labrys,
études féministes/ estudos feministas O feminismo Riot: geração e violência Gabriela Miranda Marques Joana Maria Pedro Resumo: Este artigo visa apresentar e discutir o feminismo Riot Grrrl(1990-2010), em sua vertente ligada ao punkrock. Entendendo este feminismo como uma segunda geração de feministas radicais, buscou-se compreender as relações estabelecidas com a primeira geração de feministas radicais das décadas de 1960/70. Observam-se, aqui, as contradições, permanências e conflitos geracionais estabelecidos entre elas; busca-se focalizar, também, como o feminismo Riot se apropria da violência como forma de ação. Palavras-Chave: Feminismo, geração, violência. Preâmbulo Quando lemos sobre feminismos, é comum encontrar referências a ondas: primeira, segunda e terceira onda feministas. Cada uma com sua temporalidade pré-estabelecida e principais demandas bem definidas. Acabamos por não perceber como estas ondas engessam as narrativas históricas dos próprios feminismos em seus períodos, e, o quanto também cada uma delas pode apresentar aspectos das precedentes ou posteriores. Neste artigo, não se fala em ondas feministas. Optou-se por dar ênfase a uma relação geracional entre dois feminismos radicais: um, que teve seu período de militância feminista nas décadas de 1960 e 1970; outro, que emerge nos anos 1990. Fazendo uma abstração, o primeiro deles seria o das avós, acompanhado, anos depois, por outro de suas netas, o que indicaria certa predileção e proximidade deste relacionamento. Teoricamente, se fosse esta uma relação familiar, as netas negariam suas mães e partiriam em apoio às suas avós (BARROS, 2009:46-62), o que poderia explicar alguns fatores em comum entre estas duas gerações. No entanto, não se tratam, aqui, de mulheres e feministas com algum grau de parentesco familiar. O conceito de geração (MANNHEIM, 1993:193-242) foi aplicado a duas gerações feministas radicais que se aproximam e se afastam em diversas práticas, em temporalidades diferentes; portanto a idade não será tida como relevante para a análise. Mesmo que Manneinhen (1993:193-242:web) tenha destacado a importância das idades na formação do que seria a similaridade nas experiências de uma geração, aqui se entende que esta similaridade de experiências necessárias à definição de uma geração se dá, especificamente, pela presença das mulheres em um dos dois grupos feministas observados. Interessa mais o que o autor chamou de "enteléquia" de uma mesma geração, “aquela substância que regula ou provoca o desenvolvimento posterior do organismo” (WELLER, 2010:web) . Portanto, estamos compreendendo que os momentos vivenciados, as práticas e ideais compartilhados nestes feminismos são capazes de marcar estas mulheres e os movimentos feministas além do período de vivência naquele meio. Buscou-se, neste sentido, perceber quais foram os fatores pertencentes a essa enteléquia de cada geração, aquilo que as distingue; mas, também, aquilo que possibilita que sejam analisadas como gerações, quais as relações que podem se estabelecer entre elas, principalmente no tocante à forma como definem e praticam seus feminismos. Antes de partimos para a análise geracional, cabe uma breve apresentação deste feminismo Riot, foco central deste artigo. As garotas do rock O Rock and roll é visto como masculino (SOUZA, 2005: 37) ; a cena[1] punk, cunhada neste universo, não poderia estar dissociada desse caráter “macho”. Dentro do punk, as associações com o que é definido como masculino, em nossa sociedade, ficam ainda mais visíveis: a música e o visual são extremamente agressivos, punk tem a ver com violência, com choque, com enfrentamento; essas características foram em nossa ocidentalidade, forçadas e reforçadas como ligadas ao que é masculino. Não era de se estranhar, portanto, que, no início do punk e ainda nas décadas de 1970 e 1980 surgissem poucas mulheres na cena. Outra hipótese, apresentada em algumas produções punks feministas[2], é de que elas foram invizibilizadas na própria cena. Não é que elas não estivessem ali, mas como eram vistas, somente, como as “minas dos caras”, ou, ainda, não ocupassem nenhuma posição de destaque frente a uma banda conhecida, elas não mereceram nenhum destaque nas narrativas sobre o punk. Essa invizibilização das mulheres, na história, foi apontada ainda pelos feminismos (PEDRO, 2005: 85); logo o punk não seria uma exceção. Como resposta a essa exclusão das mulheres, emerge o que chamamos de feminismo Riot Grrrl[3], inicialmente nos Estados Unidos, no início da década de 1990, sendo constituído por garotas que participavam da cena punk americana e se sentiam excluídas dentro desse contexto. Desse modo, o Riot Grrrl surge em um meio taxado como masculino e pouco ligado às mulheres, principalmente devido à atribuição de violência, tanto estética quanto musical e cultural, propagada