labrys, études féministes/ estudos feministas
juillet /décembre / 2014  -julho/dezembro 2014

 

Perspectivas feministas na interface com o processo de pesquisa-Intervenção-pesquisa com grupos no campo Psi

Karla Galvão Adrião

 

Resumo

Pretendo discutir aqui alguns princípios que orientam o trabalho de pesquisa intervenção em grupo articulados com alguns princípios feministas pós-estruturais – aspectos de caráter epistemológico, metodológico; ético e político (Haraway, 1995; Butler, 2003; Scott, 1999; Anzaldúa, 2005; Piscitelli, 2008; Nogueira, 2011) no campo psi, a partir de experiências em pesquisa-intervenção desenvolvidas no nordeste do Brasil. Proponho estas reflexões em três momentos: a) sobre o trabalho com grupos, b) sobre uma perspectiva feminista de trabalho com grupos em pesquisa-intervenção- pesquisa, a partir dos seus aspectos epistemológico, metodológico, ético e político, c) últimas notas reflexivas sobre a interface psicologia, pesquisa-intervenção-pesquisa e trabalho com grupos.

Palavras-chave: teorias feministas, trabalhos com grupos, pesquisa-intervenção, juventude

 

Abstract

I intend to discuss some principles that guide the work of intervention research with groups articulated with some post-structural feminist principles - aspects of epistemological, methodological, ethical and political character (Haraway, 1995; Butler, 2003; Scott, 1999; Anzaldúa, 2005; Piscitelli, 2008; Nogueira, 2011) in the psichology field through experiences in northeast Brazil. I propose these reflections into three stages: a) working with groups; b) a feminist perspective to work with groups in research-intervention- research from its epistemological, methodological, ethical and political aspects, c) reflectivity notes on the interface between psychology, intervention research and research-work with groups.

Key-words: Feminist Theories, working with groups, participatory action reserch, Youth

 


1. Apresentação

Pretendo discutir aqui alguns princípios que orientam o trabalho de pesquisa intervenção em grupo articulados com alguns princípios feministas pós-estruturais – aspectos de caráter epistemológico, metodológico; ético e político (Haraway, 1995; Butler, 2003; Scott, 1999; Anzaldúa, 2005; Piscitelli, 2008; Nogueira, 2011) no campo psi[1]. Estou ciente da tensão epistemológica que esta escolha inicial traz, pois alguns dos/as autores/as os/as quais farei referência lançam mão de conceitos que não se filiam à vertente pós-estrutural. Apesar disso, opto por dialogar com os/as mesmos/as, tendo em vista sua importância no campo de debate sobre grupos, e dentre estes destaco Martin Baró e Paulo Freire[2].

Este debate que proponho será realizado à luz de um percurso de “pesquisa-intervenção-pesquisa” numa perspectiva feminista, que se deu através das experiências com mulheres e homens jovens, estudantes de graduação, de pós-graduação e com os/as jovens das comunidades as quais trabalhei(amos) ao longo de quatro anos nos grupos Muda e Ação Juvenil, integrantes do Laboratório de Estudos da Sexualidade Humana (Labeshu) do departamento de Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco.

O termo “pesquisa-intervenção-pesquisa” é uma tentativa de construção de um significante que marque discursivamente a busca de um fazer contínuo e que trate de um continuum que sela a coalizão entre pesquisa e intervenção. Nestes termos, não há um início nem um final pré-demarcados, ou seja, a pesquisa não é o início, assim como tampouco a intervenção é a conclusão de um processo. Antes, pesquisa e intervenção atuam reflexivamente e co-participativamente como dispositivos que possuem especificidades, mas que necessitam um do outro no cotidiano dos fazeres, saberes e poderes.

 Para percorrer esse trajeto proponho um olhar a partir das histórias que carregamos e que nos carregam. Quero tratar aqui de algumas dessas histórias, refletindo a partir da epistheme feminista pós-estrutural, para a qual os discursos são elemento central, ação comunicativa que produz realidades e desigualdades. Interessa articular essas relações discursivas, entendendo as condições de produção e os efeitos de sentido dos discursos, em uma relação micro-macro política.

Trabalhamos[3] numa perspectiva implicada de ciência na qual a Experiência é um marcador analítico e metodológico para compreender o encontro entre pesquisadora e interlocutor/a da pesquisa-intervenção-pesquisa. Tomo Joan Scott como norte desse posicionamento. A autora diz que

            Experiência é, ao mesmo tempo, já uma interpretação e algo que precisa de interpretação [...] é, não a origem de nossa explicação, mas aquilo que queremos explicar [...] interroga os processos pelos quais os sujeitos são criados e, ao fazê-lo, reconfigura a história e abre novos caminhos para se pensar a mudança (Scott, 1999: 48).

