labrys, études féministes/ estudos feministas
juillet / décembre 2013  -julho / dezembro 2013

Um dever de Antígona: o nexo entre feminino e animal na obra de Lima Barreto[1]

Nádia Farage

 

Resumo:
Este artigo constitui uma leitura dos nexos entre o feminino e o animal, estabelecidos por Lima Barreto, tanto em crônica quanto em ficção, buscando iluminar seu diálogo com as teses de tendência naturista e libertária nas duas primeiras décadas do século XX. Assim, diante das posições contrárias de Lima Barreto quanto ao direito de voto e ao trabalho femininos, o artigo avança hipóteses de leitura quanto à centralidade, na reflexão de Lima Barreto, da tese do controle reprodutivo para a sujeição de mulheres e de animais domésticos. Nesta linha, busca demonstrar que, para o escritor, tal simetria terá produzido a solidariedade de mulheres trabalhadoras à causa dos animais naquele início de século.

Palavras-chave: Lima Barreto, naturismo, mulheres, animais, controle reprodutivo


 

All violence is but the agony

Of caged things fighting blindly for the right

To be and breathe and burn their little hour

       (Lola Ridge, Freedom.  Mother Earth, 1911,VI,4:97)

 

Mulheres, cães e um libertário

Estabelecida em 1903, entre outras medidas higienizadoras, a recolha e extermínio de cães abandonados já se enraizara como prática biopolítica na cidade do Rio de Janeiro, em fins da década de dez, quando Lima Barreto  publicou, nas páginas da revista Careta [(20.09.1919, in B.Resende & R.Valença, 2004,II:20], a crônica “A carroça dos cachorros”, que reproduzo em excerto:

“(…)  -- Lá vem a carrocinha! -- dizem.

E todos os homens, mulheres e crianças se agitam e tratam de avisar os outros.

Diz Dona Marocas a Dona Eugênia:

--Vizinha! Lá vem a carrocinha! Prenda o Jupi!

E toda a “avenida” se agita e os cachorrinhos vão presos e escondidos.

Esse espetáculo tão curioso e especial mostra bem de que forma profunda nós homens nos ligamos aos animais.Nada de útil, na verdade, o cão nos dá; entretanto, nós o amamos e nós o queremos.Quem os ama mais, não somos nós os homens; mas são as mulheres e as mulheres pobres, depositárias por excelência daquilo que faz a felicidade e infelicidade da humanidade - o Amor.São elas que defendem os cachorros dos praças de polícia e dos guardas municipais; são elas que amam os cães sem dono, os tristes e desgraçados cães que andam por aí à toa.Todas as manhãs, quando vejo semelhante espetáculo, eu bendigo a humanidade em nome daquelas pobres mulheres que se apiedam pelos cães.A lei, com a sua cavalaria e guardas municipais, está no seu direito em persegui-los; elas, porém, estão no seu dever em acoitá-los.”

 

Dupla é a ambição deste artigo: pretende demonstrar, de um lado, que esta crônica sumariza preocupações éticas e políticas pervasivas na obra de Lima Barreto; de outro, explorar o dever de solidariedade, que Lima Barreto atribui às mulheres e, note-se, às mulheres pobres, com relação aos animais, buscando circunscrevê-lo como tópica das tendências naturistas no interior do anarquismo, à época.

A fortuna crítica de Lima Barreto, a meu ver, não explorou, ainda, em todas as suas implicações, a proximidade do escritor às teses naturistas (A.Prado, 1989). As questões relativas ao gênero na produção literária do autor, por sua vez, têm sido objeto de análise recente (E.Vasconcellos, 1999, entre outros). Não pretendo retomá-las; a leitura aqui empreendida busca, tão somente, o nexo estabelecido entre as imagens do feminino e do animal em sua obra, à luz das teses libertárias abraçadas pelo autor. Em outras palavras, debruço-me sobre a identificação, operada pela crônica, entre mulheres e cães abandonados, na hipótese de que seu solo comum seja a vulnerabilidade de seus corpos frente ao biopoder, por força do controle reprodutivo, de que é alvo tanto o corpo feminino, quanto o das espécies domésticas.

