labrys,
études féministes/ estudos feministas Dian Fossey : na trilha dos gorilas. tania navarro swain Resumo: Dian Fossey, uma das mais importantes primatólogas que o mundo há conheceu. Graças a ela, os gorilas de montanha foram preservados, e por eles ela deu sua vida. O Centro que hoje tem seu nome encarrega-se de acompanhar a evolução dos grupos e das famílias de gorilas, seu bem estar e sua tranquilidade. Dian Fossey fez de sua vida uma aventura, sem jamais se desviar de seu objetivo: o estudo e a proteção dos gorilas. Palavras- chave : Dian Fossey, gorilas, preservação
Uma vida feita de determinação, de uma paixão sem limite pelos animais, pela preservação da natureza, mantendo uma perseguição implacável aos caçadores clandestinos, cujas armadilhas mortais se mesclavam à destruição ambiental, das espécies animais e vegetais. A pobreza da população não explica tais práticas cruéis, pois estas são encontradas em países dos mais desenvolvidos. É o desejo de matar, o prazer de infligir sofrimento, de olhar e provocar a morte, é o gosto do sangue que habita o masculino. A preservação dos gorilas desafia a avidez do ganho conseguido com a venda de suas mãos e cabeças, utilizadas pelos compradores estrangeiros como cinzeiros ou troféus. Os bebês-gorilas eram enviados aos zoológicos de vários países para morrer na tristeza e desemparo. Encantada por estes magníficos e pacíficos animais, Dian Fossey dedicou-lhes uma grande parte de sua existência. E isto custou-lhe a vida. Pequena histório do começo1 Nascida em 1032, em São Francisco, California, Dian Fossey foi terapeuta e diretora do departamento para crianças excepcionais, em um hospital de Kentucky. Em 1963 foi pela primeira vez para a África para realizar um sonho de sempre. Fez um empréstimo bancário e partiu para um longo périplo: Tanzânia, Zimbabwe e República Democrática do Congo. Durante esta viagem, conheceu George Schaller, pioneiro dos estudos sobre os gorilas de montanha; conheceu igualmente Jane Goodall, que há três anos vinha estudando os chimpanzés. O mentor de Jane era o dr. Leakey, o mesmo que mais tarde irá contratar Dian para realizar um estudo de longa duração sobre os gorilas das montanhas Virunga ou Birunga. Seu primeiro contato com estes primatas se fez quando acompanhava um casal de fotógrafos, Joan e Alan Root, que realizavam um documentário sobre os gorilas perto das montanhas Virunga. Fascinada com este encontro, Dian decidiu mudar o rumo de sua vida e inaugurar uma nova carreira: estudar em detalhe a vida e os costumes dos gorilas. Isto lhe tomou treze anos, de modo quase contínuo. ![]() Assim, levada por esta nova paixão, em 1966 Dian Fossey volta para a África para ali ficar. Sozinha com seu guia local, Sanwekwe, começou, sob uma tenda, seu centro de pesquisas para a observação dos gorilas de montanha. Provavelmente seu devotamento foi a razão pela qual os gorilas de montanha não foram dizimados. Um ano depois, Dian criou o Karisoke Research Centre no Parque Nacional dos Vulcões, em Ruanda. ![]() Atualmente este centro se chama Dian Fossey Gorilla Fund Internationa e conta com 120 funcionários que asseguram a proteção dos gorilas de Ruanda. Esta Fundação promove patrulhas diárias para a proteção dos gorilas e continua as pesquisas de Dian Fossey. O número total dos gorilas é estimado hoje a mais de 800 indivíduos e quando Dian iniciou seu trabalho, eram cerca de 240. Estão ainda em perigo pela ocupação das terras nos arredores das montanhas e pela ação perniciosa dos caçadores ilegais, os mesmo problemas encontrados por Dian. Apesar das patrulhas, as armadilhas continuam a ser colocadas e se não são destinadas diretamente aos gorilas, é comum que eles se prendam nelas; os ferimentos assim causados causam infecções dolorosas que levam frequentemente à morte. Além destes perigos, causados pelos homens, e apesar de sua aparência de força e poder, são frágeis em relação às doenças humanas e aos ferimentos causados pela brutalidade entre eles ou pelas mudanças climáticas. A pneumonia, a malária e outras afecções foram encontradas nas autópsias dos corpos de gorilas. A destruição de seu habitat teve e tem evidentemente consequências trágicas para sua alimentação e sua saúde. Na atualidade, em Ruanda o Parque é cercado e os turistas ali são admitidos em pequenos grupos, pagando uma soma considerável- entre US$ 500 e 700 por pessoa- para observar os grupos de gorilas. ![]() Segudno Fossey as montanhas Virunga ( compostas por oito vulcões dos quais 2 em atividade, são o único lugar do mundo que abriga os gorilas de montanha. (7) Este território se divide entre três países: no Zaire, o Parque Nacional dos Birunga, em Ruanda o Parque Nacional dos Vulcões e em Uganda o Kigezi Gorilla Sanctuary. Ela fez suas pesquisas em Ruanda. Descreve assim seu trabalho: “ Les recherches que j´ai effectuées sur le gorille, ce grand singe de l´ordre des primates, d ´une grande douceur mais qui, à l´occasion, peut devenir vindicatif, concernent particulièrement l´organisation sociale et familiale. Elles ont permis de découvrir certains modèles de comportement jusqu´alors inconnus.” (7) Para isto, ela desenvolveu métodos pessoais, imitando o comportamento, os ruídos e os costumes destes primatas, o que lhe permitiu mesclar-se aos grupos familiares, ter um contato muito próximo a eles e mesmo brincar com os bebês-gorila. Os gorilas a conheciam, não fugiam nem a ameaçavam. Com efeito, eles intimidavam o desconhecido que pudesse ameaçar o grupo familiar. Pode-se mesmo dizer, sem medo de engano, que é graças a Dian Fossey que os gorilas de montanha ainda existem e hoje prosperam. Mas para isto, ela foi assassinada. Dian tornou-se conhecida do grande público depois que o National Geographic publicou uma reportagem sobre ela, com fotos de Bob Campbell, que mostravam-na no meio dos gorilas, interagindo com eles..2 Evidentemente, o filme com o mesmo nome do livro de Dian Fossey foi um vigoroso meio de inspiração para outras/os pesquisadoras/es para continuar seu trabalho. Hoje, o centro Dian Fossey conta com mais de 100pessoas que ali trabalham, na administração, pesquisa, guias e guardas.
