labrys,estudos feministas

número 3, janeiro/ julho 2003

 

Ciência e tecnologia no mundo pós-colonial e multicultural: Questões de gênero [1]

Sandra Harding

Tradução: Elisabeth Carneiro

Revisão : Marie-France Dépêche

Resumo:

Não há um feminismo único ou monolítico, ou ainda, não há uma maneira preferencial de se fazer análise de gênero. Há três décadas a ciência e os estudos tecnológicos feministas refletem a diversidade das situações das mulheres ao redor do mundo a partir das quais emergem questões sobre as ciências e tecnologias. Quais os aspectos centrais que surgem da realidade norte-americana e européia? Quais as diferentes inquietações que se depreendem dos movimentos de mulheres no “Sul”? Este ensaio explora tais questões indagando quais as novas direções que se destacamdesses relatos.

Palavras-chaves : Feminismo, gênero, estudos em ciência e tecnologia, movimentos de mulheres.

    Introdução.

Presumia-se que o método das ciências modernas ocidentais gerasse fatos objetivos, de valor neutro, ou seja, fatos desinteressados sobre a ordem da natureza. Entretanto, as análises feministas mostraram como esses métodos e fatos têm sido permeados por valores e interesses generizados. Para ser mais precisa, isto tem ocorrido em níveis e diferentes maneiras, em ciências diversas[2].

Todavia, maneiras padronizadas de conceituar e praticar o método científico não viablizaram a neutralidade cultural na pesquisa, tanto em seus princípios, quanto na prática. Ademais, análises de gênero têm mostrado como, em pelo menos alguns contextos de pesquisa, a neutralidade é indesejáve pois a cultura é também produtora de conhecimento, não somente um obstáculo a ele. Ao se fazer ciência, pode-se influenciar  o que conhecemos sobre o mundo.

Este trabalho tem gerado inúmeras controvérsias desde seu início. Isso, porque as ciências e tecnologias modernas ocidentais (CTMO) e suas lógicas são centrais para os ideais de modernidade, democracia, progresso e “civilização”. Esses ideais ajudam a constituir as identidades individuais e sociais, bem como as concepções do que se considera como as missões importantes e legítimas.

Desafios a esses ideais, feitos em nome das mulheres, podem parecer impertinentes, arrogantes, equivocados, e até mesmo profundamente incômodos. No entanto, essas perspectivas de gênero na ciência têm se tornado cada vez mais relevantes, influenciando até mesmo as agendas políticas nacionais e internacionais nas áreas da saúde, meio ambiente, educação e nas políticas desenvolvimentistas do terceiro mundo. Nesse sentido, elas vêm representando uma força significativa nas renegociações correntes dos ideais de modernidade, democracia, progresso e “civilização”.

A mudança científica e tecnológica é sempre objeto de uma luta política. Quais os grupos que receberão os benefícios e quais vão sustentar os custos dessas mudanças? Além disso, quando relações de gênero são renegociadas, outras formas significativas de relações sociais sempre estarão presentes, tais como de classe, raça, sexualidade e poder.  Conseqüentemente, as perspectivas de gênero sobre a mudança científica ou tecnológica sempre terá implicações nessas outras áreas da luta social.

As seções abaixo identificam temas centrais dos interesses da Europa e América do Norte e de outros que provém das vidas das mulheres no mundo considerado em desenvolvimento ( do “Norte” e do “Sul”)[3]. A seção conclusiva propõe pistas em muitas direções pelas quais o trabalho nesse campo poderá se projetar.

Um cuidado antes de dar início a esses projetos. Não há um feminismo monolítico ou singular ou, ainda, uma maneira preferencial de realizar as análises de gênero. Os termos “feminismo” e “gênero”, ambos, têm significados múltiplos e usos diversos. As escolhas de quando usar que termo e que sentidos atribuir a eles são sempre controversas.

Como um começo, podemos notar que “gênero” pode ser usado de duas maneiras. Pode se referir a objetos do estudo empírico que estão “fora” dali, dados previamente à observação do(a) pesquisador(a), ou seja, homens e mulheres, e às relações sociais simbólicas e estruturalmente generizadas, ou à estrutura analítica que os(as) pesquisadores(as) constroem em seus trabalhos – para estudar como indivíduos generizados, estruturas sociais, e sistemas de significação são socialmente produzidos.

Os dois enfoques têm sido importantes para as ciências e os estudos tecnológicos feministas. Como indicado, nos dois casos o gênero deve ser entendido sempre em uma relação de constituição mútua com a classe, a raça, a etnicidade, a sexualidade e outros sistemas socio- simbólicos e estruturais.

2. Estudos de ciências e tecnologia feministas (ECTF) no hemisfério norte.

 Na Europa e nos Estados Unidos, essas análises têm sido produzidas sob a influência de mais de três décadas do movimento das mulheres e, durante o mesmo período, dos estudos de ciências sociais e tecnologias pós-positivistas. Estes últimos têm procurado mostrar a ligação dos momentos da ciência moderna do passado a suas épocas e sociedades, ao invés de relacioná-los unicamente às suas histórias intelectuais, tal como apontou o historiador Thomas Kuhn . (Kunh 1970). Dessa forma, as análises feministas indicam como as ciências modernas têm estado integradas às relações de gênero em suas épocas históricas. O foco aqui estará dirigido no sentido de identificar alguns temas importantes em cinco tópicos que parecem especialmente prolíficos, mesmo que desanimadores: a discriminação sexista e androcêntrica dos processos e resultados da pesquisa científica, as estruturas sociais das ciências, a ciência da educação, a constituição da tecnologia e das epistemologias e filosofias da ciência.