Na ponta da língua

À primeira leitura, como bem mostrou E.Vasconcellos (1999:194), a crônica barretiana é contraditória e, não raro, ofensiva quanto às mulheres. Com efeito, várias crônicas são vazadas de imagens preconceituosas quanto à “inteligência curta” das mulheres que, segundo o autor, as fazia competentes apenas para trabalhos repetitivos, como tocar piano, bordar e decorar poemas :

“(...) Nas salas e salões, desde Botafogo ao Méier, não há quem não admire uma moça que saiba recitar. Todos os meninotes e mais dançarinos de tais paragens ficam embasbacados quando uma menina de olheiras põe-se no meio da sala e diz o “Quisera amar-te (...)” (Careta, 19.02.1921, B.Resende & R.Valença 2004, II:316)

As mulheres teriam, pela matemática, “uma fascinação de ídolo inacessível”, compensando tal déficit por  “um cursivo irrepreensível, com todos os tracinhos, todas as filigranas (...)” (Gazeta da Tarde, 28.06.1911, B.Resende & Valença, 2004,I:93).

Ou, como explicita outra passagem:

 “ (...) As moças são habilíssimas nessas coisas de fazer exames; elas sempre têm a matéria na ponta da língua, elas não se preocupam de achar o nexo entre as noções científicas que absorvem o mundo.A ciência, o saber, a arte, são adornos e enfeites para as suas pessoas naturalmente necessitadas de casamento (...)”[Correio da Noite, 16.03.1915, B.Resende & R.Valença, 2004,I:176]

Em 1921, Lima Barreto [Rio-Jornal, 26 e 27/09/1921, B.Resende & R.Valença 2004,II:422] repetiria, teimoso, sua diatribe contra a repetição feminina:

“[...[] As mulheres têm muita aptidão para a retenção e para a repetição, sobretudo nas primeiras idades; mas não filtram os conhecimentos através do seu temperamento, não os incorporam à inteligência (...) Daí, a sua pouca capacidade de invenção e criação; mas daí também os seus sucessos nos exames e concursos. Tudo está na ponta da língua (...)”

Lima Barreto investiu, entre as décadas de dez e vinte, contra a demanda pelo direito ao voto e ao trabalho femininos, bem como satirizou, sistematicamente, o ativismo de Leolinda Daltro ou Berta Lutz pelo que considerava seu “feminismo de secretaria” (Rio-Jornal, 26 e 27/09/1921, 2004,II:421).  Alinhava-se, assim, a Emma Goldman e a outros pensadores anarquistas do período, que se opunham ao sufragismo; a posição anarquista quanto ao direito ao voto e ao trabalho, foi sumarizada por Goldman em Tragedy of Women’s Emancipation (1906, n.p), em que a autora, levando os argumentos ao extremo, afirma: “(...) A demanda por vários direitos iguais, em qualquer vocação na vida, é justa, mas, acima de tudo, o direito mais vital é o de amar e ser amada (...)”. Contra tal feminismo,  o escritor sublinhava a refração de classe que fazia enganosa a unidade da categoria mulher:

“[...] Certa noite, há três anos, um amigo meu, o engenheiro Noronha Santos, levou-me à Fábrica de Tecidos Rink ..]Havia muitas mulheres junto aos teares e outros maquinismos cujos nomes não sei. Uma delas, porém, chamou-me a atenção: era uma negra velha que, sentada no chão, tinha diante de si um monte de lã, limpa, alva, recentemente lavada quimicamente, e o seu cabelo, o da negra, era já tão branco e encaracolado que desafiava a alvura da lã que estava diante dela. Pergunto: esta mulher precisou do feminismo burocrata para trabalhar, e não trabalhava ainda, apesar de sua adiantada velhice? [0...]” [Rio-Jornal, 26 e 27/09/1921, B.Resende & R.Valença, 2004,II: 420]

Como bem apontou E.Vasconcellos (1999: 230ss), na ficção de Lima Barreto, entretanto, a figuração do feminino é bem mais sutil e, em medida significativa, contradiz as posições assumidas na crônica.  Gostaria de examinar, à partida, Clara dos Anjos (Lima Barreto, 2001:635-748), seu primeiro romance, cujo primeiro capítulo só foi publicado em 1922 [B.Resende & R.Valença, 2004,II:595]. O romance tematiza a sedução de Clara, jovem mulata e pobre, por um tipo desocupado, suburbano, decerto, mas branco e filho de classe média, que porta o nome impagável de Cassi Jones. Interessa-me sublinhar a sedução de Clara, assombrada por inexorável desonra, pois tal sedução é longamente estudada, calculada, como se fora a tocaia de um caçador:

“e[...]scolhia bem a vítima, simulava amor, escrevia detestavelmente cartas langorosas, fingia sofrer, empregava, enfim, todo o arsenal do amor antigo, que impressiona tanto a fraqueza de coração das pobres moças daquelas paragens, nas quais a pobreza, a estreiteza de inteligência e a reduzida instrução concentram a esperança de felicidade num Amor, num grande e eterno Amor, na Paixão correspondida…[…]” {, Lima Barreto, 1922 2001:657}

Note-se que a estreiteza de inteligência, apontada duramente na crônica, aqui comparece temperada de simpatia pela fraqueza de coração. Não se trata de um coração qualquer, é o coração das trabalhadoras, das  “pobres moças daquelas paragens”. 