Os gorilas na bruma3 Quando se pensa na selva africana, sente-se quase o calor sufocante, a umidade. A floresta de Dian Fossey, entretanto, era totalmente diferente: o frio das montanhas, o frescor da chuva, a bruma envolvente. Sua primeira viagem na África em 1963 foi decisiva para a transformação de seu destino. Foi em primeiro lugar para a Tanzânia onde encontrou Mary e Louis Leakey, encontro afortunado, pois Louis foi seu sponsor para iniciar suas pesquisas mais tarde. Dian foi em busca dos gorilas no Congo, com guias e carregadores; durante 5 horas, com um tornozelo ainda em machucado com uma torção, Dian subiu até 3141m para chegar ao lugar onde o pioneiro George Schaller havia feito 450 horas de observação dos primatas. (12) Encontrou então Joan e Alain Root, fotógrafos, que a ajudaram muito, sobretudo lhe apresentando Sanwekwe, o guia que iria acompanha-la mais tarde, ensinando-lhe a seguir os traços dos gorilas e outros animais. Com eles, fez o primeiro encontro com os gorilas e foi cativada para sempre. « Je n´oublierai jamais ma première rencontre avec les gorilles. J´entendis, je sentis avant de voir : le bruit d´abord, puis une puissante odeur musquée, une odeur de basse-cour, en même temps, une odeur presque humaine. L´air retentit soudain de cris perçants suivis d´un bruit de battements rythmés. C´était un énorme gorille mâles à dos argenté, caché derrière un rideau de végétation impénétrable, qui se frappait la poitrine. […] Nous nous arrêtâmes à une distance de cinq mètres environ. A travers le feuillagiste nous aperçûmes une panoplie de faces noires au cuir tanné qui nous fixait d´un air furieux et inquisiteur. [...]Je fus captivé au cours de cette première rencontre , par leur personnalité et la timidité de leur comportement. Je quittai Kabara avec regret, mais convaincue qu´un jour ou l´autre je reviendrais pour en apprendre davantage sur les gorilles de la montagne perdus dans les brumes » (13-14) família
Em 1966, Dian volta às montanhas africanas, com um financiamento do dr. Leaky e de Leighton Wilkiie, que já o faziam para as pesquisas de Jane Goodall sobre os chimpanzés.(14-15) Mais uma vez, por sorte encontra os Root no aeroporto e Joan se torna sua conselheira para adquirir seu material, tendas, fogareiro, lâmpadas, cama, etc. (15) O dr. Leaky comprou-lhe um velho Land Rover , sua nova companheira, que ela apelidou de Lily. E partiu assim para fazer os 1000 km do Quênia ao aeroporto. Dian contou com sua preciosa ajuda ainda para se desembaraçar dos trâmites administrativos para obter um visto para permanecer em Kabara, no Parque dos Birunga. « Alan Root, qui entretenait des sérieux doutes sur ma santé mentale et celle du dr. Leaky, décida finalement de m´accompagner avec sa Land Rover jusqu´au Congo. » (16) A presença e a assistência de Alan Root para ajudá-la na instalação em Kabara foram essenciais. Mas dois dias depois, ele partia e ela se viu sozinha, com seus ajudantes. Não se pode esquecer que ela não falava a língua do país e no início só se comunicava com eles por gestos. « C´était mon dernier lien avec la civilisation, telle que je la connaissait du moins, et la seule personne dans ces montagnes qui parlait ma langue. Je m´accrochai au poteau de ma tente pour m´empêcher de courir derrière lui. » (17) Para consolo, alguns elefantes vieram visitá-la no quarto dia, voltando muitas vezes... e assim, adeus lindos sonhos de ter uma horta. (18) Havia muitos animais na floresta, naquela época. Dian, no começo, passava a maior parte de seu tempo na selva, em marchas exaustivas, de mais de 20 km, na subida. Sua vida estava bem preenchida: « Je rencontrais presque chaque jour des éléphants, des buffles, des cochons sauvages géants et évidemment, des gorilles.Je notais soigneusement les détails concernant le temps, les oiseaux, les plantes, le braconnage et, bien sûr, les gorilles. Je fus bientôt submergée par les papiers. Je consacrait mes soirées à taper à la machine et à classer ma documentation. » (18)
A instalação No princípio, Dian dispunha de uma tenda e uma instalação precária. Dois homens estavam a seu serviço e mais tarde chegou Sanwekwe, seu guia e mestre dos segredos da floresta. A comida destes consistia em enormes pratos de batatas doces, feijão e milho. Dian fazia suas provisões uma vez por mês; 15 dias de abundância e depois, apertar o cinto e comer batatas. Ela comprava sobretudo conservas, pão, queijo, legumes frescos e como companheiros Lucy, uma galinha e Dezi, um galo, seus primeiros animais domésticos. Mais tarde, adotou uma cachorrinha, Cindy. Sua tenda media 2m por 3m e servia de quarto, banheiro, escritório, e lavanderia. (19)
Com Sanwekwe Dian aprendeu tudo que podia para identificar os traços deixados pelos animais em geral e pelos gorilas nas ladeiras do Monte Mikeno. Segundo ela, ali viviam em grupos, com em média 10 indivíduos, segundo os nascimentos, as mortes, as migrações de um grupo a outro. (20) Os adultos, machos ou fêmeas pesavam mais de 100 kg. Dian conseguia identifica-los pela forma do focinho, específica a cada animal, como uma impressão digital.(21)
Seu método de aproximação se criou na medida de sua experiência: « Observer les gorilles à leur insu présentait l´intérêt de ne pas altérer leur comportement, mais il y avait un inconvénient : les gorilles ne pouvaient s´habituer à ma présence. Je réussi à vaincre peu a peu leur réticence en imitant certains de leurs activités. En me grattant et me nourrissant à leur manière et en émettant des vocalisation manifestant le contentement. » (21) Ela logo compreendeu que ficar em pé amedrontava os gorilas e sempre ficava de quatro, sobre as mãos e joelhos quando deles se aproximava. Utilizava neste movimento a curiosidade dos gorilas que subiam nas árvores para melhor observá-la. Os contatos foram lentos mas muito produtivos. (22) Sua vida do acampamento era dura, mas cheia de surpresas. O comportamento dos gorilas era fascinante: em uma ocasião, Dian subia em uma árvore com dificuldades, com suspiros e exclamações e qual foi sua surpresa quando viu os gorilas observando-a, sentados em fila. « Il ne leur manquait plus que des sachets de caramels ou des esquimaux. Ce fut mon premier public et, certainement, le plus inattendu. » (22) Mas seus dias no Congo estavam contados. Uma rebelião ali se produziu e um belo dia Dian foi escoltada por soldados que a esperavam no acampamento para leva-la a um acampamento militar, sem explicações. Começou por ser obrigada a pagar US$ 3400 para “legalizar” os papéis de sua Land Rover, cuja placa era de Uganda. Para pagar esta soma, explicou aos militares que precisava ir a Uganda para buscar dinheiro: a ganância convenceu-os e decidiram escolta-la até lá. « La nuit précédant notre départ je chargeai subrepticement Lily avec toutes mes affaires, mon matériel de photo, Lucy et Dezi. […] Les hommes étaient déjà très excités au moment du départ. »(25 ) Durante o trajeto, embebedaram-se ; na fronteira, as negociações foram intermináveis. Entretanto, ela conseguiu atravessar a fronteira e se escondeu em um hotel em Kisoro, a primeira aldeia próxima. O proprietário, Walter Baumgartel conseguiu resolver as questões oficiais relativas a seus papéis para ficar em Uganda. Entretanto, Dian foi interrogada durante vários dias. Finalmente deixaram-na partir para Nairobi e lá descobriu que fora declarada morta. Na embaixada americana disseram-lhe que « […] il était hors de question que je retourne au Rwanda car j´en serais immédiatement