Labrys
estudos feministas
número 4
agosto /dezembro 2003

O esporte e a espetacularização dos corpos femininos

 

Silvana Vilodre Goellner

Resumo:

Este texto se propõe a discutira espetacularização do corpo feminino no esporte. Analisa a inserção feminina neste campo a partir das primeiras décadas do século XX evidenciando, por fim, o protagonismo das mulheres no que respeita a apropriação desse espaço que, para além de exibir corpos também, os educa.

Palavras-chave: corpo, mulher, esporte.

 

            A espetacularização dos corpos femininos na cultura contemporânea pode ser observada em várias instâncias culturais tais como  revistas, propagandas, outdoors, programas televisivos, cartazes, filmes... Pode ser visto, também, nas ruas, academias, spas, praias, shopping-centers e espaços esportivos. Nesses e em outros lugares  é possível identificar um processo educativo a produzir a espetacularização tanto de quem vê, quanto de quem é ou sente-se o próprio espetáculo.

Enfim,  há muito  foram e são vários os discursos e as intervenções destinadas a educar o corpo feminino de forma atrair sobre si o olhar do outro e o esporte, um fenômeno contemporâneo,  não está distante dessa afirmação. Constitui-se como uma  instância pedagógica a produzir corpos cuja espetacularização se dá  seja pela exibição de performances cada vez mais aprimoradas, seja pela construção de corpos comumente identificados como perfeitos, ou ainda  pela associação da sua prática com a aquisição de saúde e de beleza. Se traduz num espaço de afirmação de  um corpo minuciosamente construído e também  desejado, dado as representações positivas  que a ele se acoplam quando são ressaltadas a sua beleza, potência, plasticidade, produtividade e exuberância.  Lembremos que um  corpo não é só um corpo, o que dele se vê. Um corpo é  também o que  dele se diz.

Pensar a educação e a espetacularização do corpo feminino no e através do esporte significa dar movimento a  tensão que se estabelece  entre o incentivo e a repressão à mulher no que tange a sua vida individual e social pois ao longo da história mesclam-se diferentes conselhos, prescrições e recomendações  ora impulsionando-a a transgredir determinados códigos culturais e sexuais  tomados como naturais, ora cerceando possíveis ousadias.

            Por certo a prática esportiva feminina não é novidade deste século nem do passado, no entanto  é  a partir das  primeiras décadas do século XX que elas adquirem maior visibilidade. A participação feminina nos Jogos Olímpicos Modernos, por exemplo, só puderam acontecer na sua segunda edição[1],  mesmo sob   protesto de muitos, inclusive do  Barão de Coubertin, um dos seus idealizadores, contrário à participação feminina por considerar que as mulheres poderiam vulgarizar esse terreno tão recheado de honras e conquistas. Nas suas palavras:

“O problema dos esportes femininos complica-se com a paixão e expressões exaggeradas que nele põe a campanha feminista. Os dirigentes desta campanha pretendem simplesmente a annexação de tudo o que até agora era do domínio próprio do homem; d’ahi a tendencia da mulher querer mostrar-se capaz de egualar o homem em todas as actividades. (...) Technicamente as jogadoras de futebol ou as pugilistas que se tentou exhibir aqui e alli não apresentam interesse algum; serão sempre imitações imperfeitas. Nada se aprende vendo-as agir; e assim os que se reunem para vel-as obedecem preocupações de outra especie. E por isso trabalham para a corrupção do esporte, aliás, para o levantamento da moral geral.

Si os esportes femininos forem cuidadosamente expurgados do elemento espetaculo, não há razão alguma para condenal-os. Ver-se-á, então, o que delles resulta. Talvez as mulheres comprehenderão logo que esta tentativa não é proveitosa nem para seu encanto nem mesmo para sua saúde. De outro lado, entretanto, não deixa de ser interessante que a mulher possa tomar parte, em proporção bem grande, nos prazeres esportivos do seu marido e que a mãe possa dirigir intelligentemente a educação physica dos seus filhos”.[2]

O suor excessivo, o esforço físico, as emoções fortes,  as competições, a rivalidade consentida, os músculos delineados, os gestos espetacularizados  do corpo,   a liberdade de movimentos, a leveza das roupas e a seminudez,  práticas comuns ao universo da cultura física, quando relacionadas à mulher, despertavam suspeitas porque pareciam abrandar certos limites que contornavam uma imagem ideal de  ser feminina. Pareciam, ainda, desestabilizar um terreno criado e mantido sob domínio masculino cuja justificativa, assentada na  biologia do corpo e do sexo, deveria atestar  a superioridade deles em relação a elas.