Ao destinatário suposto, o texto não se detém em explicar, trata-se de um acordo tácito de que o casamento significaria um meio de vida para as mulheres sem recursos e, ainda, que o sexo, fora do casamento, seria desonra, a levar, inexoravelmente, à prostituição, como único meio de vida.

A prostituição encontra-se delineada no romance por outra personagem, uma mulher negra, anteriormente seduzida por Cassi Jones, que termina seus dias nas ruas do Rio de Janeiro, a fim de sustentar o filho que lhe deixou o sedutor. Seu exato contraponto é a vizinha de Clara, uma viúva, de ascendência européia, capaz de repelir os avanços do sedutor à ponta de sua sombrinha. Na sexualidade delineada pelo romance, imbricam-se, assim, cor, classe e gênero e, em seu espectro, a mulata Clara é um ponto médio, cujo destino queda em aberto. Abandonada e grávida, Clara diz a sua mãe: “não somos nada nessa vida”. Esta frase constitui a conclusão abrupta do romance.

Além da reflexão sobre racismo, Clara dos Anjos ensaia uma visada sobre a condição feminina em que, de modo contraditório em relação à crônica, Lima Barreto parece propor que o nada que devora as vidas pequenas e suburbanas de mulheres poderia ser superado, se um passo fosse dado além da esfera doméstica. Nesta linha, a ação da figura da viúva em Clara dos Anjos amplia-se em outro romance, O triste fim de Policarpo Quaresma, na figura da afilhada, Olga que, vinda de um casamento infeliz   –  esta réplica fraca, afinal, da  viuvez –, entra na cena pública, por força da prisão de seu tio Policarpo. Contrariando o marido arrivista, a afilhada visita o tio na prisão, bem como faz sua defesa diante das autoridades: pequeno movimento, decerto, que, no entanto, constitui uma entrada do feminino no espaço público e responde, note-se, pela grandeza humana no romance. Importa reter que tal movimento se faz em nome do amor, não de convicções políticas.

Há que acrescentar outras nuances quanto ao casamento. Em Triste Fim de Policarpo Quaresma, ainda, outra personagem encarna o casamento como nume feminino; Ismênia, rompido o noivado, enlouquece, porque a possibilidade de casamento e, com ela, sua razão de existir, se fora:

“ [...] cada vez mais se embrenhava o seu espírito naquela obsessão de casamento, alvo que fizeram ser da sua vida, a que não atingira, aniquilando-se, porém, o seu espírito e a sua mocidade em pleno verdor (...)” [Triste Fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto (1911) 2001:367]

Em polo oposto, situa-se Edgarda –  em Numa e a Ninfa  – , burguesa que, pela posição de classe, consegue senão escapar, driblar tal destino: Eduarda trai o marido medíocre e interessadamente complacente com o primo e amante, pensador radical e culto que lhe escreve os discursos conservadores para sua bem-sucedida carreira parlamentar.

Desejo sublinhar que se, em Clara dos Anjos, a sedução amorosa se insinua como armadilha de caça, as imagens de fracasso, por excesso ou carência, levam a pensar que, ao contrário do que entrevêem as moças pelas frestas acanhadas de suas janelas no subúrbio, o casamento é, por sua vez, prisão.

O casamento como prisão para as mulheres é, certamente, uma tópica destacada na produção panfletária sufragista, desde a campanha britânica iniciada em meados do século XIX. A sufragista inglesa Frances Power Cobbe , em Wife-Torture in England [(1878), in S.Hamilton, 1995:132-171], uma abordagem pioneira da violência doméstica, ainda em 1878, aconselhava as mulheres que, se dispusessem de meios suficientes, evitassem o casamento, como os pássaros fogem das gaiolas. No quadro do movimento social britânico, tal metáfora operou pela solidariedade de mulheres, em especial sufragistas, em relação aos animais. Com efeito, Coral Lansbury (1985) demonstrou, magistralmente, como, entre fins do século XIX e as primeiras décadas do século XX, tendo por referência pioneira o duplo ativismo de Francis Power Cobbe, o movimento sufragista aderiu à causa anti-vivissecção, reconhecendo que o biopoder atingia, igualmente, o corpo dos animais e o das mulheres pobres, usualmente exibido em aulas públicas; a pornografia da época para tanto concorria, fazendo referência às primeiras mesas ginecológicas, que utilizavam amarras, do mesmo modo que as pranchas de vivissecção, a que eram atados os animais.