expulsé et refoulée au Zaïre où j´était considérée 'prisonnier évadé' » (26) Impasse. Pânico. O dr. Leakey, seu financiador estava felizmente no local e conseguiu a permissão para que ela fosse para Ruanda, com novo equipamento. Aparentemente, as coisas se resolvem sempre... « J´allais retrouver des gorilles sur les pentes des monts Birunga. Je me sentais revivre. » (26) A busca de um novo lugar para se instalar recomeçou e Dian teve que novamente subir a 3 600 m para encontrar um local adequado. Os caçadores e os rebanhos ficavam um pouco mais abaixo. E lá, maravilhada, encontrou o mesmo grupo de gorilas que havia observado em Kabara, cinco meses antes. « Ce fut l´un des plus merveilleux cadeaux de bienvenue que j´aie jamais reçu. Les gorilles me reconnurent. » […] Plus de dix ans ont passé. Assise à ma table de travail, je peux voir de la fenêtre ce même terrain que j´avais découvert de mon post d´observation ce jour-là, et mon cœur est toujours rempli d´une joie aussi vive. Au cœur des volcans des Birunga, parmi les gorilles, je me sens chez moi. » (27) Em seu livro, Dian conta em detalhes a vida dos gorilas, suas redes familiares, os nascimentos, as mortes, seu quotidiano. Ela seguiu a deambulação de 9 grupos, dos quais conhecia cada individuo, cada um com um nome e uma identificação. (163-195) Havia formações e desintegração de grupos, segundo as migrações das fêmeas, as mortes naturais e os massacres perpetrados pelos caçadores ilegais. Deu início ao recenseamento anual dos gorilas (152); sua amiga, que esteve constantemente auxiliando-a Alyette de Munk e Bob Campbell, o fotógrafo do National Geographic *161) foram os primeiros a trabalhar com ela nesta tarefa. « Il fallait parcourir chacun des six volcans, des cols aux sommets, explorer les pentes et les ravins » (152) expliqua-t-elle. Alguns estudantes foram eficazes neste trabalho, outros não foram capazes de suportar a dureza do acampamento e a vida na floresta: as subidas e caminhadas exaustivas, a imobilidade da observação durante horas, o frio, a umidade, a falta de conforto dos acampamentos diários. Ela recebeu 21 estudantes que vieram ao campo em pesquisa em um período de 11 anos, mas guardou uma boa lembrança de um pequeno grupo.(154) Para ela, a pesquisa fazia do quotidiano uma experiência impar. « En ce qui me concerne, je garde un souvenir impérissable de cette expérience avec l ´aiguillon de la recherche, l´émerveillement à la rencontre d´un nouveau groupe de gorilles, l a sauvage beauté du paysage et le plaisir de se faite un chez-soi avec pour tout bagage une tente et ce que la nature, dans sa bonté nous fournissait. » (153)
Re- instalação : o centro de pesquisa Karisoka O Parque dos Vulcões de Ruanda, onde viviam os gorilas, foi amputado de 8000 há em 1969 para dar lugar às plantações de piretre, matéria prima para fabricação de pesticidas. Sem proteção eficaz, a ação dos ilegais se desenvolvia. A pobreza, secundada pela ignorância e pela ganância, resultaram na destruição ambiental, pelo fogo e pelas plantações, assim como na matança indiscriminada dos animais. Dian observa: « Sous le brouillard épais, nous marchions à travers les champs de pyrethrum, au milieu d´un paysage dévasté par le déboisement. On pouvait voir, ça et là, quelques troncs de magnifique Hagenia, seuls vestiges de ce qui avait été une forêt luxuriante. Je ne retrouvais pas l´exaltation que j´avais ressentie en escaladant la montagne pour aller à Kabara. J´avais l´impression de marcher à travers une région saccagée par les bombardements. » (31) Para chegar à zona de floresta do Parque, era preciso atravessar uma espécie de túnel de lava, largo de 2m e longo de 10m, caminho utilizado pelos elefantes, antes de serem dizimados pela caça ilegal. Era como uma passagem que marcava a divisão entre dois mundos: a terra devastada pelos homens e o domínio da selva espessa com árvores de mais de 2m de diâmetro e cheia de espécies propícias à alimentação dos gorilas. Dian se instalou assim no alto das montanhas, no frio e na bruma, a mais de 3000m de altitude: no dia 24 de setembro de 1967, o Centro de Pesquisas, que iria ser conhecido em todo mundo e receber pesquisadores e estudantes, era criado. (33) Ela escolheu, entre os carregadores, três homens dispostos a ficar com ela no acampamento e assim as tendas foram montadas, uma para ela, outra para os homens, a uma certa distancia. Mais tarde, cabanas foram construídas. Dian ficou só com seus ajudantes, como no Congo e sua comunicação era precária. Eles compreendiam mal seus objetivos ; assim, para criar um ritmo de trabalho, ela estabeleceu uma rotina severa para o quotidiano do acampamento e as atividades de pesquisa. A luta contra os caçadores, a busca dos grupos de gorilas, através das pistas deixadas na floresta, as tarefas relativas ao acampamento, alimentação, o abastecimento de água e madeira para o fogo, a vida não podia ser mais repleta. E ainda, as noites eram preenchidas com a organização das notas e das fotos tomadas durante o dia (121) Esta época, segundo ela, foi mágica. « Je connus parfois la solitude des pionniers mais aussi des joies exaltantes. » (34) Poucos contatos com o exterior, um silencio repleto de mistérios, ruídos apenas da floresta, a presença de toda espécie de animais próximos ao acampamento. A solidão, aliás, nunca foi um problema para Dian. Ele considerou estes primeiros anos muito produtivos, pois seu tempo era dedicado quase totalmente à observar e se aproximar dos gorilas. Mesmo com o conforto tão precário, as roupas sempre úmidas, o frio envolvente, cortado apenas por uma pequena lâmpada a petróleo. De noite, ouvia-se, apenas o tap tap da máquina de escrever, além dos ruídos da selva. (121) « Quand je contemplais les montagnes sauvages et désertes, je me sentais l´être le plus heureux du monde » (121) Dian acampou durante um ano e meio, mas em seguida seus amigos vieram ajuda-la a construir uma cabana com uma lareira, com esteiras tecidas a mão para isolar as paredes e o chão, instalando escrivaninha, prateleiras e mesmo cortinas. Um luxo. ! (122) Aos poucos, outras cabanas foram erguidas, destinadas aos empregados, aos estudantes, aos pesquisadores eventuais.127) Uma cachorrinha foi adotada, Cindy, tornando-se parte integrante do acampamento, amada por todos. (122) Um belo dia foi raptada: por pastores ou pelos ilegais? Na dúvida, Dian reteve no acampamento algumas cabeças de gado, 7 vacas e um boi, (123) para ter uma espécie de moeda de troca. Enviou seus homens à flores espalhando uma mensagem: para cada dia que Cindy não fosse encontrada, uma vaca seria morta. Esta tática funcionou muito bem pois o proprietário dos animais. Muturutkwa, veio rapidinho lhe comunicar que havia descoberto onde estava Cindy. « Le matin j´ « armai » mes hommes et Muturutkwa de pétards et de masques d´Halloween pour « Opération sauvetage » de Cindy. Dans le style des Marines, les trois hommes prirent d´assaut l´ íkibooga, en lançant des pétards dans le feu du camp et, profitant de la confusion, enlevèrent Cindy, pendant que les braconniers prenaient la fuite. (124) Muturutkwa tornou-se seu amigo e logo veio a ser chefe das patrulhas anti-prepadores dos Birunga. Mas Dian foi muito criticada por esta estratégia: começaram a dizer que ela tinha o hábito de roubar e matar o gado dos africanos. Foi este gênero de distorção que criou uma má reputação para Dian, o que favorecia muita gente, principalmente os interessados em tirar proveito do massacre dos