitos’ na esfera dos direitos sem, contudo, perder de vista a capacidade destes agentes políticos para potencializar a experiência democrática ao instaurar espaços de liberdade efetiva por meio de seus atos; da enunciação de discursos que digam a verdade em público e corajosamente; e por meio da criação de novas formas de relação e de sociabilidade democrática entre os cidadãos/alunos? É possível pensar um projeto educacional a partir de reflexões que questionem criticamente as premissas do sujeito de direitos e da própria educação como direito do sujeito?

Sem pretender recusar a noção de sujeito de direitos e os ganhos jurídico-políticos que ela tem permitido obter, trata-se de pensar políticas de gênero e educacionais em que a inclusão de todos os indivíduos recuse criticamente os princípios de normalização que tradicionalmente estiveram envolvidos na definição do sujeito de direitos e de sua identidade. Com isto, visa-se a dissolução radical da gênese mesma de todo processo de formação de abjeções, anomalias e anormalidades no universo educacional. Afinal, a identidade é sempre uma construção objetificadora do sujeito e, deste modo, é sempre potencialmente excludente. A reiteração não crítica de problematizações educacionais que pressupõem o sujeito, uma identidade, um direito e uma idéia de cidadania entendidos exclusivamente a partir das noções de identidade e de sujeito de direito tende a encerrar os corpos, as práticas, as experiências educacionais, os prazeres, os modos de vida ou culturas sexuais no interior de processos de sujeição que constituem a matéria e a ação dos processos de normalização em suas vertentes disciplinares e biopolíticas. Para questionar os rumos teóricos e práticos assumidos pelos movimentos sociais identitários e pelos projetos educacionais contemporâneos, pensamos ser imprescindível retornar à reflexão ético-política de Michel Foucault.

Segunda Parte:

Etat de la critique de genre en littérature

Critique et fonction critique

Depuis des années je poursuis une interrogation sur la relation entre littérature et différence sexuelle, et/ou critique littéraire en études féminines/études de genre.

Le siècle précédent (le XXe) nous a légué à la fois les mouvements des femmes et les féminismes et une série importante des réflexions, analyses, théories, sur la littérature/écriture/création de femmes/ sur laquelle  l’on a pu diriger une lecture genrée.

En particulier des essais comme Une chambre à soi (A room of one's own) (Woolf, 1992) et Le rire de la Méduse (Cixous, 2012), ont ouvert des espaces de questionnement et de réflexion indéniables notamment sur « femmes et écriture », le sous-titre de l'essai de Woolf étant « Women and Fiction ». Les femmes sont elles-présentes dans l'espace de la culture, de la littérature, de la pensée alors que rares semblent être reconnues dans l'espace politique et public de l'histoire ? C'était la question de Woolf, qu'elle continue à développer dans le deuxième grand essai Three guineas (Woolf, 1977), quelques années plus tard.

En fait si en France Le deuxième sexe de Simone de Beauvoir reprend systématiquement l'analyse historique de la femme au cours des siècles, dans les idéologies et les mythes jusqu'au XXe, la question de la femme écrivain soulevée par Virginia Woolf doit attendre les mouvements des années 60-70 ainsi que d'autres moments forts de la pensée (des philosophes comme Derrida, Deleuze, Foucault) pour qu'à nouveau les questions de la langue, de l'écriture comme création, du corps et des subjectivités, de la différence sexuelle, de la sexualité soient nouvellement soulevées.

En 1979 Sandra Gilbert et Susan Gubar publient The madwoman in the attic, une série d'études sur la femme victorienne, et une sélection d'écrivaines anglaises et américaines. On considère cet ouvrage comme fondamental pour la critique littéraire féministe. Comme on le verra plus précisément les auteures qui ont travaillé ensemble pendant un certain nombre d'années pour écrire les différents chapitres de ce livre ont choisi à la fois des écrivaines et de poètes déjà reconnues comme Jane Austen, Emily Brontë, Charlotte Brontë, Emily Dickinson, Virginia Woolf et en même temps des figures/personnages signifiant la femme/le féminin dans ces œuvres et dans ce siècle. Dans un esprit assez proche Béatrice Didier, dans l'Écriture-femme (1981) et Christine Planté dans La petite sœur de Balzac. Essai sur la femme auteur (1989), ont étendu cette réflexion sur l'écriture féminine à un corpus d'oeuvres et auteures françaises entre les XIXe et le XXe siècle.