No Brasil, nas páginas do Rio Nu, jornal satírico-pornográfico publicado no Rio de Janeiro, já nos primeiros anos do século, a analogia entre mulheres e animais era, igualmente, mobilizada para produzir efeitos picantes. No caso do Rio Nu, sobretudo, a analogia se estabelecia entre prostitutas ou coquetes e o gado bovino, desdobrando-se em uma série de metáforas correlatas: a cópula era designada por “abate”; casas de prostituição eram “abatedouros”; e cáftens, os marchantes (Rio Nu, 25 e 28.02.1903).

 O atributo comum, para a analogia, como se vê, era o consumo de seus corpos, o de mulheres e o de animais domésticos, ambos sob a condição de mercadoria. Este é, certamente, um tema forte no conto Cló (Lima Barreto, 2010:  166-176), quando a personagem homônima, havendo ganho, por intermédio do pai, um vestido novo de um burguês, dança para ele, repetindo, lânguida, o estribilho da canção: "mi compra, ioiô”. Lima Barreto refere-se, por vezes, ao nexo entre mulheres e animais, dizendo as primeiras “rebaixadas a condição de coisas, animais domésticos”, mas vários outros textos sugerem simetria entre mulheres e animais domésticos, cuja condição comum é uma ambígua domesticidade,  que supõe, a um só tempo, convívio e servidão.

A causa comum

É sobejamente conhecido o resíduo de natureza que o realismo literário, no século XIX, atribuiu à mulher, imagem que foi radicalizada e medicalizada, subsequentemente, pelo naturalismo, conforme apontou F.Süssekind (1984:120-150; veja-se também S.Carrara, 1996).  Evoquemos, tão somente, L.Tolstoi, de quem Lima Barreto foi leitor assíduo (F.A.Barbosa,1981:311), em dois de seus retratos femininos: Ana, em Ana Karenina, e Natasha, em Guerra e Paz. Ana Karenina, a judiciosa Ana, conhece a paixão – aquela que lhe “inflama o sangue nas veias” – e torna-se coquete… O impulso alegre e expontâneo de amor torna-se, ato contínuo e textualmente inexplicado, uma lascívia difusa, sem alvo certo. Sem alvo certo quer dizer todo alvo, é o que se vê na passagem em que Natasha, em Guerra e Paz, demonstra seu desejo a Pedro que, ainda casado, a repele com perplexidade. A disciplinarização de tal transbordamento, que não ocorre no caso de Ana – o excesso de paixão é uma linha de fuga só interrompida pela morte -, se verifica em Natasha, a quem o ímpeto juvenil para o sexo e o amor é disciplinarizado pelo casamento e, sobretudo, pela maternidade: Natasha se transforma em uma parideira gorda e avarenta. Honesta, porém.[2]

Claramente, tais retratos propõem, entre outros aspectos, o problema do controle da fertilidade feminina. Não obstante o molde tolstoiano de sua ficção, Lima Barreto, a meu ver, escolhe politizar o controle da fertilidade feminina, no quadro da pensamento libertário.

 Em uma famosa crônica de 1915, intitulada Não as matem, faz uma corajosa defesa daquilo que o pensamento social anarquista, à época, designava por amor livre, contra os crimes motivados por adultério, frequentes no país:

“[...] O esquecimento de que elas são, como todos nós, sujeitas a influências várias que fazem flutuar as suas inclinações, as suas amizades, os seus gostos, os seus amores, é coisa tão estúpida, que só entre selvagens deve ter existido.Todos os experimentadores e observadores dos fatos morais têm mostrado a inanidade de generalizar a eternidade do amor. Pode existir, existe, mas, excepcionalmente; e exigi-la nas leis ou a cano de revólver, é um absurdo tão grande como querer impedir que o sol varie a hora do seu nascimento.Deixem as mulheres amar à vontade.Não as matem, pelo amor de Deus! “(Correio da Noite, 27.01.1915, B. Resende & R.Valença, 2004,I:169)

Ainda em 1915, Lima Barreto levanta, em crônica, o tema tabu do aborto, em conexão à reprodução fora do casamento:

“Este caso da parteira merece sérias reflexões que tendem a interrogar sobre a serventia da lei [...]Acontece que sua intervenção foi desastrosa e lá vem a lei, os regulamentos, a polícia, os inquéritos, os peritos, a faculdade e berram: você é uma criminosa! Você quis impedir que nascesse mais um homem para aborrecer-se com a vida!Berram e levam a pobre mulher para os autos, para a justiça, para a chicana, para os depoimentos, para essa via-sacra da justiça, que talvez o próprio Cristo não percorresse com resignação.A parteira, mulher humilde, temerosa das leis, que não conhecia, amedrontada com a prisão, onde nunca esperava parar, mata-se.Reflitamos, agora: não é estúpida a lei que, para proteger uma vida provável, sacrifica duas? Sim, duas, porque a outra procurou a morte para que a lei não lhe tirasse a filha. De que vale a lei? “  (Correio da Noite, 07.01.1915, B. Resende & R.Valença 2004, I:141)

Em “Os matadores de mulheres” (Lanterna,18.03.1918, B.Resende & R.Valença, 2004, I:325), abordando, mais uma vez, os assim chamados crimes de honra, o escritor sustenta o direito feminino ao controle de seu poder reprodutivo, afirmando, sem rodeios:

“(...) Por exemplo, este Senhor Faceiro, que, ontem ou anteontem, matou a mulher, porque teve a franca, a franca franqueza orgulhosa de dizer que a sua gravidez era do seu amor e não dele, não me merece a mínima piedade; mas há tantos outros que eu estimo...Adiante.A mulher não é propriedade nossa e ela está no seu pleno direito de dizer donde lhe vêm os filhos (...)”

Lima voltaria outras vezes ao tema, como nessa crônica sem data precisa, mas, certamente, do ano de 1920, em que reprova Evaristo de Moraes, advogado que, apesar de sua trajetória socialista, aceitara a defesa de um assassino da própria esposa:

“O liberal, o socialista Evaristo, quase-anarquista, está me parecendo uma dessas engraçadas feministas do Brasil, gênero professora Daltro, que querem a emancipação da mulher unicamente para exercer sinecuras do governo e rendosos cargos políticos, mas que, quando se trata desse absurdo costume nosso de perdoar os maridos assassinos de suas mulheres, por isto ou aquilo, nada dizem [...] O crime em si não me interessa, senão no que toca à minha piedade por ambos; mas, se tivesse de escrever um romance, e não é o caso, explicaria, ainda me louvando nos jornais, a cousa de modo talvez mais satisfatório. (...)  [(A.B.C.,1920) B. Resende & R.Valença, 2004,II:252]

Tais excertos bem ilustram a interlocução de Lima Barreto com as teses anarquistas, em particular das tendências naturistas, em que a matrifocalidade, o controle da concepção e o amor livre, liberado das amarras institucionais do casamento, constituíram temas fundamentais, sobretudo nas duas primeiras décadas do século, quando vários periódicos naturistas são editados na Europa e nas Américas.  No Rio de Janeiro, no mesmo ano de 1915, o periódico naturista libertário Na Barricada defendia a divulgação de contraceptivos, à época criminalizados, tanto quanto o aborto:

O que é preciso que se diga desassombradamente é que, na classe burgueza, são usados todos os processos conhecidos para evitar a concepção. Umas senhoras por higiene, outras por comodidade, outras ainda para conservarem concentradas as fortunas ou para não se privarem dos prazeres mundanos, o que é certo é que quasi todas evitam a concepção, limitando o numero dos filhos. Portanto, só por hipocrisia e por calculo, é que se póde pretender prohibir a divulgação desses processos entre as classes proletarias, que são os que fornecem os escravos do salariado e os soldados, ou a carne para os canhões.(Na Barricada, 1915,6:101-104)

A conexão com as teses naturistas enquadra, ainda, o debate sobre controle reprodutivo sob a controvérsia mais ampla do controle demográfico, uma vez que o naturismo libertário foi, em larga medida, influenciado pela tese neo-malthusiana de que a reprodução humana descontrolada levaria ao desastre global.  Em que pesem suas diferenças teóricas, naturistas e feministas anarquistas, nas primeiras décadas do século XX, lançaram-se à campanha pela educação sexual das mulheres, pela contracepção e pelo que então designavam por “maternidade consciente” (M.Rago, 2008:9-18; G.B.Levai,2013).  Tratava-se de não fornecer “escravos e carne para os canhões do sistema capitalista” (H.Havel, 1911,10:316).

Sob tal ângulo,  iluminam-se  as posições de Lima Barreto. Como libertário, ele, consistentemente, negou que o direito ao voto ou o direito ao trabalho levassem à libertação feminina. Um aspecto relevante de sua reflexão seria, antes, o controle da própria fertilidade, ponto em que, a meu ver, consistente também com outros autores naturistas do período, o pensamento de Lima Barreto conecta e politiza as figuras do feminino e do animal, apontando, em ambos os casos, a domesticidade como escravidão, baseada no controle de seus poderes reprodutivos.