pelos princípios do punk (ESSINGER,1999:23-32). As bandas, fanzines[4], shows e encontros Riot surgem nos EUA, levantando uma série de bandeiras de luta: contra o patriarcado, a homofobia e o feminismo burguês. As Grrrls começaram através de seus fanzines e músicas a levar a ideia de um feminismo Riot de revolucionar ao estilo das garotas, para fora do punk e pra outros países. Não buscamos, aqui, uma origem; não se trata disso, e sim de compreender o meio e o local onde o Riot foi cunhado. Isso nos possibilita entender muito de suas formas de ação, e a sua relação de enfrentamento com a mídia e status quo. É nesse sentido que percebemos como as Grrrls estão situadas, historicamente, na “década da internet”, e que a circulação de ideias, de músicas e de fanzines foi extremamente facilitada por esse meio. A forma de propagação de fanzines e músicas punks, desde o principio de uma cena punk mundial, foi bastante rizomática (DELEUZE, GUATTARI, 2000:3; FERREIRA, 2008:28-40), e é um bom exemplo de como podemos pensar o punk como globalizado. O rizoma pode ser pensado, aqui, inicialmente, através das formas de distribuição e propagação dos fanzines, e de fitas ou cd’s de bandas que alcançavam grupos de indivíduos previamente conhecidos, ou mesmo pessoas que solicitaram o envio daqueles materiais através de cartas[5]. Ao receberem estes fanzines/músicas e se indentificarem com eles, muitas vezes os indivíduos realizavam mais cópias e distribuíam em suas localidades. Se pensarmos no caso dos fanzines especificamente, a troca de correspondências acerca destes possibilitava, também, a escrita de outros indivíduos, de países, estados e cidades diferentes, que podiam assim, deixar sua opinião em um fanzine escrito e montado por outras pessoas. Ao não se identificar, não concordar com algum texto, poderiam escrever um fanzine no qual colocariam a sua opinião, distribuindo-o de forma semelhante ao anterior. Rizomático também seria um atributo que possibilitaria perceber este caráter de aparecimento e desaparecimento rápido de alguns fanzines, além de ser uma boa analogia para um conteúdo que é, ao mesmo tempo, “escrita de si” e discurso normativo, assim como um rizoma ao mesmo tempo é caule e raiz. Perceber essa circulação operando, permite-nos inserir as Riot Grrrls e seus escritos em um mundo globalizado, interconectado, como diria Stuart Hall (2005: 67), onde as noções de espaço e de tempo foram constantemente quebradas. Assim, mesmo datando o início do Riot no Brasil em 1995, um pouco após a cena iniciar nos EUA, percebemos, através dos zines e da estética das músicas, uma grande similaridade entre ideias, discursos e estética musical presentes no Brasil e nos EUA. Neste caso, temos o exemplo do Zine Kaostica, editado pelas mesmas Grrrls que formaram a primeira banda Riot em São Paulo, em 1995, a Dominatrix, no qual aparecem releases de demos[6] recém lançadas nos EUA e na Europa, e debates sobre o feminismo pró-lifer[7], um debate americano que passava a ser feito também aqui. Podemos ler essa circularidade como a identificação de um Riot global, com muitas especificidades locais (MINELLA, 2010: 131-152). Este pode ser lido, também em seu caráter globalizado e redutor de fronteiras um meio onde ideias circulam de forma mais subjetiva e ampla. Por isso, neste artigo, metodologicamente, muitas vezes lançamos mão de fontes que são norte-americanas ou brasileiras, sem realizar um aprofundamento da especificidade local. Ainda a nível global, é importante delimitar a forma como estou lendo estes fanzines, como trabalho com esta escrita como fonte histórica (MORAES,2010:7-13). O fanzine é uma “escrita de si” (FOUCAULT, 2006: 144-162), ou seja, uma escrita que revela para o outro algo de si mesmo e constitui, tanto para quem escreve quanto para quem lê, uma técnica modificadora do eu. Ao escrever o fanzine, a(s) autora(s) pensa a sua prática e faz a leitora pensar sobre aquilo que lê, buscando imagens ou construindo imagens que transitam da busca do repúdio à simples paródia sarcástica, objetivando, sobretudo, violentar o comodismo de se ler sem pensar sobre o que se lê. É uma escrita da subjetividade, mas que se coloca, também, nas intersubjetividades, buscando conectar-se com subjetividade de quem lê expondo a sua própria (GUATTARI, ROLNIK, 1996: 15-45). Por outro lado, o fanzine funciona, de certa forma, como objeto normatizador dentro do punk. A própria forma de escrita e de construção do material implica na formação de uma estética da escrita punk, que deve seguir uma espécie de estética para que seja respaldada dentro da cena. Assim, teríamos aquilo que é autorizado, reconhecido como punk, e o que não é legítimo dentro do meio. Ao começar a escrever um novo fanzine, é comum que a norma seja reproduzida. Desta forma, mesmo que contraditoriamente, o fanzine se constitui, concomitantemente, como