La littérature écrite par des femmes est aussi une entrée principale pour l'analyse de l'imaginaire poétique, historique, culturel concernant la différence sexuelle, le genre et les genres. On verra à son temps pourquoi ces choix, certainement en bonne partie motivées par les positions des écrivaines vis à vis de la question du sujet-femme(s) en littérature.

Des nombreuses études ont été publiées en langue anglaise et dans d'autres langues, et déjà dans les années 70 le féminisme des femmes noires, les articles et essais de militantes et écrivaines de couleur ont élargi le champ de la littérature, des auteures, des livres de référence (voir en particulier Toni Morrison). Ces vingt dernières années ont vu le déferlement des études sur le postcolonial, lesquels changent encore une fois la question des critères de sélection de la critique littéraire : femme, francophone/anglophone, noire, européen, métisse, migrante etc. (voir les anthologies proposées)

Pour ne faire qu'un exemple, mais très intéressant, Edward W. Said dans son Culture et impérialisme (2000) évoque à son tour des romans de George Eliot ou Jane Austen où la référence à l'Empire Anglais est très lointaine mais significative, comme si la question de la différence raciale et du racisme dans une politique impérialiste était marginale, alors qu'économiquement et socialement elle est au cœur de l'économie coloniale impérialiste. Les mêmes ouvrages sont aussi analysés dans les séminaires que Azar Nafisi, professeure de littérature anglo-américaine, Reading Lolita in Tehran (2008), a continué à organiser chez elle à Teheran sous le régime de Khomeiny où ce qui interroge les étudiantes et leur professeur dans les romans de Jane Austen est la dimension du mariage, de l'amour, de l'économie. Ces deux derniers essais se situent au croisement de la critique littéraire et de l'étude historique et idéologique (une vision qui n'est certes pas absente dans l'ouvrage de Gilbert et Gubar)

Pour Woolf comme pour Cixous, l'aspect historique et culturel de l'exclusion, domination, et marginalisation des femmes dans l'histoire et dans la littérature est un point essentiel. Pour Cixous cela peut être vérifié dans les textes qui viennent d'être à nouveau édités après 30 années d'oubli (du moins en France). Cixous revient sur la question du texte, de l'écriture, de la critique textuelle avec des références à la philosophie derridienne, qui donne une place considérable à la langue, au symbolique, à la psychanalyse (freudienne et lacanienne). Elle achève sa nouvelle introduction au Rire de la Méduse et autres ironies par une considération ironique « La littérature comme telle est queer » (Cixous, 2010: 33)

Ces essais se situent stratégiquement dans un moment culminant des mouvements de libération des femmes (ou juste après pour A room of one's own : en Grand Bretagne les femmes avait gagné le droit de vote en 1918. Un moment où la question politique, sociale, des femmes avait un impact remarquable sur l'espace public : les femmes comme sujet collectif, pluriel, avaient  occupé un certain terrain avec leurs revendications, leur force, leur enthousiasme). Il me semble que dissocier le déferlement des publications sur les femmes, féminisme, littérature ou écriture de ce que des femmes dans le monde entier ont soulevé chacune avec d'autres, c'est ne pas tenir compte d'une certaine réalité et vérité historiques.