Volto ao romance Clara dos Anjos. Se Cassi Jones, o sedutor desenhado por Lima Barreto, é um perverso, o dêitico de sua perversidade é a rinha de galos: Cassi Jones era rinheiro, ou seja, criava e negociava galos de rinha, “o bicho mais hediondo, mais antipático, mais repugnantemente feroz que é dado a olhos humanos ver” (Clara dos Anjos, Lima Barreto, 2001:651). Galos malaios, “rixentos e malsãos”, são a extensão metonímica do sedutor:

“[...]Incapaz de um trabalho continuado, causava pasmo vê-lo cuidar todas as manhãs daqueles horripilantes galináceos, das ninhadas, às quais dava milho moído, triguilho, examinando os pintainhos […]Fosse se deitar a hora que fosse, pela manhã lá estava ele atrapalhado com os galos malaios e sua descendência de frangos e pintos (…)” (Lima Barreto, 2001:651)

Incapaz de paternidade, o sedutor apresenta uma espécie de fertilidade masculina invertida, alimentando e criando aqueles que ele levará ao sofrimente e à morte. Este tema, a meu ver, preside, ainda, o conto “O Caçador Doméstico”, em que um aristocrata decadente criava cães de caça e os açulava contra as aves domésticas da vizinhança; seu destino foi morrer estraçalhado por seus cães, tal como os “incautos frangos” (Lima Barreto, 2001:1187-88).

Não será, também, uma fertilidade perversa a que o autor vê na produção de animais para consumo? Com efeito, Lima Barreto parece ter acompanhado, atento, o escopo da reprodução de animais, com surpreendente detalhe, como se vê nesse breve apontamento:

“[...] possui, dizia, um número da Gazeta de Uberaba em que há uma entusiástica crônica sobre a chegada de reprodutores zebus.Lia-a, guardei-a, porque nunca vi tão entusiásticas palavras aplicadas a tristes touros com missão determinada e rigorosa, destino que bem pode ser agradável, mas não deixa por isso de ser aborrecido, visto ser um tanto coercitivo . Correio da noite, 14.01.1915, in B. Resende & R.Valença, 2004, I:151-152)

Tal fertilidade perversa perpassa as crônicas enfeixadas em “Hortas e Capinzais”, que utilizam referências da agricultura e da zootecnia para a sátira. Vejamos o seguinte trecho, da crônica intitulada Criação de gado, de 24 de janeiro de 1920:

“[…] Temos agora, até, sobre a mesa, duas cartas muito interessantes que, não tratando absolutamente de coisas estritamente agrícolas, merecem, contudo, ser levadas ao conhecimento dos leitores.A primeira é do doutor Fausto Ferraz que expõe por alto a criação de bois em gaiolas de canários, e a outra é do comandante Frederico Vilar que descreve em linhas gerais um processo novo aperfeiçoado de se obter cardumes de sardinhas dentro de uma corriqueira talha d’água.Diz o doutor Fausto Ferraz que é muito simples o seu processo e muito barato porquanto pondo-se os bois em gaiolas ou em viveiros de reprodução de canários, quando se os quer procriar – neste caso um  touro e uma vaca – eles logo saltam para os poleiros, dão para cantar, chilrear e trinar, comer alpiste e folhas de couve ou alface, como se pássaros fossem.Está a entrar nos olhos de toda a gente, como os métodos de criação de gado vão ser revolucionados, e também como o tratamento dos rebanhos vai exigir despesas mínimas.[...]O boi sai da gaiola de flecha e bambu ou de madeira e arame, para o matadouro. […]” (Lima Barreto, 2001:978-979)

Acompanha de perto esta crônica, como sua variante, a impressionante “Plantação de galinhas”, que trata de um método moderno, alemão e científico – o que, decerto, vem a dar no mesmo -, de cultivar galinhas:

“[…]  Vejam só no que se refere à criação de galinhas. Até hoje, não temos dado um passo, enquanto a Alemanha, conforme observou o operoso Cincinato Braga já conseguiu transformar essa simples indústria doméstica em uma grande fonte de renda, dando a ela o aspecto de uma grande atividade industrial.Nós continuamos a criá-las caseiramente, fazendo ninhos de palha, em que elas choquem os ovos; alguns, mais adiantados, usam mesmo incubadeiras aquecidas a álcool ou a petróleo; os alemães, porém, desprezam esses métodos obsoletos e vulgares e plantam as referidas galinhas.O processo do plantio é o mais simples possível. Consiste ele em enterrar a galinha, depois de uma postura de uma dúzia de ovos, numa cova de vários metros de profundidade. Ao fim de dois meses, a ave germina e, ao completar dez, nós temos um arbusto frondoso que nem um pé de jabuticaba, dando galinhas gordas ao cabo de ano e meio. Podem ser feitos enxertos convenientes.Convém usar-se adubos de primeira qualidade e o indicado como mais próprio é a terra dos cemitérios.[…”  (Lima Barreto,2001:997-998).