O sexismo científico. Nossos Corpos, Nós mesmas:

O Guia da Saúde das Mulheres de Boston foi publicado em 1970. Essa iniciativa pioneira do movimento pela saúde das mulheres revelou a ignorância como norteadora das relações entre médicos e pacientes assim como das políticas do complexo médico-industrial. Ao contrário das advertências convencionais sobre as influências nocivas da política no desenvolvimento do conhecimento, foi feita uma coalizão de cientistas e ativistas políticas feministas, para lançar este novo eixo de pesquisa. Evidentemente algumas políticas podem contribuir ao avanço e desenvolvimento do saber.[4]

Ao mesmo tempo, biólogas feministas começaram a criticar as demandas da sociobiologia sobre a naturalidade da subordinação das mulheres à dominação masculina. Um grupo organizou os programas “genes e gênero” nos encontros anuais da “American Association for the Advancemente of Science” (SBPC americano N.T.) e produziu alguns dos primeiros estudos sobre gênero e ciência. (Tobach and Rosoff 1978, 1979, 1981, 1984) Biólogas feministas e o movimento da saúde das mulheres tornaram-se forças expressivas e poderosas dos estudos científicos feministas.(Fausto-Sterling 1994/1985, Clarke 2000)

Enquanto isso, as críticas dos métodos e resultados androcêntricas e sexistas de pesquisa na história e nas ciências sociais também começaram a aparecer. (Harding 1987) Estas forneceram recursos para lutas políticas e públicas. Por exemplo, o sistema legal dos Estados Unidos lentamente foi forçado a reconhecer a necessidade de assumir uma posição feminista a respeito do estupro, do abuso doméstico, do assédio sexual, da igualdade do valor das mulheres no trabalho e de um certo padrão de racionalidade feminino ("rational woman" standard) nos casos de responsabilidade civil. A pesquisa nas ciências sociais se debruçou sobre as lutas das mães lésbicas, pais omissos (deadbeat dads), salários ou a remuneração pelo trabalho doméstico das mulheres. Igualmente significativos eram os modos pelos quais esse trabalho revelava inadequações empíricas e teóricas das teorias sociais em cada disciplina.

Na medida em que as ciências naturais passaram a reconhecer suas histórias sociais, esse trabalho passou, também, a influenciar histórias, sociologias e filosofias da ciência e tecnologias vincadas pelo gênero. Inclusive, modelou estudos das ciências que se presumia serem imunes às influências culturais, tais como a física e a astronomia nas origens da ciência moderna. (Merchant 1980, Schiebinger 1989, 1993), a química de Boyle (Potter 2000), a física e a biologia de início do século XX (Keller 1984), a física de alta-energia contemporânea (Traweek 1988), e biologia molecular (Spanier 1995).

Estruturas sociais discriminatórias.

Com início no século dezenove, os críticos tinham depreciado a discriminação contra meninas e mulheres na estrutura social da ciência, da matemática, da medicina e da engenharia. (Rossiter 1982, 1995, Schiebinger 1989, 1993) Essas lutas estavam longe de concluídas nos idos de 1970. A formação dos núcleos das mulheres nas disciplinas das ciências sociais e naturais e das organizações das mulheres nas universidades e na indústria  levaram adiante essas campanhas.

Hoje, quando as barreiras formais contra o acesso das mulheres à ciência e à educação de engenharia, aos diferentes degraus, à publicação, contratos laboratoriais e  aos conselhos das sociedades científicas são finalmente ilegais na Europa, nos Estados Unidos e em muitas outras partes do mundo, permanece desafiador identificar e , então, eliminar as poderosas e constantes fontes de discriminação. A MIT Women and Science Report (Relatório sobre Mulheres e Ciência do Massachusetts Institute of Technology 1999) gerou levas de confronto em muitas das elites científicas e departamentos de engenharia, tendo revelado os caminhos pelos quais as normas generizadas da sociedade, incluindo as expectativas de obrigações das mulheres na família, continuam a discriminar em diferentes modos as mulheres tanto mais ou menos jovens da MIT.

No mundo em desenvolvimento, a falta de recursos econômicos e de serviços de assistência social para as famílias sinaliza para o fato de que as obrigações domésticas acarretarão na saída das meninas das escolas, muito antes de obterem qualquer educação científica ou, para algumas, sem que obtenham sequer alfabetização básica. Por outro lado, muitos países que não os do Norte têm uma proporção muito maior de mulheres nas faculdades científicas e nas agências de políticas científicas nacionais do que nos Estados Unidos ou nas nações européias ocidentais. E isso não é sempre um resultado do ativismo feminista. Ao contrário, para se entender as causas dessa variação, é preciso prestar atenção aos fatores diversos, inclusive aqueles referentes às políticas nacionais em tecnologia e ciência, bem como às oportunidades diferentes que são disponibilizadas para os projetos de ciências das nações na economia política global  (Harding and McGregor 1996, Koblitz 1996)  [5]

Educação científica.

 A eqüidade, quanto mais cedo é praticada, aproxima-se em direção ao fim da da sub-representação das mulheres e das meninas nas ciências e na engenharia,  pela qual presumia-se que meninas e mulheres eram deficientes para competir nas carreiras desse campo em relação às habilidade e talentos necessários. Elas teriam “ansiedade matemática”, não gostavam de dissecar rãs e tinham carência de capacidade analítica. Trabalhos mais recentes desviaram o foco para deficiências em pedagogia, currículo, e para alvos tanto nas ciências quanto na educação científica. (Brickhouse 1994, Kelly 1981, 1987, Rosser 1986, 1993)

 Talvez, mais salientada ainda tenha sido a emergência de um foco crítico em uma cultura da ciência e em uma educação científica masculinizada, e também em como  o “fazer científico” é uma forma de constituir certos tipos de identidades sociais. Enquanto as identidades que se formam através do fazer científico têm sido masculinas, de maneira convencional, as meninas têm também usado seu prazer em fazer ciência para constituir identidades distintivas e femininas, e também em diferentes formas para meninas de identidades raciais e étnicas diferentes. (Brickhouse 2001)

Este trabalho sobre a educação, oferece recursos para historiadores e sociólogos da ciência em geral. Enquanto isso, há razões para regozijar-se que os esforços pela eqüidade venham tendo êxito, ao menos em muitas salas de aulas de ciências,[6] embora pouco desse sucesso possa ser visível na maioria dos campos profissionais da educação científica. [7]Por exemplo, no sentido mais compreensível do termo, as feministas observaram o “analfabetismo científico” das elites acerca de projetos de gênero da pesquisa científica e suas várias instituições, desde os museus de ciência e tecnologia aos programas de TV dos canais National Geographic e Discovery.  