No Brasil, discursos como estes também se fizeram presentes, mesmo num tempo onde sopravam os ventos da modernidade, fazendo com que as cidades  se agitassem  frente a  inevitável metropolização, cujo ritmo fremente fazia pulsar todos os espaços de circulação pública, redesenhando o espaço urbano e reordenando a energia física dos indivíduos[3]. Nas primeiras décadas do século XX,   a educação do corpo foi reconhecida como essencial ao desenvolvimento e  fortalecimento da nação na medida em que era observada como potencializadora de um gesto eficiente capaz de produzir mais e com maior rapidez[4]. Razão pela qual redimensionaram-se as práticas cotidianas de  homens e mulheres, tanto no trabalho como no lazer, cujas possibilidades de diversão ampliavam-se a cada dia e  onde as atividades  esportivas destacaram-se  porque foram reconhecidas  como uma possibilidade de exibição e espetacularização do corpo. Foi  nesse período que começaram a proliferar  nas cidades,  os clubes recreativos, as agremiações, as federações esportivas, os campeonatos, as exibições atléticas... locais destinados à performance de  corpos educados e desenhados pela exercitação do físico.

À expansão  galopante da prática esportiva correspondeu  o desejo de inserção no cenário internacional. Ansioso por tomar parte do espetáculo, o Brasil   fez sua estréia na mais importante competição esportiva - os Jogos Olímpicos -   em 1920 mas  foi  apenas em  1932 que a primeira atleta mulher participou desta competição.[5]

Vale ressaltar: ainda que as mulheres brasileiras não tenham começado a praticar esportes apenas a partir desta Olimpíada, a participação de Maria Lenk  foi muito importante para o esporte feminino brasileiro porque possibilitou  a divulgação da imagem da mulher atleta abrandando, de certa forma,  alguns preconceitos acerca da inserção feminina no universo esportivo.

Identificada como de natureza muito frágil  era recorrente, neste tempo, a idéia de que à mulher correspondia mais a assistência do que a prática das atividades esportivas num grau competitivo mesmo que, como já referenciei, as mulheres há muito fizessem exibições esportivas em público.[6] Uma das razões a alterar essa representação estava relacionada ao fortalecimento do corpo feminino, observado aqui, como capaz de gerar indivíduos saudáveis e fortes e, ao cumprir essa “missão”, fortalecer a própria Pátria.

O temor à desmoralização feminina frente a exibição e espetacularização do corpo se traduzia num fantasma a rondar as famílias, em especial, as burguesas. A prática esportiva, o cuidado com a aparência,  o desnudamento do corpo e  o uso de artifícios estéticos, por exemplo,  eram identificados como impulsionadores da modernização da mulher e da sua auto-afirmação na sociedade e, pelo seu contrário, como de  natureza vulgar  que a aproximava do universo da desonra e da prostituição.

Discursos progressistas e moralistas recheavam com entusiasmo e emoção diferentes publicações destinadas ao público feminino, seduzindo e desafiando as mulheres  tanto para a exibição como para o  ocultamento de seus corpos, forjando  novas formas de cuidar de si, reforçando e amenizando a  exibição pública do seu corpo como pertencente ao universo pagão das impurezas  e obscenidades. Se por um lado,  criticavam a indolência, a falta de exercícios físicos,  o excesso de roupas, o confinamento no lar, por outro, cerceavam possíveis atrevimentos.