animais e em especial dos gorilas. Seu acampamento era sempre visitado por todo tipo de animal: elefantes, búfalos, antílopes, onde encontravam refúgio. (127). Dois búfalos- Ferdinand e Mzee- tornaram-se habitantes permanentes do acampamento; Mzee tinha o hábito de buscar carinhos, assim que ouvia a voz de Dian. (129) ![]() Uma pequenina antílope, Primus, era a alegria do acampamento: órfã, ela identificava-se às galinhas, à Cindy, e não se aproximava dos outros antílopes. Suas brincadeiras, seus saltos, sua presença encantava os visitantes e os ajudantes de Dian e como nunca havia sido maltratada, não tinha medo de nada. (127) ![]() Uma nova companheira veio igualmente trazer alegria ao acampamento: Kima, uma pequena fêmea de macaco azul. Ela fora capturada por um caçador que a ofereceu a Dian em uma de suas visitas à aldeia. Queria 30 dólares pelo conteúdo de uma cesta da qual Dian se apropriou imediatamente, vendo uma pequena bolinha de pelos mais morta que viva no fundo. « Je me saisis vivement du panier, mis la voiture en marche en menaçant le braconnier de poursuites s´il capturait encore des animaux dans le Parc. Tandis que l´homme prenait la fuite, je plongeai mon regard dans deux grands yeux bruns et timides. C´est ainsi que commença une histoire d´amour qui devait durer onze ans. » (125) De fato, Dian ocupava-se de todos os animais que lhe caíam entre as mãos. Uma ocasião foi uma cachorrinha, muito ferida por uma armadilha, que lhe cortou a carne até os ossos. Dian cuidou dela durante três meses e golpe de sorte, por ocasião da chegada de uma equipe da ABC TV, foi adotada por Earl Hollimam, ator membro da ONG « Actors and Others for Animals ». Assim ela partiu para Hollywood onde fez carreira, tornando-se verdadeira estrela. Seus cachês serviram a sustentar a causa de proteção animal. (132) massacres Dian almejava um a paz entre humanos e animais. « Je me mis à rêver à la disparition du braconnage et au jour où les animaux pourraient enfin faire confiance aux être humains » (128) Mas podia apenas sonhar.... Havia guardas florestais, sim, mas eles não faziam nada. O parque estava ao abandono, presa a todas as invasões dos predadores humanos. Dian teve que organizar suas próprias patrulhas, fornecendo aos guardas salário, comida e uniformes para tentar tirá-los de sua apatia. (103) Tomou então a frente da guerra contra os caçadores e começou por destruir as armadilhas que asseguravam uma morte lenta e dolorosa aos animais que nelas se prendiam, entre os quais os gorilas, suas vítimas igualmente.. (35, 38) Presos ao pulso ou tornozelo, os gorilas assim presos morriam de infecção, lentamente, em agonia.(38) Havia também armadilhas que consistiam em grandes buracos cavados na selva com pontas aguçadas no fundo. Dian caiu em uma desses instrumentos de morte, mas por sorte as pontas já eram antigas e ela não se machucou. Para sair, teve que cavar degraus na parede do buraco. « Ce fut la seule fois de ma vie où je fus satisfaite de mesurer un mètre quatre-vingts ». (37) Correntes sobre as frutinhas selvagens prendiam os antílopes pelo pescoço, quando se aproximavam para comer e os estrangulava aos poucos. Outra forma de armadilha era uma barreira de troncos que formava um corredor se afunilando até acabar em um precipício, em cujo fundo os caçadores esperam para matar os animais que ali caíam. (37) 4 Um outro dispositivo fazia cair os troncos das árvores sobre quem tocasse em um fio de ferro escondido nas folhas, que quase matou um estudante. (37) Esta foto mostra alguns resultados desta carnificina : Existem fotos impressionantes da maldade a serviço da morte: armas, armadilhas, corpos dilacerados, cabeças cortadas de todo tipo de animal, sobretudo gorilas. . A luta contra a caça foi e é perpétua. Eles visavam sobretudo os antílopes, mas como se vê, matavam todas as espécies. Dian aprendeu mesmo a liberta-los, tarefa difícil, pois, ferido e amedrontado, o animal se debatia e escoiceava. (39) Por ocasião de uma destas operações, alguns gorilas ficaram no alto das árvores para observar. « Quand l´antilope fut libérée et s´échappa d´un bond, les quatre gorilles se frappèrent vigoureusement la poitrine et descenderie de leur perchoir. Leur sens de l´observation, leur curiosité m´émerveillèrent, une fois de plus. » (39) Dian não aceitava « compromissos razoáveis » quanto à presença dos rebanhos no Parque e sua « caça aos caçadores » era sem descanso. (43) Em uma ocasião, Dian capturou um menino, filho do chefe dos caçadores, levando-o para sua tenda, com suas armas. « Je voulais engager des discussions avec son père et les autres chefs braconniers pour leur demander de cesser leurs activités sur le flanc des montagnes.[...] Mon captif passa deux jours très agréables au campement[...]J´échangeait l´enfant contre la promesse que me fit Munyarukikode ne plus chasser sur les contreforts du mont Visoke. (36) Esta tática foi bem sucedida e o pai cumpriu a promessa de cessar suas atividades. Dian conta este episódio em toda inocência, porém isto foi motivo de escândalo. Foi uma gritaria, as pessoas se escandalizaram, inventaram torturas, dizendo que ela tomava atitudes extremas e agressivas, que utilizava métodos inadmissíveis; criavam assim “verdades” destinadas, em suma, a desqualificar seu trabalho, pois afirmavam que ela amava mais os animais que os homens. 4 Mesmo sua firme posição face à inércia das autoridades foi criticada. De fato, era a mulher que se criticava, pois em se tratando de um homem, sua atitude seria considerada “viril”, positiva, afirmativa. Em se tratando de uma mulher, infelizmente e como de hábito, os ataques e críticas faziam parte da aventura. Imaginem esta mulher, alta, decidida, que impõe suas regras, desafia a autoridade masculina, que vive de maneira independente, conduz seu trabalho para além da compreensão local, vivendo sozinha, sem um companheiro constante para lhe dar a chancela com sua masculinidade. Isto é mais do que suficiente para os ataques e maledicências Em uma cultura misógina, polígama, como na maior parte dos países africanos, onde as mulheres não tinha direito algum, nem haviam se erguido para reivindica-los, Dian era vista pelos nativos como um ser bizarro e mesmo perigoso; enquanto estrangeira e branca acordavam- lhe algum respeito. Mas de fato, desafiando os caçadores, os criadores de gado, os guardas e autoridades relapsas, ela vivia sempre em estado de resistência. E de perigo. Vejo em Dian uma mulher livre, presa a um sonho, amando os animais, a floresta, a beleza da natureza, arriscando sua vida continuamente por isto. Quotidiano difícil e rude. Os percalços eram tratados, entretanto, em sua justa medida; sua alegria de encontrar os gorilas e de a eles mesclar não era afetada. Com efeito, os maiores problemas vinham dos homens, aqueles que invadiam a floresta para massacrar os animais ou destruir a floresta para suas plantações e pastos. Foi acusada muitas vezes de não se interessar pelas pessoas, somente pelos animais. Este é um refrão que se ouve em toda parte quando há algum movimento de proteção aos animais, que são tão importantes quanto os humanos e tem o mesmo direito de existir e de viver em paz. Mas não tem voz para gritar seu desespero. E me pergunto: como amar estas pessoas que matam e destroem de maneiras as mais cruéis e indiscriminadas? Seriam dignos da menor consideração? Que tipo de pensamento colonialista pode aceita qualquer coisa enquanto “cultura”? Quer sejam gorilas, tigres, elefantes, cães