Gênero e Tecnologia.

 Do início do movimento das mulheres nos anos 70, havia projetos que visavam obter e ampliar o acesso no campo das práticas e aptidões tecnológicas do qual elas tinham sido excluídas. Por exemplo, cursos sobre a manutenção de carros e técnicas de consertos domésticos eram oferecidos nos novos centros das mulheres. Assim, elas eram encorajadas a adentrar os territórios masculinos da construção civil e nas tecnologias de informação emergentes, tanto quanto nas escolas de agricultura e engenharia. Relatos  surgiram de mulheres inventoras.

Mas foi necessária a chegada da análise social construtivista nos estudos tecnológicos para abrir o caminho para entendimentos mais profundos acerca de como as tecnologias, em si, são generizadas. Primeiro, o objeto de estudo deslocou-se da natureza do próprio “hardware”,  para a natureza e os processos de mudança tecnológica, processos que, freqüentemente, constituem lugares onde se entrelaçam  a classe, a raça, o poder, a cultura e, também, as lutas de gênero e, dessa maneira,  participam da emergência de novas formações sociais. Segundo, compreendia-se que tal mudança tinha três componentes: mudanças no “hardware” - o sentido convencional da tecnologia -, nas habilidades requeridas para o desenho, o uso e o conserto do hardware, e na organização do trabalho de quem possui essas habilidades.

Quem pode e não pode desenhar, usar e reparar carros, máquinas de lavar e computadores? Terceiro, explicações sobre as mudanças tecnológicas requerem assim atenção para o fato de como a classe, a raça, a cultura e os projetos de gênero sobre as formações sociais mais amplas instigam a mudança tecnológica. (Cockburn 1985, Noble, 1995, Wajcman 1991) Mais ainda, os métodos científicos são, neles, tecnologias de produção do saber. Nesse sentido, os aspectos sociais da mudança tecnológica permeiam o âmago cognitivo e técnico das ciências . [8]

Androcentrismo epistemológico.

 As epistemologias do conhecimento científico têm sido consideradas culturalmente neutras assim como os avanços da física e da química que elas tentam explicar. Ainda, eram normais os pressupostos e práticas através dos quais as afirmações androcêntricas e sexistas eram legitimadas como objetivas – como a “boa biologia”, sociologia ou psicologia. Os próprios padrões da ciência parecem ser sexistas e androcêntrico. Certamente, é desagradável encontrar sexismos abertos ou encobertos nos comportamentos dos cientistas. Mas esses comportamentos individuais e intencionais não são a causa das crenças e práticas sexistas e androcêntricas identificadas acima. Ao contrário, são os pressupostos, práticas e culturas institucionais, os mais amplos pressupostos sociais e padrões “civilizatórios” ou filosóficos que criam e mantém a legitimidade das colocações científicas, sexistas e androcêntricas[9]. As feministas têm tido que rever e fortalecer os padrões para a objetividade, a racionalidade e bons métodos das ciências. Aqui, eu assinalo dois desses projetos que são orientados pela objetividade e por bons métodos.

Como pode uma ciência maximizar a objetividade quando a adequação de seus pressupostos e práticas está medida segundo a distância entre esta objetividade e o “feminino”, e as características associadas com as mulheres ou a feminidade. De forma consistente, a lógica exemplar familiar de pesquisa científica prescreve o lado masculino (o primeiro abaixo) de uma série de dualismos generizados: objetividade x subjetividade, racionalidade x irracionalidade/ emocionalidade, mente x matéria ou corpo, ciências naturais “hard” x ciências sociais “soft”?}[10]As estudiosas feministas produziram duras críticas de tais padrões e propostas para ambos padrões mais efetivamente neutros e abertamente femininos .[11]

Outro foco tem sido aperfeiçoar os métodos exemplares de pesquisa, no sentido das epistemologias. Os pontos de vista das epistemologias feministas são, talvez, os que mais influenciam estas, emergindo independentemente de sociólogos do conhecimento, dos filósofos políticos e filósofos da ciência e propiciando uma estrutura compreensiva político-epistemológica para se pensar sobre o que e como o conhecimento se produz e se legitima.[12]

 Como uma “reconstrução racional” é proposto que a pesquisa feminista tenha êxito em produzir as análises – que ressoam empiricamente e teoricamente mais compreensíveis – nas ciências naturais e sociais ao começarem a pensar em projetos oriundos das vidas das mulheres, ao invés das estruturas conceituais dominantes das disciplinas que são embasadas nas vidas daqueles homens que desenham e gerenciam as instituições sociais e suas práticas. Tem sido insistentemente colocado que todo o conhecimento é um “conhecimento situado”, como atenta Donna Haraway (Haraway 1991) .

As disciplinas são parte do aparato regulador nas sociedades reconhecidas como modernas e ocidentais, tal como assinala a socióloga Dorothy Smith (1987) . Elas edificam os fenômenos complexos da vida cotidiana em categorias e mapas causais de modo que os administradores possam gerenciar as instituições legais, econômicas, assistenciais, educacionais, médicas e outras agências. As mulheres, tanto quanto os homens dos grupos explorados, têm sido excluídos do mapeamento e gerenciamento de ambos as instituições e os projetos disciplinares que os servem.

Assim, as vidas das mulheres e de outros grupos explorados podem continuar a fornecer um valioso ponto de partida ou posição de sujeito de onde a pesquisa pode ser desenvolvida para revelar “as práticas conceituais de poder”, como observa Smith (1990 a). Nota-se que embora as abordagens dessa posição iniciaram um pensamento baseado nas vidas das mulheres ou de outros grupos explorados, seu objetivo é de promover estudos. O seu aspecto distintivo não é que estudem mulheres, mas que produzem “etnografias institucionais”, por exemplo, da mentalidade legal (MacKinnon 1982), ou das estruturas disciplinares da sociologia (Collins 1991/1999, Smith 1987, 1990a, 1990b), da filosofia política (Hartsock 1983), ou da pesquisa médica / da saúde (Martin 1987).