Ao trazer a experiência como processo interpretativo e produtivo das subjetividades, a autora recoloca o encontro entre pesquisadora e interlocutor/a, de forma tal que a experiência da pesquisa-intervenção-pesquisa é coproduzida naquele momento de (re)encontro com as nossas próprias experiências e as da comunidade com a qual trabalhamos. A este encontro denominamos processo de pesquisa-intervenção-pesquisa, num continuum no qual a pesquisa produz elementos para a intervenção, que retroalimenta a pesquisa e assim sucessivamente.

A experiência do lugar de pesquisadora nos posiciona, realçando as diferenças entre nós e as nossas interlocutoras/comunidade, demarcando de onde falamos, e evidenciando as relações de poder subjacentes, numa tentativa de que este encontro produza interlocuções e não um realçamento das desigualdades.

Tendo dito isto gostaria de dividir estas reflexões em três momentos: a) sobre o trabalho com grupos, o que são e como nos mobilizam; b) sobre o que denominamos de uma perspectiva feminista de trabalho com grupos em pesquisa-intervenção- pesquisa, a partir dos seus aspectos epistemológico, metodológico, ético e político, c) últimas notas reflexivas sobre a interface psicologia, pesquisa-intervenção-pesquisa e trabalho com grupos.

2. Refletindo sobre Grupos...

            Regina Barros (2009) ao refletir sobre o “grupo enquanto afirmação de um simulacro”, aporta o debate a partir da de uma “proveniência do “objeto” grupo” ao longo da história ocidental, de forma a desnaturalizá-lo e lançar questionamentos sobre um termo que, de tão usual e cotidiano, caiu num quase vazio conceitual. A autora aponta que, no século XX, o grupo é tido como “intermediário” entre o indivíduo e a sociedade.

“Ainda que o vocábulo groppo ou gruppo tenha surgido pela primeira vez no século XVII, como designação de uma forma artística de retratar um conjunto de pessoas, foi no século XVIII que o termo se expandiu para significar uma reunião de pessoas” (Barros, 2009: 77).

A autora aponta ainda que o groppo, durante o período do renascimento, era um espaço coletivo de reposicionamento das relações até então intermediadas pela instituição igreja católica. Nesta época, alguns fenômenos contribuem para a formação de um campo propício aos pequenos agrupamentos e ao modo-indivíduo: a nuclearização da família, o desenvolvimento da noção de indivíduo, o advento da Revolução industrial e a valorização dos espaços privados em detrimento dos públicos (idem: 78).

Nesse campo de saber-poder uma tensão se constitui: o modo-indivíduo, no qual o homem-indivíduo era a finalidade de tudo encontra-se com a tentativa de deslocamento do foco de interesse para a sociedade com a linha das massas. Nessa confluência de linhas, nos aponta a autora, é que foi se configurando o grupo, não mais como um conjunto de pessoas, mas como uma instituição, com número restrito de participantes, tendo em vista marcar o enquadre de trabalho. Surge também nessa época a noção de círculo, que é mantida até hoje nos trabalhos de grupo, seja por buscar uma horizontalização/democratização das relações entre os/as participantes, seja por buscar distribuir o campo do olhar do coordenador[4] do grupo para todos os participantes igualmente. O grupo se erige entre teorias sociológicas e psicológicas, numa tentativa de solucionar a dicotomia indivíduo-sociedade. Entretanto, questiona-se a autora se o grupo conseguiu romper com os dualismos, proporcionando encontros ou, ao contrário, terá sucumbido a um “antagonismo substancializador do indivíduo e/ou da sociedade?” (Barros, 2009: 79).

            Ana María Fernandez (2006), ao buscar discutir sobre o campo grupal, destaca que o vocábulo grupo surge no momento de constituição da subjetividade moderna. Sua etimologia remete a “um número restrito de pessoas associadas por algo em comum” (Fernandez, 2006: 25, grifos da autora). Além do termo círculo, supracitado, esta autora aponta mais um termo definidor dos grupos: a figuração , que indica uma interrogação sobre o que faz nó, destacando também os necessários enlaces e desenlaces desses nós por parte dos integrantes do grupo.

Inspiro-me na autora, quando esta aponta a necessidade, não de definir o que sejam os grupos, mas de fornecer instrumentos para pensar uma teoria do que fazemos quando instituímos grupos. Uma teoria do que fazemos e não do que existe, ou seja, de como se constroem os conhecimentos sobre o grupal. Este texto caminhará por estas trilhas, no sentido de aportar um conhecimento sobre a prática que estamos desenvolvendo no Labeshu, através dos grupos Muda e Ação juvenil.