ou gatos, antílopes, ursos ou qualquer animal, é um pensamento limitado e limitador que realiza ataques a seus protetores, em lugar de condenar seus agressores. Oblitera- se assim o papel dos homens na destruição dos recursos da terra, vegetais, animais, hídricos. Proteger os animais é, a meu ver, tão importante quanto proteger as mulheres das violências masculinas, ou proteger as crianças dos maus tratos ou o meio ambiente dos ataques insidiosos dos aproveitadores, sempre em busca de lucro, não importa a que preço ou consequências. Quebrar o silencia que envolve todas estas práticas é um dever e uma necessidade. Os homens com os quais Dian era obrigada a tratar consideravam que seu trabalho os atrapalhava em seus interesses e negócios. Ela lutou não somente contra a ignorância e a maldade, mas também contra a ganância: que importa se os animais estejam em perigo de extinção, se posso encher minha bolsa matando-os e oferecendo-os ao mercado aos pedaços como as mãos e cabeças dos gorilas? Dian deplorava a ação das autoridades que, querendo capturar gorilas para enviá-los a zoológicos, ocasionavam a morte de todos os indivíduos pertencentes à família atacada. Em defesa dos gorilas e outros animais da floresta, ela atraiu a cólera de todos os interessados em seu massacre; daí surgiram as calúnias e as reprimendas acerbas diante de sua recusa em realizar “compromissos”. Intransigente? Claro, mas uma atitude que não se espera de uma mulher. Aliás, considero que ela fez pouco contra os caçadores, tendo em vista as crueldades com que se deparava. Dian levou 4 anos para reduzir a caça no Parque mas mesmo entre seus auxiliares encontrou caçadores infiltrados(42). Os ilegais se vingavam com o sumu, magia negras, que amedrontava seus ajudantes e limitava sua ação. (40) Quanto aos rebanhos, ela revela escrúpulos para pedir-lhes que deixassem a montanha, pois era uma atividade tradicional na zona dos vulcões. Entretanto, « Les parcs nationaux ont été conçus pour protéger la flore et la faune. Cet objectif ne peut souffrir de compromis. » (41) As tentativas de delimitar o Parque muitas vezes fracassaram ou destruíram mais que conservar. Por exemplo, em 1970 as árvores foram queimadas numa extensão de 4 km sobre 12m de largura para delimitar a fronteira entre o Congo e Ruanda, sob o pretexto que isto impediria os caçadores de passar a fronteira, segundo um técnico ocidental que trabalhava neste projeto. (46) Incrédula diante de tal absurdo, Dian ironisou: “ Je ne puis que lui demander où il fallait s´adresser pour obtenir un visa afin que les gorilles, les élépahants et les antilopes puissent rendre visiste aux menbres de leur familles habitant de l´autre côté.” (46) A defesa feroz que Dian fez em relação aos gorilas e outros animais criou as famosas “controvérsias” sobre suas atividades. A questão de fundo era: uma mulher não deve se opor aos homens, uma mulher não tem o direito de se irritar, uma mulher não deve questionar a autoridade, uma mulher não deve viver sem homem, uma mulher não deve comandar, uma mulher não pode impor regras. E assim por diante. Dian era chamada Nyiramachabelli pelos africanos, ou seja, “ a velha mulher que vive sem homem na montanha”. Os caçadores a execravam, os criadores de gado a detestavam, as autoridades de Ruanda suportavam-na, pois assegurava, sem custos, o que eles deviam fazer e não o faziam: a proteção do Parque dos Vulcões. De fato, se pusermos os pontos no ii, o patriarcado, este sistema de dominação das mulheres, se impõe igualmente sobre os animais e a natureza. O interesse, o lucro, o poder, o assujeitamento, são objetivos deste sistema; o patriarcado, entretanto, não é uma entidade fantasma que estende suas garras sobre o mundo. É, ao contrário, uma realidade criada e mantida pelos homens, pelo masculino, aqueles que se arvoram os senhores do mundo. Mulher, Dian se vê confrontada pela comunidade masculina, por esta fraternidade que assegura e perdoa todos os excessos e malfeitos cometidos por seus membros, cuja identificação se fez pelo posse de um pênis. É de fato este patriarcado que irá fechar o cerco, para chegar ao assassinato de Dian Fossey. Não se espantem: seu assassino nunca foi encontrado. Os visitantes No início dos anos 1970, estudantes começaram a vir ao Centro, assim como fotógrafos, pretensos assistentes, turistas, que, de fato, na maior parte do tempo causavam mais problemas que ajuda ou satisfação. Dian tinha às vezes que afrontar alguns deles, verdadeiros intrusos, que não observavam as regras de aproximação dos gorilas, uma operação delicada, pois são ferozes para defesa de suas famílias. Criavam disputas, impunham-se desavergonhadamente; houve um professor de biologia que conseguiu incendiar algumas cabanas por pura negligência. (156) Documentos e notas irrecuperáveis foram assim perdidos. E ele nem mesmo pediu desculpas. Segundo Dian, em geral os gorilas não atacam as pessoas que conhecem e mesmo desconhecidos só recebem um tapinha, desde que não corressem. Correr era um sinal para que os gorilas saíssem em perseguição (60) Mas sentindo-se ameaçados, é uma outra história. Dian conta que : « […] un jeune touriste essaya de prendre un enfant du groupe 5 dans ses bras, malgré les cris d´alarme poussés par les gorilles. La mère et le mâle à dos argenté chargèrent avant qu´il ait pu toucher le bébé. Le jeune garçon prit la fuite. Instantanément, les parents gorilles furent sur son dos, le mordant et mettant en pièces ses vêtements. Plusieurs mois après, je lerencontrai à Ruhengeri. Il portait encore des profondes cicatrices sur les bras et les jambes. » (61) Ela elogia Tin White e Ric Elliot, (158) que estiveram 10 meses no Centro. Ric era veterinário e ajudou muito, inclusive ensinando Dian e seus ajudantes africanos a realizar curativos de emergência, fazer autópsias nos gorilas mortos e pesquisas em parasitologia. (idem) Ian Redmont trouxe uma ajuda preciosa; integrou-se perfeitamente à rotina do campo e era « […] très aimé des Africains. Le soir, il s´asseyait avec eux autour du feu et partageait leur repas de mais, de haricots et de patates. Il était chez lui dans la forêt, ce qui est rare pou un Européen. Il participait aux patrouilles anti-braconnage et aux opérations de recensement. Il parcourait très facilement près de vingt kilomètres par jour et, quand il était trop loin du camp, passait la nuit sous un Hagenia, couché sur la mousse avec un poncho pour toute couverture. » (159) Ian foi atacado por um caçador com uma lança, dirigida a seu peito, que ele desviou com o braço. Foi ferido no punho que ficou deformado. Prova que os caçadores não hesitavam em assassinar quem estivesse em seu caminho. Estes três visitantes deixaram boas lembranças e um vazio com sua partida. « Grâce à leurs efforts inlassables, ils ont grandement contribué à la préservation active des gorilles. Pour mon équipe et pour moi-même, ce sont les meilleurs amis que nous avons jamais eus. »(160) Dian agradece igualmente, em seu livro, seus ajudantes africanos, sua dedicação, sem os quais, afirma, Karisoka não poderia ter existido. « Ils n´attendaient ni louanges ni récompenses. La satisfaction du travail accompli leur suffisait. » (160 » Costumava passar as festas do Natal com eles e suas famílias, desfrutando da alegria, dos cantos e danças inspirados nos acontecimentos do ano que passara. Dian gravou todos estes encontros. . « Ces enregistrements restent parmi mes souvenirs le plus précieux de Karisoka. » (161) diz-ela.