Em três décadas, as perspectivas críticas feministas sobre as CTMO têm se tornado peças instrumentais significativas no projeto mais geral de repensar a modernidade, a democracia e o progresso social. Todavia, elas permanecem eurocêntricas e “parte do problema” para a maioria dos cidadãos do mundo pelo fato de que elas deixaram de acompanhar as perspectivas críticas das ciências pós-coloniais e multiculturais e dos estudos tecnológicos, às quais agora contemplamos. 

3. Feministas do sul ECT.

As mulheres do Sul requerem tudo da ciência  que as do Norte valorizam, desde um  acesso aprimorado ao trabalho e à educação no campo da ciência e da tecnologia, até um acesso melhor à assistência de saúde e às tecnologias de lugar de trabalho (“workplace”), bem como, no sentido de salvaguardar e tornar prolíficos os ambientes naturais. (Gender Working Group 1995, Kettel 1995, Braidotti 1994, Harding and McGregor 1996, Shiva 1989, L. Smith 1999.) Além disso, as CTMO estão também estreitamente ligadas aos ideais de modernidade, democracia e progresso social entre outros vigentes no Sul.

 Para muitos cidadãos do Sul, como do Norte, começar a pensar em termos do moderno, das ciências internacionais e da engenharia equivale a entrar nas altas esferas das conversações globais e tornar-se cidadão do mundo.Os métodos das  CMO e os fatos que eles produzem são experienciados freqüentemente como uma alternativa bem vista em relação à discriminação tradicional, às simplórias e ineficientes crenças e práticas  no mundo em desenvolvimento.

Ainda, muito da ciência sulista e do pensamento tecnológico, inclusive o trabalho feminista, ocorre no contexto de três movimentos de ciência e tecnologia que emergiram depois da segunda Guerra Mundial. Esses expandiram os horizontes de compreensão das ciências de cada um(a) em todo o mundo e, também, as condições materiais e ideológicas para as conquistas das próprias CTMO. Trata-se do movimento etnocientífico comparativos, o movimento da “ciência e os poderes” e das críticas pós-coloniais das políticas, práticas e filosofias de desenvolvimento do Norte.[13]

O movimento comparativista de etnociência tinha duas metas. Uma foi mostrar o local, as feições culturais das ciências e tecnologias européias ao analisá-las através de métodos que a antropologia desenvolveu para estudar a produção do saber em sociedades não-ocidentais. Outra foi solapar a suposição de “excepcionalidade”, comumente referida como formas de ignorância e crenças falsas - e não a produção de verdades das CTMO -, eram objetos adequados para uma explicação social, e nas suas argumentações, esses relatos insistiam na simetria metodológica no estudo das CTMO e outros sistemas de conhecimento locais, . Com efeito, eles perseguiam no mapa global pós-colonial o projeto do historiador Thomas Kunh de mostrar a integridade de momentos nas CTMO em relação a seus períodos históricos.[14]

Esse projeto resultou no início de um nivelamento no campo de avaliação de realizações das ciências e tecnologias do Sul, este que não pôde mais ser desvalorizado em razão de suas particularidades culturais. (Selin, 1997) Esse projeto foi a centelha que detonou o processo de criação dos ministérios nacionais do conhecimento indígena, de conferências e jornais.[15] Também trouxe a atenção global para os direitos de propriedade intelectual do conhecimento indígena  e para a necessidade de expandir  a “ciência real” a fim de incluir ainda mais elementos do que os estudos de ciência do Norte costumavam ( e desejavam) abrigar.

Esse mesmo projeto também chamou a atenção para as maneiras que as mulheres constroem um ponto de vista distinto sobre a natureza, onde quer que mulheres e homens demarquem diferentes interações com seus corpos e o mundo em volta deles. As mulheres, como os homens, tornam-se repositórios de um conhecimento efetivo e sistemático sobre a natureza, desenvolvido mediante tais interações. Esses saberes devem ser constantemente revistos e revisitados, já que os ambientes naturais e sociais das mulheres mudam, assim como os desertos se expandem, as terras sofrem erosões, os agentes tóxicos permeiam os suprimentos de água e alimento, novas moléstias se disseminam e novas idéias e signos culturais chegam pelas televisões, através de novos vizinhos ou de agências internacionais.

Um segundo contexto para o trabalho feminista no Sul é o movimento entre historiadores que enfoca “ a ciência e os poderes”. A questão central, aqui, são as relações causais entre os dois grandes marcos da modernidade – as “viagens de descobrimento” e a emergência das ciências modernas na Europa. Esses pesquisadores demonstraram como cada um absorveu o sucesso do outro para seu próprio êxito. A expansão européia (seus “Voyages”) demandou o desenvolvimento do que podemos chamar de oceanografia, climatologia e astronomia do hemisfério sul para que as embarcações pudessem chegar às Américas e retornar à Europa.

Os Europeus também necessitaram aperfeiçoar a cartografia e o conhecimento acerca da fauna, flora e geologia desconhecidas nas terras que colonizaram e montaram empresas economicamente lucrativas. Precisaram conhecer as ameaças à vida e à saúde e os remédios para as doenças que encontraram nas novas terras. Em troca, as ciências modernas precisaram garantir a fundação, a manutenção e o transporte que os projetos expansionistas demandavam. O conhecimento sistemático que eles desenvolveram responderam às necessidades do avanço do império europeu. A ignorância sistemática que eles produziram era demarcada pelo desinteresse nas necessidades dos indígenas encontrados e em tudo que não fosse visto como “desenvolvimento” econômico. Isso que nos conduz ao terceiro movimento e às implicações para as mulheres.