Em minha/nossa experiência nesses espaços e atuação grupal, nos aportamos em Martín-Baró (apud Martins, 2003), que utiliza o termo processo grupal em detrimento dos termos grupo ou dinâmica de grupo. Compreende “processo” como experiência histórica que se constrói em um determinado tempo e espaço. Martin-Baró reflete, no processo grupal, sobre a inserção de cada sujeito na sociedade, e na forma como as relações acontecem no cotidiano. Além disso, para o autor, as contradições que surgem no grupo revelam aspectos da sociedade. Afirma ainda que grande parte da prática profissional do psicólogo, principalmente aquela pautada numa perspectiva psicossocial, tem o envolvimento do trabalho com grupos.

O percurso do trabalho no Muda será trazido no próximo tópico. Antecipo uma das reflexões produzidas coletivamente neste grupo: a noção de “trabalho com grupos”. Este vem em contraste aos termos “trabalho em” ou “de grupos”. Essa diferenciação marcou o posicionamento que os/as facilitadores/as acreditavam que deveria ser assumido frente a/os participantes. Distanciamo-nos das posturas de neutralidade e direcionamento comumente assumidas por coordenadores de trabalho em grupos. Mas também nos percebemos em posições distintas em relação aos demais integrantes, diferenciando da concepção do trabalho de grupos. (Coelho, Mello, Adrião, no prelo). Nossa concepção de grupo dialoga com o exposto por Emerson Rasera e Rita Rocha (2010), como espaço coletivo de trocas, convívio e interação, onde o psicólogo assumiria as funções de escutar, cuidar e mediar.

O trabalho com grupos pressupõe que o/a facilitador/a seja considerado/a como membro do grupo, entretanto, guardando o posicionamento e o lugar de fala distintos. Ou seja, apesar de buscar facilitar um processo participativo no qual as relações de poder sejam minimizadas e a possibilidade de voz seja alternada entre os/as participantes, é importante lembrar que existem experiências de alteridade que não devem ser “escondidas” ou anuladas. As diferenças de classe, gênero, raça entre as/os participantes da comunidade e a equipe da universidade existem e exigem responsabilidades de forma que o encontro entre estes dois grupos permita a confluência de experiências participativas e transformadoras.

 Mesmo que o/a profissional transite entre essas duas posições (facilitador-participante), seu papel no grupo é bem definido e, ao participar das técnicas propostas, suas atribuições específicas, enquanto facilitador/a permanecem (Mello, 2013). Para isso, conta-se com a sensibilidade, atenção e cuidado do/a facilitador/a para que o/a mesmo/a saiba em que momento assumir o lugar de participante ou de facilitador (Coelho, Mello, Adrião, no prelo). Percebe-se um movimento em que o(a) facilitador(a) transita entre essas posições, o que possibilita a construção de relações mais horizontais com os(as) jovens participantes.

Mayara Mello (2013) reflete, amparada em Rosiska Oliveira e Miguel Oliveira (1985) sobre a inserção do/a facilitador/a, a partir do lugar de pesquisador/a. A questão que se coloca é a de que, quando este/a atua em um contexto sociocultural que não corresponde à sua realidade é importante buscar ser aceito aos poucos, de forma que não se torne um intruso. Para isto, é importante que o/a pesquisador/a seja reconhecido/a como alguém que vem de outro contexto e que propõe realizar um trabalho em parceria com o grupo. Quando o/a pesquisador/a é reconhecido/a apenas como mais um membro do grupo, ele/a perde a sua função.

A inserção do pesquisador estaria sustentada então por uma constante tensão entre o risco de uma identificação demasiada com os demais os participantes e a necessidade de estabelecer um espaço que possibilite uma reflexão crítica sobre o processo. [...] o objetivo é possibilitar uma compreensão crítica do processo de mudança do grupo, no intuito de assumirem posições autônomas e conscientes de seus papéis de atores sociais (Mello, 2013: 21).

Na perspectiva de trabalho com grupos, a oficina é a ferramenta que possibilita a construção de conhecimentos que repercutem nos processos de subjetivação dos/as participantes, permitindo novos posicionamentos e deslocamentos operados no grupo. Segundo o Novo Dicionário Aurélio Eletrônico (Ferreira, 2004), a oficina significa, no sentido figurativo, “lugar onde se verificam grandes transformações”. Nestes termos, as oficinas são um espaço concreto no qual o trabalho com grupos se efetiva. Este trabalho repercute e aponta possibilidades de novas formas dos participantes se perceberem e se posicionarem com relação aos outros e ao mundo. Nestes termos, a pesquisa intervenção tem sido a perspectiva teórico-metodológica que psicólogos e cientistas sociais tem utilizado para trabalhar com comunidades e grupos.