Woolf, Cixous comme bien d'autres après elles et moi-même partent du principe que la personne qui écrit a un corps, une histoire consciente, un inconscient, est un sujet dont le sexe/genre a des effets symboliques sur ses actes, ses relations, ses œuvres. Autrement dit réfléchir sur la production de la différence sexuelle et sa lecture devient un point essentiel pour aborder autrement la création linguistique, littéraire, théâtrale, tous les arts dans lequel ce sujet genré se donne à lire. Or, le premier pas est de reconnaître dans les histoires littéraires pas uniquement la présence de femmes auteurs, mais aussi d'en étudier les œuvres avec un point de vue qui tient compte de la différence sexuelle, non pas pour en constituer une place à part, une ségrégation, mais pour changer de façon plus complexe les modalités de la critique, la façon de lire, et cela vaut d'ailleurs pour les femmes auteurs que pour les hommes auteurs.

Cette autre stratégie de construction de l'histoire littéraire et de la critique littéraire a encore aujourd'hui une très grande difficulté à être acceptée car tous et toutes, mais surtout les femmes, rejettent en général toute catégorisation bipartite hommes / femmes,  « masculin »  « féminin », alors qu'il ne s'agit pas du tout de s'enfermer dans une vision dichotomique, partisane, ghettoisante.

Toutefois il est toujours intéressant de constater la résistance à prendre en compte la « différence sexuelle » ou le genre dans la lecture ou l'analyse des œuvres, à savoir comme il est difficile de l'interpréter autrement que dans le dualisme « m/f » ou sous la forme du « féminin », de la « féminité » comme invariablement associée à « femme ». Cependant tous les ouvrages cités précédemment apportent des réflexions considérables quant à la construction du genre dans les œuvres littéraires, dans la production culturelle.

Virginia Woolf dans son examen panoramique de l'histoire littéraire constate l'absence des femmes ou leur présence comme objet de discussion souvent clairement misogyne. Donc elle ne rédige pas une contre-histoire littéraire ni prend en compte l'acte critique proprement dit. Il faut dire que par ailleurs elle intervient comme critique dans les journaux littéraires, comme témoignent les nombreux volumes du Common Reader. C'est dans ce cas qu'elle évalue chaque œuvre et donne son point de vue en tant que femme de lettres.

Vous aurez remarqué que Woolf, Cixous, Huston et d'autres sont des écrivaines, des romancières, des poètes et pas uniquement des théoriciennes, historiennes ou critiques littéraires. Autrement dit leur réflexion s'appuie sur une expérience multiple d'écriture et de lecture, à l'intérieur ou à l'extérieur de l'académie comme de la politique (féminisme, mouvement des femmes, groupes politiques) des femmes.

 Le début du Rire de la méduse fait le lien entre parole et écriture, entre parler et écrire, « Je parlerai de l'écriture féminine : de ce qu'elle fera. ». Fréquément les commentaires se sont arrêtés sur l'expression « écriture féminine » pour en faire aussitôt un concept repoussoir, essentialiste, alors que toute la phrase ne fait qu'ouvrir un espacement différentiel (dans le sens derridien) en même temps que créer un relais entre parole et écriture, parler et écrire.

Voilà au moins une expression qui ne nous laisse pas tièdes, et ce serait intéressant de se demander pourquoi. Mais en fait dans les groupes des mouvements de femmes, c'était la parole des femmes qui était pour ainsi dire à l'honneur. En dénonçant un silence millénaire chaque femme, individuellement et avec d'autres, prenait la parole, dans les assemblées, les petits groupes, et au fur et à mesure cette « prise de parole » devenait aussi une autorisation à dire par écrit, à écrire le corps. Cixous capte ce mouvement de la parole à l'écriture comme mouvement qui ne s'arrête pas : l'écriture n'est pas l'instant final où se dépose et se pose ce parler des femmes, bien au contraire c'est une transformation qui garde la portée et l'urgence, la résurgence des paroles.