uma escrita de si, como exposição de uma subjetividade, e também, como normatizador dentro da própria cena. Nesse sentido, a estética da escrita anuncia muito sobre como aquele zine foi recebido, e como pode ser lido e identificado com uma vertente específica do punk. Neste artigo, somente zines feministas Riots, identificados com a cena anarcopunk, foram utilizados. Mesmo sabendo que a cena Riot Grrrl não pode ser reduzida a uma série de premissas e atitudes (BELZER, 2004:11), neste artigo focalizamos alguns aspectos ligados ao feminismo Riot propagado na cena punk, buscando realizar conexões com uma série de outros feminismos, principalmente com o feminismo radical norte-americano dos anos sessenta e setenta[8]. Entendemos que existem, nesta relação apontada, gerações feministas diferentes, e que houve não só uma influência do feminismo radical entre as Riot, como aconteceram diversas críticas que nos permitem ver a relação geracional, poupando, assim, a leitora de uma análise do Riot em termos de um feminismo de juventude, o que, a partir de nossa perspectiva, seria extremamente limitador. Buscaremos, abaixo, nos fazer entender. Meninas de Ferro[9] “Não seria falar que a rebeldia é jovem, é uma arma do sistema para que nos conformemos?”[10] Costumeiramente, dizia-se que a década de 1990 foi um período de refluxo dos feminismos. São exaltados os feminismos das décadas de 1960-1980; suas diversas correntes e bandeiras de luta são colocadas como feminismos que tiveram seus percalços, mas que alcançaram importantes vitórias no sentido da igualdade. Poucas são as pesquisas atuais, no campo da história, que tratam dos feminismos nos anos 1990[11]. Na área disciplinar da antropologia, os estudos têm-se focado nos grupos de juventude, inclusive as Riots (BELZER, 2004; MELO, 2008; RODRIGUES, 2006; CAMARGO, 2010), ressaltando um feminismo jovem como característico do período. Pensando no conceito de gerações, neste caso de gerações feministas, podemos trazer um novo enfoque aos grupos feministas que são comumente caracterizados como de juventude. Na bibliografia geral, estes são marcados por um etapismo: se uma mulher faz parte, hoje, de um grupo de feminismo jovem, presume-se que, ao longo dos anos, ela passará para um tipo de militância “mais adulta” e, portanto, “mais reconhecida”, fato às vezes propagado em fanzines, como aponta Fernanda Gomes Rodrigues (2006:20) em sua dissertação. Observar, aqui, o feminismo Riot em seu caráter geracional, permite-nos perceber as características desse movimento, não em termos etapistas, mas em seu caráter histórico dentro do campo feminista. A “enteléquia”, de que fala Mannehein, indica aquilo que nos permite entender um grupo em uma temporalidade como uma geração; as Riot compartilham, em parte, da enteléquia da primeira geração, compartilham da radicalidade feminista, mas são marcadas por outra temporalidade. Outro fator relevante para não apontarmos para um feminismo de juventude é a não identificação das mulheres, aí presentes, com esta designação. Na verdade, a discussão de idade/juventude não foi encontrada em nenhum zine utilizado aqui[12], salvo a referência constante ao termo “garotas” demarcando mulheres jovens; será pensada, também, em termos geracionais, pois, mesmo que no início do Riot estas mulheres se considerassem garotas (jovens, portanto), elas ainda se chamam de Riots e reivindicam o Girl Power, mesmo sendo identificadas em suas culturas como adultas (SINKER, 2008: 63). Se tomarmos o conceito juventude como situado culturalmente e aplicá-lo de forma relacional, conforme propõe Helena Wulff (1995:15), ainda assim, este conceito seria impregnado de definições, construídas culturalmente, que, nem sempre, são as mais adequadas para explicar, o que é e como age a juventude. Na maior parte das sociedades ocidentais, a juventude, ao longo da história, foi sendo criada como um tempo de rebeldia e ação sem pensar nas conseqüências (ARIES, 1981:179). É buscando desconstruir estas definições incrustadas na nossa forma de olhar as jovens, que não utilizamos esta categoria para pensar a cena Riot Grrrl. Tratam-se de duas gerações de feministas radicais: uma, da década de 1970, principalmente nos EUA e na Europa, que foram designadas assim a posteriori; e as Riot Grrrls de 1990 em diante, que se auto-designavam feministas e radicais. Mesmo parecendo realidades muito distantes, é possível tratar desses dois feminismos radicais em termos de gerações feministas, pois a relação entre as ideias propagadas pelos grupos e a alcunha de “radicalismo” as aproximam. Se pensarmos em termos históricos, nem tanto tempo as separa, e os feminismos é sua conexão. As radicais da década de 1970 ficaram marcadas por seu ativismo. Foi uma geração de feministas que acreditou em uma irmandade feminina contra o patriarcado, buscando, sobretudo, alternativas