A aproximação dos gorilas Seu trabalho era em geral exaustivo, com longas caminhadas diárias nas encostas das montanhas para encontrar os grupos de gorilas. À noite, era preciso transcrever as notas, organizá-las, bem como as fotos. Depois que conseguiu montar as patrulhas contra os caçadores, seu tempo ficou mais folgado, mas ainda ocupado com a administração do campo e o trabalho de campo. Dian tinha seus métodos particulares para se aproximar dos gorilas : quando os via, ficava de quatro e se arrastava a seu encontro, fazendo vocalizações parecidas com as deles ou batendo no peito para imitá-los. .5 Seguiu constantemente cerca de 50 gorilas, durante mais de 10 anos. Todos tinham um nome e uma identificação conseguida pelas formas do focinho, específico a cada um, como uma digital. Havia aqueles que ela conhecia desde seu nascimento e seguia seu desenvolvimento e processo de socialização. Dian tinha uma regra de não intervenção em suas vidas, mas isto lhe custou muito, sobretudo quando estavam feridos ou doentes. (64-65) Descreve com detalhe a vida dos gorilas (66-75), sua alimentação, jogos, repouso, migrações intergrupos, brigas eventuais, a constituição de famílias (83) e a agressividade entre os grupos (84) a sexualidade, que compreendia a homossexualidade (71). Havia uma extrema gentileza entre os membros de uma família (83) e uma grande ferocidade entre grupos diferentes, (84) que resultava às vezes em morte. Registrou a ocorrência de infanticídio pelos machos do grupo.
Sua curiosidade era infinita. As crianças subiam nela, tomavam seus pertences, examinavam tudo que ela trazia. (78-80) Suas mães, atentas, olhavam de longe e em certo momento vinham buscar seus bebês. (90-92) Havia uma grande diversidade no comportamento das mães, algumas com certo distanciamento, outras com cuidados minuciosos. Os machos participavam também dos jogos e cuidados com as crianças. (174. Havia machos dominantes assim como fêmeas, (170), segundo Dian pode observar. (167)
Dian não fazia, portanto uma observação distante, mas participava às vezes da vido do grupo, comia como eles, “falando” como eles. Esta proximidade não podia ser mais gratificante e Dian menciona sempre a alegria e felicidade que experimentava com este contato. Sua curiosidade era sempre motivo de espanto; Puck, por exemplo, era ainda um bebê quando interagia com ela: « […] j´étais souvent submergée par le nombre d´enfants essayant d´attraper mon matérielque je ne parvenais pas toujours à protéger.[...]certaines pièces de mon matériel avaient une grande valeur mais Puck les maniait avec soin et les protégeait des autres membres du groupe. […] Pour calmer Puck j´enfreignais une de mes règles : ne pas donner aux gorilles des objets. Je lui tendis un exemplaire du magazine National Geographic. Je fus stupéfaite de l´habilité avec laquelle il tournait les pages. Il montra un vif intérêt pour les photographies de visages en couleurs. Au bout d´une heure et demie, il laissa tomber le magazine. Les autres membres du groupe s´étaient levés pour aller se nourrir. Avant de les suivre, Puck courut vers moi et me donna des tapes de ses deux mains, comme s´il avait médité ce châtiment pendant la sieste. »(79-80)
![]()
Coco et Pucker : a insuportável dor da separação Houve alguns episódios extremamente dolorosos para Dian, que rasgaram seu coração. Foi o caso de uma pequena fêmea capturada para ser enviada a um zoo, na Alemanha. A administração do Parque lhe havia solicitado de capturar um bebê pois em troca receberiam da Alemanha uma Land Rover e uma certa soma de dinheiro. (104) Dian ficou estarrecida com este pedido. Explicou longamente ao conservador do parque a força dos laços familiares entre os gorilas e que um massacre se produziria numa tal tentativa. (104) Ele aceitou as explicações, mas às escondidas conseguiu capturar um bebê com a ajuda dos caçadores, que mataram, na ocasião, toda a família, composta por dez indivíduos. (105) Comop havia previsto Dian. Ela observa que, « Dans les trois pays, les responsables de la préservation des animaux sauvages n´ont aucune formation et ne connaissaient rien à la complexité des problèmes que pose la sauvegarde des gorilles. » (104) Para eles, os gorilas deveriam gerar lucro: não compreendiam a importância dos grupos familiares para a preservação destes primatas. Nem a necessidade de preservação da espécie. Deste modo a pequena fêmea foi capturada e mantida em uma jaula apertada, num estado de estresse absoluto. Quando Dian soube de sua captura, seis semanas já tinham passado e a pequena estava morrendo. Ela desceu correndo de sua montanha, e encontrou a pequenina em uma espécie de caixão, rodeada por numerosas pessoas e, sobretudo, por crianças. Empurrando todo mundo, Dian entrou no escritório do conservador e apesar de seus protestos, ela soltou o pequeno animal. « La petite boule de poils se précipita à l´extérieur et, avant que le conservateur ait pu faire un mouvement, le mordit à la jambe.Elle courut ensuite vers les fenêtres […] elle frappa les vitres avec une telle force que je craignis un instant qu´elle ne les brise.[...] Il fallait de toute urgence ramener l´animal au camp et je n´avais pas une minute à perdre en discussions » (105) Foi este tipo de intervenção que lhe valeu os epítetos de “intransigente”, “brusca” no trato com as autoridades, seus famosos “métodos controversos”. Ela simplesmente informou ao conservador que ia levar a pequena gorila e de fato levou-a a seu acampamento na montanha. Dian soube mais tarde das condições da captura do bebê: primeiro, mataram toda a família, em seguida ela foi transportada com as mãos e pés amarrados, suspensa em um bambu; depois, colocaram-na em uma gaiola minúscula onde não podia se levantar ou se mexer, durante duas semanas. Para finalmente ser fechada no caixão onde Dian a encontrou. (105) Tenho apenas a lamentar que os métodos de Dian não tenham sido mais “controversos” e tão brutais quanto eles empregavam com os animais. Dian deu-lhe o nome de Coco (106). Ela tinha apenas três anos e Dian prometeu a si mesma libertá-la assim que possível. Um quarto de sua cabana foi transformado na reprodução do habitat dos gorilas. (106) Ao chegar no acampamento, « Je restai enfin seule , au calme, avec le bébé-gorille. J´enlevai doucement le couvercle du parc, sans trop savoir ce qui allait se passer. […] Coco sortit directement du parc et commença, tout étourdie, à marcher au milieu des feuilles et des tiges, les tapotant comme pour s´assurer de leur réalité.[ …] Enfin, elle se mit debout, me fixa intensément pendant une minute puis vint en rampant se blottir contre moi. » (107) Coco ficou olhando pela janela, soluçando ao ver as escarpas da montanha, num choro sentido, com verdadeiras lágrimas. « Je n´avais jamais vu pleurer un gorille », diz Dian. (107) Pode-se constatar assim que os animais “não têm sentimentos, não sentem dor, medo, angústia”. Somente os humanos, dizem os predadores, os caçadores, aqueles cujo interesse e desejo de poder rege a relação com os animais. A humanidade tem se recusado a admitir que os animais são seres sencientes, inteligentes, que compreendem e experimentam toda a gama de sensações conhecidas, afeto, amor, medo, ódio, afabilidade, curiosidade, engenhosidade, problemas psicológicos, um forte sentimento de pertencimento familiar, sobretudo no que diz respeito aos gorilas. Isto admitir criaria problemas para as indústrias, pois uma vez cientes da crueldade dos abatedouros e criadouros de animais para consumo, provavelmente a população reduziria ou se recusaria a pactuar com tais práticas. Coco commença a dépérir. « [… ]le traumatisme de la capture ajouté aux mauvais traitements sont plus qu´ils n´en peuvent supporter. Les secours arrivent généralement trop tard. Coco cessa de s´alimenter, ses fèces devinrent liquides et teintées de sang.