Principalmente embasados numa perspectiva Freiriana (Freire, 1985; 1987), os estudos e as intervenções em pesquisa-intervenção partem do questionamento às pesquisas tradicionais que se destacam por tratar de uma dicotomização entre ciência e política e à consequente inviabilização de uma participação efetiva de grupos sujeitados nos rumos da sociedade (Moraes, 2008; Rocha, 2006; Oliveira; Oliveira, 1985, dentre outras).

A pesquisadora, nessa visão, apresenta-se como uma intelectual orgânica às causas populares, e a pesquisa-intervenção se traduz em um método potencializador na organização de espaços de participação coletiva. Política e educação, política e organização de comunidades constituem-se em relações possíveis para reflexões sobre transformação social.

No cenário latino-americano, noções como educação e cultura popular, participação e autonomia ganham relevo e orientam as ações dos trabalhadores sociais, em espaços como escolas comunitárias e em diferentes iniciativas nos campos da saúde e da moradia. Voltadas à construção de alternativas ao sistema formal/estatal, tais experiências acompanham mudanças em curso nos movimentos sociais - aqui em particular o feminista - e apontam para intelectuais-pesquisadores/as estabelecidos/as em universidades e organizações não-governamentais, novas formas de organização e de produção do conhecimento.

O entendimento de que as questões sociais devem ser problematizadas com os grupos e as organizações populares, a consideração da necessária contextualização das questões e ações empreendidas e a complexidade dos processos de mudança, próprios do referencial básico das pesquisas participativas, aparecem como elementos fundamentais à construção e ao exercício de uma cidadania ativa.

 

3. A intervenção com grupos e a perspectiva feminista em pesquisa-intervenção-pesquisa

 

Contando histórias...

As duas histórias que me mobilizaram a refletir sobre o processo de trabalho com grupos são as experiências de constituição dos grupos MUDA e Ação Juvenil, como apontei anteriormente. A primeira destas deu-se a partir de um projeto na clínica escola da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) para o atendimento de mulheres e homens jovens residentes no entorno do Campus Recife. A prerrogativa era a de construir um espaço de alteridade em que estes/as jovens pudessem construir saberes sobre direitos sexuais e direitos reprodutivos, através de oficinas semanais facilitadas pelas integrantes do Muda. A palavra Muda significa mudança, muda de uma planta, silenciamento...

A polissemia do termo foi produzida em uma oficina de formação da equipe, momento este de constituição das perspectivas teórico-metodológicas do trabalho. O Muda é composto por estudantes de graduação de Psicologia e Ciências Sociais, e dois professores do Departamento de Psicologia. A vivência neste grupo orientou-se pelos modelos de trabalho com grupos que eu vinha desenvolvendo há alguns anos atrás quando fiz parte de uma ONG e trabalhei com homens jovens. Além dela, a reflexão sobre minhas vivências no movimento feminista e no espaço acadêmico levaram-me a deslizar os saberes-poderes feministas para a experiência de trabalho com grupos. Esta não poderia ser uma experiência solitária, e sim uma produção coletiva. O cotidiano no Muda promoveu-me este espaço de confluência que descreverei aqui.

O cotidiano do trabalho com grupos nos levou a indagações sobre os processos grupais, particularmente sobre o poder e a voz no/do grupo. Refletindo sobre grupos subalternos (Spivak, 2010) nos questionamos sobre “Qual a opinião dos/as jovens sobre seus contextos comunitários e suas vivências dos/nos mesmos?”; “qual nosso lugar de facilitadoras/pesquisadoras nesse processo?”. Nossas leituras de teóricas Feministas nos indicaram conceitos chave para aprofundarmos estas e outras questões: as relações de poder, as relações micro-macro, o conceito de reflexividade como construção de alteridade.

“Neste percurso reflexivo que construí(amos), nos interessava refletir sobre alguns dos aspectos que as epistemologias e metodologias feministas vem apontando. Particularmente, as críticas feministas à ciência, identificando uma ausência/invisibilidade da mulher na ciência e questionando outras invisibilidades de realidades e sujeitos. Além disso, reflete-se, nessa perspectiva, sobre as metodologias através da localização nos processos participativos e reflexivos, nos quais os posicionamentos do pesquisador e o rever contínuo de cada etapa do processo, de forma crítico-reflexiva, devem ser tomados com centralidade. Nestes termos, Donna Haraway (1995) propõe um projeto que utilize a objetividade corporificada, ou seja, uma “objetividade feminista (que) significa, simplesmente, saberes localizados” (Haraway, 1995: 18).

A partir dessa perspectiva, nos questionamos sobre “como investigar/interagir com realidades invisibilizadas?