ao modelo social existente, já que este estava tão corrompido pelo machismo que não abria espaço para as mulheres (PEDRO, 2009:66-68). O enfrentamento era diário, e esta geração de feministas foi reconhecida justamente por suas manifestações nas ruas, pela sua ousadia estética, pelas palavras fortes dirigidas contra o machismo; e, principalmente, pela busca do direito ao aborto. Como o exemplo de Gloria Steinem, ativa militante do feminismo radical norte-americano dá década de 1970, muitas dessas mulheres, com o passar dos anos, mesmo continuando a se afirmarem como feministas, ocuparam outros espaços de ação e militância, não mais vistos como espaços de enfrentamento direto e radical. De certa forma, a geração que inicia o movimento Riot Grrrl na década de 1990 teve contato com esse feminismo radical, ou, pelo menos, já está inserida em um mundo com uma série de vitórias dos feminismos. Kathelleen Hanna, uma das que ajudaram a cena Riot em seu início, afirma que, no início do Riot, ela costumava “falar muita merda” sobre as feministas do passado (SINKER, 2008: 64). Falava que elas não fizeram várias coisas e que deixaram de lutar. Ao tomarmos Bourdieu como referência, podemos entender esse conflito geracional como um conflito de sistema de aspirações (BOURDIEU, 1978:7); aquilo que, para a geração um foi uma conquista de toda uma vida, é dado, desde o nascimento, à geração dois. Assim, a vitória fica esquecida, pois já é um dado na ocasião da emergência de um novo feminismo. O que fica muito nítido são os pontos no qual estas antigas feministas “amoleceram” na luta. No zine Kaostica, vemos uma declaração assinada pela banda Dominatrix[13], que afirma: Os + velhos dizem que ñ faço parte disso e que não tenho que fazer o que está além de meus padrões de idade. Digo que estão errados e estão errados novamente.[...] não vou deixar de ser ativa tão cedo , eu vi você desistindo e me pergunto por quê.[...] eu não serei aquela a ser abusada.[14] O trecho acima é uma boa demonstração de uma escrita de si; mesmo que ele não seja claro, da mesma forma, para todas as leitoras fica clara a expressão da indignação com o que deve ou não ser feito em certa idade, ou seja: a necessidade de continuar lutando, de não se deixar abusar ou não sucumbir da forma como “os mais velhos” sucumbiram. A crítica ao descomprometimento ao longo do tempo, essa calma após o discurso de enfrentamento propagado pelas feministas radicais da primeira geração, para além de um “conflito de aspirações” ressalta a importância da radicalidade na prática, e não só no discurso, para as Riots. A necessidade da prática para a mudança é algo muito próprio também à cena punk e anarcopunk, principalmente, onde a idéia do faça-você-mesm@ (O’HARA, 2005:41,83) pode ser colocada como uma premissa definidora das mesmas (DIAS, 2011:3-4,22-23; O’HARA, 2005:73-100). É esse parâmetro que, de certa forma, “empodera” as mulheres presentes na cena anarquista e punk, a fazer algo como: bandas de mulheres, fanzines de mulheres, shows para mulheres, tudo por iniciativa delas e com o dinheiro/tempo/criação das próprias mulheres da cena. Essa característica de criação de alternativas e incitamento à ação, tão pulsante na filosofia punk, é apontada por Beatriz Preciado como uma das características destes novos feminismos, onde o feminismo Riot pode ser lido. Para ela: Este nuevo feminismo posporno, punk y transcultural nos enseña que la mejor protección contra la violencia de género no es la prohibición de la prostitución, sino la toma del poder económico y político de las mujeres y de las minorías migrantes. Del mismo modo, el mejor antídoto contra la pornografía dominante no es la censura, sino la producción de representaciones alternativas de la sexualidad, hechas desde miradas divergentes de la mirada normativa. Así, el objetivo de estos proyectos feministas no sería tanto liberar a las mujeres o conseguir su igualdad legal, como desmantelar los dispositivos políticos que producen las diferencias de clase, de raza, de género y de sexualidad, haciendo así, del feminismo, una plataforma artística y política de invención de un futuro común. (PRECIADO, 2010: web) É relevante o destaque, feito pela autora, de o campo de embate ocorrer diretamente no campo das artes e dos diversos dispositivos (AGAMBEM, 2009:36-38) de controle de corpos e sexualidades. Conforme já foi salientado, a música foi/é extremamente importante para a cena Riot, assim como a estética relacionada a ela. A estética punk das garotas na cena é, em si só, um enfrentamento ao feminismo burguês: as músicas são gritadas, e seu visual foi criado para não fazer parte do sistema burguês de mercadoria. Em uma análise geracional, pode-se pensar o uso das vestimentas como forma de luta e libertação pelas duas gerações de feministas radicais. Ressaltam-se