[...] La sixième nuit de son arrivée au camp, je transportai Coco dans mon lit. Tout ce que je pouvais faire pour elle était de lui donner un peu de chaleur et de sécurité. » (108) O choque da captura quase matou Coco. Recuperou-se aos poucos, mas os problemas de adaptação dobraram, pois no mesmo dia outro pequeno bebê gorila foi trazido ao acampamento, preso em um barril de cerveja. Todos os 8 membros de sua família haviam sido assassinados em sua defesa.(109) Tratava-se de uma pequena fêmea, ainda mais amedrontada que Coco, toda machucada, na cabeça, nos punhos e tornozelos pelos arames da armadilha onde havia caído. (109) Os prognósticos para sua sobrevivência eram sombrios. Colocada no mesmo quarto que Coco, aos poucos foram se aproximando. « Leur comportement était un mélange d´agressivité légère et du besoin pathétique qu´elles avaient l´une de l´autre. Le soir, cependant, elles se blottirent dans le même nid de fouilles et s´endormirent étroitement embrassées. » (110) Dian chamou-a de Pucker. Quase não se deixava aproximar, mas quando Dian se ocupava com Coco, Pucker emitia pequenos gritos queixosos, que logo se transformavam em gritos agudos. (113) Entretanto, os guardas vieram buscá-las e todo o cuidado e a aproximação conseguida por Dian foi quase todo perdido, somente com sua presença: as duas pequenas se esconderam num canto de seu quarto e não quiseram sair por dois dias. (114) Dian teve muita dificuldade para convencer os guardas que as pequenas estavam doentes e não podiam ser transportadas, pois pretendia libertá-las assim que possível, sem que eles soubessem. Aos poucos novamente os bebês se deixaram aproximar e puderam sair passear nos arredores do acampamento. « Les excursions en dehors de la cabane […] constituaient les meilleurs moments de la journée. Nous sortions chaque fois que le temps le permettait. [...]Je portais généralement Coco dans mes bras. Pucker s´accrochait à mon dos ou à l´une de mes jambes. A elles dues,elles pesaient près de cinquante kilos et se tortillaient sans arrêt. Je pliais sous le poids » (114)
Os cuidados e o amor dados às pequenas tiveram frutos. Os jogos com Dian e Cindy se multiplicavam. Dian observou comportamentos que ela não havia nunca visto: cócegas entre elas, risos, jogos dos quais participava e que utilizou mais tarde na interação com os bebês em liberdade. (117) Mas como sempre, esta alegria não durou: o conservador do parque veio pessoalmente ao acampamento para exigir as pequenas. Ele havia recebido uma passagem e a promessa de uma recepção oficial na Alemanha, caso levasse com ele os bebês-gorilas. Assim, ameaçou Dian de ir capturar outros gorilas e ela sabia, assim como ele, que isto significava a morte de toda uma família.( 118-119) Seus guardas trouxeram um caixão sem aeração para transportá-las e só isto mostrava os maus tratos que iriam sofrer. Dian havia tudo tentado, escrito mesmo para os responsáveis na Alemanha para dissuadi-los de reivindicar as pequenas. Argumentou do risco do transporte para sua saúde, nada deu resultado. Ela poderia ter libertado os bebês na floresta, mas assim, de repente, seu destino era muito incerto. O coração em pedaços, ela viu partir suas duas pequenas fêmeas, tão amedrontadas, para nunca mais voltar. Prisioneiras em perpetuidade. Para Dian, isto foi quase insuportável, cena que ela jamais pode esquecer, sentindo a mesma dor cada vez que a lembrança retornava. « […] la porte se referma derrière elles. Les porteurs arrivèrent immédiatement. C´était plus que je n´en pouvais supporter. Je sortis de la cabane et m´élançai à travers les champs où nous nous étions si souvent promenées. Je m´enfonçai en courant dans la forêt. Je ne m ´arrêtai que lorsque mes forces m´abandonnèrent. Dix ans plus tard, les mots me manquent encore pour décrire la douleur que me causa cette séparation. » (120) A existência de zoológicos que promovem tais barbarismos é um hino à estupidez e a maldade humanas: criar jaulas para aprisionar animais por toda a vida, em redutos tantas vezes infectos, mal alimentados, maltratados ao sabor de administrações indiferentes. É um voyeurismo doentio em relação aos animais que alimenta a existência de tais locais. Apenas o aprisionamento em espaços reduzidos fora de seu grupo familiar fazia morrer rapidamente os gorilas em cativeiro, bem como outras espécies animais. Qual a razão para isto? Que argumento pode validar tais práticas? Qual a glória de matar um ser livre que não pode se defender de modernos fuzis? Se a caça já é uma aberração, o que dizer da condenação de seres inocentes a uma prisão perpétua? Na China, como atestam fotos divulgadas nas redes sociais, animais vivos são jogados para os predadores em horários previstos, para que os visitantes possam se deleitar com seu terror e morte. É o ensino prático da maldade e da indiferença face à tortura dos animais, num voyeurismo exacerbado, espetáculo sangrento destinado às crianças? No mundo atual, de fato, quase todos os animais selvagens estão ameaçados de extinção. Penso nos Mustangs, exterminados nos USA, nos bisões, igualmente massacrados, das florestas cercadas na França unicamente para que os animais ali presentes seja caçados pelos “esportistas” , e assim por diante O número de elefantes decresce a cada ano, seus imensos corpos abandonados uma vez extraídas suas presas. Um recenseamento de amplitude inédita, o Great Elephant Census revela que o número de paquidermes vivendo nas savanas africanas foi reduzido de 30% entre 2007 e 2014. E este declínio se acelera, para atingir uma taxa de 8% ao ano. 6 Em breve haverá elefantes apenas em filmes. As cifras são vertiginosas, pois estimava-se por exemplo, cerca de 20 milhões de elefantes antes da colonização europeia na África; seu número foi estimado em 1 milhão nos anos 1970, 496 000 em 2007 e 352 000 em 2014 . Existem organizações de proteção aos elefantes, sem as quais provavelmente já estariam extintos, tal como a Fundação David Sheldrick Trust, dirigida pela Dame Sheldrick no Quênia, que não cessa de acolher os bebês elefantes, órfãos pela ação dos predadores humanos, 8 que não cessam suas atividades. Os chifres dos rinocerontes são usados como um viagra natural para virilidades decadentes e apesar de banimento de seu comércio em nível internacional pela convenção sobre comércio de espécies selvagens ameaçadas(Cites) estes animais continuam a ser massacrados. Os rinocerontes brancos, aliás, já estão extintos. “[...] il a fallu attendre 2008 pour qu'il soit interdit en Afrique du Sud, pays qui abrite 80% de la population mondiale de rhinocéros. Depuis cette date, le braconnage a explosé en Afrique et l'UICN évalue à au moins 5.940 le nombre de rhinocéros braconnés jusqu'à aujourd'hui.”9 Apesar destas medidas e da criação de áreas protegidas, os caçadores, as indústrias de pele e de óleo não dão nenhum repouso. Por exemplo,
Quanto às baleias, o Japão,
a Noruega e a Islândia continuam a caçá-las, apesar
da decisão da Comissão Baleeira Internacional (CBI) que
decretou em 1982 uma pausa na pesca comercial a partir de 1986 e da
ação da ONGs. O massacre dos bebês-foca continua
da mesma forma, com métodos insuportáveis: estima-se que
mais de 40% destes recém-nascidos tem sua pelo arrancada enquanto
ainda estão vivos. Não é possível aqui fazer
a lista de todos os animais quase extintos, mas o que fica claro é
a maldade e a ganância formam o eixo da relação
homem / animal.