Afirmavam um discurso voltado para a produção da “nova mulher”: moderna, ágil, companheira, responsável, capaz de enfrentar

os desafios dos novos tempos. No entanto, a representação construída desta “nova mulher” trazia poucas possibilidades de construção de um efetivo projeto de emancipação feminina na medida em que, suas “conquistas” deveriam estar  ajustadas aos seus deveres. Precisava ousar sem com isso, esquecer de preservar suas virtudes, suas características gráceis e feminis nem abandonar o cumprimento daqueles deveres que, ao longo da existência, lhe foram designados como naturais: o cuidado com o lar e a educação dos filhos.Waldemar Areno, um importante médico da época assim declarava: 

Qualquer mulher sã de corpo e espírito, de figura morfológica indicada para este ou aquele desporto, com aptidões evidentes para esta ou aquela prova, pode sem dúvida, cultivar o desporto e competir

. Princípios gerais, no entretanto, merecem obediência fiel; as bases fundamentais da higiene do exercício físico não podem ser despresadas e aquí,  como em todo e qualquer  trabalho físico, uma necessidade se faz sentir imperiosa - a adaptação dos exercícios. (...) A arquitetura mecânica da mulher e a natureza das finalidades a que se destina, implicam na escolha de desportos condizentes com as suas necessidades, desportos que despertem e aprimorem as qualidades exigidas, conduzindo suas cultivantes a uma evolução geral harmoniosa, visando em primeiro plano a beleza - qualidade apanágio da mulher -  beleza firmada em uma saude completa, integral e associada ao perfeito desenvolvimento das qualidades morais.[7]

Território  permeado por ambigüidades, o mundo esportivo, simultaneamente, fascinava e desassossegava homens e mulheres, tanto porque contestava os discursos legitimadores  dos limites e condutas  próprias de cada sexo, como porque, através de seus rituais,  fazia vibrar a tensão entre a liberação e o controle de emoções e, também,  de representações de masculinidade e feminilidade.

 Esse temor fez com que, em 1941, o General Newton Cavalcanti apresentasse  ao Conselho Nacional de Desportos, algumas instruções que considerava necessária  para a regulamentação da prática dos esportes femininos. Estas serviram de base para a elaboração de um documento[8] que oficializou a  interdição das mulheres a algumas práticas esportivas, tais como as lutas, o boxe, o salto com vara, o salto triplo, o decatlo e o pentatlo.

Outras foram permitidas desde que praticada dentro de determinados limites. O remo, por exemplo,  poderia ser praticado desde que não fosse competitivo e  objetivasse a correção de defeitos orgânicos;  várias provas do atletismo poderiam ser exercitadas desde que exigissem menos esforços que as masculinas. Enfim, a intenção é clara!  Como finaliza o documento:  “deve ser terminantemente proibida a prática do futebol, rugby, polo, water-polo, por constituírem desportos violentos e não adaptáveis ao sexo feminino.[9]

Mesmo que esse documento e outros criados posteriormente[10]  se tornassem oficiais é pertinente dizer que a vida lhes escapa. As  práticas  esportivas seduziam e desafiavam muitas mulheres que indiferentes às convenções morais e sociais aderiram  a sua prática independente do discurso hegemônico da interdição ou ainda o incentivo  participação modalidades esportivas  que fortalecessem o corpo sem destituir-lhe a feminilidade. 

É  pertinente ressaltar que, no contexto da urbanização e da emergência de valores e comportamentos direcionados para a modernização do país,  as atividades físicas  para as mulheres adquiriram relevância social, pois eram observadas como capazes de educar tanto para a valorização do corpo esteticamente belo como para o aperfeiçoamento físico de corpos saudáveis e aptos para enfrentar as realidades da vida modernizada, inclusive, preparando-as para a maternidade. Enfim, para a mulher feminina e mãe, a beleza é sinônimo de saúde e também de uma genitália adequada para cumprir suas funções reprodutivas.  Razão pela qual, os exercícios físicos e os esportes recomendados deveriam atentar para que, na sua execução, não impossibilitasse abrigar uma vida em formação.

Diante deste discurso não é de estranhar as razões pelas quais o futebol,  as lutas e o halterofilismo, por exemplo, eram tidos (e, muitas vezes, ainda são)  como prejudiciais ao desenvolvimento do corpo e do comportamento feminino.  Para além dos imaginados danos físicos que esses esportes poderiam causar, outro perigo se avizinhava: a “masculinização” das mulheres. Termo este que  parecia sugerir  não apenas alterações no comportamento e na conduta das mulheres  mas também na sua própria aparência, afinal, julgava-se/julga-se o quão feminina é uma mulher pela exterioridade do seu corpo.