” Diante dos desafios trazidos/produzidos com as críticas feministas, seria reducionista pensar metodologias como procedimentos técnicos. O desafio que se apresenta aqui é o de dialogar com sujeitos ‘sem voz’ e de traçar caminhos metodológicos que nos possibilitem ouvi-las." (Spivak, 2010).

Após dois anos de trabalho com o Muda, fiz parte da composição de uma equipe de pesquisa-intervenção que construiu a proposta do projeto “Diálogos para o desenvolvimento em SUAPE”[5], região submetida a um processo de “desenvolvimento social” com diversos problemas de exclusão social. O projeto “Ação Juvenil” propunha-se a trabalhar, com jovens (mulheres e homens) de 14 comunidades, as formas pelas quais se processam a (des)igualdade de direitos pela atribuição valorativa hierarquizada aos marcadores de gênero, de sexualidade, de classe, de raça/etnia.  A construção de um trabalho com um viés feminista e participativo calcava-se na perspectiva de trabalho com grupos. Montamos uma equipe de estudantes de graduação e pós-graduação em psicologia, ciências sociais e antropologia que, trabalhando em parceria com o grupo MUDA, iniciou uma expertise em pesquisa-intervenção-pesquisa com grupos. Marcada e posicionada por estas duas histórias, produzi(mos) as reflexões que seguem.

 

3.1. Alguns aspectos epistemológicos

Os estudos em psicologia numa orientação feminista e participativa consolidados no Brasil trazem novas reflexões, que têm como uma de suas metas salientar a relação entre discurso científico e discursos do senso-comum, percebendo os jogos de força e poder e as possibilidades de trânsito de conhecimento.

São caminhos de reflexão e pressupostos analíticos e metodológicos de pesquisa-intervenção-pesquisa, refletir sobre o Poder e a voz do/no grupo – subalterno, através da pergunta: Qual a opinião e a implicação na construção e no processo de pesquisa intervenção pesquisa dos/as jovens? Entendemos que jovens de universidade (nossos e nossas alunas) se encontram com jovens da comunidade e este encontro produz novas possibilidades de atuação, para todas nós...

Para isso, nos amparamos no caminhar teórico do que denomino de perspectiva feminista de trabalho com grupos. Gostaria de me ater um pouco a alguns elementos: as relações de diferenças e desigualdades, as relações de poder e as tensões micro e macro políticas.

Joan Scott (2005) destaca em seu texto “o enigma da igualdade”, como uma questão de diferença pode se tornar desigualdade, e como esta experiência pode ser compreendida por quem está no foco da tensão, como algo da ordem individual para, um pouco depois ser englobada enquanto causa grupal. Os movimentos sociais, em destaque os feministas trabalham justamente nesta interface individual-grupal.

Estou aportada na perspectiva que discute que as diferenças não são problemas em si, mas apenas quando se constituem em desigualdades. Judith Butler (2003) discute como as normas de gênero/sexo/sexualidade/desejo/práticas sexuais são reiteradas, repetidas à exaustão, de forma a perpetuar práticas desiguais e excludentes. Estas, por sua vez, se calcam em relações de poder que se performatizam parodísticamente, tendo em vista que o sistema sexo/gênero/desejo é uma ficção discursiva em “corpos que pesam”.

Outra autora importante, para a compreensão das tensões micro relacionais e macro políticas, e de como elas se engendram é Gayatri Spivak (2010). A autora discute sobre a possibilidade do sujeito subalterno poder falar. Questiona o discurso oficial e marcado pela noção de sujeito europeu, de forma a dar relevância às tensões produzidas por uma discussão teórico-política marcada por uma teoria eurocentrada, que, por sua vez, irá conformar discursivamente corpos e subjetividades. Estas tensões são marcadas na ordem binária de produção de desigualdades, com destaque para as questões de classe e território, em particular a relação entre primeiro e terceiro mundo, dando ênfase aos processos de colonização dos países de terceiro mundo, e de como estes instauram uma forma de viver, marcada por relações de poder desiguais.

Concordo com Spivak de que é trabalho da pesquisadora/facilitadora questionar esses saberes-poderes instituídos que produzem exclusões epistemológicas. De forma tal que a relação pesquisadora/facilitadora interlocutora da pesquisa/participante marque a possibilidade de discussão das desigualdades e exclusões que (re)produzem o silenciamento da fala subalterna.