Les nombreux textes de « fiction »  de Cixous, mais aussi des nombreuses écrivaines qui publient auprès des éditions des femmes ou chez d'autres éditeurs, explorent tous les passages et les voies entre la forme parlée et la forme écrite de cette voix de femme singulière plurielle, compromise ou dégagée dans la langue de la loi, la langue des pères et des prêtres (les maîtres). Il me semble que rendre compte de ces modalités d'écriture en termes d'oralité, d'écriture orale est juste mais insuffisant : car il ne s'agit pas uniquement d'un style (littéraire) mais d'un acte aux conséquences épistémologiques et politiques majeures. Et cet acte se dénomme du moins pour l'instant, à cet instant-là, « écriture féminine », car comme Cixous l'a plusieurs fois souligné il fallait marquer symboliquement et politiquement l'émergence des femmes en écriture, à la fois singulièrement, et en tant que sujet et subjectivités imprévues dans l'ordre symbolique et politique patriarcal, phallocentrique, en prenant le risque (la suite l'a bien montré) de réinscrire ce que l'imaginaire convoque à chaque fois que les mots « femme » « féminin » « féminité » sont prononcés autant que homme masculin et masculinité, virilité ! : les stéréotypes, les rôles sexuels et sociaux, la misogynie. Mais il y a aussi l'autre risque qui est celui du silence, de l'interdit, du sous-entendu.

Cixous effectue plusieurs gestes : en même temps, d'une part elle reprend à son tour le geste inaugural de la déconstruction en soulevant une fois de plus le pli qui sépare la parole de l'écriture, la présence de l'absence, la coupure que depuis Platon fonde la philosophie et que Derrida effectue dès les livres des années 60 et en particulier La pharmacie de Platon (1972) ; mais en même temps elle reprend et redonne le geste de toute femme, des femmes en mouvements de libération, qu'elle confie à la première personne « je » comme incipit, comme commencement d'une autre parole qui ne se prive pas/plus d'écriture et d'écritures : donc qui ne renoue pas avec la coupure entre parole(s) et écriture(s) : c'est en cela que ce geste « écrit » produit l'inauguration d'une autre pensée de l'écriture « de ce qu'elle fera » au futur.

Or, Cixous n'est pas la seule à insister sur la nécessité de déconstruire l'ordre symbolique, d'introduire l'interdit et le non dit de la différence sexuelle là où le sujet s'écrit (et pas seulement s'inscrit : puisqu'il y a aussitôt agency, changement, modification des conditions et des paramètres de signification, production et reproduction par l'écriture, et pas répétition à l'identique). L'écriture est dans ce sens performative, elle déplace tout en convoquant les sens par un processus de nomination et décolonisation du corps, des pensées, des paroles. Luce Irigaray et avec elle une partie des groupes du mouvement des femmes (Antoinette Fouque et psychanalyse et politique) plus tard en Italie Luisa Muraro et Diotima n'ont cessé de travailler dans le soubassement de « l'ordre symbolique », ce qui ne signifie pas se restreindre au travail sur la langue, mais réviser les innombrables rapports entre corps, consciences, sujets, signification, inscription, historicité,  subjectivités et sexualités.

L'écriture selon Cixous comporte une référence très importante au texte et à la langue d'écriture, à la poésie et au poétique plus qu'à la narration. C'est pourquoi certaines critiques l'ont rangée dans l'écriture expérimentale, comme des textes dits d'avant-garde. À ce titre elle ne serait pas seule dans cette catégorie ; Monique Wittig, Chantal Chawaf, George Perec, Philippe Sollers, ou même  d'autres déroutent de façon plus ou moins étendue et répétée les codes de la narration et de la prose, en bannissant toute linéarité du récit, en greffant le texte avec des renvois explicites ou voilés à d'autres textes, narrations, mythes, inter-textes figuratifs.

Or ce type de texte demande un autre lecteur, ou lectrice, qui accepte de jouer les jeux du texte et de la langue, et aussi de jouer à se laisser transporter et dériver hors de soi, dans une zone où les identités sont indétectables, floues, en transformation et donc l'identité du sujet lecteur/lectrice sort des rails des identifications repérables, détectables. Ce jeu s'appelle : qui sont-je ? Au lieu de la question plus habituelle qui-suis Je ou même que sais-je ? Syllabe, phonème, interjection « je » est déplacé de son assise pronominale et en effet se promène un peut partout dans le texte, j' diffracté, décomposé, éparpillé.