Por volta de 1990, tornou-se claro que quatro décadas de políticas desenvolvimentistas produziram somente subdesenvolvimento para precisamente aqueles povos cujos padrões de vida eram previstos de subir – a cerca de 70% -, para os povos mais politicamente e economicamente vulneráveis do mundo, estes que habitavam o Sul. Eram as classes “investidoras” no Norte e seus aliados de vantagens econômicas do Sul que se beneficiaram dessas políticas. Desde suas origens, o desenvolvimento estava concebido como uma transferência das S&T do Norte e sua racionalidade para o Sul.

Assim, as falhas daquele “desenvolvimento” começaram a refletir diretamente nas limitações das S&T do Norte, estas que tinham sido previa e virtualmente invisíveis no Norte (Sachs 1992). As coalizões das feministas do Sul e do Norte trabalharam, a través das organizações governamentais e não-governamentais, dando ênfase ao fato de que desde que as mulheres e suas crianças têm uma representatividade desproporcional nos grupos mais vulneráveis do ponto de vista político e econômico, o desenvolvimento aumentou essa vulnerabilidade da grande maioria das mulheres do mundo (Braidotti 1994).

A expansão européia foi sempre experenciada como uma conquista brutal pelas sociedades que os Europeus encontraram nas Américas, Ásia, Austrália, ilhas do Pacífico e África. No entanto, os entendimentos feministas dos efeitos das políticas desenvolvimentistas do final do século XX  tem iluminado efeitos até agora imprevisíveis para as mulheres das “Viagens de descobrimento”. Hoje, até o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial chegaram a reconhecer tais efeitos. Será que num mundo de desigualdades políticas e econômicas, as WMST devem continuar a aprofundar ainda mais o abismo entre os que têm e os que não têm? 

As abordagens feministas das ciências e tecnologias (S&T) têm ajudado a criar um novo mapa para os habitantes do Norte e suas inquietações. Entretanto, o trabalho de produzir respostas pró-democráticas no plano nacional e internacional a essas preocupações estão ainda por vir. Quais são as direções futuras e possíveis para o trabalho feminista?

4. Direções futuras.

Uma possibilidade em andamento, um projeto difícil tem sido expandir relações frutíferas entre diversos projetos feministas e o trabalho de mulheres cientistas. Muitas das pesquisadoras, estudiosas e ativistas que criaram os projetos feministas de tecnologia e ciência trouxeram suas especializações e preocupações para o trabalho feminista. Contudo, para a maior parte dos cientistas, mulheres e homens, o uso das linguagens suspeitas e pouco familiares da filosofia, da ciência social, das humanidades e das estruturas conceituais, bem como dos temas intelectuais e políticos dos projetos feministas do Sul têm sido considerados intimidadores e alienantes. Mesmo assim, NSF e outras fundações regionais, nacionais e até internacionais têm patrocinado projetos que assistem os cientistas na compreensão e uso de recursos das literaturas feministas para o ensino e para a elaboração de projetos de pesquisa. Duas coleções recentes, fornecem recursos especialmente úteis para tais projetos. (Mayberry, Subramaniam, and Weasel 2001; Wyer et al 2000) Nesse sentido, é particularmente interessante a análise de Lisa Weasel a respeito de como os cientistas poderiam usar o modelo europeu de “Science Shop”, uma espécie de compromisso “pro bono”, para organizar a pesquisa científica a fim de responder às necessidades das mulheres nas comunidades locais (Weasel 2001).

Outro projeto promissor seria seguir a direção do trabalho de Brickhouse no sentido de ampliar as questões no campo da ciência da educação além daquelas de acesso. Como as pessoas aprendem ciência? O que pode ser considerado ciência na arena do K-16? Como poderia o aprendizado do fazer científico contribuir para criar cidadãos investidos tanto nas ciências democráticas quanto nas sociedades democráticas? (Brickhouse 2001)

Finalmente, a emergência das tecnologias da informação que formam a base da economia global, está apenas começando a se colocar em foco nas análises das ciências e tecnologias feministas. Aqui, a preocupação mais óbvia será como barrar seu uso para um futuro “desempoderamento” das mulheres no trabalho. (Mitter, forthcoming; Balka and Smith, 2000.) Um outro tópico seria explorar como os projetos problemáticos da masculinidade são desenvolvidos mediante atividades da realidade virtual. (Hayles 1999?). Um terceiro projeto, ainda imaturamente conceituado, será tentar entender o papel que a emergência de uma sociedade da informação vem exercendo para o “fim do patriarcalismo”, a constituição de movimentos de mulheres e de novas formas de família,  reprodução e  sexualidade (Castells 1997).

Para concluir, as questões das ciências e da tecnologia feministas têm reunido esforços no mundo inteiro por mais de três décadas. Como de hábito, quando as estruturas feministas são utilizadas para se tentar acrescentar as questões de gênero e das mulheres às agendas e às estruturas conceituais consideradas como “neutras” das disciplinas, instituições e do “fazer político” existentes, as dimensões gendradas e as limitações desse “fazer” se tornam visíveis. Os projetos das ciências e tecnologias feministas, com toda sua diversidade, incertezas e conflitos continuarão a fornecer recursos valiosos para as transformações sociais pró-democráticas.[16]

Notas Biográficas:

Sandra Harding é uma filósofa que ensina na Universidade da Califórnia, Los Angeles, na Escola de Estudos Superiores em Educação e Informação. Ela é autora e editora de dez publicações sobre estudos feministas e pós-coloniais em filosofia da ciência e teoria do conhecimento, e co-editora do Journal of Women in Culture and Society. Alguns de seus libros são: The Science Question in Feminism_ (1986), Feminism and Methodology (1987), Whose Science? Whose Knowledge? Thinking From Women's Lives (1991), The 'Racial' Economy of Science: Toward a Democratic Future (1993), Is Science Multicultural? Postcolonialisms, Feminisms, and Epistemologies (1998).  E, ainda, em 2003, The Feminist Standpoint Theory Reader: Intellectual and Political Controversies, e a edição comemorativa de vigésimo aniversário da publicação Discovering Reality: Feminist Perspectives on Epistemology, Methodology, Metaphysics, and Philosophy of Science.

Referências:

American Association of University Women. 1998. Gender Gap: Where Schools Still Fail Our Children. New York: Marlowe & Company.