algumas mudanças: se foi revolucionário usar macacões masculinos na década de 1970, por exemplo, foi somente porque estas feministas eram de classe média. As mulheres que trabalhavam nas fábricas usavam macacões há muito tempo. As feministas da segunda geração vão se aliar à crítica de um vestuário dito feminino. Mas, para elas, o choque estético feminista radical estaria aliado à estética punk; a nova geração vai um pouco mais além, causando um impacto estético entendido na interseccionalidade (CRENSHAW, 2002:171-188) mais ampla, de classe, gênero, raça e geração. Essa forma de vestir é entendida, aqui, como violência estética [15]. É importante marcar uma diferença sobre as formas de apropriação da violência por essas feministas. Se a violência foi cunhada ao longo da história como um atributo masculino, sendo, também, negada pela primeira geração de feministas, que em seu período histórico se aproximavam de uma série de movimentos pacifistas contra guerras e buscaram se afastar dessa negatividade atrelada à violência, as feministas da segunda geração se apropriam da violência como crucial nas suas diversas formas de lutar em prol da igualdade. Deve-se lembrar, também, que punks, em seu início, opunham-se aos hippies e aos movimentos pacifistas, a quem chamavam de acomodados; afinal, diziam, se era pra transformar a realidade na cena punk, isso ia ter que ser feito lutando, apropriando-se da violência que era usada contra eles pelo Estado (BIVAR, 2007:47-50). As mulheres que se denominavam como Riot Grrrls desejavam, também, o reconhecimento como portadoras legítimas da violência dentro da cena punk e para a sociedade, deixando de ser somente vítimas e se defendendo de possíveis ataques. Apropriar-se da violência, em suas diversas facetas, é também se empoderar. Ao conceito de violência, pode-se atribuir uma diversidade de significados e uma listagem de atos ligados a ele que pode ser quase infinita. Neste artigo, entendo violência não só “como sendo o uso de palavras ou ações que machucam as pessoas”. É violência, também, o uso abusivo ou injusto do poder, assim como o uso da força que resulta em ferimentos, sofrimento, tortura ou morte”[16], como qualquer outra ação que vise causar incômodo ou desconforto. É nesse último sentido que aplico a noção de violência estética, utilizada na cena punk, em geral, e também pelas Riot Grrrls. As/os punks são conhecidas/os pelos moicanos: cabelos espetados para cima, com ajuda de sabão de coco, e raspados dos lados, coloridos ou não, eles são muito presentes na cena. Todavia o visual, punk ou Riot, é composto por muitos outros signos. Para as anarcopunks, os patches são significativos[17]: simples ou mais elaborados, carregam palavras de ordem, logotipos de bandas, frases, chamamentos à desordem, à luta contra a ordem que lhes foi imposta. Muitas Riots carregam patches com frases feministas e nomes de bandas de meninas, costurados sobre calças rasgadas e camisetas velhas costuradas e recosturadas à mão. Em geral, mulheres e homens sustentam um visual similar. Neste sentido de diferenciações visuais nas vestimentas, gostaria de ressaltar alguns pontos. Primeiramente, quanto à maquiagem: é muito comum que ela seja partilhada por homens e mulheres, todavia, sendo mais carregadas em alguns casos. As mulheres ainda se utilizam de roupas consideradas, por Luciana Klanovicz, como exemplos da superfeminilização dos corpos, característica da década de 1990, minisaias, meia-calça, blusas que deixam a barriga à mostra. Esses elementos femininos foram parodiados (AGAMBEN, 2007: 33-42) pelas Riots, pois, deslocados de seu lugar-comum, são sujos, rasgados, costurados, misturados com elementos do vestuário tidos como masculinos, como coturnos, cabelos espetados e spikes/rebites. Não se trata, portanto de, com minisaias, “valorizar o corpo feminino”. Trata-se, exatamente, de demonstrar o quanto essa idéia é sexista. O objetivo é deslocar, causar desconforto a quem vê, é causar o ódio e repulsa, é utilizar da violência apropriando-se das armas do patriarcado, contra ele próprio. Assim, a proposta do visual das Grrrls é também chocar. No entanto, o fanzine Zine Anarcofeminista lembra a realidade vivenciada no interior do movimento anarcopunk pelas garotas: Neste pequeno trecho do editorial do Zine, vemos o desabafo das editoras que visibilizam a presença de visual nas meninas, roupas que chocam, mas indicam que, para elas, e talvez na cena anarcopunk, mais importante que visual é a atitude e a compreensão daquelas vestimentas, como arma contra o patriarcado. Assim, se uma menina usa visual somente por causa de um homem, essa também é uma opressão, talvez uma das mais específicas e contraditórias existentes na cena punk. Podemos inferir o que não fica tão explicito neste editorial. Para as autoras deste zine, é necessário refletir: não basta ser