De même Monique Wittig dans Le corps lesbien (1973) coupe systematiquement les j/e et m/e. Avec cette pratique et tactique de la dispersion pronominale Cixous et Wittig secouent toutes les catégories de l'identité y compris de l'identité féminine, sans pour autant brider les apparitions innombrables et chatoyantes d'elle(s).

Jeu complexe aux dames (Lacan), entretenu toujours en connexion avec l'inconscient, rêve, langue éveillée de jour et de nuit, attentive davantage aux dévoilements, aux visions soudaines, aux masques et autres camouflages que l'écriture permet. Si d'un côté Cixous s'inscrit en plein dans la ferveur militante des femmes et du féminisme dans le monde, de l'autre son écriture se dérobe à des classements rapides, y compris celui de « écriture féminine »

Universel et différence sexuelle

Beaucoup et même des plus éminents hommes et femmes de lettres parlent au nom, à partir de la Littérature, comme concept, ou sur la Littérature. Opération parfaitement légitime. C'est vrai que quelqu'un, cette personne, femme ou homme,  qui se met à écrire, ou à peindre ou à faire une autre activité dite de création, ne se demande pas d'emblée ce que c'est la littérature, un auteur, une femme qui écrit, un une peintre qui peint. Toutes ce questions naissent dans un lieu, un espace qu'on appelle le monde, l'espace publique des idées et des actions, le social où, il est vrai, la visibilité passe aussi par l'identité réitérée, performée, reconnue.

Mais quel est le topos, le lieu de l'écriture ? Qui  est qui ? Personne(s), quelqu'un ? Après que le structuralisme et la sémiotique littéraire ont mis au centre  la lecture et l'étude le texte et rien que le texte en tuant ou éliminant l'auteur (Barthes et Foucault décrètent : l'auteur est mort), il semble difficile de penser l'écriture en dehors de l'enjeu de la subjectivité, du corps, du sexe : « Qu'ils tremblent les prêtres on va leur montrer nos sextes! » écrit Cixous dans le Rire de la méduse (2010). Est-ce que le texte vient à la place du sexe (le sexe est comme un texte et viceversa), comment prouver que le sexe est analogue à un texte et un texte peut être un sexe ? Et à une époque où l'on distingue sexe et genre, car ils peuvent ne pas se juxtaposer, comment faire de même avec sexe et texte ?

Même pour les textes qui, comme ceux de Cixous, n'ont pas une histoire à raconter, mais dispersent des récits de toutes dimensions dans les flots d'écriture, il y a des corps singuliers, pluriels, entiers, morcelés féminins, masculins, enfantins, littéraires (des textes corps) à la place du personnage d'une histoire dans un roman, il y a ce corps-personnages sans avec nom(s) à plusieurs signes et signatures des noms composés Dieubis, Georg, ou Plusje.[1] Certes la procédure est déconcertante mais très (re)jouissante puisque en effet avec cette panoplie on peut jouer beaucoup plus aux dames et aux échecs, à n'aitre personnes (plusieurs pas une). À se laisser aller à une certaine perte du fil de l'histoire, ce qui ne signifie pas, bien sûr perte de sens, parce que les sens comme le sang circule partout et même sur plusieurs niveaux de signification.

C'est à ce moment là que Cixous, toujours songeant à ce qui s'entre-tient entre écriture et lecture, à ce lien fluide, à cette presque complicité nécessaire entre qui litécrit et qui écritlit, toujours plus que deux, donne à la fois des indices, des pistes à suivre, mais on est toujours libre de suivre ce qu'on veut, autrement dit le désir, ses voies et formes, sa mémoire corporelle sensuelle est sollicitée en permanence. Il est vrai que la lecture alice-au-pays-des-merveilles est une bonne comparaison : au fond la petite fille doit accepter de changer de forme, de suivre des inconnus, de parler à des êtres bons ou mauvais, mais cela un peu à son gré.