 

3.2. Alguns aspectos teórico-metodológicos

 

Como apontei antes, o trabalho com grupos que gostaria de refletir aqui, parte das experiências do Muda e do Ação Juvenil. Esta tem como referencial teórico-metodológico a proposta de uso de técnicas de teatro e corporais (Mccarthy; Galvão, 2001), em uma perspectiva que relaciona as noções de desenvolvimento participativo e das relações de poder. A participação equânime é apontada como fator principal para auxiliar no desenvolvimento e transformação social dos grupos. Aponta-se que esse desenvolvimento é percebido como um processo que parte das vivências dos/as próprios/as participantes do grupo, relacionada à capacidade dos/as próprios/as jovens de refletirem sobre suas condições de classe, de gênero, de raça e de geração, sendo as oficinas o espaço para refletirem sobre suas experiências e possibilidades de voz e agenciamento diante das problemáticas cotidianas. A participação, como facilitadoras/es e pesquisadoras/es, estaria voltada para oferecer as ferramentas necessárias a esse processo, ou auxiliá-los/as nessa busca.

Com relação ao poder, este está ligado à noção de transitar entre estar com mais ou menos poder e à falta ou ausência de espaços para exercício deste poder (Mccarthy; Galvão, 2001). O espaço dos grupos deve ser um facilitador do agenciamento desse poder, de forma que possibilite uma capacidade organizacional nas pessoas, para que elas possam exercer prioridades decididas por elas mesmas.

Ao longo desse caminho, surgem inquietações que nos ajudam a situar e delimitar esse fazer. São algumas delas: Qual o lugar das facilitadoras/es? De que lugar ela/ele se posiciona? Qual é a proposta de relação entre facilitadoras/es e as/os participantes? As respostas para esses incômodos indicam como será a postura das facilitadoras durante todo o processo, as intervenções a serem realizadas e como as relações com os(as) participantes serão estabelecidas.

Estas indagações apontam percursos quanto ao método que passou a orientar a prática com grupos. Três noções são delineadoras desse fazer: a voz, a participação do/no grupo e a organização da oficina em foco, energia, objetivo e número de participantes.

A voz do/no grupo tem sido questionada e discutida por algumas teóricas como possibilidade de exercício de poder e agência. Discuto sobre esta voz a partir do que Julie McCarthy e Karla Galvão (2001) trazem sobre “quem fala” e “quem cala” no grupo. Geralmente as mesmas pessoas falam no grupo, enquanto as outras assumem a posição passiva de expectadoras. As técnicas utilizadas nas oficinas buscam reverter essas posições normatizadas, abrindo possibilidade para experiências singulares de maior participação coletiva. A organização da oficina a partir do foco e da energia tem o intuito de possibilitar esse percurso.

As técnicas de foco baixo tem o objetivo de trabalhar a integração do/no grupo e, com isso, não direcionar a atenção para um único ou poucos participantes. Indicam-se técnicas de foco alto quando os participantes compartilham de uma intimidade e/ou se conhecem a um determinado tempo. Já o referencial de energia se refere à quantidade despendida pelos participantes para a realização de cada técnica. Caso seja necessário que o grupo esteja mais concentrado para desempenhar alguma atividade ou técnica, pode-se antecipar alguma técnica de energia baixa. Para cada técnica há uma indicação de número mínimo de participantes, no entanto adequações podem ser feitas. Deve-se selecionar uma técnica tendo clareza de que seu objetivo está consonante com o objetivo da oficina (Mccarthy; Galvão, 2001; Mello, 2013). Este último é definido a partir da demanda do grupo.

Durante as primeiras oficinas é feita uma sondagem com o grupo, de forma a perceber seus interesses temáticos. Estes são relacionados às questões de interesse da equipe de trabalho. Em geral, o trabalho de grupo segue a perspectiva feminista de debater/refletir sobre as diferenças que levam a desigualdades e às práticas regulatórias que reiteram as normas que excluem. Nesse bojo questões relevantes tratadas tem sido as dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos, da matriz sexualidade/gênero/sexo/desejo, das violências, da cidadania, dentre outras que os/as próprios/as participantes coloquem.

Importante destacar que estas questões são tratadas a partir de um olhar interseccional (PiscitelliI, 2008). Neste, não há como tratar de uma categoria sem lançar mão das demais que intersubjetivam as experiências dos/as participantes, de forma tal que o trabalho se dê sem que haja uma sobreposição de categorias, mas uma relação de compreensão complexa de como as micro relações e macro políticas se dão nas vidas das pessoas.

Glória Anzaldúa (2005) apresenta uma perspectiva da diferença interseccional e a relaciona a uma proposta política de coalisão dos sujeitos da exclusão. A teoria da identidade “mestiza” é apresentada como uma possibilidade teórico-política às versões do capitalismo dominante. Nessa perspectiva, versões críticas para um hibridismo cultural são enfatizadas e identidades chicanas, lésbicas e queers são redefinidas.