Balka, Ellen and Richard Smith. 2000. Women, Work and Computerization. Boston: Kluwer.

Boston Women's Health Book Collective. 1970. Our Bodies, Ourselves.

Braidotti, Rosi et al. 1994. Women, the Environment, and Sustainable Development. Atlantic Highlands, N.J.: Zed.

Brickhouse, Nancy. 1994. "Bringing in the Outsiders: Reshaping the Sciences of the Future." Journal of Curriculum Studies vol 26, no. 4, 401-416.

-------- 2001. "Embodying Science: A Feminist Perspective on Learning," in Journal of Research in Science Teaching, Vol 38, no. 3. pp. 282-295.

--------. 1998. "Feminism and Science Education", in International Handbook of Science Education, ed. B.J. Fraser and K.G. Tobin, eds., 1067-82. Boston: Kluwer.

--------, Patricia Lowery, Katherine Schultz. 2000. "What Kind of a Girl Does Science? The Construction of School Science Identities," Journal of Research in Science Teaching, Vo 37, No. 5, pp. 441-458.

Brockway, Lucille H. 1979. Science and Colonial Expansion: The Role of the British Royal Botanical Gardens. New York: Academic Press.

Castells, Manuel. 1997. "The End of Patriarchalism: Social Movements, Family, and Sexuality in the Information Age," 134-242 in The Power of Identity, Volume II of his The Information Age: Economy, Society and Culture. Oxford: Blackwell Publishers.

Clarke, Adele. 2000? Women's Health Movement (?)

Cockburn, Cynthia. 1985. Machinery of Dominance: Women, Men, and Technical Know-How. London: Pluto Press.

Collins, Patricia Hill. 1991/1999. Black Feminist Thought: Knowledge, Consciousness, and the Politics of Empowerment. New York: Routledge.

Crosby, Alfred. 1987. Ecological Imperialism: The Biological Expansion of Europe. Cambridge: Cambridge University Press.

Fausto-Sterling, Anne. (1985) 1994. Myths of Gender: Biological Theories about Women and Men. New York: Basic.

Garcia Selgas, Fernando. Forthcoming. "From Standpoint Theory to Situated Knowledge: Feminist Epistemology for Critical Social Theory in Postmodernity."

Gender Working Group, U.N. Commission on Science and Technology for Development. 1995. Missing Links: Gender Equity in Science and Technology for Development. Ottawa: Interntional Development Research Centre.

Goonatilake, Susantha. 1984. Aborted Discovery: Science and Creativity in the Third World. London: Zed.

--------. 1992. "The Voyages of Discovery and the Loss and Rediscovery of the 'Other's' Knowledge." Impact of Science on Society, no. 167, 241-64.

Hacking, Ian. 1983. Representing and Intervening. Cambridge: Cambridge University Press.

Haraway, Donna. 1989. Primate Visions: Gender, Race, and Nature in the World of Modern Science. New York: Routledge.

---------. 1991. "Situated Knowledges: The Science Question in Feminism nd the Privilege of Partial Perspectives." In Simians, Cyborgs, and Women. New York: Routledge.

Harding, Sandra. 2001. "After Absolute Neutrality: Expanding 'Science'", in A New Generation of Feminist Science Studies, ed. Maralee Mayberry, Banu Subramaniam, Lisa Weasel. New York: Routledge.

--------, ed. 1987. Feminism and Methodology: Social Science Issues. Bloomington: Indiana University Press.

-------- 1998. Is Science Multicultural? Postcolonialisms, Feminisms, and Epistemologies. Bloomington: Indiana University Press.

--------. 1986. The Science Question in Feminism. Ithaca: Cornell University Press.

--------, ed. 1993. The 'Racial' Economy of Science: Toward a Democratic Future. Bloomington: Indiana University Press.

--------. 1991. Whose Science? Whose Knowledge? Thinking From Women's Lives. Bloomington: Indiana University Press.

-------- and Elizabeth McGregor. 1996. "The Gender Dimension of Science and Technology". In UNESCO World Science Report, ed. Howard J. Moore. Paris: UNESCO.

Hartsock, Nancy. 1983. "The Feminist Standpoint: Deveoping the Ground for a Specifically Feminist Historical Materialism." In Discovering Reality: Feminist Perspectives on Epistemology, Metaphyics, Methodology, and Philosophy of Science, ed. Sandra Harding and Merrill Hintikka. Dordrecht: Reidel/Kluwer.

Hayles, N. Katherine. Virtual Life...?

Headrick, Daniel R., ed. 1981. The Tools of Empire: Technology and European Imperialism in the Nineteenth Century. New York: Oxford University Press.

Hess, David J. 1995. Science and Technology in a Multicultural World: The Cultural Politics of Facts and Artifacts. New York: Columbia University Press.

Joseph, George Gheverghese. 1991. The Crest of the Peacock: Non-European Roots of Mathematics. New York: I.B. Tauris.

Keller, Evelyn Fox. 1984. Reflections on Gender and Science. New Haven: Yale University Press.

Kelly, Alison, ed. 1981. The Missing Half: Girls and Science Education. Manchester (U.K): Manchester University Press.

--------, ed. 1987. Science for Girls? Philadelphia: Open University Press.

Kettel, Bonnie. 1995. "Key Paths for Science and Technology: On the Rod to Environmentally Sustainable and Equitable Development," in Gender Working Group, 27-54.

Kirkup, Gill, et al. 2000. The Gendered Cyborg: A Reader. London: Routledge.

Koblitz, Ann Hibner. 1996. "Challenges in Interpreting Data," in Harding and McGregor, p. 27-28.

Kuhn, Thomas S. 1970 (1962). The Structure of Scientific Revolutions, 2nd ed. Chicago: University of Chicago Press.

Kumar, Deepak. 1991. Science and Empire: Essays in Indian Context (1700-1947). Delhi, India: Anamika Prakashan and National Institute of Science, Technology, and Development.

Lach, Donald F. 1977. Asia in the Making of Europe. Vol. 2. Chicago University of Chicago Press.