Apprentissage de la liberté mais aussi d'un savoir se perdre, savoir ne pas comprendre, entendre ce qu'on ne comprend pas encore. La complicité (ou pacte de lecture) engage à une connivence avec un mode d'écriture qui est à son tour un mode de lecture, analyse, interprétation, par rapport au rêve, à une attention en permanence distraite à ce qui se dit sans se dire. Ce n'est pas quelque chose de tout à fait exceptionnel : si on lit ou on entend ce que les écrivains disent de leur activité on entend parfois quelque chose de semblable. Lispector raconte comment elle passe des journées entières sans rien faire, rien écrire, inactive, apparemment. Ou elle écrit sur des petits papiers.  D'autres comme Morante ne révèlent rien de leur faire, mais elle utilise beaucoup des rêves dans ses romans, dans ce cas ce sont les personnages qui rêvent.

La sémiologie et la critique structuraliste nous ont enseignées à nous méfier de la subjectivité, de la critique empirique, impressionniste, qui melange biographie et texte : la référence pourrait être par exemple le livre de Umberto Eco, Lector in fibula (1979), et le roman de Italo Calvino Se una notte un viaggiatore (1979), il s'agit de partir de l'hypothèse que chaque œuvre, chaque livre, construit son lecteur ou ses lecteurs.

Calvino, pour s'amuser ou construire un roman qui fausse ou feint de fausser les pistes, entrelace les histoires, les romans et crée les personnages du lecteur et de la lectrice : autrement dit : vous-vous êtes bien vus ? Or il n'est question d'aucune visibilité même si on parle bien de regard, de point de vue, mais peut-on dire que la lecture appartient à l'ordre du spectaculaire, du spéculaire, du reflet narcissique ? Non, le lecteur échappe à cette identité visuelle, détectable identifiable. Cela dit, quelque chose se passe.

Scènes d'écriture, scènes de lecture

On a beaucoup écrit et parlé des scènes d'écriture, pas uniquement dans le cadre de l'écriture romanesque (avec personnages, histoire etc)  mais de l'écriture au sens analytique, freudien, et donc liée à la langue de l'inconscient. Par contre il est moins question de la lecture, quoique bien évidemment l'adresse au lecteur et parfois à la lectrice soit aussi une des « conventions » utilisées pour entraîner le lecteur dans le champ de la fiction et de la narration. La première représentation qui me vient aux yeux (à la vision imaginée bien sûr) est celle des nombreux tableaux du peintre flamand Vermeer, dans lesquels l'on voit une femme ou deux qui tiennent dans les mains la lettre. Un tableau s'appelle « La lettre », parfois elle lit, parfois elle écrit, parfois elles parlent de ce que la lettre vient d'annoncer. On sait que l'une des scènes de la mémoire proustienne se réfère aux tableaux de Vermeer et à une certaine tâche jaune, mais il s'agit des paysages, pas d'une scène et donc d'une possible histoire. Il est vrai que nous sommes dans la représentation et qu'à partir de cette représentation nous pouvons bâtir notre narration. Cela ne me dérange pas. Je trouve que la femme à la lettre, celle qui est en train de lire, est une image très juste de cette relation silencieuse et parlante entre deux, dont l'autre reste l'auteur anonyme de la lettre, il y a quelque chose qui est en cours, qui se passe entre cette femme, son corps, sa vie intime et la chose racontée à quelqu'un (h ou f).

Or cette image me semble très pertinente pour ce qui est de l'acte de lecturecriture. De sa continuité et aussi de la différence, qui n'est pas facilement nommable, détectable, visible. Pourtant nous sommes dans un cadre de vie, dans le cadre du tableau, donc dans une vue que le peintre a sélectionnée pour nous, et même une certaine classe sociale. Dans une chambre qui pourrait être une des chambres à soi dont nous parle Virginia Woolf, puisqu'il y a effectivement une femme qui a l'aise d'avoir l'espace et le temps pour écrire, même s'il ne s'agit pas de la « grande écriture » mais de la correspondance (la lettre) (quant à la distinction entre G et P on sait qu'elle peut être renversée ou bouleversée.)