mulher na cena punk; é necessário ser libertária e feminista, não só aparentemente, mas com muita atitude e ideal. Esta citação demonstra, também, a função normatizadora que os fanzines exercem na cena. Atitude que, muitas vezes, implica em manter os homens afastados, ressaltando a importância da criação de “espaços seguros” só para mulheres. Um espaço onde as mulheres possam trocar experiências e onde, além de suas opressões comuns, destaquem as suas diferenças. Aqui temos mais uma relação geracional. Em seu livro, Memórias da Transgressão, Gloria Steinem, pertencente à primeira geração, destaca a importância dos grupos de consciência, ressaltando, principalmente, o prazer de ver reconhecidas, em outras mulheres, as mesmas dificuldades e opressões, possibilitando a ajuda - mútua para a resolução dos problemas pessoais (STEINEM, 1997:10-14). Destacamos, assim, uma importante permanência da prática relacionada à noção de “irmandade”; há ainda a necessidade de, em alguns momentos, estar-se somente entre mulheres. Na cena punk, na qual, a segunda geração analisada está inserida, esses espaços para mulheres podem ser criados durante um show ou na apresentação de bandas de mulheres, quando, do palco, pede-se que os homens se afastem e deixem as meninas na frente “pogando” entre elas. Ao “pogo”, ou dança punk, atribui-se grande violência, pois nela várias pessoas se chocam, se batendo com pernas e braços. Por uma questão de tamanho e por medo de se machucarem, muitas vezes as mulheres acabam desistindo de participar. Assim, desde as primeiras bandas de mulheres, foi-se incentivando rodas de pogo só de mulheres. Outro ponto a ser observado, nesta relação geracional, pode ser pautado pelo que Elizabete Rodrigues (2008: web) define como o ponto de enfraquecimento e ruptura do feminismo radical, chamado, aqui, de primeira geração. Para esta autora, as discussões de classe e sexualidade acabaram por decompor a unidade daquela sonhada irmandade de mulheres do feminismo radical, o que, por fim, dissolve este feminismo em muitos outros. Não seria de se estranhar que dentro da cena anarcopunk, as Riot Grrrls partissem exatamente desse ponto de tensão. Em 1991, essas novas radicais lançaram “The Riot Grrrl manifesto”, publicado no fanzine intitulado “Bikini Kill Zine”, escrito, dentre outras, pelas componentes da banda americana homônima. Neste manifesto, podemos ler os motivos para o movimento ter surgido. Na primeira linha, a explicação liga-se ao próprio meio de onde ele surgiu, o punk: “BECAUSE us girls crave records and books and fanzines that speak to US that WE feel included in and can understand in our own ways.”[19]. Um pouco mais pra frente vemos a inclusão dessa interseccionalidade do movimento, não se pode ser Riot sendo classista, racista, etc, conforme podemos ver no trecho a seguir: "BECAUSE doing/reading/seeing/hearing cool things that validate and challenge us can help us gain the strength and sense of community that we need in order to figure out how bullshit like racism, able-bodieism, ageism, speciesism, classism, thinism, sexism, anti-semitism and heterosexism figures in our own lives. BECAUSE I believe with my wholeheartmindbody that girls constitute a revolutionary soul force that can, and will change the world for real"[20]. Pelas frases apresentadas, podemos perceber como este movimento, colocado aqui no campo feminista, entende-se dentro de uma proposta maior de alteração da sociedade pelas próprias mulheres. Percebemos, também, como a subjetividade, como o corpo e como a heteronormatividade são incluídas no discurso. Este manifesto é, também, um chamado radical a ação individual de cada garota, pois elas, com “corpomentecoração”, podem mudar o mundo. Nas frases expostas acima, percebemos que, mesmo se tratando de um manifesto, as palavras proferidas são muito mais próximas de uma “escrita de si” (FOUCAULT, 2006: 144-162), onde a subjetividade é a principal força motora: “PORQUE eu estou cansada dessas coisas acontecendo comigo”, e outras frases do tipo, podem nos remeter ao que foi exposto acima sobre a tri-dimensionalidade do movimento. Ele não é uma coisa só; por ter uma carga muito grande de subjetividade em suas práticas, importa o modo como você é afetada pelo mundo à sua volta. Outro fator perceptível é a utilização de certas categorias, e por isso afirmamos a não adequação do Riot, não desse Riot exposto acima, em uma dita Terceira onda feminista. As ondas feministas não são definidas por um período temporal, mas sim pelo uso, apropriação, significação e ressignificação de teorias. Quanto aos principais conceitos utilizados, não podemos deixar de notar a aproximação da categoria “mulher” e “garota”(girl). Não estão em jogo, aqui, as relações de gênero propriamente ditas, mas o que é ser garota/mulher na cena punk, e isso levando em conta a radicalidade