Latour, Bruno and Steve Woolgar. 1979. Laboratory Life: The Social Construction of Scientific Facts. Beverly Hills, Calif.: Sage.

Levy-Bruhl, E.G. Lucien. 1910. Les Fonctions Mentales dans les Societies Inferieures. Paris: Presses Universitaires de France. Trans. as How Natives Think, London: Allen and Unwin, 1926.

Lloyd, Elizabeth. 1996. "Science and Anti-Science: Objectivity and its Real Enemies," in Feminism, Science, and the Philosophy of Science, ed. Lynn Hankinson Nelson and Jack Nelson. Dordrecht, NL: Kluwer.

Lloyd, Genevieve. 1984. The Man of Reason: "Male" and "Female" in Western Philosophy. Minneapolis: University of Minnesota Press.

Longino, Helen. 1990. Science as Social Knowledge. Princeton: Princeton University Press.

MacKinnon, Catharine. 1982. "Feminism, Marxism, Method, and the State: An Agenda for Theory." Signs 7:3.

Martin, Emily. 1987. The Woman in the Body A Cultural Analysis of Reproduction. Boston: Beacon Press.

Massachuetts Institute of Technology. 1999. A Study on the Sttus of Women Faculty in Science at MIT. Available online at http://web.mit.edu/fnl/women/women.html.

Mayberry, Maralee, Banu Subramaniam, and Lisa Weasel, eds. 2001. A New Generation of Feminist Science Studies. New York: Routledge.

McClellan, James E. 1992. Colonialism and Science: Saint Domingue in the Old Regime. Batimore: Johns Hopkins University Press.

Merchant, Carolyn. 1980. The Death of Nature: Women, Ecology and the Scientific Revolution. New York: Harper and Row.

Mitter, Swasti. Forthcoming. Europe and the Developing World in the Globalized Information Economy: Employment and Distance Education.

Nandy, Ashis, ed. Science, Hegemony and Violence. Delhi: Oxford.

Needham, Joseph. 1954ff. Science and Civilization in China. 7 vols. Cambridge: Cambridge University Press.

--------. 1969. The Grand Titration: Science and Society in East and West. Toronto: University of Toronto Press.

Noble, David. 1992. A World Without Women: The Christian Clerical Culture of Western Science. New York: Knopf.

--------. 1995. The Religion of Technology. New York: Knopf.

Petitjean, Patrick, et al., eds. 1992. Science and Empires: Historical Studies about Scientific Development and European Expansion. Dordrecht: Kluwer.

Potter, Elizabeth. (Book on Boyle)

Rooney, Phyllis. 1994. "Recent Work in Feminist Discussions of Reason." American Philosophical Quarterly. 31:1. 1-21.

Rose, Hilary. 1984. Love, Power, and Knowledge. Bloomington: Indiana University Press.

Rosser, Sue. 1993. "Female Friendly Science: Including Women in Curricular Content and Pedagogy in Science," The Journal of General Education. 42, no. 3. 191-220.

-------- 1986. Teaching Science and Health from a Feminist Perspective: A Practical Guide. Elmsford: Pergamon.

Rossiter, Margaret. 1982 Women Scientists in America: Struggles and Strategies to 1940. Baltimore: Johns Hopkins University Press.

--------. 1995. Women Scientists in America: Before Affirmative Action. Baltimore: Johns Hopkins University Press.

Rouse, Joseph. 1987. Knowledge and Power: Toward a Political Philosophy of Science. Ithaca: Cornell University Press.

--------. 1996. "Feminism and the Social Construction of Scientific Knowledge." In Feminism, Science, and the Philosophy of Science, ed. Lynn Hankinson Nelson and Jack Nelson. Dordrecht: Kluwer.

Sabra, I.A. 1976. "The Scientific Enterprise." In The World of Islam, ed. B. Lews. London: Thames and Hudson.

Sachs, Wolfgang, ed. 1992. The Development Dictionary: A Guide to Knowledge as Power. Atlantic Highlands, N.J.: Zed.

Schiebinger, Londa. 1989. The Mind Has No Sex? Women in the Origins of Modern Science. Cambridge: Harvard.

--------. 1993. Nature's Body: Gender in the Making of Modern Science. Boston: Beacon.

--------. 1999. Has Feminism Changed Science? Cambridge, MA: Harvard University Press.

Selin, Helaine, ed. 1997. Encyclopedia of the History of Science, Technology, and Medicine in Non-Western Cultures. Dordrecht: Kluwer.

Shiva, Vandana. 1989. Staying Alive: Women, Ecology, and Development. London: Zed.

Smith, Dorothy E. 1987. The Everyday World as Problematic: A Sociology for Women. Boston: Northeastern University Press.

--------. 1990a. The Conceptual Practices of Power: A Feminist Sociology of Knowledge. Boston: Northeastern University Press.

--------. 1990b. Texts, Facts, and Femininity: Exploring the Reltions of Ruling. New York: Routledge.

Smith, Linda Tuhiwai. 1999. Decolonizing Methodologies: Research and Indigenous Peoples. London: Univ. of Otago Press

Spanier, Bonnie. 1995. Im/partial Science: Gender Ideology in Molecular Biology. Bloomington: Indiana University Press.

Third International Mathematics and Science Study Center. 1997. Science Achievement in the Primary School Years: IA's Third International Mathematics and Science Study, (A. Beaton, et al., Ed.).

Tobach, Ethel, and Betty Rosoff, eds. 1978, 1979, 1981, 1984. Genes and Gender, vols 1-4. New York: Gordian. Traweek, Sharon. 1988. Beamtimes and Lifetimes. Cambridge, Mass: MIT Press.

Wajcman, Judy. 1991. Feminism Confronts Technoogy. University Park: Pennsylvania State University.

Watson-Verran, Helen, and David Turnbull. 1995. "Science and Other Indigenous Knowledge Systems." In Handbook of Science and Technology Studies, ed. S. Jasanoff, G. Markle, T. Pinch, and J. Petersen. Thousand Oaks, Calif: Sage. 115-39.