Certes, cette vision du peintre s’ouvre sur une certaine intimité alors que cette femme est seule avec elle-même et la lettre. Peut-on comparer cette scène à voi et à lire avec celle évoquée par Virginia Woolf dans A room of one's own ? En parlant de l'époque où les femmes n'avaient pas d'espace pour être seules (avec elles-mêmes), Woolf raconte comment le mari savant entre dans la chambre (le salon) où sa femme se tient avec les enfants, en train de broder ou raccommoder : regard de l'homme sur son épouse qui ne risque pas de s'occuper des choses savantes, mais qui entretient tout simplement la vie, aussi pour lui, l'homme confronté avec des choses immortelles. Que se passerait-il si au lieu de prendre soin de la vie (care) elle se battait avec un livre à écrire ou avec une œuvre à peindre à sculpter ? Quel serait son sentiment ?

Comment lit-on un texte ?  de « femme » ? Et d'abord qui est cet « on » ?

C'est bien la question de Virginia, c'est encore la question en partie de Cixous, car à force de dire et écrire on insiste sur une différence qui est celle du neutre alias   masculin, s'il y a une aliénation du masculin dans le discours elle est justement dans cette particule dont dispose le français (mais pas l'anglais), en italien c'est le « si » si può, si deve, si è ...eppur si muove oui, ça bouge.

Imperceptiblement je suis passée de l'utilisation de l'impersonnel dans un discours critique ou une lecture critique à l'utilisation des pronoms personnels dans un texte de fiction : évidemment il faut faire des distinctions. La rhétorique de la critique n'est pas celle de l'écriture fictionnelle ou romanesque, même si certaines remarques peuvent être valables pour les deux, mais il faut à chaque fois préciser le style, le contexte, la structure discursive. Pour tout critique il est toujours plus facile de se mettre derrière un écran et se rendre invisible, seule la signature de l'article ou du livre signifie le sexe. Dans certaines bibliographies l'utilisation de la seule initiale pour désigner le prénom rend indétectable le sexe de l'auteur critique ou théoricien. Est-ce un retour à la neutralité, est-ce une forme de liberté contre toute discrimination ? Bien sûr, pour partager une analyse je n'ai pas nécessairement besoin de savoir si cette personne est une femme ou un homme, surtout si c'est dans un discours académique et scientifique tout à fait impersonnel.

En effet dans celle qu'on appelle la critique d'auteur, il y a une certaine liberté dans l'identité de la personne qui lit ou analyse un texte (c'est ce qu'on peut relever dans les essais de Cixous, Woolf, et d'autres), le critique littéraire adhère plus difficilement à une position instable et ambiguë, à une implication subjective, biographique personnelle. Mais adopter une position critique genrée signifie faire apparaître à tous les niveaux formels, thématiques, historiques les marques culturelles et symboliques de la construction de la différence sexuelle dans les œuvres, les textes, les discours.. Ce geste me semble désormais essentiel et formateur de la capacité critique et créatrice de chaque personne, soit elle homme au femme. (Setti, 2010)

Sommes-nous des « femmes » et des « hommes » sans avec guillemets ou des êtres ainsi désignés par notre participation au langage, pétris dans par le symbolique, assignés par les noms et les mots de la construction sociale de la représentation ? Ou encore des êtres avec histoires, généalogies, corps qui ne peuvent se résoudre ni se dissoudre dans le genre ou une identité ? Pour répondre à ces questions ou commencer à y répondre certain.e.s passent par l'écriture, la littérature, l'art, la performance. L'inter-subjectivité se met en place, en jeu, lorsque quelque chose se crée, s'écrit, s'échange.

Quelques mots pour finir...

Eis dois olhares que se encontraram num oceano de possibilidades. As questões trabalhadas em ambas as partes do texto encontram-se em um mesmo lugar teórico e epistemológico, assumido como ponto de partida em comum. Estar presente neste dossiê sobre os questionamentos político-epistemológicos a respeito do gênero e da educação significa tomar parte em um movimento que produz perguntas sobre a integralidade dos sujeitos, assim como também sobre suas identidades em dissolução. Na primeira parte do texto, a pergunta se conformou no campo dos estudos de gênero e educação, em especial sobre as críticas dos sujeitos “mulher” e “lgbt”, demonstrando a supremacia das políticas identitárias, tanto para os movimentos sociais como para a educação em gênero e sexualidade.