María Elena Torre e Jennifer Ayala (2009) trazem ainda um conceito importante para compreensão dessa inter relação entre categorias/marcadores de diferenças, amparadas em Gloria Anzaldúa e no que a autora vai relatar sobre a ideia de ‘mestiza’, que relaciona uma marca sócio-cultural-étnica. A mestizagem é trazida por Anzaldúa para discutir como as relações de poder impõem às mulheres latino-americanas uma posição minoritária. A busca de encontro entre pesquisadoras e facilitadoras do primeiro mundo com as do terceiro mundo não escapa a estas marcas de desigualdade. Torre e Ayala (2009) apontam que é possível buscar um ‘entre-nós’, um ‘entremundos’ que alce um encontro de alteridade, que não esconda as desigualdades, mas, ao evidenciá-las e trazê-las para o primeiro plano no momento do encontro, que estas possam promover um outro encontro de possibilidades de transformação social para ambas, facilitadoras/pesquisadoras e interlocutoras.

 

3.3. Alguns aspectos ético-políticos

As noções de reflexividade, criticidade e posicionamento (Neves; Nogueira, 2005; Haraway, 1995), advindas de uma perspectiva feminista téorico-metodológica, imbricam-se numa teia discursiva na qual a própria noção de ciência é recolocada e instada a posicionar-se politicamente. As relações de saber-poder alçam o primeiro plano, nas prerrogativas do percurso do pesquisador/a e, portanto, também de quem facilita grupos.

Nestes termos, as três noções supracitadas tornam-se um exercício cotidiano, que visa sustentar/refletir/construir as posições de facilitador/a, pesquisador/a e participante, na perspectiva de trabalho com grupo.

O ato de ser reflexivo diz respeito a uma atenção contínua, por parte do facilitador/a, de refletir sobre o processo no qual está inscrito, sobre seu lugar no grupo, suas ações e a interface das mesmas com as próprias ações dos/as participantes do grupo. A criticidade se relaciona com a reflexividade à medida que é preciso estar atento/a ao que se faz, sempre tendo em vista qual o objetivo, com quem se está trabalhando e o ‘porque’ das ações realizadas. A reflexividade a criticidade também auxiliam, enquanto ferramentas metodológicas, no processo de visualização de possíveis falhas na posição de facilitador/a e de pesquisador/a junto ao grupo, de forma tal que, quando elas são identificadas, possam ser contornadas a partir de um posicionamento atento e crítico-reflexivo (Mello, 2013).

O posicionamento vem alinhavar a confluência destas três noções de forma que elas se coarticulem. Inspiradas na noção de saber localizado de Donna Haraway (1995), questionamos a ideia de ‘objetividade’, acreditando ser mais importante reconhecer e tornar evidentes as posições do que buscar uma ‘inalcançável objetividade neutra’. A/o facilitador/a e a/o pesquisador/a é convocado/a a se posicionar ética e politicamente, sempre refletindo e criticando as próprias ações/reflexões. Torna-se, então, mais fluida a possibilidade de visualização das hierarquias e poderes, de forma tal que se abra espaço no grupo para repensar esses jogos de poder e de detenção do espaço de fala.   No trabalho com grupos no Muda e no Ação Juvenil, os lugares de facilitadores/as, pesquisadoras/es, militantes, psicólogos/as, cientistas sociais e feministas estão em constante entrecruzamento. É assumida uma postura crítica que abdica dos mitos da neutralidade e se posiciona de modo a apontar as intencionalidades políticas, trabalhando com as tensões nos/dos discursos e nas/das relações com os/as participantes, a fim de facilitar o processo de transformações do/no grupo. (Oliveira, R.; Oliveira, M., 1985; Mello, 2013).

 

4. Construindo pontes... Últimas notas reflexivas sobre a interface psicologia, pesquisa-intervenção-pesquisa e trabalho com grupos.

Os estudos de Gênero e feministas consolidados no Brasil trazem novas reflexões para a área de interface entre ciência, epistemologias e constituição de subjetividades, mais especificamente para o debate entre psicologia social e epistemologias feministas. Estes têm como uma de suas metas salientar a relação entre discurso científico e discursos do senso-comum, percebendo os jogos de força e poder, bem como as possibilidades de trânsito de conhecimento.

A relação Pesquisa-intervenção – pesquisa em interface com as tensões de saber-poder do campo psi, trazem algumas questões: a) como os sujeitos e grupos subalternos podem tornar-se os/as produtores/as diretos/as ou associados/as do próprio saber; b) o poder de determinação de uso e do destino político do saber produzido pela pesquisa; e c) o lugar e as formas de participação do conhecimento científico (FINE et All, 2006).