Weatherford, Jack McIver. 1988. Indian Givers: What the Native Americans Gave to the World. New York: Crown.

Weasel, Lisa. 2001. "Laboratories Without Walls: The 'Science Shop' as a Model for Feminist Community Science in Action;" in Mayberry, Subramaniam, and Weasel, 2001.

Wyer, Mary, et al. 2000. Women, Science, and Technology: A Feminist Reader. New York: Routledge.



>[1] Agradecimento: Permissão para publicação deste artigo foi concedida graciosamente por Blackwell's Publishing Company  .”Non-exclusive German and Portuguese translation rights, one edition, print only.”

[2] Nos Estados Unidos, o termo “ciência” refere-se às ciências naturais. Os europeus usam o termo para cobrir tanto as ciências naturais quanto as sociais e, também, no âmbito da literatura e das artes, significando conhecimento. A princípio, eu estarei me atendo às ciências naturais e, ocasionalmente, referindo-me às ciências sociais.

[3]A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento de 1992, no Rio de Janeiro, criou os termos Norte (North) e Sul (South) em substituição aos termos “desenvolvido” e “subdesenvolvido” e “Primeiro Mundo” versus “Terceiro Mundo”. Este último, originado no domínio das políticas das relações internacionais dos Estados Unidos e da Europa, em 1950, e a linguagem distante e orientalista que trata do Ocidente (West) em relação ao “resto”. É claro que “Norte/Sul” é literalmente uma terminologia pouco acurada (o Japão está economicamente situado no “Norte”; mais do que a Europa Oriental, assim como as cidades mo interior do “Norte” poderiam estar consideradas no “Sul”). Além disso, quaisquer desses dualismos são problemáticos, já que naturalizam uma homogeneidade dentro de cada categoria e uma oposição essencial entre elas em formas empiricamente injustificadas, teoricamente questionáveis e politicamente problemáticas. Entretanto, aqui, uso esse contraste estrategicamente para redesenhar os padrões globais referenciados na literatura citada.

[4] .Uma pesquisa na internet  para “mulheres na ciência e tecnologia” provavelmente redundará em dúzias de sites  onde esses temas são discutidos. Esses sites  aparecem e desaparecem: oito deles estavam disponíveis em janeiro de 1995 e nenhum destes operavam em maio de 2001.

[5] A Organização para as Mulheres na Ciência do Terceiro Mundo (TWOWS) mantém uma rede internacional de apoio a mulheres e meninas na ciência e tecnologia. Ela patrocina oficinas, conferências, encontros na redem etc. Versões eletrônicas podem ser encontradas no endereço: http://www.ictp.trieste.it/~twas/twows.html.

[6] Nancy Brickhouse relata que “Garotas estão presentes em cursos de ciências em nível superior tanto quanto garotos (AAUW 1998) e são tão numerosas quanto os garotos (e.g., biology). Além disso, as diferenças sexuais em relação às aquisições e conquistas são pequenas ou não existem (Third International Mathematics and Science Study 1997)". (2001, p. 282.)

[7] . Brickhouse 1998 oferece uma bom apanhado acerca desses temas.

[8] Em versões diferentes, este era um insight  de Foucault e de Kuhn. Ele está desenvolvido em Hacking 1983 and Rouse 1987.

[9] Trata-se de masculinidade, não somente feminilidade, o assunto referentes a essas considerações. Ver Noble 1992, 1995, dois estudos históricos marcantes sobre a masculinidade da teconologia e das ciências modernas.

[10] . Mais ainda, como se pode observar na perspectiva das Ciências e Tecnologias do Sul, esses padrões eram medidos de forma similar em termos de sua distância em relação ao que era pensado como “primitivo”, por exemplo, a magia, a superstição e as etnociências, para não mencionar o produto das “mentes selvagens”, nas palavras memoráveis do antropólogo franc~es Levy-Bruhl (1910).

[11] Sobre tais projetos de objetividade, ver Harding 1991, 1998; Keller 1984, E. Lloyd 1996. Sobre valores científicos contextuais versus constitutivos, ver Longino 1990. Sobre racionalidade, ver G. Lloyd 1984, Rooney 1994.

[12] Collins 1991/1999; Haraway 1991; Harding 1986, 1991, 1998; Hartsock 1983; Rose 1984; Smith 1987, 1990a, 1990b. Como considerações recentes e interessantes, ver Garcia Selgas, Forthcoming, e Rouse's 1996, uma avaliação da filosofia feminista da ciência de forma mais geral.

[13] Para uma visão mais ampla desses movimentos e suas implicações para as filosofias de CTMO, ver Harding 1998. Ver, também, Braidotti 1994, Haraway 1989, Harding 1993, Harding and McGregor 1996, Shiva 1989, L. Smith 1999, UNCSTD 1996, para uma coleção diversificada sobre estudos feministas. Para um contato com textos expoentes dos três movimentos do sul que configuraram esse trabalho feminista, ver Brockway 1979, Crosby 1987, Goonatilake 1984, 1992, Headrick 1981, Hess 1995, Joseph 1991, Kaptchuk 1983, Kumar 1991, Lach 1977, McClellan 1992, Nandy 1990, Needham 1954ff, 1969, Petitjean 1992, Sabra 1976, Sachs 1992, Selin 1997, Watson-Verrn and Turnbull 1995, Weatherford 1988.

[14] Três expressões que influenciaram nesse sentido: o estudo de Latour and Woolgar's (1979), sobre a produção da verdade em um laboratório químico, o estudo de Donna Haraway's (1989)sobre o funcionalismo na biologia e sociologia, nos estudos de primatologia em Yerkes Labs, Atlanta, no contexo prisional, militar e industrial no sentido do controle do comportamento das populações cativas e Sharon Traweek (1988), em estudo comparativo das práticas de energia física de japoneses e americanos/europeus.

[15] Ve r especialmente the Indigenous Knowledge and Development Monitor. Online: http://www.nufficcs.nl/ciran/ikdm/.

[16] . Meus agradecimentos a Katherine Ann Muir por seu apoio da preparação desse artigo.