Detectamos aqui, obviamente, o riso escarninho de Lima Barreto diante de uma elite provinciana, deslumbrada pelas novas tecnologias, e pelo cientificismo que as acompanhavam. Tal é o aspecto que ressalta, ainda, na novela As aventuras do doutor Bogóloff , em que um imigrante russo, depois de tentar, infrutiferamente, cultivar um trato de terra no sul do país, busca a sorte na capital federal e a obtém, porque é branco, letrado e estrangeiro. A um ministro basbaque oferece o projeto de diminuir drasticamente o gado bovino, com o que é agraciado com o cargo de diretor da pecuária nacional  e verbas condignas.A personagem do doutor Bogóloff reaparece em “Numa e a Ninfa” (2001:495), novamente propondo a diminuição do gado, bem como, note-se, sua multiplicação rápida, em larga escala, e ainda mais radicalmente, a “completa extração dos ossos”, que transformaria “em carne no animal vivo”, todas técnicas derivadas da ciência de H.G.Wells !

Deste modo, a atenção redobrada de Lima Barreto aos processos de diminuição e multiplicação de animais, bem como a referência à teratologia científica tematizada por H.G.Wells em A Ilha do Dr Moreau, leva-me a sugerir que o fulcro de tais textos parece, antes, se encontrar na incidência do cientificismo sobre a vida dos animais; nesse sentido, a diminuição do gado, a criação em gaiolas, o cultivo de galinhas, constituem caricatura premonitória da produção industrial de animais, que se sucederia, propriamente, décadas depois, após a II Guerra, quando a sintetização dos agrotóxicos e das vitaminas vieram permitir o confinamento estrito dos animais (R.Harrison, 2013).

Os sintomas da produção industrial já estavam dados, entretanto, no confinamento em pequena escala, nos métodos de matança (veja-se W.Cronon, 1991; J.V.Gomes Dias, 2009), bem como na sobrexploração do animal, sob a tríplice acepção de trabalho, meio de produção e produto, que os naturistas libertários combateram arduamente, entre fins do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX, na convicção de que a exploração capitalista, igualmente, os vitimava, trabalhadores e animais. Na produção periodista e panfletária dos naturistas, de diferentes tendências, as condições abjetas do criatório de animais foram, desde sempre, denunciadas, ao lado das condições abjetas do trabalho nas minas, nas fábricas, no campo ou na cidade.  A concepção de uma unidade política-existencial entre trabalhadores e animais só viria a se acirrar durante a primeira guerra, quando a carne para os canhões tornou-se a realidade terrível para milhões.

Sob a bandeira do retorno à natureza, como forma de combate radical ao capitalismo, o naturista carioca Eugênio George, nos anos vinte, denunciava as formas vigentes do criatório animal, baseadas no confinamento e na aglomeração de animais; mais do que isso, estabelecia a conexão necessária entre a degradação de toda a vida animal, a do animal humano inclusive, no contexto industrial. Assim,  perguntava o autor (E.George,1927a:35):

“(...) Para que podem servir thesouros disputados, na velocidade dos expressos e das aeronaves, por mumias vivas, minadas pelas peiores enfermidades e destinadas á morte prematura? E os progressos da architectura, manifestados na construcção de predios de muitas dezenas de andares, colossaes viveiros onde se amontoam milhares de individuos, privados de contacto com a Natureza, condemnados ao estiolamento e ao infortunio? [...]”

Não surpreende, portanto, o laivo amargo de Lima Barreto, ao se referir à terra dos cemitérios como melhor adubo para o cultivo de galinhas. O escritor afirmaria explicitamente, à mesma época:

“[…] podemos afirmar que os animais irracionais, desta ou daquela forma, entram mais na nossa vida do que supomos. É sobre seu sofrimento, sobre suas próprias vidas que nós erguemos a nossa.” (Lima Barreto, 2001:1020)

Busquei apontar, em trabalho anterior (Farage, 2011), que a unidade humano-animal, teorizada pelo naturismo, constituiu, historicamente, metáfora operativa que desencadeou a solidariedade aos animais – notadamente, as espécies domésticas em espaço urbano – na resistência biopolítica de trabalhadores no começo do século XX. Além da circulação de tais idéias, por meio de panfletos e periódicos naturistas, a obra de P.Kropotkin terá, em larga medida, contribuído para tanto, ao postular a solidariedade entre as espécies. Transposta ao ambiente urbano e fabril, tal solidariedade terá se ancorado na luta contra a crueldade e a hiperexploração das espécies domésticas.