Trabalho(amos) nos espaços de grupo com as noções de Reflexividade, Criticidade e Posicionamento como pilares de reflexão contínua para a pesquisadora-facilitadora dos grupos. Assim penso(amos) em um movimento contínuo de pesquisa-intervenção que retorna à pesquisa mais uma vez, em um ciclo, que reinicia a partir de novas indagações. Estas indagações levam-nos continuamente, como equipe de trabalho e pesquisa, a nos encontrarmos com as questões dos grupos de jovens com os quais dividimos o ofício de sensibilização das questões de exploração e desigualdade. Questionamos as relações de poder e colocamos os nossos/deles poderes em xeque.

Ao dar atenção a estas questões, o lugar e o olhar de quem pesquisa e atua nas comunidades, se redimensiona (Spivak, 2010). A experiência de trabalho com grupos numa perspectiva feminista nos coloca num caminho de encontro entre teorias e metodologias no qual a transformação da realidade vivida coloca-se como possibilidade a partir da interação entre o saber acadêmico, em seus diversos campos de conhecimento, e os saberes dos sujeitos individuais e coletivos envolvidos na pesquisa-intervenção-pesquisa.

Nestes termos, objetivei relacionar algumas teorias feministas com trabalhos sobre intervenções com grupos no campo psi, de forma a buscar alguns caminhos de atuação em “pesquisa-intervenção-pesquisa”. O debate epistemológico pós-estrutural feminista tem trazido importantes aportes às pesquisadoras em campo. Talvez a nova mirada aqui tenha sido o convite para transportarmos esse percurso para a atuação com grupos, numa busca de diálogo com autores que nos apresentam, a meu (nosso) ver, possibilidades metafóricas de deslocamento de nossas posições, saindo de uma zona de conforto, para alçarmos (talvez) os mesmos caminhos de antes, com, quem sabe, novos fôlegos.

 

Referências

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biography

Karla Galvão Adrião is a Psychology professor at Federal University of Pernambuco- Brazil, teaching undergraduate and graduate courses. She is a researcher at LABESHU group (Laboratory of human sexuality) at the same university. Her doctorate is in Human Sciences at Federal University of Santa Catarina, and her masters is in Linguistics at Federal University of Pernambuco. She works with feminist theories, gender studies, poscolonial studies; and she is interested in participatory methodologies, groups and workshops, Young people, sexuality and reproductive rights.


 

[1] Este artigo faz parte de reflexões desenvolvidas no âmbito de minha pesquisa pós doutoral, com financiamento da CAPES, entre setembro de 2014 e agosto de 2015 na Pós - graduação em Psicologia– Psicologia social crítica, da CUNY University, NYC, com o grupo de pesquisa-ação-participativa da profa. Michelle Fine.

[2] Apesar da vertente mais humanista destes autores, pesquisadoras feministas que trabalham numa perspectiva pós-estrutural (Fine, M.; Weis, L.; Weseen, S.; Wong, L.; 2001; Torre, M e Ayala, J.; 2009) vem utilizando os mesmos numa tentativa de releitura de algumas de suas discussões, tanto pelo caráter de importância histórica, quanto pela atualidade de alguns de seus conceitos para a reflexão em pesquisa-intervenção. A elas me uno na mesma tentativa.

[3] Nesse texto recorrerei intencionalmente a um aparente choque quanto à escrita dos verbos, uma vez que se encontrará tanto a primeira pessoa do singular ou do plural, quanto a terceira pessoa do singular ou plural. Embora seja priorizada a escrita na primeira pessoa do singular, ao se relatar as experiências dos grupos Muda e Ação Juvenil, trarei o verbo na terceira pessoa do plural, pois as vivências desses espaços são frutos de um conhecimento construído coletivamente.

[4] Este termo é trazido pela autora. Resolvi mantê-lo para destacar a distinção de formas de se nomear e tratar aquele que reflete sobre e organiza o grupo: facilitador, coordenador. Discutirei nos próximos parágrafos sobre a distinção e formas de trabalho em, de e com grupos e o lugar de quem o “facilita”.

[5] O Programa “Diálogos para o desenvolvimento em Suape” é desenvolvido por profs da Pós-Graduação em Psicologia, da Universidade Federal de Pernambuco, e coordenado pelo Laboratório de Sexualidade Humana (Labeshu), através do prof Luis Felipe Rios. Conta com diversas parcerias e é composto por diferentes projetos. Tem como objetivo buscar condições e possibilidades de compreensão e intervenção sobre os impactos da instalação dos empreendimentos do complexo portuário-industrial de Suape (subregião da região metropolitana de Recife, que inclui os municípios de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca) para a população local. Esta região tem recebido crescentes investimentos econômico-industriais que têm exercido impactos sobre as desigualdades sociais e econômicas da região e de sua população, em particular crianças e jovens.

 

labrys, études féministes/ estudos feministas
juillet /décembre / 2014  -julho/dezembro 2014