subjetiva que é característica da cena punk. Desta forma, podemos, ainda, aproximar o Riot ainda mais da categoria mulheres, pois, dentro de seus discursos, compreende sua própria heterogeneidade e se coloca, de fato, como algo muito subjetivo, entendendo, assim, diferentes formas de ser mulher/garota. Lembramos que “mulheres” enquanto categoria foi cunhada dentro da prática feminista e da reivindicação de algumas destas mulheres que viam outras variáveis na sua opressão (PEDRO,2005:81). Mulheres negras, pobres e lésbicas não se sentiam representadas naquela mulher pregada no movimento feminista de então. A multiplicidade ressaltada pelo uso da categoria mulheres, foi também aquela ressaltada pelas Riot. A necessidade de se afirmar feminista e radical com uma postura violenta e de enfrentamento tão vívida, na segunda geração, pode se relacionar a diferentes questões pontuais da primeira geração. Contra o senso comum e os ataques que as feministas da primeira geração sofreram: de serem feias, de não se depilarem (principalmente no Brasil, dado que esta estética de depilação não está presente na cultura americana), de serem muito masculinas (MARSON, 1995/1996 : 82). Na ânsia de serem reconhecidas em suas lutas e nos espaços que circulavam, muitas dessas feministas se esforçaram para que fossem visualmente aceitáveis, e assim ao menos fossem ouvidas. A temporalidade da segunda geração é outra, no entanto: os feminismos continuam sendo em grande parte uma alcunha mal vista. A luta anti-sexista sofreu resistência até no meio libertário em tempos muito recentes, conforme aponta o zine “Nem escravas nem Musas” em 2007: Entretanto, ao invés de se adaptarem a algo que seria mais aceitável social e culturalmente, e assim propagar o seu feminismo, essas Grrrls decidiram ser necessariamente inconvenientes, como afirma um recente encontro Riot[22]. Transformar-se, depilar-se, mudar roupas para ser aceita na sociedade, faz parte do sistema de opressão sexista que oprime, principalmente, as mulheres, e esse é um enfrentamento feito pela primeira geração, apontado por ela, mas que em alguns momentos foi abandonado por uma conjuntura de luta. A segunda geração faz mais do que negar o ponto de enfraquecimento da primeira: busca, de forma concreta, restabelecer práticas que ficaram esquecidas no interior dos próprios feminismos. Depois que as feministas radicais da primeira geração afirmaram “Nosso corpo nos pertence”, as feministas radicais Riot parecem dizer que os “nossos corpos nos pertencem e vamos usá-los do jeito que queremos, seja pra chocar ou pra se defender”. Filhas, mães e irmãs[23] Gostariamos de ressaltar, a título de considerações finais desse artigo, a necessidade de aprofundar as discussões acerca da utilização da violência pelas Riots, e como ela está atrelada, não só a uma questão geracional e cultural, mas profundamente ligada a uma questão política vinculada ao anarquismo. Mas este será assunto para outro artigo. Acreditamos que este artigo possibilitou perceber nuances dessas relações geracionais, ora pautadas pelo conflito, ora trazendo permanências relevantes, e que nos ajudem a compreender a história dos feminismos. Entendendo, como em muitos momentos, o que define gerações, as relações entre elas e suas especificidades, remetem a questões particulares enfrentadas no bojo da luta anti-machismo. Essas mulheres, em gerações diferentes, demonstram como práticas de enfrentamento podem ser alvo de autocrítica pelos movimentos feministas, apropriadas, reapropriadas, transformadas em diferentes contextos para que, um dia, os feminismos não precisem mais se defender de seus detratores, e passe a ser, quem sabe, desnecessário em um mundo sem sexismo. Referências Bibliográficas Fanzines: Nem escravas nem musas #1, 2007. Bikini Kill Zine #2. 1991, EUA. Kaostica #3 São Paulo, 1998. Anarcofeminista, anos 90. Livros e Artigos: AGAMBEN, Giorgio. 2007. Profanações. São Paulo: Boitempo. AGANBEM, Giorgio. 2009. O que é um dispositivo o? In:___ . O que é o contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó: Argos. AGUILERA, Samara de las Heras. 2009. Una Aproximación A Las Teorías Feministas. Universitas. 