Fazer a identidade fluidificar, duvidar dos sujeitos, recusar as essências, eis as tarefas. Essa também foi a tônica da segunda parte do texto. A reflexão sobre a diferença sexual na escritura literária não significa delinitar um outro sujeito literário. O exercício realizado é o de demonstrar que a partir de uma idéia não essencialista de diferença sexual é possível modificar de forma mais complexa as modalidades da crítica e da leitura. Esta reflexão permitiu a abertura de espaços diferenciais, o que em sentido derridiano significa promover a politização da escritura, da leitura e da crítica. Em se tratando das políticas de linguagem, realizar uma reflexão sobre a escritura “feminina” siginifica abrir um campo importante de modificações das condições e parâmetros de significação. Temos aí uma escrita performativa, que produz a descolonização do corpo, do pensamento, das palavras; temos aí também sujetividades performativas,  que duvidam das nomas que conformam o corpo e dos sistemas que produzem identidades sexuais e de gênero.

Por que um encontro no campo da educação? Porque educar é dar a ler.

Tanto na primeira parte do texto, que explicita as reflexões críticas sobre a noção de identidade nos discursos e nas práticas educacionais contemporâneas, como na segunda parte do texto, que se concentra num certo côté da crítica literária, temos a educação como ponto de encontro, como ponto de partida e também de chegada. Uma educação permeada pelos encontros e pelas leituras do mundo. A leitura como (de)formação, a crítica como (des)educação e um mundo a ser (des)construido. 

Terminanos esse texto no ponto em que tudo começou...  Nas linhas e alinhavos da escritura de Clarisse...

Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas duas pernas. Sei que somente com duas pernas posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira perna me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem eu precisar me encontrar. (Lispector, 1998:12)

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            Woolf, Virginia. 1992.  Une chambre à soi, Paris: 10/18.

Biografias:

Maria Rita de Assis César: Doutora em Educação pela UNICAMP, Pós-doutorado em Filosofia na Université Paris XII (Paris-Est). Professora do Setor de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação (Mestrado e Doutorado) da Universidade Federal do Paraná. Coordenadora do Laboratório de Investigações sobre corpo, gênero e subjetividade na educação - LABIN e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero. Autora do livro a Invenção da Adolescência no discurso psico-pedagógico (2008) Ed. Unesp, além capítulos e artigos sobre corpo, gênero, sexualidade, teoria queer, estudos foucaultianos na educação, subjetividade e estética da existência.

Nadia Setti: professeur études de genre, littérature comparée, laboratoire CRESPPA-GTM, université Paris 8, membre de l’Institut Émilie du Châtelet, et, en Italie, de la SIL (Società Italiana delle Letterate). Dernières publications : Passions Lectrices, Indigo&côté femmes : Paris, 2010 ; Mondialités au féminin : écritures migrantes entre ici et ailleurs » dans Genre et postcolonialismes, A. Berger et E. Varikas éds, EAC, CEP, 2011 ; La sapienza degli inermi. La Storia di Elsa Morante. In Il simbolico in gioco. Letture situate di scrittrici del ’900, Il Poligrafo, Padova, 2011. Mélographies cixousiennes. Partitions pour lettres enfouies, dans Cixous sous X, d’un coup le nom, Marie-Dominique Garnier et Joana Masó eds., PUV, 2009. Lectio de A paixão segundo G.H. une Divine Comédie des temps modernes ?, dans Cerrados, Literatura e presença, Clarice Lispector, Universidade de Brasilia, n° 24, ano 16, 2007.


 

[1]              Ce sont les personnages du livre de Hélène Cixous, Portrait du soleil (1973) et Partie (1976).

 

labrys, études féministes/ estudos feministas
juillet/décembre 2012  - julho /dezembro 2012