Parecia sugerir e parece porque ainda hoje é possível identificar reminiscências desse discurso. A espetacularização do corpo feminino cuja exibição é aceita e incentivada em determinados locais sociais, é  colocada sob suspeição em outros, tais como o campo de futebol ou as arenas de lutas, uma vez que estes  espaços colocam à prova uma representação de feminilidade construída e  ancorada  na exacerbação a determinados atributos tidos como femininos,  tais  como a graciosidade, a harmonia das formas, a beleza, a sensualidade  e a delicadeza.

Ao corpo feminino excessivamente transformado pelo exercício físico e pelo treinamento contínuo são atribuídas  características viris que não apenas questionam a beleza e a feminilidade da mulher mas também colocam em dúvida a autenticidade do seu sexo. Afinal, o homem - seu corpo e seu comportamento - é o modelo a partir do qual o corpo e o comportamento da mulher são julgados, estigmatizando aquelas que ultrapassam os limites que convencionalmente lhe foram impostos. Olhada assim, se uma mulher não parece ser uma mulher é porque é um homem. Ou ainda, um homem pela metade.[11]

Mas,  como as formas de resistência e transgressão ao que está culturalmente  instituído existem, as mulheres há muito estão presentes no esporte. Vão aos estádios, assistem campeonatos, acompanham e  divulgam as notícias, treinam, fazem comentários, arbitram jogos, são técnicas, compõem equipes dirigentes mesmo que em um número muito bem menor, se compararmos à participação masculina[12]. No entanto, não  há como negar que elas estão presentes no universo do esporte. E são muitas...

Cabe uma pergunta: Sendo o campo  esportivo um espaço de espetacularização e de  educação  do corpo, que efeitos a  participação das mulheres  tem produzido nesse  universo culturalmente virilizado? Será que espetacularização das performances femininas, não mais vinculadas à preparação para a maternidade como outrora fora,  se constitui como um espaço de expressão e de liberdade ou de iclusão a um ideal de corpo que valoriza a beleza, a juventude,  a performance e o rendimento atlético[13]?

Muitas são as possíveis respostas a essa questão e são temerárias as generalizações. Mais do que resposta, talvez seja a pergunta aquela que pode e deve permanecer ao final da leitura deste  texto. Afinal, não podemos esquecer que, na sociedade contemporânea, o esporte é um palco privilegiado para a exposição de corpos que, ao exibirem-se e serem exibidos,  educam outros corpos. Educam a consumir produtos e serviços, a desfilar marcas, a padronizar gestos, a comercializarem-se, a fabricar imagens heróicas, a expressar emoções, a superar limites, a criar necessidades e também a  vender o próprio esporte[14]  como um dos produto de uma sociedade que valoriza o espetáculo,  o consumo, a estética  e  a produtividade.

Para além de possíveis  críticas ao  esporte e à espetacularização dos  corpos performantes  vale ressaltar a importância da conquista das mulheres nesse  campo tão pleno de ambigüidades.  Digo conquista para  ressaltar o protagonismo das mulheres que, entre rupturas e conformidades,  fizeram e fazem a sua história no mundo esportivo evidenciando, sobretudo,  que essa apropriação não foi nem é resultado de  uma concessão masculina. Afinal, o esporte é, também,  um campo de  disputa e para o  qual, há muito tempo, várias delas têm investido esforço e disciplina ultrapassando, sobremaneira,  os limites da  mera  espetacularização dos seus corpos.

Referências

ARENO,  Waldemar. Os desportos femininos,  aspectos médicos. Revista Educação Physica n.º 68, setembro de 1942.

CONDENADAS AS PROVAS DE MEIO FUNDO E FUNDO EM NATAÇÃO E ATLETISMO PARA MULHERES. Revista Educação Physica n.º 59, outubro de1941.

COUBERTIN E OS ESPORTES. Revista Educação Physica n.º 21, agosto de 1938.