![]()
Digit havia sido mordido em uma das brigas entre gorilas e este ferimento levou 4 anos para sarar. Apesar de seu abatimento por causa desta infecção prolongada, ele era sempre gentil com os seus e com Dian, que o chamava “meu adorável Digit” (178) Não fica claro em seu livro se ela tentou tratar sua ferida. Ele a reconhecia de longe e parecia sempre contente ao encontra-la, com gestos de ternura. Em um dia de chuva e névoa, « Soudain, je sentis un bras qui entourais mes épaules. Digit me regardait pensivement de ses yeux bruns. Il tapota doucement ma tête puis s´affala à mes côtés. Je posai la tête sur ses genoux. Dans cette position, j´avais chaud et je pouvais aussi observer la blessure qu´il portait au cou depuis quatre ans. Elle ne suppurait plus mais avait laissé une profonde cicatrice de plusieurs centimètre et d´autres plus petites autour »(192) Em outra ocasião, Digit encontrou-se face a face com um dos assistentes de Dian : « Digit se dressa sur ses pattes arrière, émit deux cris terrifiants, la bouche grande ouverte, ses canines énormes bien visibles[...] » (193) Dian precipitou-se em sua frente, vendo já acontecer o pior, mas assim que Digit a reconheceu, ficou de quatro e partiu pacificamente encontrar seu grupo. Ele já estava imbuído pelo sentimento de proteção de sua família. Dian o amava talvez mais do que todos os outros. Mas os caçadores, apesar das patrulhas, continuavam sua tarefa maligna. Dian descobriu que os guardas eram seus aliados em troca de dinheiro ou de carne, deixando-os caçar no Parque livremente. (200) Assim, um dia, vieram lhe informar sobre a morte de um gorila. Era Digit. Para acrescentar ao horror da cena de seu corpo sem vida, haviam-lhe cortado a cabeça, as mãos e os pés. « Pendant que Ian me racontait l´horrible nouvelle, je revoyais défiler devant mes yeux toute la vie de Digit, depuis le premier instant où je l´avais vu, dix ans plus tôt, petite boule soyeuse de fourrure noire. Je me sentais comme amputée d´une partie de moi-même ». (199) Morreu em defesa de seu grupo, em face de seis homens, armados de lança, que lhe perfuraram 5 vezes o peito. Dian, depois de muita hesitação, decidiu que a morte de Digit deveria ser conhecida. O canal americano CBS anunciou para o mundo este fato, alguns dias depois do acontecido. Ela fez vir ao campo o conservador e o chefe das brigadas para ver o corpo mutilado de Digit e a roda se pôs a girar. Prisões, condenações, os caçadores conhecidos foram os primeiros a sofrer a repressão. (201-202- 206) (206) Os guardas invadiram as aldeias cúmplices, como marines em campanha. Dian criou então em 1978 , em homenagem a Digit, o Digit Fund, rebatizado em 1992 Dian Fossey Gorilla Fund International , cujos fundo arrecadados serviriam para organizar patrulhas anti- caçadores e depredadores dos animais e da floresta: apenas em 18 meses destruíram 4 000 armadilhas. (212) Mesmo assim os malfeitores continuavam a atacar os animais: Dian conseguiu mais uma vez salvar uma pequena fêmea de três anos que um médico francês havia comprado de um caçador e enviou-a a seu acampamento. Depois de compra-la, o médico fez com que o tipo fosse preso. (215) O bebê gorila ficara seis semanas fechada em uma gaiola e sofria de uma severa desidratação e estava doente dos pulmões. (213) Ela deu-lhe o nome de Bonne Année .
Em 1980 Dian partiu para os Estados Unidos onde deu aulas na Cornell University de 1981 a 1983 e escreveu o livro que utilizo para escrever este texto. Ela não explica a razão desta viagem. Com Jane Goddall ( chimpanzés),Biruté Galdikas ( orangotangos), compôs o grupo das “Trimatas”, o mais importante quanto à pesquisa sobre os primatas em seu habitat natural. É de se estranhar que nenhuma mulher seja mencionada entre estudantes e assistentes que participaram das pesquisas no Centro Karisoka. Quando voltou ao Centro, foi assassinada, em 1985. Tinha 53 anos, dos quais 18 empregados na proteção e estudo dos gorilas na bruma das montanhas ruandesas. Dian Fossey foi enterrada perto da cabana onde vivera, em tantos anos de lutas e alegrias, em um campo onde se encontram os gorilas assassinados, entre os quais Digit . ![]() O assassinato de Dian Fossey foi prova do ódio contra as mulheres que não aceitam as regras do macho, que por isto instalam a desordem na ordem patriarcal. Impedir ganhos fraudulentos, evitar a ocupação anárquica das terras, evitar o massacre das espécies animais é motivo para uma pena de morte, sobretudo em se tratando de uma mulher. Dian atrapalhou interesses demais, ao bloquear os ganhos obtidos com o massacre dos animais. Não morreu sem luta, no dia de seu assassinato, contra um ou múltiplos facínoras. Nada foi roubado, nem documentos, nem dinheiro, mas a cabana estava toda revirada. Foi golpeada na cabeça e no rosto com um facão. Os assassinos nunca foram identificados.
Mas nada ganharam pois os gorilas se tornaram cada vez mais protegidos,
seu número crescendo desde então. Dian Fossey, mulher de aventura, de caráter, de opinião, de luta, sua herança fica na floresta dos gorilas das montanhas, na bruma e no frio, onde eles brincam e vivem suas vidas em liberdade. Graças a ela.
Notes 1Pour plus de détails sur sa vie et son oeuvre, voir https://gorillafund.org/who-we-are/ 3Voir documentaires sur youtube: https://www.youtube.com/watch?v=5bmy0eCMZYI&spfreload=10 par I https://www.youtube.com/watch?v=vH5e3k_uxOhttps://www.youtube.com/watch?v=tn96AWVIGrI part II *Ce texte se base sur la traduction en français du livre de Dian Fossey “Gorrillas in the mist”: Gorilles dans la brume” 1984.Paris: Ed. Du Club France Loisirs. Les chiffres entre parentèses se refèrent aux pages du même livre. 4 On peut encore lire sur internet ces affirmations mensogères, liées surment aux intérêts d´explotation des animaux à outrance. Je ne donnerai pas d´adresse car ce serait leur preter trop d´importance. 5Voir vidéos à la fin du texte 6 En savoir plus sur http://www.lemonde.fr/biodiversite/article/2016/09/02/l-inexorable-declin-des-elephants-d-afrique_4991313_1652692.html#qmjH2ROJBlT1KHoq.99 7idem 9http://www.lefigaro.fr/flash-actu/2016/03/09/97001-20160309FILWWW00420-afrique-nombre-record-de-rhinoceros-braconnes.php 10 . En savoir plus sur http://www.lemonde.fr/biodiversite/article/2016/04/11/le-nombre-de-tigres-sauvages-augmente-pour-la-premiere-fois-en-100-ans_4900115_1652692.html#8Z6xgyuDHE6JWIT7.99 11 . http://lesbaleines.net/connaissances-generales/population-actuelle/ labrys,
études féministes/ estudos feministas |