A inspiração kropotkiana, na visada de Lima Barreto às relações sociais entre humanos e animais, pode-se entrever, em outra passagem de Contos e Histórias de Animais :

“Quando, há meses, estive no Hospital Central do Exército, e vi em uma sua dependência, em gaiolas, coelhos de olhar meigo e cobaias de grande esperteza, para pesquisas bacteriológicas, lembrei-me daquele “Manoel Capineiro”, português carreiro de capinzais da minha vizinhança, que chorou, quando, certa vez, ao atravessar a linha da estrada de ferro com o seu carro, a locomotiva matou-lhe os burros, a “Jupepa” e o “Garoto”.-“Antes fosse eu! Ai mô gado – disseram-me que pronunciara ao chorar.Na sua manifestação ingênua, o pobre português mostrava como aquelas humildes alimárias interessavam o seu destino e o seu viver…” (Lima Barreto, 2001:1020)

Podemos, assim, retomar a crônica de que partimos, em que as mulheres, no subúrbio do Rio de Janeiro, se empenham em defender cães da sanha exterminadora do Estado. Construída sobre os compromissos libertários do autor, a crônica opera o reconhecimento de uma semelhança, que produz a solidariedade entre a condição feminina e aquela do animal, ou, nos termos do autor, o amor. 

Detenho-me, finalmente, nesse dever de amor. Lima Barreto disse, certa vez, que todo pedante nestas plagas tem sua Grécia; ainda que corando, não resisto a traduzi-lo por um dever de Antígona, a que preferiu cumprir seu dever de amor, descumprindo a lei. Que outra coisa fazem as “pobres mulheres que se apiedam pelos cães”, quando afrontam a guarda municipal, para salvar-lhes a vida?

O ensaio clássico de J.S.Mill (1995:77), sobre a sujeição das mulheres, afirma que, se o julgamento feminino é afetado por simpatias pessoais, isto se deve ao fato de que sua socialização as tornava estranhas aos interesses mais amplos ou moralmente mais elevados, em suma, à cena pública.

Sugiro que Lima Barreto, a partir do horizonte libertário, que vimos examinando, inverte tal leitura, fazendo da solidariedade, do vínculo moral e individual à convivialidade extensiva aos animais, uma tarefa que garante a humanidade.  Alijadas da esfera pública e do poder, ao contrário do que supunha S.Mill, as mulheres portariam, para Lima Barreto, o potencial de tal transformação.

“Tente amor”, disse Grace Potter (1906, n.p ), nas páginas de Mother Earth, em 1906: reivindicava, assim, o amor por bandeira política, antes que experiência individual. Nessa linha, penso que Lima Barreto propõe fazer da experiência do amor generalizado, interespecífico, o projeto político para um mundo futuro igualitário. Ao leitor cético, responde o próprio escritor:

“Estamos sempre dispostos a ver no passado lutas; por que não havemos de ver solidariedade?” (Correio da Noite, 21.01.1915, in B.Resende & R.Valença, 2004,I:160)

 

Referências citadas

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Nota Biográfica:


Nádia Farage
é docente no Departamento de Antropologia, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, UNICAMP. Autora de As Muralhas dos Sertões: os povos indígenas no rio Branco e a colonização (1991, Paz e Terra/ANPOCS) e artigos em história e etnografia do norte-amazônico, desenvolve, ultimamente, pesquisa sobre as tendências naturistas no anarquismo no Brasil, no início do século XX.
 


[1] Este artigo é parte de um projeto mais amplo de pesquisa sobre o naturismo libertário no Brasil moderno, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Agradeço a meus orientandos; a Joanna Overing, Margareth Rago e Paulo Santilli, pela interlocução inspiradora.

[2] Para a primeira década do século, não se pode deixar de elencar as preocupações similares de Franz Kafka, em Um Relato para uma Academia, em que um símio, tornado humano, relata sua transformação ao círculo científico. O resíduo, nesta transformação total, é o brilho selvagem nos olhos de sua fêmea, que ele não consegue suportar.

 

 

labrys, études féministes/ estudos feministas
juillet / décembre 2013  -julho / dezembro 2013