CUNHA JÚNIOR, Carlos, ALTMANN, Helena, GOELLNER, Silvana V. e MELO, Victor Andrade de. Women and sports in Brazil. In: CHRISTENSEN, Karen, International Encyclopedia of Women and Sport. USA: Macmillian, 1999.

GOELLNER, Silvana V. Bela, maternal e feminina: imagens da mulher na Revista Educação Physica. Ijuí: Editora Unijuí, 2003.

LANCELLOTTI, Sílvio. Olimpíadas 100 Anos: história completa dos Jogos. São Paulo:Círculo do Livro, 1996.

LENK, Maria. Braçadas e Abraços. Rio de Janeiro: Gráfica Bradesco, 1982.

MULHERES BRILHAM MAIS QUE HOMENS EM SYDNEY. Folha de São Paulo,  01/10/200. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/olimpiada2000/ emcimadahora/outrosesportes/ult315u888.shtml Acesso em 06 de fevereiro de 2004

NOGUEIRA, Cláudio. Usina de sonhos e de dinheiro. Caderno e esportes. Jornal O Globo, 26 de dezembro de 2003.

PFISTER,  Gertrud.  Líderes femininas em organizações esportivas – tendências mundiais.  Revista Movimento, volume 09, número 2, mai-ago, 2003.

SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

SOARES, Carmem. Educação Física: raízes históricas e Brasil. Campinas: Autores Associados, 1994.

SOARES, Carmem. Imagens da educação no corpo. Campinas: Autores Associados, 1999.

 Silvana Vilodre Goellner é professora doutora do Departamento de Educação Física da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da mesma instituição. É coordenadora da GRECCO – Grupo de Estudos sobre Cultura e Corpo e diretora do Centro de Memória do Esporte da UFRGS. Autora do livro Bela, maternal e feminina: imagens da mulher na Revista Educação Physica. Editora Unijuí, 2003 e organizadora, juntamente com Guacira Lopes Louro e Jane Felipe Neckel de Corpo, Gênero e sexualidade: um debate contemporâneo na educação. Vozes, 2003.



[1] A primeira edição dos Jogos Olímpicos Modernos aconteceu em 1896 na cidade de Atenas. Em 1900, Paris sediou o evento e, nessa ocasião, participaram 16 mulheres em apenas duas modalidades: golfe e tênis. Em Saint Louis (1904), foram 6 as participantes, todas no arco e flecha; Em Londres (1908) somaram o número de 36 a disputar

o arco-e-flecha,  a patinação e o tênis. Em Estocolmo (1912), dos 2548 atletas inscritos 57 eram mulheres. A natação feminina foi admitida nesses jogos, medida que causou reação de grupos conservadores que fizeram protestos públicos chamando as atletas de “mulheres sem moral”.  Na Antuérpia (1920)  foram 64 as participantes; em Paris (1924) 136  e em Amsterdã (1928) eram 290, representando pela primeira vez, o percentual de 10% em relação ao número de atletas homens. (Lancelloti, 1996). No ano de 2000, em Sydney as mulheres somaram por volta de 40% dos atletas inscritos (Pfister, 2003).

[2] Texto extraído do livro, “Pedagogia Esportiva”,  publicado em Lausanne, no ano de 1922. In:  Revista Educação Physica n.º 21, agosto de 1938, p. 46

[3] Ver a respeito Sevcenko, 1992.

[4] Ver a respeito Soares,  1994;  1999. Goellner, 2003.

[5] Na tarde do dia 26 de junho, uma delegação de 82 atletas  embarca à bordo do cargueiro Itaquicê rumo  à Los Angeles, carregando na bagagem 55.000 sacas de café a serem vendidas nos portos estrangeiros garantindo a aventura. Na despedida oficial, soam as palavras do escritor Coelho Netto, um aficcionado do esporte:  “pela Bandeira do Brasil, por nós todos, pelos nossos brios e a nossa glória, o vosso combate. Não esqueçaes, não rapazes, que é o Brasil, que é a Pátria, que são mais de quatro séculos de energia, de amor, de aventura, que é o Brasil que levaes nos músculos”. (Lenk, 1982:29). Mas não são apenas rapazes os componentes da delegação brasileira. A bordo do Itaiquicê, encontra-se também a nadadora paulista Maria Lenk,  a primeira mulher sul-americana a participar de uma Olimpíada, conforme registrou a imprensa internacional “Lone girl in Brazil delegation, the first and only woman of the South American Continent ever to take part in Olimpic Games, is 17 years old champion - swimmer - her name: MARIA LENK”. Los Angeles Times, 27 de julho de 1932, p. 22. (Ibid, p. 30).