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Possui experiência na área de História, com ênfase em História do Tempo Presente e História Comparada, principalmente no campo dos Estudos de Gênero e Feminismos. Vem atuando na equipe do Laboratório de Estudos de Gênero e História/UFSC como estudante/pesquisadora desde 2006. Atualmente pesquisa acerca das relações de gênero na cena anarcopunk do Brasil e Argentina (1990-2011). Joana Maria Pedro possui graduação em História pela Universidade do Vale do Itajaí (1972), mestrado em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (1979) e doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (1992). Fez pós-doutorado na França, na Université d'Avignon, entre 2001 e 2002. Atualmente é professora titular da Universidade Federal de Santa Catarina. É professora do Programa de Pós-Graduação em História e do Programa de Pós-Graduação Interdiciplinar em Ciências Humanas da UFSC, do qual é a Coordenadora do Programa. É também pesquisadora do IEG - Instituto de Estudos de Gênero www.ieg.ufsc.br Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil República, atuando principalmente nos seguintes temas: feminismo, gênero, relações de gênero, história das mulheres, memória, história oral, história do tempo presente e história comparativa. [1] Cena é um termo êmico, utilizado para designar o conjunto de práticas culturais ligadas pela proposta musical punk ou Riot. Poder-se-ia, ainda, falar em uma cena metal, straidh edge, etc. [2] Zine Libido #01; DIAS, Mabel. Mulheres anarquistas vol.2. São Paulo: Imprensa Marginal, 2011. [3] Riot Grrrl é uma expressão em inglês, amplamente utilizada no Brasil e em outros países. Pode ser traduzida como garota rebelde ou motim das garotas. A utilização da grafia e pronuncia Grrrl, em contraponto ao girl, funciona como um grunido, o som de sua revolta. [4] Contração de fan+magazine, publicação independente de baixo custo e qualidade técnica. Estes são, em geral, feitos de acordo com o lema “faça você mesmo”; assim, todo o processo de construção, cópia e distribuição ficam a cargo daquele indivíduo ou coletivo que se responsabilize pelo mesmo. Pode-se grafar fanzine ou zine para designar o mesmo suporte. [5] É interessante notar como o constante uso dos Correios, o envio por cartas, foi apenas parcialmente substituído pela internet. Alguns indivíduos ligados ao punk continuam a se comunicar através de cartas, mesmo que a prática tenha sido bastante reduzida nos anos 2000 com a proliferação do acesso à internet. [6] Demo ou demo tape, são fitas ou CDs de bandas com músicas inéditas geralmente em faixas únicas ou duplas. [7] Feminismo pró-lifer ou pela vida é um movimento de mulheres que se dizem feministas, mas são contra o aborto. [8] A alcunha de feminismo radical é também utilizada se referindo a feministas francesas do fim dos anos 1970, no entanto lembramos aqui que o termo também foi utilizado pelas feministas norte-americanas. Sendo estas também apontadas como radicais em 1970 lançam, por exemplo, o “Manifesto Radical Feminista de Nova York”(PEDRO, 2009:66) . Em comum as feministas, francesas e norte-americanas, desse período, foram adeptas de um feminismo que afirmava que o patriarcado era o centro da discriminação das mulheres na esfera pública e privada. (WOLFF,PEDRO, 2007:57). Na França, autoras como a Luce Irigaray, Helène Cixous, Christine Delphy e Françoise Collin são nomes ligados ao feminismo radical francês. [9] Letra da banda punk feminista brasiliense, Cosmogonia. [10] Dados do caderno de campo, Rio de Janeiro; conversa na casa de Deborah, em 22 de janeiro de 2012. [11] Talvez o fato se deva à necessidade de um afastamento da historiadora e seu objeto, ou recente propagação da história do tempo presente nas pós graduações brasileiras. [12] São eles: Kaostica, Nem escravas nem musas, Zine anarcofeminista e Bikini Kill zine. [13] Banda punk de mulheres, criada em 1995, e que continua em atividade; suas integrantes editoravam o zine Kaostica. [14] Grafia de acordo com o original. Zine Kaostica #3, São Paulo, 1998. Ver nota anterior. [15] Trabalharei com o conceito de violência de acordo com o apresentado por Hannah Arendt, mesmo que a autora trabalhe o conceito mais ligado às relações no estado, aqui ele pode ser expandido para outras esferas como relações culturais. ARENDT, Hannah. 2007. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense universitária, e ARENDT, Hannah. 1985. Da violência. Brasília: Ed. Universidade de Brasília. [16]http://www.direitos.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1277&Itemid=25 e http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/violencia/violencia.html [17] Patches: são pedaços de tecido geralmente feitos em serigrafias ou de forma manual, DIY, trocados ou vendidos em eventos ligados à cena punk e em poucas lojas. [18] Zine Anarcofeminista, anos 90. Este zine era editado por integrantes do coletivo anarcopunk GRAVIDA (Grupo Anarquista Via Direta de Ação). Disponível para download em http://anarcopunk.org/biblioteca/?p=254 [19]Zine Bikini Kill Zine # 2. 1991. Zine escrito pela banda punk Bikini Kill em Olympia, Washington nos Estados Unidos. [20] Idem. [21] Nem escravas nem musas #1, 2007. Este zine foi feito pelo coletivo feminista ação anti-sexista. Disponível em http://anarcopunk.org/acaoantisexista/uncategorized/232/ [22] Vulva la Vida. http://festivalvulvalavida.wordpress.com/ [23] Título de uma música da banda Dominatrix. labrys,
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