[6] Já no fim do século XIX podemos observar mulheres participando ativamente como atletas nas competições, em esportes como o turfe, o ciclismo e o atletismo. Ver a respeito Carlos F. Cuha Júnior, Helena Altmann, Silvana Goellner e  Victor A de Melo,   1999.

[7] Revista Educação Physica n.º 68, setembro de 1942, p. 11.

[8] Decreto-Lei n.º 3199, do Conselho Nacional de Desportos, de 14 de abril de 1941.

[9] Revista Educação Physica n.º 59, outubro de1941, p. 75.,

[10] Em  1965 o  Conselho Nacional de Desportos institui, a  Deliberação n.º 7 que baixa instruções às entidades esportivas do país sobre a prática de esporte pelas mulheres. Em seu artigo 2 declara “não é permitida a prática de lutas de qualque natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, polo aquático, rugby halterofilismo e baseball”.

[11] O tema da masculinização da mulher atleta é ainda recorrente na atualidade. Um exemplo relativamente  recente foi o teste ao qual foi submetida a atleta brasileira de Judô Edinanci da Silva durante os Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, para comprovar sua feminilidade biológica, visto que sua aparência deixava dúvidas sobre o fato de ser uma mulher.

[12] E que pese a ampliação da inserção feminina como praticantes de atividades esportivas, em especial  a partir da segunda metade do século passado, no que respeita aos cargos decisórios e de poder há, ainda, um mundo a conquistar .... Ver a respeito Pfister,  2003.

[13] Não é raro encontrarmos em diferentes instâncias culturais, inclusive as esportivas, discursos que associam a participação feminina nos esportes com a aquisição e manutenção de um corpo belo. A própria imprensa esportiva  tem sido um espaço a valorizar essa relação. Algumas vezes mais do que os sucessos e talentos esportivos, ao referir-se às mulheres atletas não deixa de mencionar aspectos relativos a sua aparência física, em especial, a sua beleza. Não podemos deixar de esquecer que, para muitos desses discursos, a beleza é, para a mulher, uma obrigação. Publicada na Folha de São Paulo em 01/10/200, a reportagem “Mulheres brilham mais que homens em Sydney” é exemplar dessa afirmação quando declara “Uma das provas mais 'atraentes' foi a do salto com vara feminino, disputado pela primeira vez em Olimpíada. A norte-americana Stacy Dragila, a australiana de origem russa Tatiana Grigorieva e a islandesa Vala Flofadottir chamaram a atenção pelo talento e pela beleza”.  Não menciona a conquista das mulheres que conseguiram romper preconceitos e incluir uma nova modalidade nos Jogos, modalidade essa considerada, até então, perigoso para o pleno funcionamento do corpo feminino. No entanto, o destaque para a beleza das atletas não é silenciado. Disponível em

http://www1.folha.uol.com.br/folha/olimpiada2000/emcimadahora/outrosesportes/ult315u888.shtml Acesso em 06 de fevereiro de 2004.

[14] A reportagem “Usina de sonhos e de dinheiro” publicada no Jornal O Globo, de 26 de dezembro de 2003,  anuncia a publicação do “Altas do esporte no Brasil”. Segundo  Lamartine Pereira DaCosta, um dos seus organizadores, o esporte é uma indústria de entretenimento e lazer que já movimenta bilhões de dólares no mundo inteiro, inclusive no Brasil que, em 2002 movimentou R$ 13 bilhões a R$ 20 bilhões – valor este que corresponde a  1,6% do Produto Interno Bruto.   A pesquisa mostra ainda que, enquanto o PIB brasileiro cresceu 2,25% de 1996 a 2000, o PIB específico do esporte cresceu 12,34%, valor esse equivalente aos recursos movimentados pela indústria petroquímica.

 

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